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Podemos chegar à verdade sem um magistério infalível?

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Uma das táticas mais comuns do romanista é tentar desmerecer o argumento protestante a priori. Funciona da seguinte maneira:

Evangélico – Seu argumento é inválido, por causa dos motivos x e y, e por causa deste e daquele versículo bíblico que diz isso e aquilo...

Papista [Sem refutar nada] – Mas essa é apenas a sua interpretação, seu maldito subjetivista! O que você pensa que é, um papa infalível? É porque cada um de vocês interpreta a Bíblia pessoalmente que existem duzentas e cinquenta trilhões de seis heréticas e ninguém concorda um com o outro e blá blá blá blá (...) Como eu posso saber que a sua interpretação é a certa, e não a do Fulano de Tal, seu filho da serpente?! Nós temos um magistério infalível, por acaso você é infalível, filhote de Lutero????

Em geral, o ataque do papista histérico é mais feio que isso, mas eu preferi suavizar para não precisar transcrever palavrões e obscenidades sem fim. Basicamente, a estratégia do picareta é tentar invalidar seu argumento, seja lá qual for, a priori, simplesmente porque seu argumento não pode ser verdadeiro, já que você não segue um extraordinário “magistério infalível”. Ele não vai refutar seu argumento em si, o que obviamente ele não é capaz de fazer. Ele também não vai provar que o magistério dele é mesmo infalível, uma vez que o argumento que ele usa é circular e autorefutante, do tipo: “O papa é infalível porque o papa diz que ele é infalível”.

Em geral eu costumo linkar com um “clique aqui”, mas como este outro artigo é muito importante para entender esse e tem tudo a ver com o tema, faço questão que o máximo número possível de pessoas possa pelo menos dar uma olhada nele antes de prosseguir a leitura:


Este é um jeito fácil para qualquer católico se safar em um debate sem precisar refutar uma argumentação protestante que ele não é capaz de responder. Já me deparei com algo assim milhares de vezes. Em três anos de blog, nunca um católico entrou na caixa de comentários para refutar o que foi exposto no artigo respectivo. Sempre quando alguém comenta, é para deslocar o alvo da discussão para a Sola Scriptura ou o livre exame. Por exemplo: eu refuto o dogma da imaculada conceição de Maria, e eles entram para perguntar “onde está a Sola Scriptura na Bíblia”. Mesmo eu tendo um livro inteiro a respeito do tema para responder a questão e outras dezenas de artigos publicados, eles não leem nada, nem o livro, nem os artigos e nem o próprio tópico sobre imaculada conceição, e tentam mudar o foco da discussão para um âmbito em que eles acham que se dão bem.

Depois da Sola Scriptura, o princípio mais atacado é o livre exame. Por exemplo: eu faço um artigo refutando o celibato obrigatório com provas bíblicas e históricas, então o papista entra e argumenta igualzinho aquilo que eu transcrevi no início do artigo. Nenhum argumento pode estar certo, porque eles são frutos de uma reflexão pessoal em vez de ser a repetição como um papagaio daquilo que um “magistério infalível” afirma. Qualquer conclusão que você chegue por conta própria após analisar os argumentos de ambos os lados é “subjetivismo”, e você só pode estar certo se virar um zumbi do papa e balançar a cabeça positivamente igual vaquinha de presépio. Em outras palavras: ou você é um escravo chinês, ou é um “maldito subjetivista”.

Mas será mesmo que precisamos de um magistério infalível para chegar à verdade?

Se você quiser desmascarar mais este embuste papista, a coisa é extremamente simples: basta perguntar ao fanático onde estava um “magistério infalível” na época do Antigo Testamento, ou seja, quando ainda não havia nenhum papa ou Igreja Romana. Você vai deixá-lo em apuros: ou ele irá dizer que não havia como chegar à verdade sobre nada no tempo do Antigo Testamento (já que não havia magistério infalível nenhum para direcionar as pessoas neste sentido), ou ele irá inventar um magistério infalível que simplesmente não existia na época (e que, na verdade, não existe até hoje).

Comecemos com a primeira possibilidade. Se o fanático admitir que de fato não existia magistério infalível nenhum naquele tempo, mas mesmo assim achar que era possível chegar à verdade, ele terá automaticamente que abrir mão da sua falácia de que não é possível chegar à verdade na ausência de um magistério infalível. Neste caso, o argumento se torna autorefutante. Se era possível chegar à verdade sem um magistério infalível, então o magistério infalível não é necessário, e o argumento católico vai para a lata do lixo em vinte segundos de conversa.

Por isso, é provável que ele não vá por este caminho.

Suponhamos, então, que ele responda que não existia magistério infalível, mas seguisse à risca sua lógica e dissesse que naquela época realmente não era possível se chegar à verdade. Quem é o relativista agora? Talvez o papista não saiba, mas eu vou contar um segredinho: o relativista é aquele cara que acha que não existe “verdade” e “mentira”, “certo” e “errado”, “bem” ou “mal”, ou seja, que pensa que não existe nada objetivo. Se o fanático pensa que realmente não existia magistério infalível no Antigo Testamento, é ele que é o supra-sumo do relativismo, pois por milhares de anos simplesmente não havia como se chegar à verdade, já que não existia nenhum magistério infalível! Logo, o argumento papista se desmorona em cima da sua própria cabeça, o atingindo como um efeito bumerangue.

Mas de fato apenas um insano diria que por milênios ninguém podia chegar à verdade, apenas pela ausência de um magistério infalível. É óbvio que isso era possível. É lógico que já existiam interpretações corretas da Escritura, pessoas que tinham comunhão com Deus, profetas e sacerdotes que ensinavam direito ao povo – e tudo isso na ausência de qualquer magistério infalível. Se a presença de um magistério infalível fosse necessária para se chegar à verdade, então ninguém na época poderia interpretar corretamente as Escrituras, e muito menos chegar a ter um relacionamento com Deus. Só existiriam interpretações erradas e pessoas ímpias.

Este certamente é um quadro incompatível com a realidade, e, por isso, é bem provável que o papista mude de ideia.

Então o fanático irá responder pelo outro lado da moeda, dizendo que sim, existia um magistério infalível no Antigo Testamento, porque, afinal, a existência de um magistério infalível é imprescindível para conhecer a verdade. Mas tem um problema: para sustentar esta afirmação, ele terá que inventar um magistério, uma vez que não há absolutamente nada no Antigo Testamento que nos assegure isso. Pelo contrário. Quando viramos as páginas do Novo Testamento, tudo o que vemos são facções judaicas falíveis, muitas vezes brigando entre si para saber quem está com a razão.

Comecemos com os fariseus, que Jesus chama de "raça de víboras" (Mt.23:33), "serpentes"(Mt.23:33) e "sepulcros caiados" (Mt.23:27). Era deste jeito que Cristo elogiava o "evangelismo" dos fariseus:

“Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas, porque percorrem terra e mar para fazer um convertido e, quando conseguem, vocês o tornam duas vezes mais filho do inferno do que vocês (Mateus 23:15)

Para piorar, os fariseus estavam cheios de tradições orais completamente corrompidas, acrescentando doutrinas que não constavam na Escritura da época. Contra isso, Jesus exclamou:

Mateus 5:13 – E por que vocês transgridem o mandamento de Deus por causa da tradição de vocês?

Mateus 15:6 – Assim vocês anulam a palavra de Deus por causa da tradição de vocês.

Marcos 7:3 – Assim vocês anulam a palavra de Deus, por meio da tradição que vocês mesmos transmitiram. E fazem muitas coisas como essa.

Marcos 7:6,7 – Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim; em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.

Marcos 7:8 – Vocês negligenciam os mandamentos de Deus e se apegam às tradições dos homens.

Marcos 7:9 – Vocês estão sempre encontrando uma boa maneira para pôr de lado os mandamentos de Deus, a fim de obedecer às suas tradições!

Não, certamente não eram os fariseus que tinham esse tal magistério infalível!

Quais outros grupos judaicos tínhamos? Havia ainda os saduceus, que em um só versículo percebemos que era totalmente impossível que sua doutrina fosse inerrante:

“Depois os saduceus, que dizem que não há ressurreição, aproximaram-se dele com a seguinte questão” (Marcos 12:18)

Vamos para o próximo. O que mais temos? Se é que podemos considerar, havia ainda o pequeno grupo de essênios, que pareciam não gostar muito de mulher...

Assim testemunha Josefo:

“O seu número é superior a quatro mil. Não têm mulheres nem criados, porque estão convencidos de que as mulheres não contribuem para o descanso da vida”[1]

Bom, vamos ao próximo...

A última facção judaica que temos são os zelotas, mas Josefo nos diz que eles estavam “em tudo de acordo com a seita dos fariseus”[2], que já vimos que estava enlamaçada de erros. A conclusão que qualquer pessoa honesta tira a partir dos dados é óbvia: não existia nenhum magistério infalível nos tempos do Antigo Testamento. Todos os grupos judaicos haviam se corrompido, em maior ou em menor grau. Nem mesmo os sumo sacerdotes se salvavam, pois basta uma folheada rápida nas páginas dos livros proféticos para perceber o quão facilmente eles se desviavam e caíam nos abismos da idolatria e do paganismo.

A verdade nua e crua é que simplesmente não existia magistério infalível. Havia profetas, mas não um magistério infalível que dissesse infalivelmente qual profeta era de Deus e qual não era. Havia sacerdotes, mas não um magistério infalível que dissesse infalivelmente qual sacerdote era de Deus e qual não era. Havia a Escritura, mas não um magistério infalível que dissesse infalivelmente qual a interpretação correta de cada parte da Tanakh.

Se houvesse, esperaríamos encontrar um grupo na época de Jesus que se mantivesse 100% puro e leal a Deus, com uma doutrina perfeitamente correta, e que por ser infalível se juntasse a Jesus em seu ministério e desse continuidade na era da Igreja. No entanto, Jesus precisou escolher doze discípulos, a maioria pescadores sem nenhuma formação teológica ou perspectiva de vida, justamente porque todas as facções judaicas estavam corrompidas. Não havia infalíveis. Não havia magistérios. No entanto, ainda era possível se chegar à verdade.

Em suma, por qualquer um dos caminhos que o romanista queira se safar, ele está perdido. Ele está perdido se responder que não existia magistério infalível nos tempos do Antigo Testamento, e está igualmente perdido se disser que existia. Ele é obrigado a reconhecer que não existia magistério infalível nos tempos do Antigo Testamento, e que mesmo assim era possível chegar à verdade. E se era possível chegar à verdade sem a necessidade de um magistério infalível, então todo o argumento católico em torno da necessidade do magistério infalível se desfaz como cinzas no chão.

O católico é obrigado a reconhecer que é sim possível chegar ao conhecimento da verdade sem ser por meio de um magistério infalível. Ao reconhecer isso, ele não tem mais qualquer moral para se esquivar de um argumento teológico sob a mera premissa de que o argumentador fez uma “interpretação pessoal” em vez de apenas repetir o que foi dito por um “magistério infalível”.

Se você quiser dar um bug mais legal ainda na cabeça do papista, basta perguntar a ele de que forma que podemos ter certeza que esse tal magistério que nunca erra é o católico-romano na pessoa do papa, em vez de ser, por exemplo, o ortodoxo na pessoa do patriarca grego. Dessa vez nem a porcaria do argumentum ad antiquitatem cabe, pois as igrejas ortodoxas foram fundadas mais cedo que a igreja de Roma. E nem o argumento de Mateus 16:18 vale também, pois a igreja ortodoxa antioquena também é descendente de Pedro por sucessão, como podem ver clicando aqui. O papista vai simplesmente esbravejar, chorar, espumar pelos dentes, pedir pelas cartas e pela ajuda dos universitários, e no final não chegará a lugar algum, pois lá no fundo até ele mesmo sabe o quanto é sofista.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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[1] História dos Hebreus, Livro X, c. 2.
[2] ibid.

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