
Um texto bastante utilizado de forma isolada e deturpada por católicos romanos na tentativa de impugnar o livre exame da Bíblia é o que diz:
“Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal”(2ª Pedro 1:20 – Versão Ave-Maria)
Os papistas pegam a parte que diz que “nenhuma... Escritura é de interpretação pessoal”, e imediatamente concluem que o que Pedro estava querendo dizer com isso é que existe um magistério infalível em Roma que interpreta a Bíblia infalivelmente, sendo ele próprio o papa responsável por essa interpretação.
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Nenhuma parte da Escritura pode ser interpretada individualmente | Nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação particular |
Este é mais um caso crônico, onde pessoas desesperadas em buscar fundamentação teórica para um engano teológico encontram na distorção de versos isolados a solução para suas doutrinas heréticas. O que Pedro realmente estava dizendo, em seu contexto, era isso:
“Assim, temos ainda mais firme a palavra dos profetas, e vocês farão bem se a ela prestarem atenção, como a uma candeia que brilha em lugar escuro, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em seus corações. Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo” (2ª Pedro 1:19-21 – NVI)
Diante do contexto, o sentido obviamente não é de que ninguém pode interpretar a Bíblia por si mesmo, e sim que os profetas do Antigo Testamento não profetizaram por si próprios, mas sim pela vontade de Deus. É este o assunto abordado no verso 19, sempre omitido pelos apologistas católicos. Pedro não estava falando nada sobre quem pode e quem não pode interpretar a Bíblia, mas sim sobre a palavra dos profetas, que falaram nos tempos do Antigo Testamento. O verso 20 não muda o foco para se centrar no intérprete, mas continua dizendo que as profeciasda Escritura não provêm de interpretação pessoal do profeta.
O verso 21 confirma este sentido, afirmando que a profecia não teve origem na “vontade humana”, mas que veio de Deus, isto é, que os profetas falaram “impelidos pelo Espírito Santo”. Em outras palavras, tudo o que o texto está dizendo é somente aquilo que os evangélicos já sabem desde sempre: que nenhum profeta disse nada por conta própria, mas impelido pelo Espírito Santo, sob a inspiração divina. Desde o verso 16 o foco era a origem da mensagem, e não no intérprete moderno. Pedro diz:
“De fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, quando lhes falamos a respeito do poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; pelo contrário, nós fomos testemunhas oculares da sua majestade” (2ª Pedro 1:16)
Ou seja, Pedro ressaltava que os cristãos não seguiam fábulas inventadas pela mente fértil do homem; ao contrário, eles seguiam aquilo que os profetas falaram, não por si mesmos, mas por inspiração do Espírito Santo. O foco sempre esteve centrado no fato de que a Escritura não é uma invenção humana, mas é de origem divina. Chega a ser criminoso tirar do texto o verso 20 para fazer supor que Pedro estava dizendo que evangélicos não podem interpretar a Bíblia, e que o sentido do texto é que a interpretação da Bíblia está a encargo do papa romano!
Se Pedro tivesse falado o que os apologistas católicos querem que ele tenha dito, em primeiro lugar, ele não teria se referido aos profetas, mas à Escritura como um todo, porque para os católicos nenhumaEscritura é de interpretação pessoal. Ele se referiu somente à profecia, porque o foco não estava naquilo que o intérprete do século I ou do século XXI poderia ou não interpretar, mas sim no fato de que o profeta do Antigo Testamento não interpretava algo de si mesmo, mas recebia a palavra de Deus, direto da fonte.
Em segundo lugar, se Pedro quisesse dizer aquilo que os papistas inferem que ele disse, seria absolutamente imprescindível que a continuação do verso dissesse que a tarefa de interpretação recaía apenas sobre ele ou sobre os bispos romanos. Mas ele não disse nada disso. Ao contrário, a continuação do verso reforça a interpretação protestante, uma vez que foca na origem da profecia, ressaltando que “jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo” (v.21). O que Pedro estava querendo dizer não é que “ninguém pode interpretar a Bíblia, exceto eu”, mas sim que os profetas não inventaram uma mensagem da cabeça deles, mas falaram por inspiração do Espírito Santo.
Se o contexto imediato dá suporte total à interpretação protestante, o contexto geral lança ainda mais luz, pois por toda a Escritura o conceito de livre exame é bastante claro. Quando Jesus se referiu a uma profecia de Daniel, ele diz “quem lê, entenda”, ao invés de dizer que a interpretação daquela profecia recaía apenas sobre os ombros de bispos romanos investidos de um poderoso magistério infalível:
“Assim, quando vocês virem ‘o sacrilégio terrível’, do qual falou o profeta Daniel, no lugar santo – quem lê, entenda” (Mateus 24:15)
O apóstolo João é ainda mais claro, quando disse que os que estão em Cristo tem a unção dEle, e por isso não tem a necessidade de que alguém os ensine:
"E quanto a vós, a unção que dele recebestes fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como vos ensinou ela, assim nele permanecei”(1ª João 2:27)
Aos efésios, o apóstolo Paulo afirmou:
"Pelo que, quando ledes, podeis entender a minha compreensão do mistério de Cristo" (Efésios 3:4)
O apóstolo não disse que eles quando lessem não poderiam entender, exceto se buscassem a interpretação excelsa e sublime do magistério da igreja de Roma, mas sim que ao ler já podia entender.
A muito conhecida passagem de Atos 17:11 deixa nítido o conceito positivo sobre o livre exame, quando Lucas elogia os bereanos por não aceitarem tudo sem questionar, mas examinarem tudo na Escritura a fim de confirmar a mensagem:
"Ora, os de Bereia eram mais nobres do que os de tessalônica, porque examinavam diariamente nas Escrituras para ver se o que Paulo dizia era mesmo assim" (Atos 17:11)
Esse exame diário nas Escrituras certamente era desprovido de um magistério romano infalível, o qual sequer existia em Bereia. Mesmo se a autoridade do magistério romano estivesse ali na pessoa de Paulo, o texto é bastante claro em dizer que os bereanos não aceitavam o que Paulo dizia sem antes analisarem por si mesmos a Bíblia. E este livre exame praticado pessoalmente pelos bereanos não foi repudiado pelo escritor bíblico, mas elogiado, inclusive chamando-lhes de mais nobres do que os de tessalônica. Portanto, sem dúvida o livre exame é prescrito e apoiado pela própria Escritura.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (www.lucasbanzoli.com)
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