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O protestantismo é do diabo porque é "dividido"? Então vá estudar história da Igreja!

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O principal – e talvez único – ataque dos papistas raivosos contra os evangélicos é o “argumento da divisão”. Enquanto o militante tridentino espuma pelos dentes, ele diz algo mais ou menos assim:

– O protestantismo é dividido! Vocês têm um monte de doutrinas diferentes, seus hereges satânicos, filhos da serpente! A Igreja Católica é una, então ela é verdadeira!

Em meus vários artigos já escritos sobre o tema, mostrei inúmeras falhas neste argumento do desespero, entre eles: (a) o fato de que o tamanho dessa “divisão” é sempre enormemente aumentado pelo debatedor católico desonesto, que sempre inclui igrejas como mórmons e testemunhas de Jeová no mesmo grupo de “protestantes”, para tentar aumentar as “divergências” (leia aquisobre este truque); (b) o fato de que há religiões mais unidas do que a católica; (c) o fato de que pluralidade não implica necessariamente em apostasia, desde que não conflite com uma doutrina fundamental; (d) o fato de que os próprios católicos são divididos.

Só este último ponto já seria o suficiente para esmagar as pretensões de um apologista católico desonesto que queira usar o argumento da divisão contra os evangélicos. Se tem uma igreja que foi desde sempre cismática, arrogante, orgulhosa e litigiosa, esta foi a igreja de Roma, cuja prepotência se tornou tão insuportável que causou o grande cisma de 1054 d.C com a igreja ortodoxa, anos antes dos cruzados romanos saquearem Constantinopla, assassinando cristãos ortodoxos e colocando prostitutas no trono do patriarca oriental.

Ainda hoje esta igreja afundada na mais profunda depravação moral é completamente fragmentada entre a renovação carismática católica, os teólogos da libertação, os sedevacantistas, os tradicionalistas, os modernistas, os liberais, os ecumênicos, os tridentinos, os olavetes, os episcopais, os veterocatólicos e os padres "comunistas" da CNBB. Todos brigando entre si dia e noite nas redes sociais, se excomungando mutuamente o tempo inteiro, pregando ensinos diferentes e se dizendo os verdadeiros e únicos porta-vozes da “santa” e “una” Igreja de Cristo. Depois de ler este artigosobre o “UFC Católico”, só um verdadeiro lesado poderia ter a cara de pau de usar o argumento sem vergonha da “divisão” contra os protestantes. Primeiro retirem a trave do seu olho.

Mas mesmo que a Igreja Romana fosse o mar de flores e o conto de fadas que os embusteiros papistas tentam passar, será que a pluralidade de doutrinas protestantes seja por si só o bastante para impugnar a fé evangélica? Se alguém pensa assim, só mostra uma coisa: que não entende porcaria nenhuma de história da Igreja. Diferente deste mundo de fantasia em que os zumbis tridentinosse encontram, a Igreja primitiva tinha muitíssimas divergências – doutrinárias, inclusive, e algumas delas muito sérias. Ainda na época de Paulo, a igreja da Galácia estava mergulhada em heresias judaizantes, ao ponto do apóstolo ter dito:

“Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, querem agora se aperfeiçoar pelo esforço próprio? Será que foi inútil sofrerem tantas coisas? Se é que foi inútil!” (Gálatas 3:3-4)

A igreja de Corinto, por outro lado, estava cheia de gente que não cria na ressurreição (1Co.15:12), o que levou Paulo a escrever o maior capítulo das epístolas para corrigir este erro. Ela ainda tinha fortes influências liberais, pois os irmãos dali estavam orgulhosos de uma prática imoral e incestuosa praticada por um homem dali (1Co.5:1-2), o qual mantinha relações com a mulher de seu pai. Ela também tinha alguns “excessos pentecostais”, por assim dizer, supervalorizando e usando errado o dom de línguas, o que levou o apóstolo a escrever todo o capítulo 14 de sua primeira carta para corrigir isso também.

A igreja de Colossos estava, aparentemente, sendo alvo de um início de heresia gnóstica (Cl.2:8). Quando João escreveu sua terceira epístola, ele faz menção a um líder eclesiástico de alguma igreja desconhecida, o qual agia como ditador, excomungando a seu bel-prazer qualquer um que ele não fosse com a cara:

“Escrevi à igreja, mas Diótrefes, que gosta muito de ser o mais importante entre eles, não nos recebe. Portanto, se eu for, chamarei a atenção dele para o que está fazendo com suas palavras maldosas contra nós. Não satisfeito com isso, ele se recusa a receber os irmãos, impede os que desejam recebê-los e os expulsa da igreja” (3ª João 1:9-10)

A igreja de Tessalônica, por sua vez, sofria de graves erros escatológicos, ao ponto de pensarem que Jesus voltaria imediatamente (2Ts.2:2). Novamente, Paulo precisou dedicar um capítulo inteiro para corrigir este equívoco teológico e reafirmar os eventos que precederiam a volta de Jesus. Paulo ainda fez menção a crentes desonestos, que pregavam a Cristo por “inveja e rivalidade” (Fp.1:15), e a outros que tentavam lucrar com o evangelho (1Tm.6:5). Aos romanos, Paulo fez menção ao fato de que alguns guardavam dias e outros não (Rm.14:5), que alguns comiam carne e outros não (Rm.14:2), e que era para cada um tolerar o outro e tentar viver em harmonia assim mesmo (Rm.14:3).

Quando chegamos às cartas às sete igrejas, o cenário fica ainda mais crítico. A igreja de Éfeso havia perdido seu primeiro amor (Ap.2:4-5); a igreja de Pérgamo se apegava aos ensinos dos nicolaítas (que incluía a poligamia), seguia a Balaão, praticava imoralidade e sacrificava aos ídolos (Ap.2:14-16); a igreja de Tiatira tolerava Jezabel, também praticava imoralidade, sacrificava aos ídolos e não se arrependia dos pecados (Ap.2:20-23); a igreja de Sardes estava a ponto de morrer e tinha apenas uns poucos que não haviam apostatado (Ap.3:1-4); e a igreja de Laodiceia ensinava teologia da prosperidade e seria vomitada da boca de Cristo (Ap.3:14-19).

Não estamos falando aqui de igrejas “sectárias”, mas das igrejas consideradas cristãs no primeiro século – aquelas mesmas a quem Paulo escrevia chamando de “igreja de Deus” (1Co.1:2). Numerosas heresias diferentes e doutrinas divergentes em cada canto, e mesmo assim... eram igrejas de Deus!

O conto de fadas do zumbi tridentino, que tem em mente aquela imagem bonitinha da igreja perfeita, fica ainda pior quando lemos os escritos dos Pais da Igreja e temos contato com as enormes divergências doutrinárias e discussões teológicas da época. Agostinho discutia com Jerônimo sobre se os judeus tinham ainda que guardar a lei ou não (Jerônimo cria que não, e Agostinho dizia que sim)[1]. Os primeiros cristãos (como Papias, Clemente, Irineu e a Didaquê) criam em um milênio terreno e eternidade na nova terra, enquanto os Pais de data posterior (como Eusébio e Agostinho) adotavam o amilenismo e espiritualizavam o milênio. 

Enquanto Jerônimo, Epifânio e Agostinho defendiam a virgindade perpétua de Maria, cristãos como Eusébio[2], Vitorino e Tertuliano[3]discordavam. Clemente de Alexandria escreveu que em sua época a maioria dos crentes não cria que Maria permaneceu virgem depois do nascimento de Jesus, embora ele próprio cresse no contrário[4]. A questão da pecabilidade de Maria também foi alvo de muita divergência. Tertuliano, Irineu, Basílio, Crisóstomo e Cirilo de Alexandria afirmavam explicitamente que Maria pecou. Cirilo de Jerusalém e Gregório Nazianzeno ensinavam que Maria foi santificada algum tempo antes do nascimento de Jesus, mas não desde a concepção. Agostinho e Ambrósio defendiam a impecabilidade de Maria, mas não a imaculada conceição, que foi defendida por Teodoreto[5].

Em meu livro mais recente, mostrei centenas de citações onde os primeiros cristãos (entre eles Inácio, Clemente, Policarpo, Hermas, Barnabé, Polícrates, Justino, Aristides, Taciano, Teófilo e a Didaquê) rejeitavam a tese da imortalidade incondicional da alma[6]. Por outro lado, a partir do final do século II essa doutrina passou a ser ensinada por Atenágoras, e depois por Tertuliano, Clemente de Alexandria e Orígenes. Os últimos dois, por sinal, eram explicitamente universalistas (i.e, criam na salvação e vida eterna do diabo e dos ímpios no final), assim como Gregório de Nissa[7]. Eles também tinham divergências sobre a origem da alma: desde a alma como o corpo visível (Taciano), passando pelo traducianismo materialista (Tertuliano) e chegando ao traducianismo espiritualista (Agostinho).

Embora os Pais da Igreja em geral tenham defendido o livre-arbítrio, o mais importante deles, Agostinho, cria numa eleição incondicional[8]. Embora o Concílio de Niceia tenha prescrito o celibato dos sacerdotes, Clemente de Alexandria e Eusébio disseram que os apóstolos eram casados, e foram contra o celibato obrigatório[9]. Embora Agostinho fosse contra juramentos[10], João Crisóstomo defendia isso abertamente[11]. Embora Lactâncio tenha pregado vigorosamente contra o uso da força[12], Agostinho foi enfaticamente em favor da coerção[13].

A questão do divórcio também era outro ponto de bastante polêmica e divergência. Tertuliano, Lactâncio e Cirilo de Alexandria defendiam que o divórcio era permitido em casos de adultério, ao passo em que Jerônimo, Clemente de Alexandria, Orígenes e Agostinho eram contra até neste caso[14]. Tertuliano e Atenágoras eram tão mais rigorosos que diziam que até os viúvos que se casassem de novo estariam cometendo adultério![15]

Como era de se esperar, os primeiros cristãos também divergiram sobre a questão do batismo. Tertuliano se posicionou explicitamente contra o batismo infantil[16], e a Didaquê torna extremamente improvável que bebês fossem batizados[17]. A partir do terceiro século, Orígenes começa a pregar o batismo infantil e a influenciar os Pais da Igreja da mesma época. Mesmo assim, muitos deles, que nasceram cristãos, não foram batizados senão apenas na idade adulta, o que mostra que esta ainda não era uma prática universalizada na Igreja[18]. Vale ressaltar ainda que tanto a Didaquê quanto Cirilo de Jerusalém ensinaram expressamente o batismo por imersão[19], e também lembrar a famosa briga entre Cipriano, a favor do rebatismo, e Estêvão, que era contra[20].

Até a data da Páscoa foi alvo de enorme polêmica no segundo século. Na época, Policarpo entrou em conflito com Aniceto por causa do dia da celebração[21], o que se repetiria mais tarde entre Polícrates e Vitor, precisando da intervenção de Irineu para apaziguar os ânimos, já que se falava até de excomunhão por conta desta divergência[22]. Faltaria-me tempo para mencionar aqui divisões sobre a cláusula filioque, sobre culto às imagens, sobre eucaristia, sobre liturgia, sobre livros canônicos e apócrifos, sobre o limite da jurisdição e autoridade do bispo romano, sobre a quantidade de juízos futuros, sobre escatologia, bem como de tantas outras divergências entre as igrejas cristãs e bispos cristãos dos primeiros séculos, daquela mesma Igreja conhecida como “universal” ou “católica”, da qual os romanistas dizem que faziam parte.

Basta ler um livro decente sobre história da Igreja para perceber que a Igreja pintada pelos apologistas católicos é uma fantasia criada pela mente fértil do leigo alienado. Enquanto o papista burro pensa que “unidade” significa uma Igreja totalmente harmoniosa que não possui divergência teológica nenhuma uns com os outros, uma análise básica da história da Igreja nos mostra precisamente o contrário. Mas se o conflito e as divergências sobre doutrina impugnam necessariamente uma igreja, tornando-a “satânica”, então nem as igrejas cristãs da época de Paulo (que estavam cheias de erros), muito menos as igrejas primitivas da era patrística (que também tinham inúmeras divergências teológicas entre si) deveriam ser consideradas “cristãs” mesmo.

Pela lógica do papista, teriam que ser consideradas “satânicas”, e a Igreja mesmo só teria surgido séculos mais tarde, quando o bispo romano, de forma unilateral e ditatorial, proclamou sua própria “jurisdição universal”, mandando e desmandando em Roma da forma que bem entendesse. De fato, é só assim que se consegue a tão sonhada “unidade” da utopia do papista burro: com um ditador que dita todas as regras do jogo, em seus mínimos detalhes, decidindo tudo o que alguém deve crer, e no que não deve. Mas nem essa igreja romana medieval existe mais: atualmente, o papa é mais fantoche que ditador. Ele permite e até incentiva movimentos internos conflitantes na ICAR, como todos os outros que já mencionei.

Os católicos da renovação carismática praticam o falar em línguas pentecostal igual os “protestantes satânicos” fazem, tem retiros de cura interior e libertação igual os “protestantes satânicos” têm, praticam o “cair no Espírito” igual os “protestantes satânicos” praticam, quebram maldições hereditárias igual outros “protestantes satânicos” quebram, tem liturgia moderna igual os “protestantes satânicos” tem, e na raiz de seu movimento tem a pesada influência de livros escritos por “protestantes satânicos”, como o pastor David Wilkerson.

No vídeo abaixo, o padre Jonas, da RCC, ensina o catoleigo a falar em línguas:


Aqui tem legendado, para ficar mais fácil de aprender e praticar:


Neste outro vídeo, o padre derruba as freiras no chão pelo “cair no Espírito”:


Neste outro vídeo, um padre muito famoso diz que o demônio não existe, e desafia Lúcifer e Belzubi contra ele:


Neste outro vídeo, o padre Pinto faz missa junto com os macumbeiros:


Neste outro vídeo, os católicos franceses fazem missa junto com os adeptos do candomblé, com todos os "pais de santos" dentro da igreja, e logo depois vão dançar axé com a Margareth Menezes:


Em meio a tudo isso, o que o papa Francisco faz? Excomunga todos do movimento carismático? Não. Na verdade, ele disse isso:

“Eu vou dizer uma coisa: nos anos 1970, início dos 1980, eu não podia nem vê-los. Uma vez, falando sobre eles, disse a seguinte frase: eles confundem uma celebração musical com uma escola de samba. Eu me arrependi. Vi que os movimentos bem assessorados trilharam um bom caminho. Agora, vejo que esse movimento faz muito bem à igreja em geral. Em Buenos Aires, eu fazia uma missa com eles uma vez por ano, na catedral. Vi o bem que eles faziam. Neste momento da igreja, creio que os movimentos são necessários. Esses movimentos são uma graça para a igreja. A Renovação Carismática não serve apenas para evitar que alguns sigam os pentecostais. Eles são importantes para a própria igreja, a igreja que se renova[23]

E, mesmo assim, ainda tem um bando de tridentino fanático dizendo que “a Igreja Católica é una” e que não tem absolutamente nenhuma divergência doutrinária interna. Alguns mais fanáticos ainda dizem que “a RCC não é catolicismo” (nem o papa deve ser “catolicismo” então!).

Em suma, da próxima vez que um tridentino doente vier usar o argumento da divisão contra você, faça ele tirar a trave que cega o olho dele, e mande-o estudar a história da Igreja, para ver se ela era essa unidade doutrinária total que só existe no mundo de faz-de-conta dos zumbis tridentinos, os quais vivem encerrados numa torre de marfim, totalmente desconectados do mundo real, ainda esperando o dia em que o papa finalmente colocará para debaixo dos seus pés todos os “inimigos da Igreja”.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (www.lucasbanzoli.com)


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[1]Agostinho, em Carta a Jerônimo.
[2] História Eclesiástica, Livro II, 1:2.
[3] Contra Marcião IV, 19.
[4] Stromata, 7, 16.
[7]Gregório de Nissa, Da Alma e da Ressurreição.
[8]Agostinho, A Vocação dos Eleitos.
[9] História Eclesiástica, Livro III, 30:1-2.
[10] Do Sermão do Monte, 17.
[11] Comentário ao Evangelho de Mateus, Discurso XVII, 6.
[12] Epitome divinarum institutionum, Livro V, 20.
[13] Carta a Vicente.
[14] Bernardo Bartmann, Teologia Dogmatica, vol. III, pag. 391.
[15]Atenágoras, Petição em Favor dos Cristãos, 33.
[16]Tertuliano, Do Batismo.
[17]Didaquê, c. 7.
[19]Cirilo de Jerusalém, Segunda Catequese Mistagógica, c. 4.
[20] Opere di San Cipriano, Lettera 73, pag. 697.
[21] História Eclesiástica, Livro V, 24:16.
[22] História Eclesiástica, Livro V, cap. XXIV.

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