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Historiadores e teólogos católicos reconhecem: não havia primado papal nos primeiros séculos (Parte 1)

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Introdução

Qualquer historiador sério, de qualquer religião que seja, reconhece o fato óbvio de que não havia primado do bispo romano (papado) nos primeiros séculos da história da Igreja. Isso é tão universalmente reconhecido que não é nem questão de história, mas de honestidade intelectual. Como os apologistas católicos em geral não sabem ler, ou não tem amor à prática, desconhecem o fato de que nem os historiadores e teólogos católicos reconhecidos dão crédito à lenda papista de que o bispo de Roma já exercesse supremacia universal desde o início. Este artigo aqui é um presente para eles e um incentivo para que eles comecem a ler os seus próprios historiadores para parar de falar asneira na internet a fim de convencer os trouxas das suas sandices.

A ideia do artigo foi do Bruno Lima, que criou recentemente um blog que eu irei divulgar quando o mesmo estiver pronto. Ele é um grande estudioso da história da Igreja e trouxe um caminhão de citações católicas para serem inclusas neste artigo. Em função do grande número de citações, dividirei este artigo em muitas partes, ao final das quais incluirei as minhas também. Apreciem com moderação.


Desenvolvimento

1º Richard McBrien (sacerdote e teólogo católico e professor da Universidade de Notre Dame)

“Fontes primitivas, incluindo Eusébio, reivindicam que Lino ocupou o cargo por cerca de 12 anos, mas elas não são claras sobre as datas exatas ou o seu exato papel pastoral e autoridade. Deve ser lembrado que ao contrário da piedosa crença católica, a estrutura episcopal monárquica de governo da igreja (também conhecida como o episcopado monárquico, em que cada diocese era liderada por um único bispo) ainda não existia em Roma neste tempo (McBrien, Richard P. Lives of the Popes: The Pontiffs from St. Peter to Benedict XVI. Harper, San Francisco, 2005 updated ed., p. 34)

"Pedro era uma figura de importância central entre os discípulos do Senhor (...) No entanto, os termos primazia e jurisdição é provavelmente melhor evitar ao descrever o papel de Pedro no Novo Testamento. Eles são pós-bíblicos, de fato, canônicos, termos"(McBrien, Richard P. catolicismo. Harper, San Francisco, 1994. P. 753)


2º Eamon Duffy (proeminente historiador católico)

“Para começar, na verdade, não havia 'papa', nem bispo como tal, pois a igreja em Roma foi lenta a desenvolver o cargo de presbítero ou bispo chefe... Clemente não fez nenhuma reivindicação de escrever como bispo... Não há nenhuma maneira de definir uma data em que o cargo de bispo dirigente surgiu em Roma... mas o processo estava certamente completo pelo tempo de Aniceto, em meados dos anos 150” (Duffy, Eamon. Saints & Sinners: A History of the Popes, 2nd ed. Yale University Press, London, 2001, pp. 9, 10,13)

“Estas histórias foram aceitas como história real por algumas das maiores mentes da Igreja primitiva – Orígenes, Ambrósio, Agostinho. Mas elas são o romance piedoso, não história, e o fato é que não temos relatos confiáveis nem do final da vida de Pedro nem a forma ou local de sua morte. Nem Pedro nem Paulo fundaram a Igreja de Roma, pois havia cristãos na cidade antes de qualquer um dos Apóstolos por os pés lá. Também não podemos supor, como Irineu fez, que os Apóstolos estabeleceram uma sucessão de bispos para continuar seu trabalho na cidade, pois todas as indicações são de que não havia um bispo único em Roma por quase um século depois da morte dos Apóstolos. Na verdade, para onde quer que olhemos, os contornos sólidos de uma sucessão de Pedro em Roma parecem obscuros e frágeis" (Eamon Duffy, Santos e Pecadores: A História dos Papas [New Haven e Londres: Yale University Press, 1997]. p 2)

"Por outro lado [a um bispo romano que anteriormente tinha sido martirizado], na próxima perseguição sob Diocleciano em 303, Papa Marcelino (296-304?) teria cedido à pressão. Ele entregou cópias das escrituras e ofereceu sacrifício aos deuses. Ele morreu um ano depois em desgraça, e a igreja romana passou a esquecê-lo” (Eamon Duffy, Santos e Pecadores: A História dos Papas[New Haven e Londres: Yale University Press, 1997]. p 14)

“Sem o apoio do império, o papado se tornou a posse das grandes famílias romanas, uma passagem para o domínio local para o qual os homens estavam dispostos a estupro, assassinato e roubo. Um terço dos papas eleitos entre 872 e 1012 morreu em circunstâncias suspeitas - John VIII (872-82) espancado até a morte por sua própria facção, Estevão VI (896-7) estrangulado, Leão V (903) assassinado por seu sucessor Sérgio III (904-11), João X (914-28) sufocado, Estevão VIII (939-42) horrivelmente mutilado, um destino compartilhado pelo antipapa grego João XVI (997-8) que, infelizmente para ele, não morreu com a remoção de seus olhos, nariz, lábios, língua e mãos. A maioria desses homens foi manobrada ao poder por uma sucessão de famílias poderosas - os Theophylacts, os Crescentii, os Tusculani. João X, um dos poucos papas desse período que tomou posição contra a dominação aristocrática, foi deposto e assassinado no Castelo Santo Ângelo pelos Theophylacts, que o havia nomeado em primeiro lugar (...) Dos vinte e cinco papas entre 955 e 1057, treze foram nomeados pela aristocracia local, enquanto os outros doze foram nomeados (e nada menos do que cinco demitido) pelos imperadores alemães. O antigo axioma de que ninguém pode julgar o papa ainda estava nos livros canônicos, mas na prática há muito tempo foram anulados. Os próprios papas estavam profundamente envolvidos na guerra dinástica da nobreza romana, e eleição à cátedra de Pedro, como já vimos, era frequentemente uma mercadoria para venda ou troca (Eamon Duffy, Santos e Pecadores: Uma história dos Papas [New Haven e Londres: Yale University Press, 1997] pp 82-83, 87)

“Os Padres Conciliares receberam a leitura do documento de Leão com entusiasmo, declarando que «Pedro tinha falado através de Leão». Isto não era mais do que o que Leão cria acerca de todas as declarações papais (...) Os bispos em Calcedônia, porém, não faziam tal suposição. Eles reconheciam a especial dignidade e a honra da sede apostólica, mas não supunham por isto que qualquer coisa que dissesse o seu bispo devia ser verdade, e parecem ter crido que nesta particular ocasião Pedro tinha falado por meio de Leão. Eles adotaram a solução dele ao problema, portanto, não meramente porque era sua, mas porque a julgaram verdadeira. Para sublinhar isto, no cânon 28 do Concílio reafirmaram o ensino do Concílio de Constantinopla, de que Constantinopla tinha precedência depois de Roma, «porque é a Nova Roma»” (Eamon Duffy, Saints and Sinners: A History of the Popes. New Haven: Yale University Press, 1997, p. 35)


3º Karl Joseph Hefele (a maior autoridade católica em história conciliar)

Não posso entender como é possível, depois de ler as atas precedentes, imaginar-se sequer por um instante que os bispos deste Concílio considerassem os direitos em discussão como de origem divina, e que o ocupante da Sede de Roma fosse, jure divino, supremo sobre todos os pontífices. É bem possível, claro está, afirmar, como alguns fizeram, que as atas tais como as temos foram mutiladas, mas o argumento implica não só muitas dificuldades mas também não poucos absurdos; e não obstante não posso senão pensar que até esta hipótese extrema é preferível a qualquer tentativa de reconciliar as atas como as temos agora com a aceitação por parte dos membros do concílio da doutrina de uma supremacia papal jure divino tal como é agora sustentada pela Igreja Latina” (Hist Conc 3:428, citada em NPNF2, 14:295)


4º Yves Congar (reconhecido cardeal e teólogo católico)

“Às vezes aconteceu que alguns Padres entendiam a passagem de uma maneira que não está de acordo com o ensinamento da Igreja mais tarde. Um exemplo: a interpretação da confissão de Pedro em Mateus 16: 16-19. Exceto em Roma, esta passagem não foi aplicada pelos Padres para o primado papal; eles trabalhavam fora de uma exegese ao nível do seu próprio pensamento eclesiológico, mais antropológica e espiritual do que jurídica” (Yves Congar, Tradição e tradições [New York: Macmillan, 1966], p 398)


5º Klaus Schatz (teólogo e sacerdote católico)

Citações do livro do Klaus Schatz, um teólogo Jesuíta. Seguem algumas citações traduzidas:

"A questão de saber se havia alguma noção de um ofício permanente para além da vida de Pedro, se coloca em termos puramente históricos, provavelmente deve ser respondida negativamente. Isto é, se perguntarmos se o Jesus histórico, ao comissionar Pedro, esperava que ele tivesse sucessores, ou se o autor do Evangelho de Mateus, escrito após a morte de Pedro, estava ciente de que Pedro e sua comissão sobrevivia nos líderes da comunidade Romana que lhe sucedeu, a resposta em ambos os casos é provavelmente 'não'" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, pp.1-2)

"Se perguntássemos se a Igreja primitiva estava ciente, após a morte de Pedro, de que a sua autoridade tinha passado para o próximo bispo de Roma, ou em outras palavras, que o chefe da comunidade em Roma era agora o sucessor de Pedro, a Pedra da Igreja, portanto, o sujeito da promessa em Mateus 16:18-19., a questão, colocada nesses termos, deve certamente ser dada uma resposta negativa" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 2)

"No entanto, as reivindicações concretas de uma primazia sobre toda a Igreja não podem ser inferidas a partir desta convicção. Se alguém tivesse perguntado a um cristão no ano de 100, 200 ou mesmo 300, se o bispo de Roma era a cabeça de todos os cristãos, ou se houve um bispo supremo sobre todos os outros bispos e que teria a última palavra em questões que afetam toda a Igreja, ele ou ela certamente teria dito não"(Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 3)

"No entanto, ele [Clemente de Roma] não é apontado como o autor da carta; em vez disso, o verdadeiro remetente é a comunidade romana. Nós provavelmente não podemos dizer com certeza que havia um bispo de Roma na época, parece provável que a igreja romana era governada por um grupo de presbíteros, de quem muito rapidamente surgiu um oficiante ou ‘primeiro entre iguais’, cujo nome foi lembrado e que posteriormente foi descrito como ‘bispo’, após meados do século II"(Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 4)

[Em 1 Clemente]

"Mas seria ir longe demais deduzir que a igreja romana tinha autoridade formal ou precedência sobre outras igrejas, como foi feito com muita pressa por católicos romanos no passado. Em primeiro lugar, mesmo se essa admoestação reivindicasse a autoridade de Deus e a assistência do Espírito Santo, permaneceria dentro do contexto da universal e fraterna solidariedade das Igrejas cristãs, embora seja falado a uma igreja irmã que havia se desviado" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 5)

[A "Carta aos Romanos" de Inácio de Antioquia]

"No entanto, este tipo de interpretação jurídico-constitucional dificilmente corresponde às ideias dos contemporâneos de Inácio" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 6)

[A questão da Páscoa e o batismo herético]

"É dentro desse contexto que podemos descobrir, a partir do final do segundo século, as primeiras tentativas por parte da Igreja romana de assumir a responsabilidade por toda a Igreja. Podemos observar, por um lado, que essas primeiras iniciativas encontraram resistência e terminaram em fracasso. Roma não conseguiu manter a sua posição contra a opinião contrária e práxis de uma parcela significativa da Igreja. As duas controvérsias mais importantes desse tipo foram as disputas sobre a festa da Páscoa e o batismo herético. Cada uma marca uma etapa no sentido da autoridade de Roma e ao mesmo tempo revela a resistência inicial de outras Igrejas às reivindicações romanas"(Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 11)

“No decurso desta controvérsia Estevão deve ter reivindicado ser o sucessor de Pedro no sentido de Mateus 16:18. Este é o primeiro exemplo conhecido em que Mateus 16:18 foi aplicado ao bispo de Roma" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 13)

"A carta de Firmiliano é uma controvérsia sustentada contra Estevão e os seus argumentos a favor da validade do batismo herético. O décimo sétimo capítulo contém as expressões ‘quem alega que tem a sucessão de Pedro, sobre quem foi estabelecido os fundamentos da Igreja’ e ‘quem afirma que por sucessão, tem a Sé de Pedro’, ambos dirigidos contra o bispo de Roma. Essas alegações são rejeitadas, mas não formalmente, porque, em princípio, nenhum bispo individualmente, nem mesmo o bispo de Roma pode fazer tal afirmação. Em vez disso, o recurso para Mateus 16:18 é dito ser injustificado neste caso porque Estevão, reconhecendo o batismo dos hereges, está ‘introduzindo muitas outras rochas’, isto é, ele está traindo a unidade da Igreja e, portanto, agindo contrariamente ao sentido de Mateus 16:18 (e, portanto, da sucessão de Pedro)" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, pp. 13-14)

[Cipriano e Estevão]

"Em vez disso, escreve para Estevão que ele não deseja impor sua própria posição sobre ninguém, porque cada bispo é independente no governo de sua Igreja e é responsável perante Deus" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 14)

[Sobre os elogios de Cipriano a Roma de Cornélio e a controvérsia envolvendo os dois bispos espanhóis]

"A questão aqui era o reconhecimento de uma autoridade superior pertencente aos sucessores de Pedro, que não podiam ser adequadamente descritas em termos jurídicos. Em princípio, o bispo romano não tinha mais autoridade do que qualquer outro bispo, mas na hierarquia de autoridades, sua decisão tomou o lugar mais importante. Por outro lado, Cipriano considerava cada bispo como sucessor de Pedro, titular das chaves do reino dos céus e possuidor do poder de ligar e desligar. Para ele, Pedro encarna a unidade original da Igreja e do escritório episcopal, mas, em princípio, esses também estavam presentes em cada bispo. Para Cipriano, a responsabilidade por toda a Igreja e a solidariedade de todos os bispos também poderia, se necessário, voltar-se contra Roma. Há um exemplo marcante desta relação no mesmo período envolvendo dois bispos espanhóis, Basilides e Marcial. Durante a perseguição não tinham sacrificado aos ídolos, mas como muitos outros cristãos, haviam subornado funcionários para obter ‘certificados de sacrifício’ (libelli). Como resultado, eles haviam perdido credibilidade em suas congregações e tinham sido expulsos. No entanto (na opinião de Cipriano por deturpar os fatos), eles conseguiram obter o reconhecimento de Estevão de Roma. Cipriano reagiu imediatamente chamando um Sínodo Africano para avisar as duas comunidades que rejeitassem a decisão de Estevão e se recusassem a readmitir os dois bispos. Infelizmente, não sabemos como o assunto foi resolvido" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, pp. 20-21)

[Sobre o Sínodo de Sardica que o Papa Júlio II pediu e os imperadores convocaram]

"O concílio entrou em colapso no início. Primeiro os orientais, bispos anti-atanasianos não deveriam ser autorizados a participar, mas sua demanda foi rejeitada. Eles insistiram particularmente na autonomia do Oriente e do Ocidente, afirmando que o Ocidente não deve interferir em disputas orientais e vice-versa" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 24)

"Os resultados históricos imediatos de Sardica devem ser distinguidos dos efeitos a longo prazo. As suas decisões não foram imediatamente realizadas, mesmo no Ocidente e muito menos no Oriente. Os Cânones de Sardica, falsamente chamados de ‘Nicéia’ em Roma a partir do início do século V em diante, foram as células iniciais que iriam lentamente germinam totalmente durante quase mil anos para florescer por volta de 1200 sob Inocêncio III: eram os germes da exclusiva competência jurídica de Roma em causas maiores, ou seja, em tudo que tem a ver com os bispados ou bispos (remoção, transferência para outra diocese, renúncia, e assim por diante). É verdade que mais tarde, quando o desenvolvimento do primado tinha ido muito além Sardica e os ‘decretos de Pseudo- Isidoro’ no século IX havia introduzido um grande número de direitos de interferência pela Sé Apostólica. Alegou-se que Sardica estabeleceu um conceito de primazia que se inclinou mais para suplementar e foi mais estruturado dentro do sistema sinodal. Após o século XI, foi praticamente esquecido. Seu raciocínio distorcido em comparação com as teorias posteriores de primazia, a sua afirmação de que estava criando um novo direito (ao invés de reconhecer um direito existente fundamentado na ordem de Cristo), e, finalmente, o fato de que nunca ouvimos falar de um único recurso com base em seus princípios - todos esses fatores fizeram Sardica parece uma testemunha inadequada à tradição" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, pp. 25-26)

[Apelos a Roma pela deposição de Bispos]

"Estritamente falando, Roma ainda não está estabelecida como um verdadeiro tribunal de recurso, porque não é o bispo romano que faz uma nova decisão sobre o caso. Roma apenas tem a autoridade de revisão para fazer com que o recurso (a um sínodo diferente) seja realizado" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 25)

"O curso posterior da controvérsia ariana parece apresentar o quadro de um conflito em que Roma não prevaleceu; na verdade, parece que Roma nem sequer fez uma tentativa enérgica e deliberada para contrariar o crescente desvio de Nicéia" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 26)

[A opinião de Basílio sobre Dâmaso]

"Roma frequentemente não dispunha de competência e informação adequada sobre os difíceis problemas do Oriente, nem tinha qualquer capacidade real de levar a cabo as suas decisões. O pai da Igreja Basílio tinha algo a dizer sobre isso: ele descobriu que Roma também prontamente deu cartas de comunhão com os bispos, mesmo que estivessem separados uns dos outros. Ele queixou-se especialmente sobre bispo Dâmaso, chamando-o de orgulhoso e arrogante, emitindo juízos do alto de seu cavalo sem realmente compreender as complicadas relações no Oriente: ‘que ajuda está lá para nós a partir de arrogância ocidental?’"(Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, pp. 26-27)

"Permaneceu verdadeiro, no entanto, que a igreja romana não exerceu nenhuma liderança no Leste em tempos normais, e também que sérias divisões eclesiásticas e conflitos não poderiam de modo algum ser rapidamente resolvido por recurso a Roma"(Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 27)

[O recurso de Crisóstomo a Roma]

"Não era realmente esperado que o bispo romano aplicasse medidas autoritárias já que ele não estava em posição de tomar tais ações no Oriente, especialmente contra o poder imperial; em vez disso, a esperança era de que ele desse auxílio sob a forma de expressões morais de solidariedade e mediante a emissão de avisos, escrevendo para outros bispos e solicitando novos concílios. Aconteceu também que as cartas foram enviadas a todas as importantes Sés no Ocidente, ao mesmo tempo; por isso, quando o patriarca João Crisóstomo foi banido de Constantinopla em 404, ele escreveu aos bispos de Roma, Milão e Aquileia"(Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 28)

"É verdade que Roma foi mais modesta nas suas relações com o Oriente. Aqui mesmo Leão Magno não fez nenhuma reivindicação de ser capaz de fazer leis; no Oriente, o papa era apenas o custos canonum - o guardião dos cânones conciliares" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 30)

"No caso do Norte de África, é interessante notar a atitude de uma Igreja autoconfiante e organizacionalmente intacta para com Roma. O dito do bispo Agostinho de Hipona (396-430), Roma locuta, Causa finita (‘Roma falou, o assunto está encerrado’) tem sido citado repetidamente. No entanto, a citação é na verdade uma reformulação ousada das palavras desse Padre da Igreja tomadas completamente fora do contexto (...) Tanto o contexto desta declaração como a sua continuidade com o resto do pensamento de Agostinho não permitem outra interpretação senão de que o veredicto de Roma apenas não é decisivo; pelo contrário, ele acaba com todas as dúvidas depois de tudo o que o precedeu. Isto acontece porque não resta nenhuma outra autoridade eclesiástica de alguma consequência para a qual os pelagianos possam recorrer e, em particular, a própria autoridade da qual eles podiam mais facilmente esperar uma decisão favorável, ou seja, Roma, pronunciou-se claramente contra eles" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 34)

"A Igreja Africana estava ainda mais determinada a defender a sua autonomia jurisdicional. Os Concílios de Cartago em 419 e 424 proibiram quaisquer apelos a Roma... Os norte-africanos reagiram, proporcionando um tribunal de apelo, mesmo para presbíteros ordinários do veredicto do seu próprio bispo ao concílio Norte Africano de Cartago. Isso parecia satisfazer as exigências de justiça. Por sua vez eles tomaram uma posição firme contra a intervenção romana..."(Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 35)

"Portanto, os bispos Norte Africanos proibiram quaisquer apelos 'ultramarinos'. Em contraste com Sardica, aplicaram esta proibição até mesmo aos bispos. Esta decisão particular foi precedida por um caso semelhante envolvendo um bispo que havia rompido com a sua congregação, mas foi protegido por Roma; em que até Agostinho de Hipona ameaçou demitir-se. A partir de agora, o único tribunal de recurso devia ser o concílio Norte Africano de Cartago. Este caso será levantado várias vezes, no futuro, como um exemplo de resistência por parte do episcopado de uma Igreja nacional contra o centralismo romano" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 36)

[A influência de Leão em Calcedônia]

"A questão de saber se ‘Pedro falou por meio de Leão’ significava para a maioria dos padres conciliares que a carta de Leão tinha autoridade formal ou meramente material é, nessa ou de outra forma, um modo simplista de colocar. Certamente não se pode ler uma autoridade formal incondicional, e definitivamente não é uma ‘infalibilidade’ de documentos papais de ensino. A carta de Leão não era de nenhuma forma aceita sem discussão de seu conteúdo e criou sérias dificuldades para alguns padres individuais. Isso, na verdade, não era contrário às instruções de Leão, que apelou ao acordo com base na discussão e compromisso entre os padres. É verdade que ele não considerava a rejeição de sua carta uma possível solução, mas isso foi porque estava convencido de que estava claramente ensinando a fé tradicional" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 44)

[O cânon 28 de Calcedônia]

"A oposição de Roma para o cânone foi um completo fracasso, como foi a sua objeção três séculos mais tarde pela separação da Grécia e da Ilíria. Aqui ficou surpreendentemente claro que Roma não poderia impor sua maneira em questões de organização da Igreja no Oriente, pelo menos não quando os interesses comuns da Igreja bizantina eram contra ela. Apesar da resistência romana, Constantinopla tornou-se a segunda Sé somente porque os patriarcas de Antioquia e especialmente Alexandria foram enfraquecidas pela dominância do monofisismo em suas regiões. É verdade que, em tempos de tensão, Roma repetia continuamente seu protesto contra o posto eclesial de Constantinopla (pela última vez no século XI sob Leão IX), e recordava a ordem imutável e eterna de Roma, Alexandria e Antioquia. Mas isso não mudou a realidade, e quando as boas relações com Constantinopla estavam no lugar ou tinha sido restauradas, Roma abandonou seus protestos e pelo menos manteve silêncio sobre Constantinopla e sua posição no ranking" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 48)

[O papa Vigílio]

"O resultado foi um cisma no Ocidente, onde o papa foi acusado de ter renunciado Calcedônia. Um sínodo de bispos norte-Africano excomungou o papa, e as províncias eclesiásticas de Milão e Aquileia quebraram comunhão com Roma. Milão voltou à comunhão só depois de cinqüenta anos; para Aquileia a separação durou cento e cinquenta anos, até 700. Os bispos da Gália também levantaram objeções. A Igreja espanhola não se separou de Roma, mas em todo início da Idade Média recusou-se a reconhecer esse concílio. A autoridade do papado no Ocidente havia sofrido um duro golpe com relação ao dogma também"(Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 53)

[O papa Honório]

"... Pois é um fato indiscutível que deve ser mantido contra todas as tentativas de diluí-lo que o concílio e os papas subsequentes condenaram claramente Honório como um herege. Em outras palavras, eles estavam absolutamente convencidos de que um papa poderia cair em heresia"(Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 55)

[Sobre a jurisdição do Papa]

"Em vez disso, em 733 ele removeu Ilíria e Grécia, bem como a Itália menor e Sicília, que ainda estavam sob jurisdição Bizantina, do Patriarcado romano e os colocou sob o patriarcado de Constantinopla. Essa ação não pode ser revertida, apesar de todos os esforços papais desde esse momento até o IV Concílio de Constantinopla (869-870), nem mesmo quando a paz foi restaurada de outra forma à Igreja. Mesmo os líderes orientais da Igreja que eram partidários de Roma não pensaram em aderir às reivindicações romanas nesta matéria" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 56)

[Sobre o incidente de Photius]

"No entanto, os eventos notáveis que se seguiram mostraram quão pouca aceitação interna essas declarações encontraram dentro da Igreja bizantina. Bispos reclamaram ao imperador que ele [Photius] estava permitindo que a Igreja de Constantinopla fosse submetida à Igreja romana como uma serva da sua senhora" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 58)

[No Concílio de Constança]

"Isso é facilmente entendido também do fato de que João XXIII devia a sua autoridade ao próprio princípio que os padres do Concílio de Constança apelaram, ou seja, a emergência do poder concílio sobre o papa" (Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present. Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996, p. 107)


Considerações Preliminares

Ainda falta muito para concluirmos este estudo, e dezenas de outros historiadores católicos romanos ainda serão mencionados, mas do que já vimos até aqui, fica a pergunta: os apologistas católicos que defendem o primado do bispo romano desde o início da Igreja são desonestos ou apenas ignorantes? Em outras palavras, eles conhecem o que os próprios historiadores católicos afirmam, mas mesmo assim preferem enganar seus leitores burros com mentiras, ou simplesmente desconhecem e mantém suas besteiras por ignorância?

Embora a desonestidade dos apologistas católicos seja notória e indiscutível, neste caso específico eu estou inclinado à segunda opção. Eles são tão bárbaros, rudes, ignorantes e mal instruídos que não leem nem seus próprios teólogos de renome, se contentando com um “professor” Felipe Aquino, um padreco Gargamel ou um Paulo Porcão da vida, que os enganam na maior caradura. Não leem literatura séria, não possuem senso crítico e se acomodam com a superficialidade para manter de pé uma doutrina falsa e falida. Isso ficará cada vez mais evidente na medida em que avançarmos para os outros historiadores católicos citados na série.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Textos por: Bruno Lima.

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Como era a Inquisição na cabeça de um monstro moral

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Entender como funciona a mente de um psicopata é uma das tarefas mais difíceis até mesmo para os melhores psiquiatras. Em “Autos-de-fé como espetáculos de massa”, Luiz Nazario ressaltou que os líderes nazistas julgados no Tribunal de Nuremberg não demonstravam absolutamente nenhum remorso pelas práticas nazistas, da mesma forma que os inquisidores partiram de consciência tranquila deste mundo, “certos de terem cumprido seu dever”[1]. O fato é que nenhum psicopata tem autoconsciência da sua própria psicopatia. Na cabeça do psicopata, ou seja, no mundo em que ele vive, ele possui a verdade absoluta e por isso tem o direito de exterminar todos aqueles que estão militando no lado contrário. Uma vez que ele é o detentor da Verdade, quem está no outro lado é um “inimigo”, que precisa ser combatido de todas as formas possíveis.

Os nazistas faziam isso com os judeus. Para eles, os judeus eram uma raça inferior que fazia um tremendo mal à humanidade, e por isso o que eles faziam nos campos de concentração não era uma coisa do mal – era algo bom, maravilhoso, louvável, um enorme “serviço à humanidade”. A mesma coisa fazem os muçulmanos no mundo de hoje, que perseguem todos aqueles que apostatam do Islã. Uma vez que o Islã é a “verdade absoluta”, apostatar significa estar corrompendo a fé genuína, e tudo aquilo que degrada a alma deve ser combatido com violência máxima – daí vem a ideia de um “Estado Islâmico” (ISIS) aterrorizando não apenas os muçulmanos de bem, mas o mundo inteiro, para que todos se dobrem ante a espada do Islã.

Da mesma forma, era essa a mentalidade dos inquisidores. O inquisidor era o dono da verdade; na cabeça dele, a inquisição era necessária para aterrorizar o povo e mantê-los ao máximo afastados do terrível “crime” de heresia, o qual deveria ser punido com todo o rigor necessário. Judeus, mouros, albigenses, valdenses, protestantes, “bruxas” e qualquer tipo de descontente com a Igreja Assassina deveria ser torturado, seus bens confiscados e, caso não abjurasse, condenado à fogueira. Mas não se engane: da mesma forma que o nazista, os militantes pró-inquisição não estão fazendo mal algum em sua própria perspectiva. Eles estão apenas “purificando” a fé de todos os “males”. Eles são os salvadores do mundo, e, na cabeça desses mesmos monstros morais, suas vítimas que queimavam às milhares nas fogueiras é que eram o verdadeiro mal, aquilo que deveria ser atacado a todo e a qualquer custo.

Aqui entra em cena um ponto interessante: na cabeça de todo monstro moral que defende alguma aberração humana (inquisição, fascismo, comunismo, nazismo, ditaduras, etc), a vítima é ele mesmo, que está apenas buscando purificar o mundo pela via do fogo e do terror. Quem é o verdadeiro vilão, é claro, são os “hereges” (para os muçulmanos e tridentinos), os judeus (para os nazistas e inquisidores), os capitalistas (para os comunistas), os democratas (para os fascistas e ditadores), etc. Ou seja: o outro é a raiz de todos os males. Ele próprio, que está matando, torturando e aterrorizando todo mundo, está apenas fazendo o bem, para tornar o mundo um “lugar melhor”. É assim que funciona a realidade na cabeça de um psicopata: é uma realidade paralela, que consiste em um senso moral invertido, onde a vítima se torna o vilão e o vilão se torna a vítima. A cabeça da maioria dos bandidos e criminosos funciona exatamente assim. Uma moralidade invertida.

Há poucos dias atrás um amigo me disse: “Lucas, é impressionante o fanatismo desse pessoal. Qualquer pessoa com um mínimo de espírito cristão iria admitir que a Igreja errou, e não ficar defendendo um negócio desses”. Mas é exatamente este o ponto. Na cabeça do psicopata, seu sistema nunca erra. É infalível. Hitler era infalível para os nazis, Mussolini era intocável para os fascistas, Marx é idolatrado pelos comunas, a Igreja é “Santa” e “Imaculada” para os católicos. Todo monstro moral, antes de defender a aberração “x” que defende, primeiro santifica seu próprio sistema, dotando-lhe de infalibilidade oficial ou simbólica, para só depois de sofrer essa lavagem cerebral passar a defendê-la, porque, afinal, seu sistema tem que estar sempre certo. Não é de se surpreender que todo psicopata defenda uma verdade absoluta e um sistema infalível. Na cabeça dele, esse sistema é que salvará o mundo, e isso justifica o extermínio de qualquer um que se oponha a este propósito.

O cidadão acima, que declarou explicitamente que a inquisição e as cruzadas “asseguraram ao novo mundo a paz e o progresso que de modo algum viriam sem a sua existência”, está consciente do que realmente foi a inquisição e as cruzadas, da mesma forma que o nazista está plenamente consciente do que foi o nazismo. Em outras palavras, ele não defende a aberração moral por mera ignorância, mas porque realmente acha certo que se assassine pessoas por terem uma fé diferente. É essa a moralidade dos fanáticos que seguem a Igreja Assassina. Não é nada diferente do que era na Idade Média e cujo espírito permanece existindo até hoje.

O monstro moral sabe, por exemplo:

• Que o papa Inocêncio IV, em sua bula Ad Extirpanda (1252), já ordenava torturar o “herege” até o limite da diminuição de membro e perigo de morte:

“Além disto, que a Autoridade ou Dirigente seja obrigado a forçar todos os hereges, os que tiver capturado, a confessar seus erros expressamente, como verdadeiramente ladrões e homicidas de almas, e surrupiadores dos sacramentos de Deus e da fé cristã, e a acusar outros hereges, os que conhecem, e os crentes e os receptadores, e os defensores deles, assim como são forçados os surrupiadores e os ladrões das coisas temporais, a acusar seus cúmplices e a confessar os malefícios que fizeram, até o limite da diminuição de membro e perigo de morte[2]

• Ele também sabe que o Manual dos Inquisidores prescrevia a tortura para todas as classes de homens e mulheres, ordenando torturar até mesmo as crianças e os velhos, que não podiam ser torturados no poder civil:

“Uma questão que merece particular atenção é quanto à existência ou não de categorias de pessoas não torturáveis, em decorrência de algum privilégio. Efetivamente, funciona, do ponto de vista jurídico, e com uma certa frequencia, a ideia de que certas pessoas não podem ser torturadas – soldados, cavaleiros, pessoas importantes – devendo se limitar a aterrorizá-los, mostrando-lhes os instrumentos de tortura e ameaçando-os de utilizá-los. Mas este é um direito que não se conta nas questões de heresia: nenhuma das pessoas isentas de tortura a propósito de qualquer delito não o será, tratando-se de heresia. É o caso de se perguntar, em contrapartida, se se podem torturar as crianças e os velhos por causa da sua fragilidade.Pode-se torturá-los, mas com uma certa moderação; devem apanhar com pauladas ou, então, com  chicotadas. E o que fazer se o réu em questão é uma mulher grávida? Esta não é torturada nem aterrorizada, para evitar que dê à luz ou aborte. Deve-se tentar arrancar-lhe a confissão através de outros meios, antes de dar à luz. Depois do parto, não haverá mais nenhum obstáculo à tortura[3]

• Ele também sabe que o mesmo Manual prescreve ainda que as crianças de menos de 14 anos deveriam ser chicoteadas para confessarem sua “heresia”:

“Quanto à idade, os menores de vinte e cinco anos serão torturados, mas não as crianças de menos de quatorze anos. Elas serão aterrorizadas e chicoteadas, mas não torturadas”[4]

• Ele também sabe que bastava uma única testemunha para mandar alguém à tortura:

“Os inquisidores observam, à luz da obra de Eymerich e do exemplo citado, que um único depoimento basta para aplicar a tortura, como demonstra claramente o meu comentário a respeito do sétimo princípio”[5]

“Lembremos que um só testemunho basta para justificar a tortura, sem precisar de indícios fortes ou graves. O conteúdo dos depoimentos basta”[6]

• Ele também sabe que, quando os cruzados que ele tanto adora entraram em Jerusalém, assassinaram crianças, mulheres, idosos e até mesmo judeus, colocando todos eles para dentro da sinagoga e ateando fogo:

“Os exilados ainda tremem cada vez que falam nisso, seu olhar se esfria como se eles ainda tivessem diante dos olhos aqueles guerreiros louros, protegidos de armaduras, que espalham pelas ruas o sabre cortante, desembainhado, degolando homens, mulheres e crianças, pilhando as casas, saqueando as mesquitas. Dois dias depois de cessada a chacina não havia mais um só muçulmano do lado de dentro das cidades. Alguns aproveitaram-se da confusão para fugir, pelas portas que os invasores haviam arrombado. Outros jaziam, aos milhares, em poças de sangue na soleira de suas casas ou nas proximidades das mesquitas. Entre eles, um grande número de imãs, ulemás e ascetas sufis que haviam deixado sua terra para viver um retiro piedoso, nesses santos lugares. Os últimos sobreviventes forçados a cumprir a pior das tarefas: transportar os cadáveres dos seus, amontoando-os, sem sepultura, nos terrenos baldios para em seguida queimá-los. Os sobreviventes por sua vez deveriam proteger-se para não serem massacrados ou vendidos como escravos”[7]

“Os louros cavaleiros começavam a invadir as ruas da cidade. A comunidade inteira, reproduzindo um gesto ancestral, reuniu-se na sinagoga principal para orar. Os francos então bloquearam todos os acessos. Depois, empilhando feixes de lenha em torno, atearam fogo. Os que tentavam sair eram mortos nos becos vizinhos, os outros, queimados vivos”[8]

• Ele também sabe que, por ocasião da Quarta Cruzada, os cruzados que ele tanto admira como heróis que “salvaram a civilização ocidental” saquearam a cidade cristã mais rica da época (Constantinopla), dos ortodoxos bizantinos, estupraram suas mulheres e assassinaram a muitos:

“A violência dos ocidentais também encontrou uma válvula de escape nas agressões sexuais. Como ocorreu com tantos exércitos ao longo da história, estuprar as mulheres do inimigo foi no caso dos cruzados uma liberação física e outra manifestação de sua vitória. Sem consideração alguma pelos gritos de suas vítimas e ignorando completo as angustiadas súplicas de seus pais, maridos ou irmãos, os cruzados forçavam a toda classe de mulheres, jovens e velhas, casadas e donzelas. Nicetas pergunta: ‘Acaso respeitaram esses loucos, encolerizados contra o sagrado, às piedosas parteiras e às jovens em idade de se casar ou às donzelas que, havendo escolhido uma vida de castidade, estavam consagradas a Deus?’[9]. Nicolás Mesarites relata que os ocidentais ‘arrancavam os filhos de suas mães e as mães de seus filhos, tratavam às virgens com lascívia e despudor nas santas capelas sem temer a ira de Deus nem a vingança dos homens’[10][11] 

• Ele também sabe que, se alguém morresse nas torturas da Inquisição, a culpa era da própria pessoa, porque “não quis confessar”. Como diz o Regimento do Santo Ofício:

“Se no tormento ela morrer, quebrar algum membro ou perder algum sentido, a culpa será sua, pois voluntariamente se expõe àquele perigo, que pode evitar confessando suas culpas”[12]

• Ele também sabe que a Inquisição adotou o sistema de limpeza de sangue, justamente a mesma coisa que seria adotada mais tarde pelos nazistas contra os mesmos judeus. As Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, de 1853, afirma:

“Se informará pelos párocos, donde os sobreditos forem naturais, secretamente da limpeza de sangue do habilitando, vida e costumes, e da limpeza de sangue de seus pais, e avós, o que fará por carta sua, que enviará aos párocos encomendando-lhe brevidade”[13]

Até o herói dos católicos inquisidores, João Bernardino Garcia, que escreveu um livro inteiro ridículo tentando defender a inquisição com o mesmo modus operandi nazista, reconhece:

“A ‘limpeza de sangue’ passou a ser exigida para a obtenção de postos de relevo na Administração Pública, civil e militar, bem como no mundo universitário e no âmbito eclesiástico. Várias disposições da legislação civil assim dispunham, embora na prática nem sempre fossem obedecidas. A proibição apresentou-se também como pena acessória, transpessoal, decorrente das condenações impostas pelo Santo Ofício. Consoante seu Regimento de 1640, o filho e o neto de um condenado pela Inquisição ficavam impedidos de serem juiz, meirinho, notário, escrivão, procurador, feitor, almoxarife, médico, boticário, etc., etc”[14]

• Ele também sabe que a Inquisição expulsou judeus e mouros da Espanha, em número estimado em mais de 180 mil pessoas (apenas em relação aos judeus), que tiveram que viver na miséria desde então. Também sabe que em Portugal os judeus foram alvos de conversão forçada, sendo perseguidos severamente a partir daí e considerados de “sangue impuro”. Também sabe das milhões de mortes causadas direta ou indiretamente pelo “Santo Ofício”, sabe que a Igreja obrigava o Estado a matar os “hereges”, sabe que os que não eram mortos tinham seus bens confiscados para viver na pobreza o resto da vida, sabe que os bens dos filhos dos hereges também eram confiscados mesmo depois que seus pais já haviam morrido, sabe dos instrumentos de tortura utilizados pela Inquisição, os quais podem ser conferidos no manual do inquisidor Bernard Gui, em seu Liber Sententiarum Inquisitionis (Livro das Sentenças da Inquisição):


Luiz Nazario fala sobre alguns destes instrumentos de tortura da Inquisição:

“O suspeito ‘suficientemente torturado’ era aquele que recebia tormentos de gravidade comparável à gravidade dos indícios, sem confessar. O ‘máximo justo’ era duas séries completas de torturas durante 15 dias, um instrumento diferente por dia. O potro e a polé eram as torturas mais empregadas. O potro era uma mesa de ripas onde o paciente, depois de amarrado nas pernas e braços, tinha as carnes cortadas pela pressão das cordas arrochadas. A polé suspendia a vítima, com pesos nos pés, deixando-a cair bruscamente sem tocar no chão; ela no mínimo acabava com os ossos quebrados”[15]

E Michael Baigent acrescenta:

“Na Espanha, favoreciam-se três em particular. Havia a toca, ou tortura pela água, na qual se forçava água pela goela da vítima abaixo. Havia o potro, onde a vítima era amarrada num ecúleo com cordas apertadas, que podiam ser apertadas mais ainda pelo torturador. E havia a garrucha, ou polia, versão espanhola do strappado italiano. Nesse procedimento, amarravam-se as mãos da vítima às costas e depois a penduravam pelos pulsos numa polia no teto, com pesos amarrados nos pés. Levantavam-na muito devagar, para maximizar a dor, depois baixavam-na alguns pés, com uma brusquidão e violência que deslocavam os membros. Não surpreende que muitas vítimas ficassem permanentemente aleijadas, ou com a saúde cronicamente prejudicada. Não era raro, claro, que viesse a morte. Se vinha, julgava-se que fora incidental, mais uma infeliz concomitante ou subproduto da tortura que uma consequência direta dela”[16]

Ele sabe de tudo isso, mas mesmo assim defende a inquisição. Por quê? Pela mesma razão que os nazistas defendem o holocausto. Os historiadores nazistas revisionistas não estão preocupados apenas em suavizar aquilo que realmente foi o nazismo e em diminuir o número de pessoas nos campos de concentração. Mais do que isso, os neo-nazistas estão empenhados na defesa da própria premissa que justifica o nazismo: os judeus tem “sangue impuro”, e por isso devem ser eliminados. Ideologia essa retirada direto do catolicismo romano, que já estava pregando a pureza de sangue desde muito antes.

Monstros morais como Rafael Rodrigues estão dispostos a ir muito mais além do que o papa João Paulo II (que pediu perdão pela Inquisição), e também estão dispostos a ir muito mais além do que aqueles que pensam que a Inquisição foi um erro que não deveria ter acontecido. Mais assombroso que isso: eles também estão dispostos a ir além daqueles que dizem que a Inquisição foi um acerto, mas que cometeu alguns “exageros” (sem nunca mencioná-los). Nada disso. Monstros morais como ele estão dispostos a defender o que a Inquisição foi em sua plenitude, porque concordam com a premissa que a sustenta: se é herege, tem que matar.

A monstruosa defesa explícita de apologistas católicos à inquisição deveria bastar para mostrar que o catolicismo não evoluiu de si mesmo. Ao contrário: o obrigaram a evoluir. Se não fosse pela Reforma Protestante e pelos novos valores de tolerância e respeito, eles estariam matando até hoje. A premissa continua de pé. Monstros morais como Rafael Rodrigues não acham que matar um herege era bom para “salvar a alma” apenas na Idade Média. Eles acham que isso seria bom para ser praticado hoje. Eles só não podem continuar colocando em prática sua ideologia nefasta e diabólica porque o maldito “mundo relativista” de hoje ensina tolerância e liberdade de pensamento, os mesmos valores que a Igreja sempre combateu (veja aqui).

É bom que se ressalte: a Igreja primitiva nunca foi a favor da conversão pela coerção ou da manutenção da fé pelas vias do fogo. Apologistas cristãos primitivos como Tertuliano e Aristides escreviam Apologias destinadas às autoridades romanas pedindo apenas tolerância, liberdade para poderem praticar seu culto em paz. Os cristãos primitivos, como bem mostra o próprio Bernardino no livro supracitado, eram totalmente contra o uso de armas e de violência, ainda mais por questões religiosas. Foi a seita romana, a “mãe de todas as abominações e prostituições da terra” (Ap.17:5), que inverteu este pensamento. Foi ela que, diferente de sua irmã ortodoxa oriental e dos “malditos protestantes” ocidentais, decidiu fazer o mesmo que o Império Romano fazia antes da conversão de Constantino: perseguir e assassinar aqueles que não compartilhavam a mesma fé, inclusive os cristãos. A Roma papal é a sucessora da Roma política, que herda seu espírito intolerante e tirânico.

É triste saber que em pleno século XXI ainda existem monstros morais dispostos a defender aberrações humanas como o holocausto nazista e a inquisição romana. Essa é a prova mais forte de que a influência do catolicismo teve que passar para que nós vivêssemos no mundo de liberdade e democracia em que vivemos hoje. Essa é a prova mais forte de que a pura e simples influência católica romana nos leva a um mundo de assombroso terror, intolerância, tirania e totalitarismo. Todos os regimes totalitários partilham do mesmo princípio: nós estamos certos, elesestão errados, então nós podemos matar eles. A Igreja Romana nada mais é do que uma dentre as várias formas de totalitarismos existentes no mundo de hoje, e um totalitarismo que não morreu, apenas dorme nos pensamentos de um ou outro sujeitinho inescrupuloso e imoral como o astronauta católico.

Só um sujeito baixo, medíocre e cafajeste pode chegar ao ponto de dizer que chegamos a um mundo de “paz” e “progresso” por meio da inquisição católica, uma das páginas mais sombrias da história da humanidade. Nenhuma forma de totalitarismo gera tolerância e paz; ao contrário, o que elas fazem é gerar uma crescente cada vez maior de intolerância e desprezo para com a vida humana. A inquisição não gerou nada além de ódio aos judeus, desprezo à vida e profunda intolerância religiosa que resultou em uma Igreja encharcada de sangue até o pescoço. Nem mesmo no aspecto econômico ela foi útil. Basta comparar os países mais infestados pela inquisição (Espanha e Portugal) com os países protestantes para ver que os países protestantes se desenvolveram muitíssimo mais rápido do que os países que atrasaram a Europa com seu regime de terrorismo e insanidade:



(Dos sete países mais desenvolvidos do mundo, sete são de tradição protestante. Mesmo assim, o cretino e vagabundo virtual atribui à Inquisição o progresso da civilização)

Só um completo cretino pode chegar ao ponto de propor que a Inquisição trouxe o progresso à Europa quando os dois países mais afetados pela Inquisição – Espanha e Portugal – foram justamente dois dos mais atrasados de toda a Europa até o século passado, o que se torna ainda mais interessante quando vemos que ambos eram potências antes da Inquisição chegar aos seus domínios. Espanha e Portugal lucraram horrores com o “Novo Mundo”, com o ouro das terras coloniais e com a escravidão, e, mesmo assim, terminaram em atraso econômico e científico, muito atrás de qualquer país protestante no mesmo período.

Como escreveu Michael Baigent, a Inquisição “durara três séculos e meio, e deixara a Espanha num estado do qual só agora começa a se recuperar”[17]. Carlos Fuentes perspicazmente observou que “a Espanha, em 1492, baniu a sensualidade com os mouros, a inteligência com os judeus, e ficou estéril durante os cinco séculos seguintes”[18]. A porcaria da Inquisição trouxe atraso econômico até para as regiões coloniais, e não é à toa que os Estados Unidos (colonizado por protestantes), mesmo com tantos problemas que teve, se desenvolveu bem mais do que os países latinos que foram marcados pela Inquisição trazida da Espanha e de Portugal. Monteiro explica ao fanático católico totalitarista de que forma que o Santo Ofício acabou com o comércio no Novo Mundo:

“A prisão de um dos membros de uma sociedade, em geral, significava a prisão dos demais, o confisco e, assim, a falência da sociedade. Dessa forma, quando a Inquisição lançava-se contra um membro de um grupo de comerciantes, aquela sociedade já estava condenada ao desaparecimento como empreendimento econômico. Mesmo que algum dos membros do grupo continuasse livre, não teria condições materiais para continuar seu negócio em virtude dos confiscos realizados, posto que delapidavam perigosamente o capital existente. Por outro lado, quando a notícia vinha a público, ninguém mais dava crédito a um grupo que estivesse em risco de desaparecer ou de ter seu capital indisponível”[19]

“Um outro elemento a ser considerado é o dos membros dessa sociedade fazerem negócios entre si e, por vezes, associarem seus capitais a um empreendimento maior. Nesses casos, como era de praxe, ao ser realizado a prisão [pela Inquisição], havia o sequestro dos bens do acusado e, com isso, os compromissos financeiros a pagar e a receber. Os bens que estivessem sob sua guarda se tornariam indisponíveis, passando a gerência do patrimônio a ser de responsabilidade do Santo Ofício. Com isso, ocorria uma espécie de operação ‘em cascata’, na qual diversas outras sociedades comerciais e/ou negócios em comum eram prejudicadas”[20]

Foi assim que a Inquisição detonou não apenas a economia da Espanha e de Portugal, mas também as terras coloniais do Novo Mundo, no Brasil e na América Latina. Ela não trouxe paz nem progresso: trouxe ódio, intolerância, preconceito, racismo e atrasou o progresso de todo lugar por onde passou. Não impressiona em nada que um fanático abestalhado sem nenhum estudo ou instrução continue vomitando tanta desinformação, revisionismo e distorção histórica a serviço de uma Igreja comprovadamente assassina e cheia de sangue nas mãos. O fanatismo de gentalha como Rafael Rodrigues afeta o cérebro e o impede de pensar. Assim, todas as coisas boas do mundo moderno acabam sendo “fruto da Inquisição”, quando a verdade é justamente o contrário: o mundo se tornou o que é hoje graças ao fim desta peste. É graças ao fato de a Igreja Romana ter perdido força política que o mundo está liberto da praga e, portanto, mais democrático e livre do que era na época em que a Igreja regia a moral do planeta.

Com gente deste nível não se debate, não se discute, não se dialoga. Quem não respeita a vida humana não merece ser respeitado. Gente desprezível, capaz de plantar bananeira e dar cambalhota se preciso for para defender uma aberração moral em favor de um sistema tirânico e totalitário, merece o mesmo desprezo que possuem para com a vida humana. Um cidadão que consegue imaginar Jesus e os apóstolos caçando, perseguindo e assassinando os que se “desviam da fé”, ou aprovando este tipo de comportamento, não pode ser considerado mais do que um sociopata criminoso e ralé, cujas portas do hospício já prevaleceram há muito tempo.

Graças a Deus, chegará o dia em que os apologistas católicos olharão para trás e sentirão vergonha pela época em que defendiam com unhas e dentes uma aberração moral como a Inquisição, da mesma forma que a grande maioria dos alemães já se envergonha profundamente pelo nazismo. Esse dia já chegou para o papa João Paulo II em 15/06/2004 (veja aqui) e para o papa Francisco em 25/01/2016 (veja aqui), mas para mentes doentes e fanáticas de monstros morais como Rafael Rodrigues, talvez nunca chegue.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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[1] NAZARIO, Luiz. Autos-de-fé como espetáculos de massa. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 82.
[2] Papa Inocêncio IV na Bula Ad Extirpanda, Cânon 26.
[3] EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1993, p. 156-157.
[4] EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1993, p. 212.
[5] EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1993, p. 212.
[6] EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1993, p. 213.
[7] MAALOUF, Amin. As Cruzadas Vistas Pelos Árabes. 4ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2001, p. 12.
[8] MAALOUF, Amin. As Cruzadas Vistas Pelos Árabes. 4ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2001, p. 12.
[9] Nicetas Choniates, O City of Bizantium: Annals of Niketas Choniates, tradução inglesa de H. J. Magoulias, DSetroit, 1984, p. 315.
[10] Nicolás Mesarites, em Brand, Byzantium Confronts the West, p. 269.
[11] PHILLIPS, Jonathan. La cuarta cruzadas y El saco de Constantinopla. 1ª Ed. Barcelona: CRÍTICA, S. L., 2005, p. 335.
[12] REGIMENTO do Santo Ofício [1640], p. 324-5.
[13] Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. São Paulo, 1853, p. 87.
[14] GONZAGA, João Bernardino Garcia. A inquisição em seu mundo. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 231.
[15] NAZARIO, Luiz. Autos-de-fé como espetáculos de massa. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 80.
[16] BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 90-91.
[17] BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 100.
[18]Ibid, p. 96-97.
[19] MONTEIRO, Yara Nogueira. Economia e Fé: A perseguição inquisitorial aos cristãos-novos portugueses no vice-reino do Peru. In: Ensaios sobre a intolerância: inquisição, marranismo e anti-semitismo (ed. GORENSTEIN, Lina; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci ), 2ª ed. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005, p. 93-94.
[20] MONTEIRO, Yara Nogueira. Economia e Fé: A perseguição inquisitorial aos cristãos-novos portugueses no vice-reino do Peru. In: Ensaios sobre a intolerância: inquisição, marranismo e anti-semitismo (ed. GORENSTEIN, Lina; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci ), 2ª ed. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005, p. 94.

Novo blog de apologética cristã

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É com grande alegria que anuncio aqui a criação de mais um blog. Não, dessa vez não é outro blog meu, mas o blog do meu amigo Bruno Lima, estudioso de história da Igreja e que tem muito a contribuir e a somar nessa caminhada pela verdade:


Alguns artigos que ele já postou (em ordem cronológica) são:


Visitem o blog dele, comentem e sigam as atualizações. Nós somos poucos combatentes contra uma legião de apologistas católicos furiosos e histéricos com milhares de blogs internet afora, mentindo a todo o tempo e caluniando a fé cristã evangélica. Quanto mais unirmos forças, mais a verdade será proclamada e as picaretagens católicas serão desmascaradas, para a glória de Deus. 

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

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O que dez historiadores com PhD têm a nos dizer sobre a Inquisição

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O vândalo mais conhecido como o saco de pancadas oficial do protestantismo postou no lixão que ele chama de “site” um artigo onde faz questão de dizer que um “PHD” desmentia os “mitos” sobre a Inquisição. Como todos já sabem, se trata apenas de mais um palpiteiro metido a historiador revisionista, que em função de seu fanatismo católico tenta mudar a realidade histórica já consumada em todos os livros de história e em todos os trabalhos acadêmicos. Mas para refutar o fanático católico revisionista eu não vou me rebaixar ao ponto de citar apenas 1 PhD. Isso seria vergonhoso demais para quem está do lado da verdade. Em vez disso, citarei aqui dez historiadores com PhD, para ver o que eles têm a nos dizer sobre essa instituição tão boazinha, tão maravilhosa, tão bonitinha, tão, tão... fiquei sem palavras agora. Confiram comigo.


1º Juan Brom

“Nesta época se estabelece a Inquisição, para investigar e castigar todo desvio de dogmas religiosos (heresia); geralmente esteve confiada aos dominicanos. Não perseguia somente a pessoas pecadoras, mas também tinha em seu encargo o índex, a lista de livros proibidos. Sua ação freava muito o desenvolvimento do pensamento e dava lugar a frequentes abusos e delações. Seu método era a investigação por meio do tormento, igual o que faziam os tribunais civis”(BROM, Juan. Esbozo de historia universal. 21ª ed. México: Grijalbo, 2004, p. 113)

“A inquisição se encarga de castigar todo intento de passar por cima de tão rigorosos limites, e dificulta com ela extraordinariamente o progresso da ciência e das atividades intelectuais” (BROM, Juan. Esbozo de historia universal. 21ª ed. México: Grijalbo, 2004, p. 115)


2º Jacques Heers

“A repressão, conduzida inicialmente pelos tribunais ordinários dos bispos, foi, a partir de 1229, confiada aos tribunais especiais da Inquisição, ofício novo criado por Gregório IX. A Inquisição pune duramente, utilizando todos os procedimentos policiais da época e de todos os tempos – forçando confissões através de torturas, como todas as cortes de justiça de então. A história retém até aqui, principalmente, os abusos e os escândalos dos interrogatórios e das condenações; muitos deles provocaram a intervenção de Roma e também, por vezes, revoltas populares, sobressaltos de indignação espontâneos: dois juízes foram massacrados perto de Tolouse, em 1242” (HEERS, Jacques. História Medieval. 1ª ed. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1974, p. 153)


3º Jacques Le Goff

“A inquisição, que faz estragos em quase toda a Cristandade, persegue inocentes e culpados, impõe o terror e, com a ajuda dos poderes públicos submissos ao papado, levanta fogueiras e enche as prisões” (LE GOFF, Jacques. La Baja Edad Media. 1ª ed. Madrid: Siglo XXI, 1971, p. 238)


4º Ricardo Vera Tornell

“Torquemada, rígido e fanático, procedeu com extrema dureza ao Santo Ofícia durante o tempo que o dirigiu (até 1491). Tal odiosidade chegou a inspirar que a rainha Isabel teve que dispor que lhe acompanhasse uma guarda de soldados que custodiasse sua pessoa. As origens dos processos demandavam de denúncias confidenciais, e muitas vezes os réus eram queimados vivos depois de infamados, chamando-se a cerimônia de sua execução auto da fé. O Tribunal do Santo Ofício foi um poderoso instrumento em mãos dos soberanos espanhois, porque seu emprego, ainda que com fins religiosos, redundavam em proveito do poder real, tanto para reduzir a nobreza, como pelo enriquecimento que o Tesouro proporcionava às confiscações de bens dos condenados. O temor que inspirava a inquisição era tão grande que aos autos de fé assistiam, como uma festa, desde os reis (quando eram efetuados na Corte) até as últimas personalidades oficiais e da nobreza, incorrendo em suspeita qualquer personagem indicado que não comparecesse ao ato. Perseguiam também as publicações que reputavam heréticas (que eram também queimadas) e a seus autores, fosse qualquer seu estado ou qualidade” (TORNELL, Ricardo Vera. Historia de la Civilización – Tomo II. 1ª ed. Barcelona: Editorial Ramón Sopena, 1958, p. 48)


5º Jean Duché

“Torturar um suspeito para obter sua confissão era lhe fazer um favor. Inocêncio IV autorizou a tortura nos casos extremos, e uma só vez; os inquisidores concluíram disso que uma só vez por cada interrogatório. Com o chicote, o fogo, a permanência prolongada no fundo de uma masmorra, assando os pés do acusado com carvões ardendo, amarrando-o sobre um aparato de tortura e separando-o docilmente os membros do corpo com a ajuda de uma tesoura..., tinha que ser o diabo para não obter uma confissão. Certo que o tribunal, em sua sabedoria, sabia que as confissões assim tiradas não tinham valor; e esta dificuldade se remediava fazendo com que o acusado as confirmasse três horas depois, bem entendido que, se se retratasse, poderia voltar a recomeçar a coisa. Esses entravam em um ciclo perpétuo, e aos que se obstinavam em negar e estavam convencidos, e aos que haviam confessado seu erro mas haviam recaído nele, os relapsos, o tribunal os entregava ao braço secular para sua execução, recordando que a Igreja tinha horror a todo derramamento de sangue. Por isso os queimavam: assim o sangue não corria; na Espanha esta cerimônia se chamava um ato de fé, auto da fé”(DUCHÉ, Jean. Historia de la Humanidad II – El Fuego de Dios. 1ª ed. Madrid: Ediciones Guadarrama, 1964, p. 527)

“Seus bens eram confiscados, seus herdeiros deserdados – salvos da heresia – os filhos não podiam aspirar nenhuma função nem dignidade, se antes não haviam expiada os pecados de seus pais denunciando a outros heréticos. Os bens confiscados iam por uma parte aos poderes locais, e por outra parte à Igreja. Na Itália, uma terceira parte correspondia ao denunciante, e na França ia tudo para a coroa. Isso era tão interessante, que se chegou a julgar pessoas que já haviam morrido para confiscar os bens dos herdeiros sob o pretexto de que seu avô havia morrido em estado de heresia. Um bispo de Rodez se vangloriava de haver ganhado 100.000 moedas de ouro em uma só campanha contra os hereges de sua diocese” (DUCHÉ, Jean. Historia de la Humanidad II – El Fuego de Dios. 1ª ed. Madrid: Ediciones Guadarrama, 1964, p. 527)


6º Lina Gorenstein

“Da maneira como estava construída a máquina inquisitorial, o réu era smpre culpado. Devia assumir a culpa, pedir misericórdia e tinha que confessar o que os inquisidores queriam ouvir: que cometera o crime. Assim, milhares de cristãos-novos foram condenados inocentemente” (GORENSTEIN, Lina; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Ensaios sobre a intolerância: inquisição, marranismo e anti-semitismo. 2ª ed. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 200, p. 17)

“Muitos marranos perderam suas vidas não porque eles secretamente continuaram a sua vida religiosa judaica, ou expressavam uma fé sincrética, mas porque eles eram judeus, exatamente como milhares de judeus perderam suas vidas no século XX, não por razões religiosas, mas simplesmente porque eram judeus” (GORENSTEIN, Lina; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Ensaios sobre a intolerância: inquisição, marranismo e anti-semitismo. 2ª ed. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 200, p. 20)


7º Yara Monteiro

“A prisão de um dos membros de uma sociedade, em geral, significava a prisão dos demais, o confisco e, assim, a falência da sociedade. Dessa forma, quando a Inquisição lançava-se contra um membro de um grupo de comerciantes, aquela sociedade já estava condenada ao desaparecimento como empreendimento econômico. Mesmo que algum dos membros do grupo continuasse livre, não teria condições materiais para continuar seu negócio em virtude dos confiscos realizados, posto que delapidavam perigosamente o capital existente. Por outro lado, quando a notícia vinha a público, ninguém mais dava crédito a um grupo que estivesse em risco de desaparecer ou de ter seu capital indisponível” (MONTEIRO, Yara Nogueira. Economia e Fé: A perseguição inquisitorial aos cristãos-novos portugueses no vice-reino do Peru. In: Ensaios sobre a intolerância: inquisição, marranismo e anti-semitismo (ed. GORENSTEIN, Lina; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci), 2ª ed. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005, p. 93-94)

“Um outro elemento a ser considerado é o dos membros dessa sociedade fazerem negócios entre si e, por vezes, associarem seus capitais a um empreendimento maior. Nesses casos, como era de praxe, ao ser realizado a prisão, havia o sequestro dos bens do acusado e, com isso, os compromissos financeiros a pagar e a receber. Os bens que estivessem sob sua guarda se tornariam indisponíveis, passando a gerência do patrimônio a ser de responsabilidade do Santo Ofício. Com isso, ocorria uma espécie de operação ‘em cascata’, na qual diversas outras sociedades comerciais e/ou negócios em comum eram prejudicadas” (MONTEIRO, Yara Nogueira. Economia e Fé: A perseguição inquisitorial aos cristãos-novos portugueses no vice-reino do Peru. In: Ensaios sobre a intolerância: inquisição, marranismo e anti-semitismo (ed. GORENSTEIN, Lina; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci), 2ª ed. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005, p. 94)

“As prisões ocorridas provocaram a quebra do único banco da cidade, pertencente a Juan de La Cova, conforme demonstra a carta redigida pela Audiência em 1636: ‘Estaba la tierra lastimada con la quiebra del banco, de que dimos raços a V. A. el año pasado’. Os confiscos realizados geraram problemas que extrapolaram a praça comercial de Lima, uma vez que os comerciantes portugueses presos mantinham relações de comércio com diferentes regiões da América espanhola e que, com os sequestros e confiscos, muitos dos compromissos pendentes ficavam sem garantia de serem cumpridos”(MONTEIRO, Yara Nogueira. Economia e Fé: A perseguição inquisitorial aos cristãos-novos portugueses no vice-reino do Peru. In: Ensaios sobre a intolerância: inquisição, marranismo e anti-semitismo (ed. GORENSTEIN, Lina; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci), 2ª ed. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005, p. 95)

“A situação adquiriu tal dimensão que as próprias autoridades reconheceram o quanto as prisões e os sequestros de bens realizados pela Inquisição foram danosos para o comércio, visto que se reportam a essa época como: ‘[...] con la ocasión de las haciendas que se han embargado, há quedado tan enflaquecido el comercio que apenas pueden llevar las cargas ordinarias’[1]  (MONTEIRO, Yara Nogueira. Economia e Fé: A perseguição inquisitorial aos cristãos-novos portugueses no vice-reino do Peru. In: Ensaios sobre a intolerância: inquisição, marranismo e anti-semitismo (ed. GORENSTEIN, Lina; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci), 2ª ed. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005, p. 96)

“A prisão de apenas um membro de uma sociedade comercial significava o fim dos negócios, pois na sequencia ocorria a fuga e/ou prisão de todos os demais sócios, além do confisco dos bens. Muitas vezes, os próprios livros comerciais apreendidos serviam como ‘provas’ suficientes para que ocorressem novas prisões” (MONTEIRO, Yara Nogueira. Economia e Fé: A perseguição inquisitorial aos cristãos-novos portugueses no vice-reino do Peru. In: Ensaios sobre a intolerância: inquisição, marranismo e anti-semitismo (ed. GORENSTEIN, Lina; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci), 2ª ed. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005, p. 96-97)


8º Alexandre Herculano

“Prendiam-se alguns indivíduos antes de denunciá-los: depois é que se tratava de lhes achar culpa. Para isto recorria-se não raro aos escravos e criados que, conduzidos ao tribunal, quando de bom grado não queriam acusar seus senhores, eram a isso compelidos pelo terror. Outras vezes chamavam-se inimigos rancorosos dos presos e lisongeiavam-se com a perspectiva de tirarem, pelos seus depoimentos, completa vingança dos próprios agravos. Até as confissões auriculares serviam para inspirar às testemunhas o que deviam dizer, ao passo que se negavam papel e tinta aos encarcerados para comunicarem com as pessoas que se interessavam na sua sorte, e quando se tratava de atos judiciais em que os réus tinham de escrever alguma coisa, dava-se-lhes o papel numerado e rubricado pelo notário da Inquisição, examinando-se atentamente antes de se expedir” (HERCULANO, Alexandre. História da origem e estabelecimento da inquisição – Tomo III. São Paulo: Editora Paulo de Azevedo, 2009, p. 139-140)


9º Luiz Nazario
  
“Os nazistas, porém, não inventaram nesses mecanismos de terror psicológico. Eles antes os adaptaram ao espaço urbano modificado pelos modernos meios de comunicação e transporte do século XX. A humilhação pública possui uma história, e seus métodos foram desenvolvidos com o máximo rigor nos autos da fé promovidos pela Inquisição, desde tempos medievais, e que atingiram a plenitude de sua forma entre os séculos XVI e XVIII, na Península Ibérica, em espetáculos de massa que inauguraram uma estética totalitária” (NAZARIO, Luiz. Autos-de-fé como espetáculos de massa. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 17-18)

“Em 1491, os inquisidores ainda forjaram um caso de ‘crime ritual’ envolvendo um certo Santo Niño de la Guardia, evento que causou tal comoção que, no dia 31 de março de 1492, os reis católicos decretaram a expulsão de todos os judeus dos reinos de Espanha ‘para que jamais retornassem’, édito seguido, dez anos mais tarde, pelo da expulsão dos muçulmanos” (NAZARIO, Luiz. Autos-de-fé como espetáculos de massa. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 60)

“Quando, após o édito de expulsão da Espanha, 120 mil judeus refugiados chegaram a Portugal em 1492, foram acolhidos com violência pela população. Instalados em cabanas nas fronteiras, passaram fome e conheceram, em 1493, uma medita inédita em sua crueldade: por ordem de D. João II, o Príncipe Perfeito, cerca de 2 mil crianças de 2 a 10 anos, filhos daqueles refugiados, foram transportadas para as ilhas de São Tomé, para morrer de fome ou trucidadas por animais selvagens”(NAZARIO, Luiz. Autos-de-fé como espetáculos de massa. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 63)

“Reunidos em três portos para embarcar, os judeus foram arrastados pelos cabelos às Igrejas e batizados entre pancadas. Diante de tal violência, muitos judeus preferiram matar os próprios filhos e suicidar-se” (NAZARIO, Luiz. Autos-de-fé como espetáculos de massa. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 63)

“O suspeito ‘suficientemente torturado’ era aquele que recebia tormentos de gravidade comparável à gravidade dos indícios, sem confessar. O ‘máximo justo’ era duas séries completas de torturas durante 15 dias, um instrumento diferente por dia. O potro e a polé eram as torturas mais empregadas. O potro era uma mesa de ripas onde o paciente, depois de amarrado nas pernas e braços, tinha as carnes cortadas pela pressão das cordas arrochadas. A polé suspendia a vítima, com pesos nos pés, deixando-a cair bruscamente sem tocar no chão; ela no mínimo acabava com os ossos quebrados” (NAZARIO, Luiz. Autos-de-fé como espetáculos de massa. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 80)


10º Michael Baigent

“A maioria das formas de tortura – instrumentos preferidos como o ecúleo, o saca-unhas, o strappado e a tortura da água – evitavam o deliberado derramamento de sangue. Aparelhos desse tipo parece terem sido idealizados para causar o máximo de dor e o mínimo de sujeira” (BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 45)

“A Inquisição logo criou uma metodologia de intimidação e controle de impressionante eficiência – tanto que se pode ver nela uma precursora da polícia secreta de Stalin , da SS e da Gestapo nazistas” (BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 47)

“Mesmo o mais brando dos castigos, a penitência, às vezes era severo. A mais leve penalidade – imposta àqueles que voluntariamente se apresentavam durante o ‘período de graça’ e confessavam – era a chamada ‘disciplina’. Até onde permitia a decência (e o clima), o herege confesso era obrigado todo domingo a despir se e aparecer na igreja carregando uma vara. Num determinado ponto da missa, o padre o açoitava com entusiasmo perante toda a congregação reunida”(BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 48)

“O castigo não terminava aí, porém. No primeiro domingo de cada mês, o penitente era obrigado a visitar toda casa em que se encontrara com outros hereges e, em cada uma, era de novo açoitado. Nos dias santos, além disso, exigia-se que o penitente acompanhasse toda procissão solene pela cidade e sofresse mais açoites. Essas provações eram infligidas à vítima pelo resto da vida, a menos que o Inquisidor, que há muito haveria partido, voltasse, se lembrasse dele e o liberasse da sentença” (BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 48)

“O tradicional escrúpulo eclesiástico sobre derramamento de sangue permaneceu em vigor. Em conseqüência, instrumentos de ponta e de lâmina continuaram a ser evitados em favor do ecúleo, saca-unhas e outros aparelhos que só faziam correr sangue, por assim dizer, incidentalmente. As tenazes e outros brinquedos como estes eram sombrios. Rasgar a carne com tenazes era bastante sangrento. Se estivessem em brasa, porém, o metal aquecido cauterizava imediatamente o ferimento e estancava o fluxo de sangue. Sofismas desse tipo eram aplicados à duração e frequência da tortura” (BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 52)

“Pela lei civil, os médicos, soldados, cavaleiros e nobres não estavam sujeitos a tortura e gozavam de imunidade. A Inquisição decidiu democratizar a dor e pô-la facilmente à disposição de todos, independente de idade, sexo e posição social”(BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 51)

“A princípio, o acusado só podia ser torturado uma vez, e por não mais de trinta minutos. Os Inquisidores logo começaram a contornar essa restrição afirmando que só havia de fato uma aplicação de tortura, e que cada um dos trinta minutos posteriores era apenas uma continuação da primeira. Alternativamente, um suspeito podia ser torturado pela resposta a um único ponto específico, e as respostas a um segundo ou terceiro pontos justificavam as sessões de tortura a mais. Há copiosos registros de indivíduos torturados duas vezes por dia durante uma semana ou mais” (BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 51)

“Na prática, o acusado era torturado até se dispor a confessar o que, mais cedo ou mais tarde, quase inevitavelmente fazia. Nesse ponto, carregavam-no para um aposento adjacente, onde se ouvia e transcrevia a sua confissão. Liam-lhe então a confissão e perguntavam-lhe formalmente se era verdade. Se ele respondesse na afirmativa, registrava-se que sua confissão fora ‘livre e espontânea’, sem influência de ‘força ou medo’. Seguia-se a sentença” (BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 52-53)

“Os Inquisidores também reconheciam que alguns hereges podiam ser zelosos em seu anseio por um martírio tão rápido quanto possível ‘e não fazia parte do prazer do Inquisidor satisfazê-los’. Nesses casos, empregavam-se tempo e considerável dor para afastar a paixão pelo martírio. As vítimas recalcitrantes eram em conseqüência submetidas a provações mais prolongadas e atenuadas. Recomendava-se oficialmente que fossem mantidos numa masmorra, em confinamento solitário, por pelo menos seis meses, muitas vezes por um ano ou mais” (BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 53)

Lembrem-se: para cada pseudo-historiador revisionista citado pelos apologistas católicos embusteiros, existem pelo menos uns duzentos historiadores sérios que ressaltam a crueldade, desumanidade e intolerância que foi essa instituição assassina a serviço da Igreja Assassina. Não sejam ingênuos ao ponto de se deixar convencer por meia dúzia de lobos revisionistas. Quem está do lado da verdade pode bem mais que isso.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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Fim da Fraude (Refutando as mentiras dos apologistas católicos)



[1]Carta da Audiência, 1636.

Dissertação sobre o "Tratado de Devoção à Virgem Maria"

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Um leitor chamado André Barros me passou um ótimo documento em que ele expõe a idolatria descarada do “Tratado de Devoção da Virgem Maria”, de “São” Luís de Montfort, que, como o próprio André comenta na dissertação sobre o Tratado, é “tão bem aceito entre modernistas e tradicionalistas passando por ambos os crivos e saindo ileso de críticas”. Trata-se de uma das obras mais famosas do catolicismo romano e também uma das mais recomendadas pelos clérigos da Igreja. Ou seja, não é um catoleigo qualquer falando alguma bobagem qualquer como na minha série dos zumbis tridentinos. E, todavia, o que é dito nesse Tratado supera de longe qualquer zumbi da série.

Sem mais delongas, segue abaixo o link de onde o arquivo em PDF pode ser baixado, onde André expõe e refuta a idolatria explícita deste “santo” católico a Maria:


Se alguém não conseguir baixar o arquivo no endereço acima, me envie um e-mail (lucas_banzoli@yahoo.com.br) que eu mando por anexo. 

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

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Desmascarando o monstro moral e mais cinco mitos católicos sobre a Inquisição

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A refutação ao monstro moral está na parte final do artigo (o 5º tópico, para quem não tiver tempo de ler tudo até chegar lá). Muitos dos mitos que serão desmascarados aqui já foram expostos em artigos anteriores, mas, mesmo assim, dado o fato de que os astronautas tridentinos permanecem ensinando essas mentiras a seus leitores burros e desinformados, refutarei aqui mais uma vez.


1) A Igreja não matava ninguém. Era o Estado malvadão que matava as pessoas, e a Igreja não tinha nada a ver com isso.

Sim, por incrível que pareça, em pleno século XXI, ainda tem gente jogando toda a culpa para o Estado! Isso já foi completamente refutado em meu artigo intitulado "O cão de guarda da Inquisição", onde eu provo com documentos históricos da própria Igreja que o Estado só matava porque a Igreja mandava que o Estado matasse. Simples assim.

O Quarto Concílio de Latrão (1123), por exemplo, determina que os hereges sejam entregues às autoridades seculares, para a “devida punição”:

“Nós excomungamos e anatematizamos toda heresia erguida contra a fé santa, católica e ortodoxa que temos exposto acima. Condenamos todos os hereges, quaisquer que sejam os nomes que podem ir abaixo. Eles têm rostos diferentes, mas na verdade suas caudas são amarradas juntas, na medida em que são similares em seu orgulho. Que aqueles condenados sejam entregues às autoridades seculares presentes, ou aos seus oficiais de justiça, para a devida punição[1]

Portanto, embora seja verdade que era o poder secular que matava os “hereges”, era a Igreja que entregava essas pessoas ao poder secular, em vez dela ser essa coisa boazinha que se opunha às autoridades civis malvadas, como os apologistas católicos costumam pintar. A Igreja Romana pregava abertamente a “censura eclesiástica”, na qual as autoridades seculares eram compelidas a exterminar os “hereges” da terra deles:

“Que as autoridades seculares tenham isso em conta e, se for necessário, que sejam obrigados pela censura eclesiástica, se desejam ser reputados por fieis, que façam um juramento público pela defesa da fé no sentido de que vão buscar, na medida do possível, exterminar (exterminare) das terras sujeitas a sua jurisdição a todos os hereges designados pela Igreja. Portanto, cada vez que alguém é promovido a autoridade espiritual ou temporal, está obrigado a confirmar este artigo com um juramento”[2]

Embora nas traduções que consultei do referido concílio (para o português e para o espanhol) conste a palavra “expulsar”, eu conferi que o original em latim traz o termo exterminare, que eu acho que ninguém precisa ser expert em latim para saber o que significa. Os tradutores católicos, tentando suavizar a monstruosidade do concílio, mudam as palavras para se ajustar à versão mais “tolerante” da Igreja moderna. Note ainda que o mesmo cânone diz que quando alguém é promovido a autoridade espiritual ou temporal ela se torna OBRIGADA a confirmar este artigo (que manda exterminar os hereges) sob juramento. Nada que se pareça com o poder civil matando contra a vontade da Igreja!

O mesmo concílio insano ainda ameaça severamente as autoridades civis que rejeitarem seguir essas ordens para matar os hereges:

“Se, contudo, um senhor temporal, que recebeu as instruções exigidas pela igreja, se esquecer de limpar o seu território desta porcaria herética, ele deve ser vinculado com o vínculo de excomunhão dos bispos metropolitanos e outros da província. Se ele se recusa a dar satisfação dentro de um ano, a mesma será comunicada ao Sumo Pontífice para que ele possa, em seguida, declarar seus vassalos absolvidos de sua fidelidade para com ele e tornar a terra disponível para ocupação dos católicos para que estes possam, depois de ter expulsado os hereges, não fazer oposição e preservar a pureza da fé[3]

O cânone acima é autoexplicativo. A autoridade civil que se recusasse a “limpar seu território” dos hereges (=exterminar todos eles) seria primeiro excomungada, e se mesmo assim ela continuasse se recusando a seguir a ordem da Igreja este senhor feudal perderia a sua propriedade(!), todos os seus vassalos estariam livres de obedecê-lo e ocupariam as terras deste senhor a la MST, para então fazer o que este senhor não fez: acabar com os hereges. Os católicos que assim agissem, exterminando os hereges, ganhariam a mesma indulgência prometida para aqueles que lutassem nas Cruzadas, ou seja, a Igreja bancaria o assassinato do cidadão, concedendo-lhe indulgência:

“Católicos que tomam a cruz e avançam para cima a fim de exterminar os hereges gozarão da mesma indulgência, e reforçadas pelo mesmo privilégio santo, como é concedido para aqueles que vão para o auxílio da Terra Santa. Além disso, determinamos excomunhão aos crentes que recebem, defendem ou apoiam os hereges”[4]

O Manual dos Inquisidores retrata isso com perfeição. Há uma parte de perguntas e respostas, que trata precisamente deste assunto. O interlocutor repete uma afirmação de cunho popular, e em seguida o inquisidor refuta:

Alegação– Ressalta-se que este ou aquele príncipe condena judeus à morte: portanto, isso não é uma tarefa da Igreja, mas do poder civil.

Refutação– O fato de serem condenados à morte pelos príncipes não exclui a Igreja de fazer o mesmo, se achar válido, depois do processo. Por outro lado, a Igreja deve intervir para condenar onde, justamente, reis e príncipes tenham a audácia de proteger os judeus. Sem a Igreja, sob o pretexto de que cabe ao poder civil condenar, esses hereges seriam, na verdade, protegidos. (p. 64-65)

Como está óbvio na resposta do inquisidor, o poder civil só matava os hereges porque a Igreja os obrigava a matar. Ele deixa claríssimo que se não fosse pela Igreja esses hereges seriam protegidos, ou seja, não seriam mortos. Eles eram mortos porque a Igreja Assassina queria que eles fossem mortos. Simples assim.

Em outra parte do Manual, há outra alegação e refutação, que se segue:

Alegação– Os especialistas em Direito Civil lembram o princípio de que ‘ninguém deve provocar tumulto nas províncias sob o pretexto de fazer investigações sobre heresia: cabe, portanto, ao governo se ocupar disto’. E concluem: se os judeus atacam a religião, é problema dos judeus e do poder civil, ninguém deve se envolver.

Refutação– Este argumento não significa nada. Entende-se, por este princípio do Direito Civil, que o inquisidor não deve se envolver com as questões civis durante as investigações (que são, efetivamente, da competência do poder civil); ele não quer dizer que cabe ao poder civil definir quando e como o inquisidor deve instaurar processos. É possível que este princípio seja interpretado no sentido mencionado anteriormente, em uma ou outra região: mas as leis daí decorrentes devem ser consideradas como obstáculos ao exercício da inquisição, e, consequentemente, devem ser anuladas. (p. 65)

Mais uma:

Alegação– Finalmente, os especialistas em Direito Civil dizem que, a rigor, cabe ao poder civil e ao bispo, juntos, e não ao inquisidor, julgar o delito canônico. Se é cometido por judeus ou por cristãos, continua a ser um delito: a questão é, portanto, da competência do poder civil também, e não exclusivamente do bispo.

Refutação– Voltemos aos textos conciliares e pontíficos: cabe aos bispos e inquisidores, juntos, convocar, julgar e condenar. E aos civis, executar as sentenças da inquisição, principalmente, quando a punição implica derramamento de sangue. Não existe nada pior do que esse tipo de argumento. (p. 65-66)

Como vemos, eram os próprios inquisidores (autores do Manual dos Inquisidores) que refutavam expressamente a alegação de que a morte dos hereges era de competência exclusiva do poder civil. Eles queriam o mérito dos assassinatos para a conta da Igreja; afinal, matar os hereges era um grande serviço a Deus na visão desses psicopatas católicos. Aos civis cabia apenas executar as sentenças da inquisição, ou seja, executar o herege na fogueira, no “auto da fé”.


2) Não havia tortura na inquisição (ou: havia tortura, mas coisa leve).

Essa é tão ridícula e descarada que basta ler o Livro das Sentenças da Inquisição, escrito por Bernardo Guy (um famoso inquisidor medieval), para perceber as máquinas e técnicas de tortura que eram utilizadas pelos inquisidores, e ver se eram “leves” mesmo. Vejamos algumas:

“O suspeito ‘suficientemente torturado’ era aquele que recebia tormentos de gravidade comparável à gravidade dos indícios, sem confessar. O ‘máximo justo’ era duas séries completas de torturas durante 15 dias, um instrumento diferente por dia. O potro e a polé eram as torturas mais empregadas. O potro era uma mesa de ripas onde o paciente, depois de amarrado nas pernas e braços, tinha as carnes cortadas pela pressão das cordas arrochadas. A polé suspendia a vítima, com pesos nos pés, deixando-a cair bruscamente sem tocar no chão; ela no mínimo acabava com os ossos quebrados”[5]

“Na Espanha, favoreciam-se três em particular. Havia a toca, ou tortura pela água, na qual se forçava água pela goela da vítima abaixo. Havia o potro, onde a vítima era amarrada num ecúleo com cordas apertadas, que podiam ser apertadas mais ainda pelo torturador. E havia a garrucha, ou polia, versão espanhola do strappado italiano. Nesse procedimento, amarravam-se as mãos da vítima às costas e depois a penduravam pelos pulsos numa polia no teto, com pesos amarrados nos pés. Levantavam-na muito devagar, para maximizar a dor, depois baixavam-na alguns pés, com uma brusquidão e violência que deslocavam os membros. Não surpreende que muitas vítimas ficassem permanentemente aleijadas, ou com a saúde cronicamente prejudicada. Não era raro, claro, que viesse a morte. Se vinha, julgava-se que fora incidental, mais uma infeliz concomitante ou subproduto da tortura que uma consequência direta dela”[6]

“A maioria dos presos do Rio de Janeiro confessou ter sido herege em alguma época de sua vida. D. Brites de Lucena passou mais de dois anos nos cárceres antes de denunciar seus filhos e filhas. Após ter sido submetida ao tormento, denunciou-os como crentes na Lei de Moisés. Apesar de o Regimento do Santo Ofício indicar que o tormento a que as mulheres deveriam ser submetidas era a polé, as cristãs-novas do Rio de Janeiro foram submetidas ao potro. Para esse tormento, era necessário que se tirasse a roupa das vítimas – o que, segundo o Regimento, atenuaria contra a ‘honestidade’ das mulheres. Mais de 30 mulheres fluminenses, de meninas de 13 anos a senhoras de mais de 60 anos, foram submetidas ao tormento”[7]

“Da. Mencia de Luna, sevilhana, filha de portugueses, irmã e esposa de penitenciados neste auto, delicada jovem de vinte e seis anos de idade, tendo morrido durante as torturas, à segunda volta da roda...”[8]

“Eram três os tipos de torturas usadas regularmente pela Inquisição: a da garrucha (roldana), a do cavalete e a do fogo. Considerando que a agudeza das dores se faziam acompanhar de lamentos tristes e gritos ingentes, conduzia-se a vítima a um sótão chamado câmara de torturas, a fim de que os lamentos não chegassem ao exterior”[9]

“Para o suplício da garrucha, ou roldana, pendurava-se no teto justamente uma roldana, passando por ela uma corda grossa de cânhamo ou esparto. Tomavam do réu e deixando-o em trajes menores, punham-lhe grilhões, atavam-lhe nos tornozelos cem libras (cinquenta quilos) de ferro e, amarrando-lhe os braços às costas com cordel, prendiam-no à corda pelos pulsos. Mantendo-o nessa posição, punham-no ereto, enquanto os juízes o admoestavam secamente para que dissesse a verdade. De acordo com a gravidade do delito, davam-lhe até doze arrancões, deixando-o cair de chofre, mas de tal modo que nem os pés nem os pesos tocassem o solo, para que o corpo recebesse maior sacudida”[10]

“Na tortura do cavalete, também chamado de água e cordéis, ficando o réu despido da forma já mencionada, estendiam-no de rosto para cima sobre um cavalete ou banco de madeira, onde lhe prendiam os pés, as mãos e a cabeça, a fim de que se não pudesse mover. Em seguida, forçavam-no a beber alguns litros de água, deitando-a aos poucos por uma cinta que lhe introduziam na boca a fim de que, atingindo a água a garganta, lhe provocasse ânsias e desespero de um afogado”[11]

“Para o suplício do fogo, punham o réu de pés nus no tronco e, untando-lhe as plantas com banha de porco, aproximavam delas um braseiro ardente. Quando se queixava demasiadamente de dor, interpunham entre os pés e o braseiro uma tábua, ordenando-lhe que confessasse. Reputava-se esta tortura a mais cruel de todas”[12]

“Por bula de Paulo III, a duração do suplício não podia ir além de uma hora e se a Inquisição da Itália não costumava atingir esse tempo, na da Espanha, que se orgulhava se suplantar a todas no zelo da fé, estendia-se a tortura por cinco quartos de hora. Costumava ocorrer de a vítima, pela intensidade da dor, perder os sentidos, estando para isso prevenido o médico, que informava o Tribunal se o paroxismo era real ou fingido, e sob sua orientação interrompia-se ou se dava andamento ao martírio. No caso de o réu manter-se na negativa, vencendo a tortura, ou quando, tendo confessado, não ratificava dentro de vinte e quatro horas sua confissão, aplicavam-se-lhe até três suplícios, com intervalo de apenas dois dias entre um e outro”[13]

“Quando não eram suficientes nem as persuasões nem os ardis para que o réu, com ou sem verdade, se confessasse culpado, apelavam os inquisidores à tortura, mesclando o rigor com a simulação. Porque, além de ameaçá-lo com o prolongamento indefinido do suplício, faziam-no crer, quando já tinha sofrido durante o tempo estipulado, que suspendiam o ato por ser tarde ou por outra razão parecida, visando infundir-lhe mais medo. Os legisladores que autorizavam esta prática tiveram ao menos a equidade de dar por expiadas com ela as evidências, e deixavam sair livre ao réu que se mantinha na negativa. A Inquisição, porém, para não ser menos feroz que outros tribunais, que nestes casos impunham a pena extraordinária, condenavam-no ainda à prisão perpétua ou a alguns anos nas galeras. Desse modo, a infeliz vítima, talvez inocente, ficando não raro incapaz de qualquer movimento, devido ao deslocamento dos ossos na roldana, à opressão do peito e outros agravamentos no cavalete e à contração dos nervos no castigo do fogo, tinha que padecer a afronta de se ver amontoado e confundido com a gente mais sórdida”[14]

“Como a Inquisição tornou seus os vícios dos demais tribunais, levando-lhes quase sempre vantagem, nas leis das torturas destacou sobremaneira seu rigor. Primeiramente, não contente de obrigar o réu a confessar seu delito e denunciar os cúmplices, obrigava-o ainda a revelar suas intenções. Assim sendo, mesmo que revelasse durante a tortura tudo que pudesse estar afeto ao conhecimento do tribunal, ele era ainda torturado até que se declarasse diante dos homens tão mau quanto os juízes o supunham diante de Deus. Havia outrossim prática adicional mais desumana. Quando o mesmo réu confessava arrependido sua intenção perversa e denunciava os cúmplices, aplicava-se-lhe nada obstante o suplício sempre que alguns deles negassem sê-lo. Portanto, tão torturado era o réu confesso quanto o que se obstinasse na negação da culpa”[15]

“As leis humanas pouparam sempre as mulheres da tortura, levando em conta sua delicadeza física e em respeito ao pudor. O Santo Ofício, porém, tripudiava sobre estas ponderações. Se as mulheres presas desrespeitassem o silêncio absoluto que devia reinar nos cárceres da Inquisição, eram despidas e açoitadas”[16]

“A maioria das formas de tortura – instrumentos preferidos como o ecúleo, o saca-unhas, o strappado e a tortura da água – evitavam o deliberado derramamento de sangue. Aparelhos desse tipo parece terem sido idealizados para causar o máximo de dor e o mínimo de sujeira”[17]

Vale lembrar ainda, como já foi mostrado nos artigos anteriores, que a Inquisição tinha autorização para torturar em países ou cidades cujo poder civil não autorizava a tortura em nenhum caso, e que no poder civil era proibido que mulheres, crianças e velhos fossem torturados, enquanto na Inquisição não havia privilégios: todo mundo era igualmente torturado, fosse ele criança, idoso, mulher ou o que fosse.


3) As penitências eram apenas “coisas espirituais”, como o jejum...

Pura mentira! Um simples jejum nunca era uma penitência imposta pelo Santo Ofício. Mesmo quando um indivíduo era “inocentado”, ou seja, mesmo quando abjurava e não morria na fogueira, no mínimo ele era açoitado e preso, além de ser humilhado pelo resto da vida com o uso do sambenito, como nos conta Michael Baigent em sua obra clássica sobre a Inquisição:

“Mesmo o mais brando dos castigos, a penitência, às vezes era severo. A mais leve penalidade – imposta àqueles que voluntariamente se apresentavam durante o ‘período de graça’ e confessavam – era a chamada ‘disciplina’. Até onde permitia a decência (e o clima), o herege confesso era obrigado todo domingo a despir se e aparecer na igreja carregando uma vara. Num determinado ponto da missa, o padre o açoitava com entusiasmo perante toda a congregação reunida”[18]

“O castigo não terminava aí, porém. No primeiro domingo de cada mês, o penitente era obrigado a visitar toda casa em que se encontrara com outros hereges e, em cada uma, era de novo açoitado. Nos dias santos, além disso, exigia-se que o penitente acompanhasse toda procissão solene pela cidade e sofresse mais açoites. Essas provações eram infligidas à vítima pelo resto da vida, a menos que o Inquisidor, que há muito haveria partido, voltasse, se lembrasse dele e o liberasse da sentença”[19]

“Outra forma de penitência, julgada igualmente leve e misericordiosa, era a peregrinação. Tinha de ser feita a pé, e muitas vezes durava vários anos, durante os quais a família do homem bem podia morrer de fome. Havia duas formas de peregrinação. A menor implicava uma caminhada até dezenove santuários espalhados por toda a França, em cada um dos quais o penitente era açoitado. A peregrinação maior envolvia uma longa viagem do Languedoc a Santiago de Compostela, a Roma, a Colônia, a Cantuária. No século 13, penitentes eram às vezes enviados em peregrinação à Terra Santa como cruzados, por alguma coisa entre dois e oito anos. Se sobrevivessem, exigia-se que trouxessem consigo na volta uma carta do Patriarca de Jerusalem ou Acre, atestando seu serviço”[20]

“Os hereges confessos podiam ser também obrigados a usar, pelo resto da vida, por dentro e por fora, uma grande cruz açafrão costurada no peito e nas costas de seus trajes. O penitente era assim exposto a constante humilhação, ridículo e escárnio sociais, além de ocasional violência. As pessoas estigmatizadas com tais cruzes eram ostracizadas pelas outras, que relutavam em fazer qualquer tipo de negócio com elas. As moças achavam impossível conseguir maridos”[21]

“Tais eram os castigos mais brandos, impostos por misericórdia àqueles que confessavam voluntariamente seus pecados e delatavam outros”[22]

Recomendo entusiasticamente a leitura do livro “Anais da Inquisição de Lima”, escrito por Ricardo Palma, que teve acesso a todos os documentos da Inquisição em Lima e registrou quase todos eles em seu livro. Essa é uma obra essencial e de leitura obrigatória a qualquer um que tiver interesse em estudar o assunto. Na parte de penitenciados, a penitência NUNCA, NUNCA, NUNCA era apenas um jejum. Quase sempre a pena era algo como 100 ou 200 chibatadas e algum tempo na prisão de Valdívia (às vezes perpetuamente), isso sem falar no confisco total ou parcial dos bens. Apenas para expor algumas das pessoas penitenciadas:

“Juan de Estrada, que se fizera passar por familiar do Santo Ofício, foi punido com cem açoites”[23]

“Diego Marrón, mestiço, sofreu duzentos açoites porque atemorizou certas testemunhas que depunham contra um compadre seu”[24]

“Pedro Hernández, escrivão, jactava-se de livrar-se facilmente sem quebrar os grilhões e correntes, de possuir uma hacanéia que andava trinta léguas num dia, e outras coisas que cheiravam a pacto com o demônio; por essas torpes jactâncias padeceu duzentos açoites e o desterro para as Índias, como castigo pela impenitência”[25]

“Frei Gaspar de la Huerta, mercenário, ordenado nas ordens menores, por fingir-se de sacerdote para dizer missa, tendo assegurado a alguns frades que lhe aparecera um menino chamado Salvadorico: foi condenado à abjuração de vehementi, degradação, duzentos açoites e a servir cinco anos nas galeras a remo e sem soldo, como castigo por ser relapso”[26]

Para rir um pouco:

“Em 1810 a Inquisição manteve encerrado por seis meses, num calabouço, um negro que ganhava o pão passeando pelas ruas de Lima cães, gatos, ratos, marmotas, macacos e outros animais que ensinara a dançar e fazer outras peripécias. Isso só podia ser arte do diabo!”[27]

Se até um adestrador de animais era punido por seis meses na prisão, imagine o que passava o cidadão que fazia o “mal supremo” na cabeça dos inquisidores: falar alguma “heresia”!

A lenda de que os penitenciados pela Inquisição recebiam apenas “punições espirituais” ganhou fama na internet por meio de uma citação solta, supostamente atribuída a Régine Pernoud, mas sem citar livro nenhum, capítulo nenhum, página nenhuma, enfim, nada. Citação típica de embusteiros, que querem colocar palavras na boca de historiadores famosos, sem nenhum escrúpulo. Os católicos repetem essa suposta citação à exaustão, mesmo sem saber se é verdadeira ou falsa. Ela é provavelmente falsa, mas, independentemente de ser verdadeira ou falsa, basta ler as atas da Inquisição para perceber que seu conteúdoé uma afirmação falsa, e é isso que importa. Ninguém saía “ileso” da Inquisição. Na pior das hipóteses era queimado vivo lentamente (após ser torturado cruelmente), e na melhor das hipóteses era açoitado ou preso por um bom tempo.


4) A Inquisição salvou vidas!!!

Sim, por incrível que pareça, o site de picaretas e vagabundos autointitulados “catequistas” inventou a lenda de que “a Inquisição salvou vidas”, porque o julgamento do Estado “era muito pior”. A ideia é que a própria população fazia justiça com as próprias mãos, então a Igreja resolveu disciplinar o negócio evitando que muitas pessoas morressem. Em resposta a essa mentira estúpida, deve ser observado que o Estado não perseguia ninguém por “crime de heresia”. O “crime” de heresia era investigado especificamente pelo tribunal do Santo Ofício, não pelo Estado. Bastaria a Igreja dizer que heresia não era um crime, e pronto: ninguém mataria mais ninguém. A Igreja fez isso? Não. Em vez disso, preferiu manchar suas mãos de sangue inocente.

Quanto ao povo, tal reação só havia porque a Igreja incentivava. Naquela época não havia outros meios de influência senão a Igreja. Não havia mídia, não havia imprensa, não havia escola pública para todos com professores seculares e separados da Igreja para competir com a Igreja. Tudo, tudo, absolutamente tudo na vida pública era regido pela moral da Igreja. Em outras palavras, a própria Igreja criou esse ambiente de intolerância. A moral católica regia o mundo na época, e o povo pensava o que a Igreja queria que o povo pensasse.

Os padres tacavam a culpa nos judeus por qualquer coisa ruim que acontecesse, até a Peste Negra foi colocada na conta dos judeus, que supostamente teriam “envenenado os poços” das cidades. A mesma demonização que foi feita pelos nazistas contra os judeus era feita pela Igreja na Idade Média. A Inquisição foi simplesmente a institucionalização dessa demonização e intolerância da própria Igreja. Para ver como a moral da Igreja era racista e segregacionista, basta ler o que diz o Concílio de Florença, que impôs uma discriminação covarde contra os judeus convertidos, os quais eram proibidos de prosseguir com seus costumes judaicos sob a ameaça dos inquisidores e do “auxílio do braço secular”:

“Os convertidos devem ser proibidos, sob pena de severas sanções, de enterrar seus mortos de acordo com o costume judaico ou de observar de alguma forma o sábado e outras solenidades e rituais de sua seita. Em vez disso, eles devem frequentar nossas igrejas e sermões, tal como os outros católicos, e conformar-se em tudo aos costumes cristãos. Aqueles que mostrarem desprezo a isso devem ser delatados aos bispos diocesanos ou aos inquisidores de heresia por seus párocos, ou por outros que lhe são confiadas por lei ou costume antigo sobre tais assuntos. Deixem-nos serem punidos, com o auxílio do braço secular se necessário, para dar exemplo aos demais[28]

Se essa era a situação do judeu convertido, imagine como era a vida do judeu comum! Felizmente, você não precisa imaginar nada. O próprio concílio responde isso por nós:

“Além disso, renovamos os cânones sagrados, que ordenam os bispos diocesanos e os poderes seculares a proibir em todos os sentidos judeus e outros infieis de ter cristãos, homens ou mulheres, em suas famílias prestando serviços, ou como enfermeiros de seus filhos, e os cristãos de entrar com eles em festas, casamentos, banquetes ou banhos, ou em muita conversa, ou em tomá-los como médicos ou agentes de casamentos ou mediadores nomeados oficialmente de outros contratos. A eles não devem ser dadas outras repartições públicas, ou admitidos a quaisquer graus acadêmicos. Eles estão proibidos de comprar livros eclesiásticos, cálices, cruzes e outros ornamentos de igrejas, sob pena da perda do objeto, ou a aceitá-los em penhor, sob pena de perda do dinheiro que emprestou. Eles estão obrigados, sob severas penas, de usar algum vestuário em que possam ser claramente distinguidos dos cristãos. A fim de evitar relações sexuais mútuas, eles devem habitar em áreas distantes, nas cidades e vilas que estão para além das residências dos cristãos e o mais distante possível de igrejas. Nos domingos e outras festas solenes que não se atrevam a abrir suas lojas ou trabalhar em público”[29]

A moral racista e segregacionista da Igreja e seu discurso de ódio aos judeus é o que tornava a população histérica contra eles. A Igreja, em vez de pregar o amor e a tolerância, pregava o ódio e o segregacionismo, que obviamente só podia resultar nos atentados da própria população contra os judeus e outros grupos considerados “heréticos”. Como atesta o historiador Luiz Nazario:

“O antijudaísmo disseminou-se através dos meios de comunicação de massa monopolizados pela Igreja: teatro religioso, mistérios, sermões, panfletos. Só as pregações de Santo Antônio de Lisboa, conhecido no século XIII como o ‘Martelo das heresias’, eram ouvidas por auditórios que chegavam a 30 mil pessoas. Os sacerdotes moldavam o imaginário popular com uma série de acusações, sempre as mesmas: os judeus teriam crucificado Cristo, sofrendo como castigo a diáspora pelo mundo; matariam crianças inocentes, bebendo-lhes o sangue nos rituais de Pessach; profanariam hóstias sagradas e flagelariam para prejudicar colheita e saúde dos cristãos; praticariam a usura, a idolatria e a sodomia”[30]

“A influência exercida sobre a massa pelo clero inculto, que vivia de missas, confissões, procissões e pregações, era tremenda. O combate ao pecado e à heresia era a razão de sua existência. O baixo clero doutrinava diretamente os crentes, que não conheciam outros letrados. E esse baixo clero atiçava a população contra os cristãos-novos em panfletos de grande virulência”[31]

Assim, a Igreja Católica criou o ambiente de intolerância e mais tarde institucionalizou os crimes bárbaros que se cometiam contra os não-católicos.


5) Usar o “Manual do Inquisidor” não vale, porque ele foi prefaciado pelo Leonardo Boff!!!

Essa é a objeção mais engraçada, que sempre me mata de rir a cada vez que um novo palhaço tenta desqualificar o Manual dos Inquisidores porque foi prefaciado pelo Leonardo Boff. Logo depois que eu publiquei meu artigo sobre o livro (veja aqui), um zumbi tridentino argumentou e eu respondi:


Como o meu artigo teve um alcance superior a 15 mil pessoas, deu coceira nos ouvidos de muito apologista católico que começou a ranger os dentes de desespero e a buscar o primeiro pretexto para desqualificar o livro. E o mais usado foi o do Leonardo Boff, por ter sido quem prefaciou a obra na tradução para o português. Isso é para vocês verem o tamanho do desespero dos caras, depois que viram que a Inquisição deles foi completamente desmascarada com uma fonte deles mesmos.

Como se não bastasse, o monstro moral covarde e medroso, sem ter coragem de se meter diretamente comigo, fica dando indiretinhas adolescentes no facebook, como essa pérola abaixo:


O cidadão realmente não cansa de levar paulada. Depois de ser surrado sobre imortalidade da alma (veja aqui), ser surrado sobre o primado do bispo romano (veja aqui), ser surrado sobre a tradição católica (veja aqui) e ser surrado sobre a inquisição (veja aqui), o sujeitinho colocou o rabo entre as pernas e não tem mais coragem de se meter diretamente comigo, preferindo ficar dando indiretas em comentariozinhos cômicos no facebook que demonstram o quão palhaço e fracassado ele é. Eu não deveria continuar perdendo tempo com um traste imundo desses, mas apenas para resumir as respostas:

1) O Directorium Inquisitorum de Eimeric tem 942 páginas, enquanto esta palha prefaciada por Leonardo Boff tem apenas 253. Não precisa nem saber ler para ver a diferença entre um e outro.

E daí, bobão? Quem te disse que a editora é obrigada a publicar todas as 942 páginas do livro? Ela decidiu publicar aquilo que considerou mais relevante, as 253 páginas onde Eymerich fala sobre os métodos usados pelos inquisidores contra os “hereges”. A editora não é obrigada a publicar a obra inteira, ela quis publicar 253 páginas do livro e isso por si só é suficiente para mostrar a aberração da Inquisição que você defende (imagina se usássemos todas as 942 páginas!). Cabe a você provar que as páginas que eles traduziram eles traduziram errado, ou que as páginas que eles não traduziram refutam tudo aquilo que as que eles traduziram dizem. Como você não é capaz de fazer nem uma coisa nem outra, vem com esse desculpinha de pilantra que é.

2) O que os ignorantes estão chamando de "fonte primária", nada mais é do que uma ficção feita pelo Iluminista André Morellet que recortou trechos da obra de Eimeric e adicionou lendas e contos e publicou com o título de "Manual dos Inquisidores".

Que burro, dá zero pra ele! Primeiro reclamam que o livro é do Boff (que só fez o prefácio e não o livro), depois jogam toda a culpa em um tal André que morreu há duzentos anos e que não escreveu NEM UMA VÍRGULA do Manual em questão. Morellet escreveu uma obra satírica do Manual, que nãofoi usada de base para o livro publicado em português e prefaciado por Leonard Boff. A obra que eu tenho simplesmente traduziu do original em latim de Nicolau Eymerich (o Directorium Inquisitorum) com os acréscimos do outro inquisidor, Francisco Peña. Já a obra satírica de Morellet NÃO TEM TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS.

O leitor pode facilmente conferir as citações de Eymerich nesta tradução em espanhol (que vem sem os acréscimos de Peña e sem o prefácio de Boff) e também no original em latim (disponível aqui, também sem o prefácio do Boff!). Abaixo segue um print da versão que eu uso, que não tem nada de André Morellet, como o caluniador barato afirma:


E agora, burrão?

3 - Qualquer editora que pretendesse fazer ou traduzir uma obra séria, e em história real, jamais chamaria Leonardo Boff.

Puro ad hominem, que eu sequer deveria me prestar a responder. Mas se o pilantra não gosta da tradução em português porque essa tradução foi prefaciada pelo Boff, eu tenho uma dica, criatura: NÃO LEIA O PREFÁCIO!!! Pule e vá direto para o capítulo 1! Viu só como é fácil? Vai parar de chorar agora?

Ainda sobre o Boff, já que o embusteiro ama desprestigiar todo o livro por causa do prefácio feito por ele há 23 anos atrás, que aproveite e explique para nós o porquê que o papa Francisco consultou Leonardo Boff para escrever sua nova encíclica (veja aqui), isso há apenas dois anos atrás. Quer dizer: Leonardo Boff ajudar o papa numa encíclica escrita há apenas dois anos atrás PODE, está tudo certo com isso e não desqualifica a obra, mas se o mesmo Leonardo Boff prefaciar uma obra HÁ 23 ANOS ATRÁS aí NÃO PODE, aí toda a obra está desqualificada por causa do prefácio do cara! O que fazer com um vagabundo desses? Internar num hospício? Talvez já esteja.

4 - Eimeric é um dos inquisidores mais citados por historiadores como opositor do uso de tortura.

Mano do céu, esse sujeito se esquece de tomar os remédios tarja preta dele?

Vejamos o que diz o “grande opositor da tortura”, e agora eu não vou usar a versão em português prefaciada pelo Boff, mas a versão em espanhol que o Boff nem tocou:

 
 
 
 
 

Está aí, UM CAPÍTULO INTEIRO SOBRE A TORTURA, escrito pelo próprio Nicolau Eymerich, dizendo exatamente as mesmas coisas que eu passei no artigo anterior. Os prints são das páginas 37 a 44 que podem ser conferidas aqui:


Agora só resta ao apologista católico mentiroso e canalha sustentar que esse Manual não vale porque ele não sabe espanhol, ou então pesquisar bem a fundo para ver quem escreveu o prefácio deste, a fim de desqualificá-lo também.

No fundo, fica a questão: como um rato desses, um animal miserável, que SABE que está mentindo, prefere mesmo assim enganar seu público apresentando Eymerich como um “opositor da tortura”, quando o mesmo tem um capítulo inteiro instituindo a mesma em seu próprio Manual? Como um ser humano chega a tal ponto de mediocridade que passa a mentir tão habitualmente, tão malandrosamente e tão descaradamente assim? Que ele é um monstro moral, nós já sabemos. Mas isso é pior: além de monstro moral, é um picareta de elite, um pilantra de primeira, um embusteiro profissional, um charlatão que vive de suas cretinices. Dificilmente irá surgir no mundo da apologética um ser tão medíocre, tão frouxo, tão covarde e tão canalha quanto Rafael Rodrigues.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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[1] Decretos do Quarto Concílio de Latrão, 1215.
[2] Decretos do Quarto Concílio de Latrão, 1215, Cânon 3.
[3]ibid.
[4]ibid.
[5] NAZARIO, Luiz. Autos-de-fé como espetáculos de massa. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 80.
[6] BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 90-91.
[7] GORENSTEIN, Lina; CALAÇA, Carlos Eduardo. Na Cidade e Nos Estaus: Cristãos-novos do Rio de Janeiro (Séculos XVII-XVIII). In: Ensaios sobre a intolerância: inquisição, marranismo e anti-semitismo (ed. GORENSTEIN, Lina; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci), 2ª ed. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005, p. 124.
[8] PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 1992, p. 33.
[9] PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 1992, p. 46.
[10] PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 1992, p. 46.
[11] PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 1992, p. 46.
[12] PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 1992, p. 46-47.
[13] PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 1992, p. 47.
[14] PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 1992, p. 47.
[15] PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 1992, p. 47.
[16] PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 1992, p. 47.
[17] BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 45.
[18] BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 48.
[19] BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 48.
[20] BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 49.
[21] BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 49.
[22] BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 50.
[23] PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 1992, p. 21.
[24] PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 1992, p. 21.
[25] PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 1992, p. 22.
[26] PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 1992, p. 22.
[27] PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 1992, p. 35.
[28] Concílio de Florença, 1431-1445.
[29]ibid.
[30] NAZARIO, Luiz. Autos-de-fé como espetáculos de massa. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 42-43.
[31] NAZARIO, Luiz. Autos-de-fé como espetáculos de massa. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 65-66.

Historiadores e teólogos católicos reconhecem: não havia primado papal nos primeiros séculos (Parte 2)

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Este artigo é uma continuação à primeira parte do artigo sobre historiadores e teólogos católicos que reconhecem que não havia primado papal nos primeiros séculos (para ler a parte 1, clique aqui). As citações aqui presentes foram fornecidas por Bruno Lima, do excelente blog Respostas Cristãs. Boa leitura.


6º Karl Heinz (professor de teologia católica e história do cristianismo)

“O estudo da história do primado romano demonstra que os católicos devem resignar-se ao fato de que o Novo Testamento não suporta a posição de primazia petrina, nem para a sucessão dessa posição, nem para a infalibilidade papal (...) Consequentemente, não existe qualquer fundamento histórico no Novo Testamento para justificar a primazia papal” (Karl-Heinz, Ph.D. Why We Need the Pope: The Necessity and Limitations of Papal Primacy. Trans. Dr. Robert C. Ware. St. Meinrad, Indiana, USA. Abbey Press, 1975)


7º Garry Wills (historiador católico romano)

"O papado não veio à existência no mesmo tempo que a igreja. Nas palavras de John Henry Newman: 'Enquanto Apóstolos estavam na terra, não havia nenhum bispo ou papa'. Pedro não foi bispo em Roma. Não houve bispos em Roma até pelo menos cem anos após a morte de Cristo. O próprio termo ‘papa’ não foi reservado para o bispo de Roma até o século V, antes disso ele foi usado para qualquer bispo”(Wills, Garry. Why I am a Catholic. Boston, Houghton, Mifflin and Company, 2002. p. 54)


8º Joseph F. Kelly (professor de história da Igreja na Universidade Jesuíta John Carrol)

“A palavra ‘papa’ não foi usada exclusivamente para o bispo de Roma até o século IX, e é provável que na comunidade romana primitiva um colégio dos presbíteros, ao invés de um único bispo tivesse a liderança” (Joseph F. Kelly in his The Concise Dictionary of Early Christianity[The Liturgical Press, 1992], p. 2)


9º Robert Eno (teólogo católico e professor de história da Igreja)

“A evidência (Clemente, Hermas, Inácio) nos aponta na direção de assumir que, do primeiro para o segundo século não havia bispo de Roma, no sentido usual dado a esse título. O ofício do individual mono-episcopos estava emergindo lentamente nas comunidades locais cristãs ao redor do mundo mediterrâneo” (Robert Eno, The Rise of the Papacy [Eugene: W & S, 1990], 29)

“O contexto do argumento de Irineu não afirma que a Igreja Romana é literalmente única, a única de sua classe; em vez disso, ele argumenta que a Igreja Romana é o exemplo notável de sua classe, a classe em questão sendo as sedes apostólicas. Enquanto escolheu falar principalmente de Roma por razões de brevidade, de fato, antes de terminar, também se refere a Éfeso e Esmirna”(Robert Eno, The Rise of the Papacy[Eugene: W & S, 1990], 39)

"É claro que ele [Cipriano] não vê o bispo de Roma como seu superior, exceto numa forma de honra (...) é claro que na mente de Cipriano, uma conclusão teológica que ele não tiraria é que o bispo de Roma tinha autoridade superior à dos bispos africanos” (Robert Eno, The Rise of the Papacy [Eugene: W & S, 1990], 59-60)

"Um reconhecimento claro do primado romano ou uma conexão entre Pedro e o contemporâneo bispo de Roma parece remoto a partir dos pensamentos de Orígenes" (Robert Eno, The Rise of the Papacy [Eugene: W & S, 1990], 43)

“Em outro lugar eu argumentei em detalhes que a visão de Agostinho da autoridade na Igreja e que, na minha opinião, o concílio [não o Papa] foi o principal instrumento para a resolução de controvérsias (...) Eu acredito que Agostinho tinha grande respeito pela Igreja romana cuja antiguidade e origens apostólicas de longe ofuscaram outras Igrejas no Ocidente. Mas como em Cipriano, a tradição colegial e conciliar africana deviam ser preferidas a maior parte do tempo”(Robert Eno, The Rise of the Papacy[Eugene: W & S, 1990], 79)

Sobre o cânon 28 de Calcedônia:

"Parecia que os orientais atribuíam grande importância à obtenção da aprovação de Leão ao cânone, dados os termos lisonjeiros, nos quais lhe pediram. Mesmo que eles não conseguissem obtê-lo, eles o considerariam como válido e canônico de qualquer maneira" (Robert Eno, The Rise of the Papacy [Eugene: W & S, 1990], 117)

“A história do papado na antiguidade pode ser dividida em dois períodos. O primeiro é o anterior ao papa Dâmaso, em que a evidência documental, especialmente a vinda de fontes romanas, é muito superficial e episódica. Os textos e casos históricos pesquisados e avaliados são objeto de variadas interpretações, algumas das quais, para ter certeza, são mais prováveis do que outras. Ainda há suficiente evidência de que a consciência romana de sua autoridade” (Robert Eno, The Rise of the Papacy [Eugene: W & S, 1990], 117)


10º William La Due (teólogo e historiador católico)

“Na verdade, é compreensível que esta passagem tenha confundido os estudiosos por séculos! Aqueles que estavam acostumados a encontrar nela uma verificação do primado romano foram capazes de interpretá-la dessa maneira. (...) a interpretação de Karl Baus [que Irineu não estava se referindo a um papado] parece ser a única que é mais fiel ao texto, não se presumindo ler nele um significado que pode não estar lá, pois não se exagera ou subestima a posição de Irineu. Para ele [Irineu], são as Igrejas da fundação apostólica que tem o maior crédito de ensino autêntico e doutrina. Entre essas estava Roma, com seus dois fundadores apostólicos, certamente ocupando um lugar importante. No entanto, todas as Igrejas apostólicas desfrutam da ‘autoridade preeminente’ em questões doutrinárias” (William La Due, The Chair Of Saint Peter [Maryknoll, New York: Orbis Books, 1999], p. 28)

"No contexto de sua vida e suas convicções refletidas em suas ações e seus escritos, a posição de Cipriano pode ser parafraseada da seguinte forma: Pedro recebeu o poder das chaves, o poder de ligar e desligar, antes que os outros apóstolos recebessem os mesmos poderes. Esta prioridade - em tempo - simboliza a unidade do poder episcopal, que é realizada por todos da mesma maneira. A única diferença é que a Pedro foi concedido o poder por um curto período de tempo antes que os outros. Deve ser dito que o impacto do simbolismo de Cipriano não é totalmente claro. Ele não era um teólogo especulativo, mas um pregador, treinado mais como advogado do que como retórico. Seu significado, a partir do contexto de sua conduta como bispo, parece bastante ambíguo. E aqueles que veem na unidade da Igreja Católica, à luz de toda a sua vida episcopal, uma articulação do primado romano - como temos vindo a conhecê-lo, ou mesmo como ele evoluiu especialmente a partir do quarto do século está lendo um significado em Cipriano que não existe" (William La Due, The Chair Of Saint Peter [Maryknoll, New York: Orbis Books, 1999], p. 39)

"A vitória do Papa Leão na arena doutrinária foi frustrada com o revés que sofreu através cânon 28” (William La Due, The Chair Of Saint Peter [Maryknoll, New York: Orbis Books, 1999], p. 301)


11º Raymond E. Brown

Raymond E. Brown nasceu em 1928 e foi ordenado em 1953, sendo reconhecido por universidades nos EUA e na Europa. Ele foi nomeado pelo papa Paulo VI à Pontifícia Comissão Bíblica Romana, e com a aprovação da Igreja serviu durante muitos anos na Comissão de Fé e Constituição do Conselho Mundial. A revista Time uma vez o descreveu como "provavelmente o melhor estudioso católico da Escritura nos EUA”, sendo ele a única pessoa a ter servido como presidente de todas estas três sociedades distintas: Associação Bíblica Católica, Sociedade de Literatura Bíblica e a sociedade de Estudos do Novo Testamento. O livro a partir do qual a citação abaixo foi tirada leva o Nihil obstate Imprimatur da Igreja Católica Romana, o que significa que é suposto ser livre de erro moral e doutrinário. Brown escreve a respeito do papado:

Obviamente, os cristãos do primeiro século não teriam pensado em termos de jurisdição ou de muitas outras características que têm sido associadas ao papado ao longo dos séculos. Nem os cristãos que viveram no tempo de Pedro teriam totalmente associado Pedro com Roma, uma vez que foi, provavelmente, só nos últimos anos de sua vida que ele veio a Roma. Nem seu respeito [dos primeiros cristãos] pela Igreja em Roma foi desenhado pelo martírio de Pedro e Paulo lá, ou por uma história posterior de preservação da fé da Igreja Romana contra a heresia” (Responses to 101 Questions on the Bible [Mahwah, New Jersey: Paulist Press, 1990], p. 134)

“Em algum lugar no segundo século (provavelmente na metade do século) a Igreja Romana desenvolveu a estrutura de um singular bispo e colégio de presbíteros, assim como outras Igrejas tinha desenvolvido ou desenvolviam essa estrutura durante o segundo século. A partir deste momento, o presbítero reconhecido como o líder da Igreja Romana, especialmente em matérias pertinentes às relações com outras igrejas, foi chamado de bispo. Antes do desenvolvimento do bispo singular, várias questões da Igreja Romana eram tratadas por um grupo de presbíteros, mas inevitavelmente num grupo um indivíduo destacou-se como um natural e implicitamente reconhecido líder para um específico propósito” (Responses to 101 Questions on the Bible [Mahwah, New Jersey: Paulist Press, 1990], p. 132-133)

É muito improvável que Clemente fosse chamado de o bispo de Roma, ele seria numa moderna terminologia o secretário executivo da Igreja. No entanto, desde que ele foi lembrado como o mais proeminente dos presbíteros de seu tempo, seu nome aparece na lista como bispo de Roma” (Responses to 101 Questions on the Bible [Mahwah, New Jersey: Paulist Press, 1990], p. 132-133)

“O que eu estou dizendo é que essas listas de bispos foram preservadas para nós como as mais importantes figuras na história de uma Igreja particular, mesmo antes da terminologia de somente um bispo ser utilizada. Então, eu não estou tirando a importância de Pedro, ou sua estadia em Roma, quando eu apontei que é anacrônico pensar nele como um bispo local. De fato, uma vez que a função do bispo era administrar uma pequena congregação e viver entre eles” (Responses to 101 Questions on the Bible [Mahwah, New Jersey: Paulist Press, 1990], p. 132-133)

Quando um livro que tem o Nihil obstat e o Imprimatur da Igreja Católica como garantia de estar livre de erros doutrinários afirma expressamente que Pedro só esteve em Roma nos últimos dias da sua vida e que não havia bispo em Roma senão até meados do segundo século, é porque a coisa está feia mesmo. 

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Textos por: Bruno Lima.

Por Cristo e por Seu Reino,


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A Igreja Católica está crescendo nos Estados Unidos!!!!! (#sqn)

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Este artigo é apenas um esclarecimento para alguns leitores que, iludidos com sites católicos mentirosos, pensam que o catolicismo está ganhando milhões de adeptos nos Estados Unidos e que até mesmo tenha ultrapassado o protestantismo(!) no total de fieis. A verdade é que o catolicismo americano está sendo tão arruinado e destruído quanto o catolicismo brasileiro. A mentira de que o catolicismo está crescendo nos Estados Unidos está presente em sites fajutos como o Portal Pseudo-Conservador, que oferece dados tirados do focinho deles, já que não apresentam a fonte em momento nenhum. Outros sites mentirosos escritos por picaretas reproduziram o mesmo texto fraudulento do Portal Pseudo-Conservador, como é o caso do site Tradição em foco com Roma, que pelo próprio nome que traz não podia dar em outra coisa.

Em contrapartida, todos os dados oficiais e atualizados mostram que o catolicismo está perdendo fieis nos EUA em um ritmo inclusive superior ao que os evangélicos estão perdendo também. Enquanto os evangélicos somam 51% da população norte-americana, católicos somam apenas 23%, e perdem em média 3% de fieis a cada ano naquele país. Confira aqui os dados atualizados (de 2014):

Religião:Protestantes 51,1%; católicos 23,8%; mórmons 1,7%; outros cristãos 1,9%; judeus 1,7%; budistas 0,7%; muçulmanos 0,6%, outros não especificados 2,6%; não afiliados 12%; nenhum 4%.

Além disso, muitos dos “outros cristãos” (1,9%) e dos “não afiliados” (12%) são cristãos evangélicos que não frequentam nenhuma denominação e que por essa razão não foram contabilizados entre os “protestantes”. Ou seja, a estimativa de 51% é um número mínimo, um chute por baixo, e não a quantidade total de pessoas que mantém uma fé evangélica. Esses dados são oficiais do CIA World Factbook 2014 (Livro de Fatos Mundiais da CIA 2014) e estão bem atualizados.

Essa queda de católicos nos EUA (que nunca foram maioria e jamais serão) se evidencia ainda mais em estados como o Novo México, onde o número de católicos caiu de 41% para 17%. Em Nova York, nada a menos que 40 igrejas católicas foram fechadas por falta de fieis:


Veja também na Folha de S. Paulo:


Confira também:


A verdade que os sites católicos omitem:

“A realidade hoje, para a Igreja Católica, é que ela perdeu muito espaço para credos evangélicos e protestantes. Este ano, a arquidiocese de Nova York reduziu o número de paróquias de 122 para 55 e desativou 31 igrejas. A força que a Igreja obteve com a imigração para o país, que tem hoje cerca de 54 milhões de latinos, foi perdida nos últimos dez anos e uma das causas desse prejuízo foram as denúncias de pedofilia” (Veja aqui)

Devemos levar em consideração também o fato de que a Igreja Católica só não cai ainda mais drasticamente porque todos os anos milhões de imigrantes (legais ou ilegais) chegam aos EUA principalmente dos países da América Central, os quais são todos ainda esmagadoramente católicos. Ou seja, o catolicismo recebe anualmente um enorme impulso católico pela imigração, e mesmo assim continua caindo todos os anos. Isso só pode ser sintoma de uma religião em franca decadência. Imagine só como vai ser quando esses mesmos países latinos se tornarem protestantes também, como é a tendência (veja aqui). Aí já pode fechar o caixão de uma vez...

Mas fica a questão: por que os apologistas católicos precisam mentir para passar a falsa noção de que a Igreja Católica está arrasando os “inimigos da Igreja” nos EUA? É simples: como eles estão notoriamente perdendo membros em ritmo acelerado aqui no Brasil, precisam fingir e imaginar que estão ganhando de todo mundo fora daqui. É tudo um jogo de marketing. Se eles dizem que estão levando porrada no mundo inteiro, quem vai querer continuar em um navio que está afundando? A mentira faz parte da jogada.

Mas tem uma coisa que se salva no artigo do Portal Pseudo-Conservador. É a declaração do papa Bento XVI, que disse:

“Nesta terra de liberdade religiosa [EUA], os católicos encontraram não só a liberdade para praticar sua fé, mas também para participar plenamente na vida civil, levando consigo suas convicções morais para a esfera pública”

Por que essa declaração salva o artigo? Simplesmente porque o papa Bento XVI taca na cara dos apologistas católicos a diferença entre a moral católica e a protestante. Enquanto os protestantes deram liberdade aos católicos para praticar sua fé e para participarem ativamente da vida civil, levando suas convicções morais para a esfera pública, os países católicos levaram foi a Inquisição para os países conquistados, a fim de restringir a liberdade de todo mundo, caçar e punir os “hereges”. No Brasil, não havia separação entre Igreja e Estado até a proclamação da República, em 1889. Antes disso, somente casamentos realizados na Igreja Católica eram considerados válidos, e os protestantes não podiam fundar igrejas, tendo que se reunir escondidos. Isso já depois de a Inquisição ter deixado de existir!

Enquanto nos países protestantes os católicos tinham plena liberdade na vida civil para levar suas convicções morais para a esfera pública, como confessa o próprio papa emérito Bento XVI, nos países católicos os protestantes eram perseguidos, caçados, tinham seus bens confiscados, estavam proibidos de manifestar posição não-católica, estavam proibidos de se casar e quando não abjuravam à sua crença eram mortos. Essa é a diferença entre a moral protestante e a moral católica, tão grande quanto a diferença moral entre Deus e o diabo. 

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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Por que eu não respondo ao Conde neurótico e esquizofrênico de Loppeux?

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As pessoas me perguntam por que eu ignoro sumariamente o meninão carente de atenção que já fez uns dez artigos e vídeos me caluniando, sendo que com apologistas católicos menos fraquinhos que ele, tal como o Cris Macabeus, o Paulo Porcão, o Padre Gargamel, Rafael Rodrigues o monstro moral, “Professor” Felipe Aquino e Fakenando Nascimento são detonados semanalmente neste blog. Em outras palavras: por que eu dou atenção a apologistas católicos menos fracos, mas não dou nenhuma atenção a um pobre diabo carente de atenção que é muito mais fraquinho teologicamente?

Para explicar isso, é bom tratarmos analogicamente. Você está andando no quintal da sua casa, e vê um animal como uma aranha ou um uma barata. O que você faz? Na maioria das vezes, você pisa em cima e mata. Sem problemas. Agora pense que em vez daquela aranha ou barata estivesse um bicho peçonhento, um verme nojento, gosmento e asqueroso. A maioria das pessoas não iria pisar em cima de um bicho desses, sujando o tênis desnecessariamente. Por nojo, iria simplesmente ignorar o bicho e passar de lado. Essa é a razão pela qual eu respondo a cretinos como Rafael Rodrigues (monstro moral) e Cris Macabeus, mas não dou um pio de atenção a um bicho sarnento e gosmento como “Conde Loppeux”. Um bicho desses não merece ser chamado de “picareta”, o que seria um elogio. Esse animal está abaixo do último nível da dignidade humana. Não merece sequer ser mencionado.

Por essa razão eu não vou comentar seus vídeos, que além de hilários são de dar vergonha alheia de se ver. Toda vez que algum apologista católico sério faz algum artigo “me refutando”, chove católicos na caixa de comentários dizendo que tal indivíduo “me refutou”, até eu ir lá e acabar com a palhaçada de sempre. Dessa vez nem uma única alma penada surgiu, todas morrendo de vergonha alheia do papelão prestado por esse animal. Seu vídeo de 12 minutos é 99% de ad hominem, calúnia, zombaria, difamação e ofensas, e os outros 1% se resumem a isso:

“Mimimimi, o Banzoli é aniquilacionista, mimimimi, o Banzoli não crê na imortalidade da alma, mimimimi”

E pronto. Sequer o verme se presta a refutar qualquer uma das mais de 1.200 páginas por mim publicadas em livros sobre o tema, o que ele sabe que não é capaz de fazer, tal como ninguém foi. Em vez disso, o que se vê é um completo chororô, um mimimi de dar inveja a qualquer um, como se o simples fato de crer que a alma não é imortal (crença esta corroborada por evangelistas da estatura de John Stott) já fosse suficiente para não ouvir mais nada do que a pessoa diz. Chega a ser ridículo e pitoresco assistir os “argumentos” do ser imundo. Se alguma coisa merece o título de vergonha alheia, é isso.

A característica número um de todo sujeito que não tem argumentos para vencer na base do intelecto é apelar para os palavrões, xingamentos e ofensas de qualquer tipo, quanto mais grave melhor. A Condessa, como nunca soube formular argumento nenhum sobre nada, é profissional nesta artimanha. Os prints abaixo que me foram passados mostram isso com clareza. O sujeito não é cristão, também não é católico, não é nada além de um sujeitinho baixo e cafajeste, que do alto da sua imundície moral vomita impropérios contra seus oponentes, certo de que estes, por serem cristãos, não irão revidar:

(Os prints que estiverem pequenos demais podem ser ampliados ao se clicar neles)


































O que dizer de um verme desses que não respeita nem a mãe falecida dos outros? Isso é cristão, católico ou conservador? Não. Isso é um verme, um psicopata, um neurótico, um esquizofrênico, um rato sujo de esgoto, um bandido travestido de “católico”, que nem a isso consegue chegar a ser. Qualquer coisa como um “embusteiro” ou “picareta” é um elogio a um verme e lixo moral que já ultrapassou todos os abismos da imundície humana. Sua mãe deve se lastimar todos os dias por esperar nove meses até chegar uma merda dessas ao mundo. Um sujeitinho baixo e cretino, sem nenhuma classe ou nível cultural, que tenta suprir sua carência de argumentos com insultos vindos de sua mente depravada e corrompida.

Mas o “Conde” não se contenta apenas em despejar em mim seu desprazer pela vida. Ele também quer compensar seu fracasso na vida tentando fazer com que outras pessoas se tornem tão fracassadas quanto ele. Eu tenho 23 anos, sou trilíngue, tenho uma namorada linda, sou formado em Comunicação, em História e em Teologia, ingressarei em dois Doutorados ano que vem e tenho todo um futuro promissor pela frente. Agora vamos ao Conde, usando os dados que todo mundo já sabe: o sujeito é a perfeita personificação do fracasso. Tem 40 anos e ainda mora com a mamãe e é sustentado pela vovó. Se a vovó morrer, o bicho feio vai ter que mendigar na rua e comer o pão que o diabo amassou com o rabo. Não tem esposa, não tem namorada, afinal de contas nem uma quenga iria querer um troço imundo desses. Não tem vida social, não tem amigos – exceto a meia dúzia de seguidores virtuais tão imundos quanto ele.

Por falta de mulher e trabalho, não faz nada na vida além de passar o dia todo postando videozinhos na internet e xingando os protestantes. Por carência, precisa metralhar para todos os lados; por isso, quanto mais polêmicas e ataques criar, melhor. O que ele quer é justamente alguém que dê atenção a ele e revida, para que ele possa então vomitar seus impropérios e “ganhar” pela técnica da intimidação, a qual já abordei neste artigo de meu outro blog. Sequer sabe xingar com classe, tendo que apelar sempre para palavrões chulos que sempre incluem alguma coisa relacionada a “puta”, “anus” e “cu”, de preferência relacionados à mãe da pessoa. Não tem classe. É um completo neurótico psicopata, que vomita xingamentos na mesma proporção de sua própria insignificância como pessoa.

Dizem que é formado em Direito, mas não exerce a profissão simplesmente porque não ganha causa nenhuma, e não consegue passar em nenhum concurso público para entrar no serviço público. É por isso que ele tem tanto tempo assim para fazer um monte de vídeos o dia todo e ainda xingar todo mundo nos comentários. O sujeito é simplesmente um vagabundo virtual. O retrato exato e fiel do fracasso humano, e o retrato do quão tão podre que o ser humano é capaz de chegar. Deve ter comprado o diploma.

Eu tenho que ser sincero com vocês: até hoje eu nunca vi um ser humano tão fracassado e moralmente repugnante quanto o “Conde Loppeux”, que dizem que se chama “Leonardo Bruno”. Deve ser por isso que ele, transtornado que é, decide esconder seu verdadeiro nome e brincar de faz-de-conta, se passando por um “Conde” de Villanueva, no mundo de fantasias em que ele vive. Um transtorno de personalidade que só faz sentido à luz do fato óbvio de que o sujeito, amargurado com o próprio fracasso de ser humano que é, decide esquecer essa realidade e brincar de “Conde”. O Conde “Loppeux”. O “Fodão”. O “Refutador”. O “Machão”. A maior piada do século. 

Rafael, Macabeus, Leitão, Gargamel, todos eles tem pelo menos alguma coisa para se orgulhar na vida. Leonardo Bruno não tem nada. Não tendo nada, se apega à figura do “Conde”, criada pela própria mente lunática dele. Se sentindo como um guerreiro medieval de armadura, na verdade rimos da figura com movimentos lentos e desengonçados e das banhas voando para todos os lados. 

Outra característica típica de quem não está contente com a própria vida é ter que atribuir defeitos físicos em seus oponentes. Eu nunca fiz isso com ninguém, exceto um pouquinho com o Fakenando Nascimento (porque não tinha como), mas como ele falou do meu cabelo e da minha voz, eu me sinto no direito de falar dele então. Vamos lá: o sujeito é gordo, mas não gordo numa medida comum, mas do tipo gordinho da cerveja, com uma pança respeitável. Só de ser um gordo imundo e malcriado já deveria sentir vergonha de falar do porte físico dos outros. Mas vamos lá: além de ser um gordinho da cerveja, o verme ainda tem bochechas de gordo que parecem duas nádegas. Para piorar, vagabundo que é, deixou a barba toda crescer por preguiça de fazê-la, e agora está parecendo um macaco de circo misturado com terrorista muçulmano. A cena é simplesmente pitoresca. É de apavorar os mortais.

Sua cara de gordo fétido pode ser resumida em uma coisa: bolacha trakinas. Eu nunca consigo parar de rir quando penso na semelhança. O sujeito que desenhou a bolacha trakinas deve ter feito pensando no Conde, não é possível. A diferença, é claro, é que a bolacha não é imunda como Leonardo Bruno, e nem é um fracasso – ao contrário, virou até um sucesso. Para piorar, há testemunhas de que “Conde Loppeux” é também supostamente um pedófilo, que assediou sexualmente uma moça que ainda era menor de idade na época. O sujeito é todo deformado fisicamente, e como se não bastasse, ainda tem uma alma porca.

Eu não vou mais perder tempo dando ibope para um fracassado desses, um verme sujo e gosmento do qual as pessoas normais apenas passam de lado e não dão atenção suficiente sequer para pisar em cima e esmagá-lo. Qualquer tentativa de “debate” com um ser deformado, mentalmente perturbado e com caráter de monstro moral é inútil, seria se rebaixar ao nível do demente. Qualquer um que aceite discutir seriamente com um sujeito deste nível moral estará implicitamente aceitando um bicho desses no convívio social, quando o lugar desta peste é o hospício. Não, não se discute com loucos: se ignora. Além disso, o sujeitinho tem tempo de sobra para “debater” (literalmente todo o tempo do mundo, pois não faz nada na vida). Eu tenho uma vida.

Em vez disso, a cada vez que ele postar um novo vídeo a meu respeito, irei somente rir e rir mais ainda, simplesmente por lembrar que todos os dias eu agradeço a Deus por não ter nascido tão física e mentalmente deformado como Leonardo Bruno. Graças a Deus, sou algo na vida. É essa a única lembrança que ficará de seus vídeos e textos inúteis, os quais eu sequer voltarei a ver, pois sei que o sujeitinho baixo que é voltará a me atacar com mais um caminhão de xingamentos e impropérios dignos do ser insignificante que é. Ele que fale com a minha mão a partir de agora. Meninão carente de atenção, a qual não vai ter mais.

Conde: vá procurar uma rola. 

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

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O cânon do Novo Testamento invalida a Sola Scriptura?

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Os papistas argumentam que a Sola Scriptura é falsa porque não há na Bíblia uma lista de livros inspirados (cânon). Mas isso é uma mera distorção do significado de “Sola Scriptura”, pois, mais uma vez, eles distorcem o significado do termo como se Sola Scriptura significasse que tudo tem que estar na Bíblia – o que incluiria o cânon – quando, na verdade, significa que todas as doutrinas tem que constar nas Escrituras – e o cânon não é doutrina. Assim sendo, o apelo de que o cânon bíblico precisa estar na Bíblia para a Sola Scriptura ser verdadeira é mera invenção papista, fruto de puro desconhecimento teórico.

Ainda, eles afirmam que o cânon é de autoridade da Igreja Romana que o decretou, e que isso confirmaria uma supremacia de um magistério papal sobre as Escrituras. Essa tese é tão estúpida que foi o próprio Agostinho quem a refutou, quando disse:

“Na questão das Escrituras canônicas, ele deve seguir a autoridade do maior número de igrejas católicas, entre as quais estão aquelas que merecem ocupar assentos apostólicos e receber epístolas. Ele observará essa regra a respeito das Escrituras canônicas: preferirá aqueles pontos aceitos por todas as igrejas católicas, e não as que alguns não aceitam; entre aqueles que não são aceitos por todos, ele deve preferir aqueles que são aceitos pelo maior número de igrejas importantes, em vez de apoiados por poucas igrejas pequenas de autoridade inferior. Se ele descobrir que alguns são mantidos pela maioria das igrejas, outros pelas igrejas de autoridade com maior peso, ainda que esta condição não seja plausível, deve manter para que haja igual valor”[1]

Note que Agostinho, ao escrever sobre o cânon (quais livros eram considerados canônicos e quais não eram), em momento nenhum diz que é a Igreja de Roma que define a questão, ou que há um magistério infalível romano que determina quais livros são inspirados e quais não são, ou que há um papa universal na Igreja que define a questão em ex cathedra fazendo uso das chaves do Reino dos céus. Não. O que ele diz vai contra tudo isso, pois ele simplesmente fala para o povo seguir o maior consenso nas igrejas locais.

Como o Dr. Robert Godfrey observa, “essa confirmação mostra que Agostinho não dependia de papas e concílios para a solução da questão do cânon. Ele reconhecia a variedade entre as igrejas, e a conveniência de uma pluralidade delas. Incentivava todos os estudantes da Escritura a examinarem a questão e observava o consenso espontâneo entre o povo de Deus”[2].

Em outras palavras, ao invés de Agostinho dizer que o cânon bíblico é definido por uma declaração oficial da Igreja Romana ou por um papa infalível, ele pede para que as pessoas sigam um consenso geral entre os cristãos da época, preferindo aceitar como canônicos os livros que a maioria considera canônicos. Ele seguia claramente o princípio reformado de que o cânon bíblico é auto-autenticável, ou seja, que a Igreja (cristãos) não determinaum cânon, mas reconhece um cânon, pois os livros realmente inspirados dão testemunho interior pelo Espírito Santo de que são inspirados.

Assim sendo, enquanto para os papistas a Igreja define quais livros são inspirados e quais não são, para os cristãos evangélicos a Igreja apenas reconhece aqueles livros que já eram inspirados muito antes de ela reconhecer isso. Não cabe à Igreja determinar nada, mas apenas reconhecer o que foi previamente determinado pelo Espírito Santo na inspiração de cada livro. Como o Espírito Santo habita nos cristãos, deve haver um consenso geral entre os cristãos acerca dos livros inspirados, o que nos leva a reconhecer tais livros como canônicos. Era assim que Agostinho (e os reformados) cria.

Os evangélicos creem que o Evangelho de Lucas já era inspirado e canônico desde o primeiro momento em que Lucas o escreveu. Ele não se tornou inspirado ou canônico somente quando algum concílio definiu isso. A inspiração, inerrância, canonicidade e infalibilidade de cada livro sagrado da Bíblia são garantidas à par de qualquer concílio ou decisão particular. Cabe à Igreja apenas reconhecer essa inspiração. Quando a maioria entra em um consenso sobre a inspiração dos livros, é porque o Espírito Santo os direcionou a este fim.

Os católicos romanos, ao contrário, creem que foram os concílios e a autoridade da Igreja Romana e do papa que decidiram quais livros seriam inspirados e quais não seriam. Assim sendo, se a Igreja de Roma não dissesse que o Evangelho de Lucas é inspirado, ele não seria. Como disse, então é. Eles invertem a lógica e fazem a Bíblia submissa a uma instituição particular. E, logicamente, eles fazem com que essa instituição particular seja a Romana.

Para citarmos um exemplo de como funciona o paradigma que separa evangélicos de romanistas neste ponto pense na gravidade. A Lei de Gravitação Universal é atribuída a Isaac Newton, mas ninguém seria insano de dizer que foi Newton que criou a gravidade ou que definiu que a gravidade existiria ou não. Newton apenas reconheceu a existência da gravidade, e sua teoria foi confirmada pelos outros cientistas desde então.

Ou então pegue o caso de Cristóvão Colombo e sua descoberta da América em 1492. Podemos dizer que a partir de então os europeus reconheceram a existência das Américas, mas seria leviano se alguém dissesse que Colombo decretou a existência das Américas ou que a existência das Américas depende da descoberta de Cristóvão Colombo.

É a mesma coisa que ocorre na questão do cânon. Da mesma forma que Newton não decretou a existência da lei gravitacional e que Colombo não definiu a existência do continente americano, a Igreja não definiu a existência do cânon, mas apenas reconheceu quais livros eram inspirados. Isso explica facilmente o porquê que nenhum apóstolo ou Pai da Igreja esperou até o final do século IV para surgir um concílio que definiria o cânon da Bíblia para só depois dizer quais livros eram de fato Escritura. Eles já os reconheciam desde sempre.

Pedro chamou os escritos de Paulo de Escritura, junto ao Antigo Testamento:

“Suas cartas contêm algumas coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria destruição deles” (2ª Pedro 3:16)

E Paulo citou um trecho do Evangelho de Lucas (Lc.10:7) como sendo Escritura também:

“Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino. Pois a Escritura declara: ‘Não amordaces o boi, quando pisa o trigo’. E ainda: ‘O trabalhador é digno do seu salário’” (1ª Timóteo .5:18)

Nenhum deles pensou: “Eu vou esperar até que a Igreja faça um concílio e defina a extensão do cânon para saber quais livros são Escritura e quais não são, porque a Bíblia é filha da Igreja”. Pelo contrário. Eles muito antes do Concílio de Hipona (393) e de Cartago (397) já diziam que os escritos apostólicos eram Sagrada Escritura. Para eles, a sacralidade, inspiração e canonicidade da Bíblia não dependem de concílios, senão nenhum deles teria chamado aqueles livros neotestamentários de “Escritura” há mais de trezentos anos antes de qualquer concílio que trataria a questão.

Policarpo, o discípulo do apóstolo João, também já reconhecia desde os fins do século I que os escritos de Paulo eram considerados Escritura, pois disse:

“Creio que sois bem versados nas Sagradas Letras e que não ignorais nada; o que, porém, não me foi concedido. Nessas Escrituras está dito: ‘Encolerizai-vos e não pequeis, e que o sol não se ponha sobre vossa cólera’. Feliz quem se lembrar disso. Acredito que é assim convosco’[3]

O texto citado por Policarpo não se encontra em outro lugar da Bíblia a não ser em Efésios 4:26, considerado por Policarpo como “Sagradas Letras” e “Escrituras”, a despeito de qualquer definição papal ou de qualquer concílio sobre o cânon. Orígenes inclusive disse:

“O Espírito Santo, porém, não cuidou apenas das Escrituras compostas até ao advento de Cristo; mas sendo um e o mesmo Espírito, e procedendo de um mesmo Deus, procedeu de igual modo com os evangelistas e apóstolos”[4]

Jerônimo, também antes dos concílios de Hipona e Cartago, citou uma lista com todos os livros do Novo Testamento como sendo Escritura:

Tratarei brevemente do Novo Testamento. Mateus, Marcos, Lucas e João são a equipa quádrupla do Senhor, os verdadeiros querubins ou depósito de conhecimento (...) O Apóstolo Paulo escreve a sete igrejas (pois a oitava epístola, aos Hebreus, não é geralmente contada com as outras). Instrui Timóteo e Tito; intercede ante Filemom pelo seu escravo fugitivo (...) Os Atos dos Apóstolos parece relatar uma história sem adorno e descrever a infância da igreja recém-nascida, mas uma vez que nos damos conta que o seu autor é Lucas, o médico cujo louvor está no evangelho, veremos que todas as suas palavras são remédios para a alma doente. Os apóstolos Tiago, Pedro, João e Judas produziram sete epístolas, ao mesmo tempo espirituais e concisas. O Apocalipse de João tem tantos mistérios como palavras. Ao dizer isto, disse menos do que o livro merece”[5]

A mesma coisa fez Atanásio, ao citar em meados do século IV uma lista de livros neotestamentários considerados Escritura, também décadas antes de Hipona e Cartago:

“Não é tedioso repetir os [livros] do Novo Testamento. São os quatro Evangelhos, segundo Mateus, Marcos, Lucas e João. Em seguida, o Atos dos Apóstolos e as sete Epístolas [chamadas ‘católicas’], ou seja: de Tiago, uma; de Pedro, duas; de João, três; de Judas, uma. Em adição, vêm as 14 Cartas de Paulo, escritas nessa ordem: a primeira, aos Romanos, as duas aos Coríntios, uma aos Gálatas, uma aos Efésios, uma aos Filipenses, uma aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, uma aos Hebreus, duas a Timóteo, uma a Tito e, por último, uma a Filemom. Além disso, o Livro da Revelação de João”[6]

Orígenes, semelhantemente, já nos dava uma lista completa dos livros do Novo Testamento desde o século III:

“Assim também nosso Senhor Jesus Cristo (...) enviou seus apóstolos como sacerdotes, levando trombetas bem forjadas. Primeiro Mateus tocou a trombeta sacerdotal no seu Evangelho, Marcos também, e Lucas e João, cada um deu publicamente a força sobre suas trombetas sacerdotais. Pedro além disso soa com as duas trombetas de suas epístolas; Tiago também e Judas. Ainda assim, o número é incompleta, e João dá adiante o som da trombeta através de suas epístolas [e Apocalipse]; e Lucas ao escrever os atos dos apóstolos. Depois de todos, além desses, veio um que disse: ‘Eu acredito que Deus me fez como o último dos apóstolos’ (1 Cor 4:9), e trovejando sobre as catorze trombetas de suas epístolas ele derrubou, mesmo para seus próprios fundamentos, o muro de Jericó, ou seja, todos os instrumentos de idolatria e os dogmas dos filósofos”[7]

Tantas declarações categóricas da canonicidade dos livros bíblicos muito antes de qualquer definição em concílio ou de qualquer papa se manifestar sobre a questão nos mostra que o sistema reformado está anos-luz à frente na análise da questão do cânon do que o ultrapassado sofisma papista, que inverte a questão para seu próprio benefício, tornando a Bíblia menor que uma instituição religiosa.

Alguém ainda poderia perguntar por que demorou tanto tempo para haver um consenso mais geral sobre os livros reconhecidos como inspirados, já que houve escritores eclesiásticos nos primeiros séculos que ainda tinham dúvidas em relação à canonicidade de certos livros (como o Apocalipse ou Judas). A resposta a isso se encontra em Agostinho, que disse:

“Pois, ainda que haja alguma verdade nestes escritos apócrifos, eles ainda contêm tantos falsos depoimentos que não têm autoridade canônica. Não podemos negar que Enoque, o sétimo depois de Adão, deixou alguns escritos divinos, pois isso é afirmado pelo apóstolo Judas em sua epístola canônica. Mas não é sem razão que estes escritos não têm lugar na Escritura canônica que foi preservada no templo dos hebreus pela diligência de sucessivos sacerdotes; pela sua antiguidade ficou sob suspeita, e era impossível saber se estes eram seus escritos originais, e eles não foram considerados genuínos pelas pessoas que cuidadosamente preservaram os livros canônicos por uma transmissão sucessiva”[8]

Em outras palavras, a razão pela qual alguns livros foram colocados em dúvida por alguns nos primeiros séculos não foi porque eles estavam aguardando a confirmação de um concílio infalível que determinasse a questão, mas sim porque tinham dúvidas quanto à antiguidade e originalidade de alguns livros. Nenhum escritor que questionou a canonicidade do Apocalipse disse que o Apocalipse poderia não ser Escritura porque nenhum concílio havia confirmado se era ou não. Ao contrário: questionavam porque suspeitavam da autenticidade do livro em questão.

Sendo assim, mesmo naqueles escritores que colocaram em dúvida a canonicidade de algum livro inspirado, há ainda muita prova abundante de que eles não tinham qualquer visão de que a canonicidade dependesse de um decreto da Igreja de Roma ou de alguma definição conciliar. Seria realmente cômico que demorassem quase quatro séculos para tratarem a questão se tudo o que precisava para determinar quais livros eram inspirados era a realização de um concílio.

Se eles cressem que é a Igreja que determina o cânon da Bíblia – e dada a importância que eles davam às Escrituras – ninguém iria demorar mais de três séculos para reunir algumas centenas de bispos e definir a questão. Eles demoraram porque sabiam que não seria um concílio que daria por encerrado o assunto ou que determinaria quais livros eram inspirados.

Eles aguardaram a confirmação de quais livros eram autênticos através do testemunho interior do Espírito Santo que levou a Igreja a um consenso sobre quais livros eram verídicos e quais não eram. Os concílios que vieram depois não definiram nada, mas meramente reconheceram aquilo que já era vigente há décadas na Igreja. Como disse Sproul, “a Igreja não estabeleceu o cânon, mas o reconheceu e submeteu-se ao seu governo”[9].

O Dr. Robert Godfrey também acertou quando disse:

“Devemos notar que, historicamente, o cânon não foi formado por papas e concílios; tais instituições simplesmente reconheceram o consenso espontâneo do povo de Deus ao reconhecer a autenticidade das Escrituras. Indubitavelmente, quaisquer critérios usados por papas e concílios para o reconhecimento do cânon (autoria, estilo, conteúdo, testemunho do Espírito, etc), estes mesmos critérios estavam disponíveis ao povo de Deus como um todo”[10]

Também é importante ressaltar que não houve nenhum concílio romano que definiu a lista de livros canônicos até o Concílio de Trento (1545-1563), pós-reforma Protestante. Os concílios supracitados como o de Hipona e de Cartago não eram concílios ecumênicos (universais), mas somente locais, e não tinham autoridade universal na Igreja da época, mas somente na extensão da sua jurisdição, que, por sinal, ocorreu no norte da África.

Usar estes concílios como uma “prova” da Igreja Romana é um anacronismo ridículo e totalmente sem fundamento, visto que a Igreja de Roma da época teve zero participação nas definições de Cartago e de Hipona. Tais concílios não foram convocados por um papa, não foram presididos por um papa, e, como se não bastasse, não tiveram sequer a presença do papa e nem mesmo de um legado papal! O único concílio convocado por um papa da época para tratar da questão do cânon foi o de Roma, em 382, só que este concílio deixou de fora o livro de 2ª Coríntios, como já escrevi neste artigo. Em outras palavras, na única vez em que o papa da época se reuniu para tratar a questão do cânon, ele errou. Nem o Concílio de Trento (1546) seguiu a lista do concílio do papa Dâmaso, preferindo adotar a lista de Hipona e Cartago!

Portanto, dizer que o papa ou que a Igreja de Roma teve alguma participação na questão do cânon é simplesmente desonestidade intelectual de apologista sem vergonha. Se o papa tivesse tido qualquer papel relevante, teríamos que jogar fora o livro de 2ª Coríntios. Do jeito que ficou, se alguma igreja (comunidade local da época) merece o crédito são as do norte da África supracitadas. Mas elas não estavam sob a jurisdição do bispo de Roma, e ainda atacavam com dureza toda e qualquer tentativa de um bispo de fora querer se impor sobre as decisões deles, como fica bastante evidente em seus concílios locais:

“Igualmente decidimos que os presbíteros, diáconos e outros clérigos inferiores, nas causas que surgirem, se não quiserem se conformar com a sentença dos bispos locais, recorram aos bispos vizinhos, e com eles terminem qualquer questão (...) E que, se ainda não se julgarem satisfeitos e quiserem apelar, não apelem senão para os concílios africanos, ou para os primazes das próprias províncias; e que, se alguém apelar para a Sé Transmarina (de Roma) não seja mais recebido na comunhão (Concílio de Cartago, ano 418)

Pois nenhum de nós coloca-se como um bispo de bispos, nem por terror tirânico alguém força seu colega à obediência obrigatória; visto que cada bispo, de acordo com a permissão de sua liberdade e poder, tem seu próprio direito de julgamento, e não pode ser julgado por outro mais do que ele mesmo pode julgar um outro. Mas esperemos todos o julgamento de nosso Senhor Jesus Cristo, que é o único que tem o poder de nos designar no governo de Sua Igreja, e de nos julgar em nossa conduta nela” (Sétimo Concílio de Cartago, ano 256)

O que fica claro ao consultar estes concílios de Cartago? Que os bispos dali tinham a consciência de que eram totalmente submissos ao infalível e todo-poderoso bispo de Roma, que supostamente detinha uma jurisdição universal sobre toda a Igreja, inclusive sobre Cartago? É óbvio que não. O que está evidente é que a Igreja do norte da África era independente, ou seja, fazia parte da Igreja universal (“católica”) assim como as demais igrejas ocidentais e orientais, mas tinha jurisdição própria e autonomia local, não sendo sujeita à igreja de Roma de forma alguma.

Seguindo a lógica papista, devemos nos submeter à igreja que “definiu” o cânon. Essa igreja não foi a Igreja Romana (que surgiu depois do cisma) e nem a comunidade local de Roma já existente na época, mas as igrejas do norte da África, especialmente Cartago e Hipona. Mas elas foram totalmente destruídas pelos muçulmanos nas invasões árabes que tomaram a totalidade da África na Alta Idade Média. Para ser claro: essas igrejas não existem mais.

Colocá-las na conta da Igreja Romana é puro devaneio: ninguém sabe se por ocasião do cisma de 1054 elas decidiriam se aliar à Roma e fazer parte da Igreja Romana, ou se iriam se aliar à ortodoxia grega, ou se iriam permanecer independentes até hoje. O romanista que joga na base do achismo é simplesmente um desonesto intelectual. Querer usar o “argumento do cânon” para fundamentar uma Igreja Romana desenvolvida após um racha que ocorreu séculos depois dos concílios africanos é mais do que jogo sujo: é mau-caratismo mesmo.

É um absurdo, além de uma usurpação, que os romanistas peguem para si aquilo que não é deles – dois pequenos sínodos no norte da África que não tiveram participação nem influência do bispo romano, e em uma região que não era administrada jurisdicionalmente pelo bispo de Roma. O Concílio ecumênico de Niceia declarou que “o bispo de Alexandria terá jurisdição sobre o Egito, Líbia e Pentápolis; assim como o bispo romano sobre o que está sujeito a Roma. Assim, também, o bispo de Antioquia e os outros, sobre o que está sob sua jurisdição[11].

Se a jurisdição de Roma não se estendia à África, mas se limitava à própria Roma, com que moral os papistas querem reclamar para si as decisões de um sínodo local que não era deles, que não estava sob a jurisdição deles e que não estava debaixo da autoridade deles?

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,

-Parcialmente extraído de meu livro "Em Defesa da Sola Scriptura", com modificações.


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[1]On Christian Doctrine, Livro 2, seção VIII (Nova York: Liberal Arts Press, 1958), p. 41.
[2]GODFREY, Robert. Sola Scriptura: Numa época sem fundamentos, o resgate do alicerce bíblico. Editora Cultura Cristã: 2000,  p. 30.
[3]Policarpo aos Filipenses, 12:1.
[4]De Principii, 4:16.
[5]Carta LIII. Em Philip Schaff e Henry Wace, Editors: A Select Library of Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church, Second Series [1892]. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, Reimpresión, 1991; 6:101-102.
[6]Epístola 39, 5.
[7] Hom. Josh. 7.1, as cited in Metzger, The New Testament Canon, 139.
[8]A Cidade de Deus, Livro XV, 23.
[9]SPROUL, Sobert Charles. Sola Scriptura: Numa época sem fundamentos, o resgate do alicerce bíblico. Editora Cultura Cristã: 2000,p. 70.
[10]GODFREY, Robert. Sola Scriptura: Numa época sem fundamentos, o resgate do alicerce bíblico. Editora Cultura Cristã: 2000, p. 29.
[11]Cânon VI.

Refutando argumentos católicos para o primado de Pedro

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1º Pastoreie as minhas ovelhas

Argumento católico– Jesus disse em João 21:15-17 para Pedro pastorear as ovelhas dele. Isso significa que somente Pedro era pastor de ovelhas e que isso o coloca em uma posição de superioridade sobre todos os demais cristãos, exercendo um primado jurisdicional sobre todos eles.

Refutação bíblica– Este é, de todos os argumentos, provavelmente o mais interessante, pois diz que Pedro seria um pastor de ovelhas, e não um pastor de pastores, como ensina a Igreja Católica! Para eles, Pedro era o Sumo Pontífice, isto é, um pontífice superior a todos os demais pontífices, o “chefe dos apóstolos”, o “bispo dos bispos”, e, portanto, pastor de pastores.

Mas, para Jesus, Pedro era mais um pastor de ovelhas, e não pastor de pastores. Isso o coloca em seu devido lugar como pastor no mesmo nível dos demais pastores, e não acima deles, liderando-os. É por isso que o próprio Pedro indica claramente quem era o “Sumo Pastor” (1Pe.5:4), isto é, o Pastor que está acima em liderança dos demais pastores, apontando para Cristo, e não para ele próprio:

“E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória” (1ª Pedro 5:4)

Sumo Pastor é uma tradução do grego que diz archipoimen. “Arche”, como já vimos, expressa liderança[1], e, portanto, archipoimen nada mais é senão um líder dentre os pastores que pastoreiam a Igreja. E esse líder dos pastores, ou chefe deles, não é o próprio Pedro, mas Cristo (1Pe.5:4)! Já vimos também que Jesus é o nosso único Sumo Pontífice, e que o papa é um usurpador do nome e da posição que cabe somente a Jesus (Hb.5:10; 4:14; 8:1; 3:1; 5:1; 5:5; 10:21; 6:20; 4:15; 9:11; 2:17; 7:26), e que não existe um Sumo Pontífice humano na terra, mas apenas Cristo exercendo essa função no Céu.[2]

Além disso, Jesus disse que “a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é vosso Pai, o qual está nos céus” (Mt.23:9), indicando claramente que não haveria na terra um Sumo Pontífice que pudesse ser chamado de “pai” (a palavra “papa” provém da palavra “pai”), no sentido de liderança eclesiástica infalível na terra, como também aponta Norman Geisler:

“O contexto da afirmação de Jesus indica que ele está-se referindo a considerar seres humanos como mestres espirituais infalíveis, e não que ele se oponha a termos mentores espirituais falíveis. De fato, Paulo foi um pai espiritual de Timóteo (1 Co 4:15), a quem ele se referiu como sendo seu ‘amado filho’ (2 Tm 1:2). Entretanto, Paulo teve o cuidado de instruir seus filhos espirituais a que somente fossem seus imitadores ‘como eu sou de Cristo’ (1 Co 11:1). Demonstrar respeito devido ao nosso líder espiritual é uma coisa (cf. 1 Tm 5:17), mas dar-lhe obediência incondicional e a reverência que somente a Deus devemos dar, isso é outra coisa”[3]

Outra coisa interessante é que é dever de todos os pastores da Igreja apascentarem o rebanho, e não somente de Pedro! Este, como já vimos, se colocou na mesma posição de igualdade aos demais presbíteros ao se dizer “presbítero como vocês” (1Pe.5:1), que é a tradução do grego que diz “sumpresbuteros”, sendo que este “sum” é um prefixo que designa igualdade, e não superioridade sobre eles. Portanto, Pedro se considerava um presbítero no mesmo nível dos demais presbíteros, e não acima deles em autoridade, o que seria archipresbuteros, e não sumpresbuteros[4].

E, depois de se colocar no mesmo nível dos demais presbíteros e não “acima” deles, Pedro ainda diz que é dever de todos eles apascentarem o rebanho, e não somente dele próprio:

“Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós...” (1ª Pedro 5:2)

Se Pedro tivesse entendido o que Cristo disse a ele sobre apascentar as ovelhas em João 21:15-17 como sendo exclusividade dele em função de um suposto primado que exerceria sobre os demais, ele nunca teria dito para que todos os demais presbíteros pastoreassem o rebanho, pois entenderia que aquilo seria exclusividade dele porque somente ele era o papa! Portanto, o fato de Pedro dizer que era para todos os presbíteros apascentarem o rebanho de Deus mostra claramente que ele não entendeu que o que Cristo disse a ele em João 21:15-17 se aplicava só a ele, mas entendeu que se aplicava a todos os pastores (líderes eclesiásticos) que pastoreiam as ovelhas do reino de Deus, incluindo todos os presbíteros aos quais ele escrevia em 1ª Pedro 5:2.

O mesmo ocorre em Atos 20:28, quando Paulo fala para todos os bispos pastorearem a Igreja de Deus, e não que isso fosse dever somente de Pedro:

“Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue” (Atos 20:28)

Mas, se isso se aplica a todos os presbíteros e bispos da Igreja, e não somente a Pedro, então por que Cristo se dirigiu especificamente a Pedro naquela ocasião? E por que disse aquilo três vezes?

Isso é muito simples de responder. O Senhor se dirigiu especificamente a Pedro nesta ocasião por causa das suas negações ao Mestre. Pedro ainda não havia tido oportunidade de conversar com Jesus depois de aquilo ter acontecido, provavelmente ainda estava constrangido por tê-lo negado três vezes publicamente, e chorou amargamente depois de Cristo olhar fixamente em sua direção após a terceira negação (Lc.22:61). Ele estava tão abatido que, ao ouvir falar da ressurreição de Jesus, foi o único junto a João que decidiu correr até o sepulcro para confirmar a história, enquanto todos os outros permaneceram em casa (Jo.20:1-10).

Note também que Pedro negou Jesus três vezes, e este lhe deu a oportunidade de reafirmar seu amor por ele também três vezes. Nada ocorreu por acaso, nem a escolha de Pedro nesta ocasião nem mesmo a quantidade de vezes que Jesus repetiu a mesma pergunta. Tudo aquilo aconteceu para que Cristo pudesse restaurar Pedro espiritualmente, depois do abalo que este sofreu por tê-lo negado publicamente, tão pouco tempo depois de estar tão autoconfiante ao ponto de ter dito que, ainda que todos o negassem, ele não o negaria (Mc.14:29).

Então, Cristo lhe dá a oportunidade de consertar as coisas, de reafirmar seu amor por seu Mestre também três vezes, de recolocá-lo em seu devido lugar como pastor de ovelhas (pescador de homens) e não mais como um mero pescador de peixes. Quando Cristo viu Pedro pela primeira vez, este estava pescando peixes, como pescador que era junto a seu irmão André e seus sócios, os dois filhos de Zebedeu, Tiago e João (Lc.5:10). E disse-lhes: Não temas; de agora em diante serás pescador de homens” (Lc.5:10). Ou seja: a ocupação deles, de agora em diante, não seria mais de pescar peixes, mas de salvar almas, de trazer perdidos à Cristo, de levar a salvação à casa de Israel e aos gentios.

Mas, depois que Jesus morreu, eles caíram no desânimo e tudo parecia que ia voltar a ser como era antes. Cristo disse para pregar o evangelho a toda criatura, mas lá estavam os mesmos discípulos pescando peixes novamente (Jo.21:2,3). Então, Jesus lhes chama como tinha feito no princípio, e reafirma a Pedro o que havia dito antes: que ele não foi chamado para ser um mero pescador de peixes, como era antes, mas para ser um pescador de homens, um pastor de ovelhas.

Cristo o reergueu novamente e colocou mais uma vez em seu coração o chamado divino de pregar o evangelho a toda criatura, a se tornar pescador de homens, a apascentar o rebanho de Deus, a reafirmar seu amor por Ele, todas essas coisas que são dever de todos os cristãos, e não apenas de Pedro (Mc.16:15; 1Pe.5:2; Lc.10:27; At.20:28). Na prática, Cristo estava dizendo: “Não volte a ser o que era antes, você foi chamado para pastorear (pregar o evangelho), e não para pescar”!

Cristo chamou Pedro ao pastoreio, que é o dever de todos os cristãos. Nada de primado foi dito a ele. Se fosse assim, Cristo não teria dito que ele era pastor de ovelhas(como já vimos que todos são, e não apenas Pedro – 1Pe.5:2), teria dito que ele era pastor de pastores, exatamente como a Igreja Católica faz com o papa, dizendo oficialmente que ele é o bispo dos bispos. E o próprio Pedro teria se colocado em autoridade superior aos demais presbíteros, e não em igualdade (1Pe.5:1), e ainda teria aproveitado a oportunidade para afirmar que o archipoimen era ele mesmo (1Pe.5:4).


2º Pedro é o apóstolo mais citado no Novo Testamento

Argumento católico– Pedro foi o apóstolo mais citado nas páginas do Novo Testamento, e isso deve significar que ele era maior que todo mundo.

Refutação bíblica– Em primeiro lugar, isso é mentira. O apóstolo mais citado no Novo Testamento é Paulo, com 210 menções. Pedro é somente o segundo mais citado, com 190 menções. Se, portanto, o primado deve ser concedido àquele que tem mais citações, Paulo deveria ser “papa” e Pedro um simples “cardeal”!

Em segundo lugar, desde quando o número de citações é algum critério para alguém ser um Sumo Pontífice? Ora, já vimos que apenas Jesus é o nosso Sumo Pontífice (Hb.5:10; 4:14; 8:1; 3:1; 5:1; 5:5; 10:21; 6:20; 4:15; 9:11; 2:17; 7:26), que apenas ele é o nosso Sumo Pastor (1Pe.5:4) e que não devemos chamar ninguém de “papa” (pai) como um líder espiritual infalível na terra (Mt.23:9). A isso cabe-se acrescentar que o terceiro apóstolo mais citado é Judas, mas isso não significa que ele era o terceiro mais importante!

Paulo aparece em primeiro, Pedro em segundo e Judas em terceiro. Se o número de citações fosse algo decisivo para determinar quem exerce um “primado”, então Judas seria mais importante que Tiago, o irmão de Jesus, e mais importante que João, o discípulo amado, pois aparece mais vezes que eles!

Em terceiro lugar, o argumento católico de que Paulo só é citado mais vezes que Pedro porque escreveu mais epístolas é ridículo, porque se ele fosse mais citado que Paulo poderíamos usar a mesma lógica para afirmar que ele só é mais citado porque aparece nos evangelhos enquanto Paulo ainda não era convertido. Ora, é óbvio que Pedro seria mais citado que Paulo em uma época em que Paulo nem convertido era, mas era só mais um anticristão. Se devemos comparar a importância de Pedro em relação a Paulo, devemos analisar o momento em que ambos já são convertidos e são citados no mesmo livro, como ocorre em Atos.

Atos dos Apóstolos começa a narrar a conversão de Paulo em Atos 9:3. A partir daí, o escritor de Atos (Lucas) passa a se focar muito mais no ministério de Paulo do que no de Pedro, prova disso é que Pedro desaparece do livro de Atos a partir do capítulo 16, enquanto Paulo continua sendo mencionado até o fim do livro. Isso significa, obviamente, que Lucas deu total prioridade ao ministério de Paulo em relação ao de Pedro, julgando ser mais importante e relevante narrar os acontecimentos do ministério de Paulo do que os de Pedro.

Paulo é citado 179 vezes em Atos, enquanto Pedro desaparece na segunda metade do livro. Lucas não deu a menor importância ao ministério de Pedro em toda a segunda metade do livro, ou seja, desde quando Paulo começou a entrar em cena como cristão convertido. Pedro passou a ser plano de fundo em relação a Paulo, que era o foco de todas as atenções. E enquanto Paulo foi citado 179 vezes em Atos, Pedro foi citado neste mesmo livro apenas 70 vezes, bem menos da metade, e zero vezes a partir do capítulo 16, quando Lucas se volta inteiramente ao ministério de Paulo, que julgou ser o mais importante!

Portanto, esse argumento católico do número de citações é outro argumento pobre, fútil e superficial, que quando analisado com mais atenção é uma prova muito mais contra do que a favor do primado de Pedro, seja porque esse argumento não prova nada, seja porque Paulo é muito mais citado que Pedro e tem todo o foco das atenções em um período em que ambos poderiam ser destacados, mas só Paulo o foi.


3º Pedro aparece por primeiro na lista de apóstolos

Argumento católico– Em muitas ocasiões vemos Pedro sendo citado por primeiro nas listas de discípulos nos quatro evangelhos, e isso deve implicar que ele era superior a todos os demais, porque os outros só são mencionados depois de Pedro.

Refutação bíblica– Se o fato de Pedro ter seu nome sendo citado por primeiro em algumas ocasiões faz dele o “príncipe dos apóstolos”, então o que devemos dizer quando ele nãoaparece em primeiro? Que ele perdeu o pontificado? Ora, uma lida em Gálatas 2:9 já é mais que suficiente para desmistificar mais esse mito católico:

“Reconhecendo a graça que me fora concedida, Tiago, Pedro e João, tidos como colunas, estenderam a mão direita a mim e a Barnabé em sinal de comunhão. Eles concordaram em que devíamos nos dirigir aos gentios, e eles, aos circuncisos” (Gálatas 2:9)

O raciocínio é simples: se quando Pedro aparece na frente dos outros discípulos é porque ele preside sobre eles, então por que quando Tiago aparece na frente de Pedro o mesmo raciocínio não procede? A argumentação católica demonstra-se de toda falaciosa e circular. Só os versículos que colocam Pedro primeiro valem para validar um primado deste, mas os versos que colocam Pedro por segundo não servem para dizer que Pedro não era o primeiro! Pode isso, Arnaldo?

O mesmo acontece em 1ª Coríntios 1:12 e em 1ª Coríntios 3:22. Paulo aparece em primeiro lugar, Apolo em segundo, e Pedro é apenas o terceiro a ser mencionado. Da mesma forma, vemos em João 1:44 André sendo mencionado antes de Pedro. Portanto, em diferentes passagens vemos Pedro sendo mencionado depois de Tiago, depois de Paulo, depois de Apolo e depois de André. Nenhum argumento em torno de Pedro ser mencionado em primeiro em outras ocasiões deve ser levado a sério, já que pelo mesmo critério Pedro deixaria de ser o primaz em outros vários casos na Escritura.

Além disso, se fôssemos utilizar as listas oferecidas pelos católicos como sendo uma “ordem de importância” na Igreja, então devemos crer que André, o irmão de Pedro, a quem a Escritura muito pouco se refere, é mais importante que Tiago, o primeiro mártir da Igreja, e João, o discípulo amado, escritor de um evangelho, de três epístolas e do Apocalipse. Isso porque André aparece antes destes dois na lista de discípulos em Mateus 10:2-3 e nas outras listas de discípulos nos demais evangelhos.

Ademais, várias vezes a Bíblia costuma citar por primeiro alguém que não é mais importante do que outro alguém que é mencionado depois. A maioria das vezes em que ela se refere a Josué e Calebe, ela põe Calebe à frente, como vemos Números 14:30; 26:36 e 32:12, dentre outros textos. Sabemos que Josué foi muito mais importante que Calebe, tendo se tornado o sucessor de Moisés que entrou na terra prometida, mas é Calebe quem geralmente é mencionado antes em relação a Josué, nos textos bíblicos. Portanto, a simples citação do nome de um personagem bíblico à frente de outro personagem não significa nada, ou teríamos que reformular toda a teologia pela adoção deste novo método “hermenêutico”!

Junto a isso, devemos considerar também que ser mencionado antes em uma sucessão de pessoas é muito diferente de ser mencionado antes em ordem de importância. Em Gálatas 2:9, o texto em questão se refere a colunas na Igreja, que designa uma posição de autoridade. Portanto, em um texto que trata de autoridade eclesiástica, Tiago é mencionado antes de Pedro. Já as listas passadas pelos católicos nada falam de autoridade, apenas fazem menções a grupos de pessoas.

Ainda é importante ressaltar que nem Paulo nem Tiago estavam na lista dos doze discípulos de Jesus (o Tiago que aparece na lista foi o primeiro mártir da Igreja, em Atos 12:2, e não o Tiago que permaneceu vivo durante muito tempo e que depois da morte do outro Tiago se tornou o líder do Concílio de Jerusalém em Atos 15:13 e quem escreveu a epístola de Tiago), e eles são, em diferentes ocasiões, citados antes de Pedro (1Co.1:12; 3:22; Jo.1:44; Gl.2:9), até mesmo quando se trata de lideranças eclesiásticas. Sendo assim, é conclusivo que Pedro nunca foi citado antes de Paulo ou Tiago em uma lista de nomes em qualquer verso bíblico, pois nas poucas vezes em que isso ocorre esses nomes são mencionados antes do de Pedro.

Por fim, vale destacar que, mesmo se Pedro fosse sempre citado por primeiro em qualquer contexto de qualquer verso bíblico, isso não implicaria que ele fosse superior a todo mundo, sendo um “bispo dos bispos” ou “Sumo Pontífice”, mas poderia no máximo indicar que ele se destacava dentre os demais, que poderia ter mais influência, mas não que fosse um papa infalível ou um bispo universal, o que é muito diferente. Alguém pode ser mais importante ou exercer mais influência que outro e mesmo assim não ser uma autoridade eclesiástica superior a ele.  E nem poderia ser, já que Jesus disse que não haveria algum apóstolo exercendo poder ou domínio sobre os outros:[5]

“Vocês sabem que aqueles que são considerados governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês(Marcos 10:42)


4º Jesus disse para Pedro confirmar seus irmãos

Argumento católico– Em Lucas 22:32, Cristo disse a Pedro para confirmar seus irmãos, pouco antes de prever que ele o negaria três vezes. Isso deve significar liderança sobre todos os outros discípulos.

Refutação bíblica– Isso de modo algum implica em liderança, porque Jesus não usou uma palavra que designa autoridade ou liderança, nem o evangelista Lucas verteu para o grego usando algum termo que significasse isso, mas usou a palavra sterizo, que significa “fortalecer, tornar firme”[6]. E é dever de todos nós fortalecer uns aos outros. O autor de Hebreus diz a todos (não só a Pedro) para “tornar a levantar as mãos cansadas e os joelhos vacilantes” (Hb.12:12), Tiago diz para “fortalecer os vossos corações” (Tg.5:8), Paulo diz para “fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder” (Ef.6:10), para “consolai-vos uns aos outros” (1Ts.4:18) e para “exortai-vos uns aos outros e edificai-vos uns aos outros” (1Ts.5:11).

Portanto, a tarefa que Jesus designou a Pedro não era alguma que os demais discípulos e cristãos não tivessem que praticar ou que fosse de exclusividade a Pedro, mas uma que é dever de todos os cristãos. Isaías, ainda nos tempos do Antigo Testamento, não escreveu só ao papa: “Fortalecei as mãos fracas, e firmai os joelhos vacilantes” (Is.35:3). É dever de todos nós “considerarmos uns aos outros para incentivar-nos ao amor e às boas obras” (Hb.10:24).

Jesus disse aquilo a Pedro naquela ocasião por causa de seu contexto imediato, pois havia predito no verso anterior que Satanás o tentaria (v.31), como de fato o fez, o levando a negar Jesus três vezes, como ele próprio diz logo em seguida que aconteceria (v.34). Então, dentro deste contexto, Jesus diz que, quando isso tudo passasse, Pedro seria usado por Deus para fortalecer seus irmãos (v.12), fazendo o mesmo que vimos que é dever de todos os cristãos, não apenas de Pedro.

Em outras palavras, Cristo diz que Pedro iria cair naquela tentação, mas que depois seria recolocado em seu devido lugar como cristão, junto aos demais “embaixadores de Cristo” (2Co.5:20), para pregar o evangelho a toda criatura (Mc.16:15) e para fortalecer uns aos outros (Lc.22:32; Tg.5:8; Hb.10:24; Is.35:3; Ef.6:10). Ou seja: que ele não ficaria caído para sempre, mas seria restaurado por Ele.

Se Cristo quisesse dizer que Pedro lideraria os demais, não teria usado a palavra sterizo, que nem em sentido primário nem em sentido secundário significa liderança, mas teria usado a palavra hegeomai, que significa “um líder; governante; comandante; ter autoridade sobre”[7], ou então a palavra grega arche, que significa “líder”[8], bem como seus derivados: archegos, que significa: “um líder principal”[9]; archieratikos, que significa: “Sumo Pontífice”[10]; archipoimen, que significa: “Sumo Pastor”[11]; archon, que significa: “governador, comandante, chefe, líder”[12]; archo, que significa: “ser o chefe, liderar, governar”[13]; ou archomai, que significa: “ser o chefe, líder, principal”[14].

Mas, por alguma razão misteriosa, essas palavras nunca são usadas para Pedro em lugar nenhum da Bíblia, inclusive em Lucas 22:32, onde a palavra usada é sterizo, que não designa nada de liderança e que diz algo que deve ser posto em prática por todos os cristãos e não somente por Pedro.


5º Jesus mudou o nome de Pedro

Argumento católico– Pedro chamava-se originalmente Simão, e somente veio a se chamar Pedro depois de Cristo mudar o seu nome em João 1:42. Como Jesus não mudou o nome de nenhum outro discípulo, isso deve significar que Pedro era superior a eles.

Refutação bíblica– Essa afirmação católica já começa duplamente falsa, por afirmar que Cristo tenha mudado o nome de Pedro e pelo mesmo não ter ocorrido com nenhum outro discípulo de Jesus. Em primeiro lugar, Cristo não mudou nenhum nome, ele apenas acrescentou um sobrenome ao nome Simão. Tanto é que, já muito tempo depois, em Atos dos Apóstolos, quando Jesus já havia voltado aos céus, Pedro continuava a ser chamado de Simão:

“Envia, pois, a Jope, e manda chamar Simão, o que tem por sobrenome Pedro; este está em casa de Simão o curtidor, junto do mar, e ele, vindo, te falará” (Atos 10:32)

“E, chamando, perguntaram se Simão, que tinha por sobrenome Pedro, morava ali” (Atos 10:18)

Portanto, a tese de que Jesus mudou o nome de Simão para Pedro não passa de mera lenda católica, como muitas outras. O próprio Tiago, no Concílio de Jerusalém em Atos 15, chamou Pedro de Simão:

Simão relatou como primeiramente Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para o seu nome” (Atos 15:14)

Em segundo lugar, também é igualmente mentirosa a afirmação de que Jesus não tenha mudado o nome (ou acrescentado um sobrenome, como fez com Pedro) de nenhum outro discípulo, pois ele fez o mesmo com João e Tiago:

“E a Tiago, filho de Zebedeu, e a João, irmão de Tiago, aos quais pôs o nome de Boanerges, que significa: Filhos do trovão” (Marcos 3:17)

Portanto, se o argumento de que Pedro é o chefe dos apóstolos porque Cristo mudou o seu nome (sendo que ele não mudou nome nenhum, mas apenas acrescentou um sobrenome) deve ser levado a sério, então João e Tiago também são “chefes dos apóstolos”, porque Cristo também lhes pôs um nome distinto do que já possuíam, chamando-os de “Boanerges”.

E, finalmente, o fato de Jesus ter colocado o sobrenome de Pedro, que significa “pedra”, não implica que Pedro seja a pedra de Mt.16:18 ou o príncipe dos apóstolos, da mesma forma que pelo fato de Jeremias significar “Iahweh exalta” não significa que Jeremias era Deus, que pelo fato de Isaías significar “O Senhor é salvação” não significa que o próprio Isaías era Deus, ou que pelo fato de Oseias significar “Salvador é Deus” não implica em que Oseias seja Deus.

Será que todos os significados destes nomes fazem com que os profetas sejam considerados Deus? Óbvio que não. Da mesma forma, o fato de Pedro significar pedra não faz de Pedro a pedra. Deus mudou o nome de Jacó para Israel, que significa “que reina com Deus”, o que não implica que Deus dividia o seu trono com Jacó. Igualmente, adicionar ao nome “Simão” o de “Pedro” não implica que Pedro era a pedra de Mateus 16:18, ou senão em toda a Bíblia onde lemos “pedra” deveríamos entender “Pedro”, inclusive nas passagens que deixam claro que a pedra é Jesus!

Como já observamos anteriormente, o fato de Jesus ter colocado um sobrenome a Simão que significa “pedra” não significa que ele é a pedra específica de Mateus 16:18, da mesma forma que o nome bíblico Obede significa “servo”, mas isso não significa que toda vez que a Bíblia fale de servo ela está se referindo a Obede; que Neftali significa “guerreiro”, mas isso não significa que toda vez que a Bíblia use esse nome se refira a Neftali; que Matias significa “homem de Deus”, mas isso não significa que toda vez que ela fale sobre um homem de Deus esteja falando de Matias.

Finalmente, para definirmos de uma vez a questão, deveríamos perguntar aos Pais da Igreja que teceram comentários sobre a adição do nome “Pedro” se eles entenderam que isso estaria exaltando o apóstolo ao patamar de “príncipe dos apóstolos”, como sendo a pedra de Mateus 16:18, ou se isso tinha outro significado. João Damasceno (675 – 749), por exemplo, diz claramente que Pedro é um sobrenome que era carregado por ele, indicando que não houve substituição, mas uma adição ao nome do apóstolo. E diz que esse sobrenome, que significa “pedra”, faz alusão à fé do apóstolo que é o fundamento da Igreja, e não ao apóstolo em si:

Esta é a firme e inamovível fé sobre a qual, como sobre a pedra cujo sobrenome carregas, a Igreja está fundada. Contra esta as portas do inferno, as bocas dos hereges, as máquinas dos demônios – pois eles haverão de atacar - não prevalecerão. Eles pegarão em armas mas não vencerão”[15]

Ambrósio de Milão (337 – 397) complementa:

“A fé, pois, é o fundamento da Igreja, pois não foi dito da carne de Pedro (da sua pessoa), mas da sua fé, que «as portas do Hades não prevaleceriam contra ela»”[16]

Nilo de Ancira diz que o nome de Pedro significa “pedra”, mas, ao invés de complementar dizendo que isso significa que Pedro é a pedra de Mateus 16:18, ele afirma que isso indica que a sua confissão de fé é a pedra em questão:

 “Cefas, cujo nome é interpretado é ‘pedra’... que forneceu na sua confissão de fé o fundamento para a edificação da Igreja”[17]

Portanto, a alegação católica de que a mudança do nome de Simão para Pedro faz alusão ao primado petrino ou a ele ser a pedra no texto de Mateus 16:18 é falha por inúmeras razões, dentre as quais:

Cristo não mudou nome nenhum, como fez com os patriarcas na antiga aliança, mas apenas acrescentou um sobrenome, assim como vez com outros apóstolos, como João e Tiago, dando-lhes o nome de Boanerges.

O acréscimo do sobrenome em si mesmo não outorga nenhum indício de primado, já que outros discípulos também tiveram sobrenomes dados por Cristo (Mc.3:17).

O nome Pedro significar “pedra” não implica que Pedro seja a pedra do contexto específico de Mateus 16:18, conforme diversos outros exemplos de nomes bíblicos que não conferem a eles tal status em qualquer parte na Bíblia onde seu significado aparece em cena. Senão, todas as vezes em que aparece a palavra “pedra” no Novo Testamento deveríamos pensar que se refere a Pedro! Por isso também é importante preservar a distinção entre Petrus e petra. Petrus se refere a Pedro, mas petra depende de cada contexto, e em sentido espiritual sempre apontou para Cristo.

O nome Pedro significar pedra também não implica, na visão bíblica e dos Pais da Igreja, em uma exaltação ao que o próprio apóstolo era em si, mas sim à sua fé, que era o foco do discurso de Cristo em Mateus 16:16-18, quando Pedro confessou por revelação divina que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo. Tanto é que logo em seguida Pedro repreendeu Jesus e foi chamado de “Satanás” por ser uma “pedra de tropeço” e porque “não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens” (Mt.16:23). Pedro, como pessoa, era instável e falível, mas a sua fé era como uma pedra, razão pela qual Cristo acrescentou o nome Petrus ao nome Simão, e não porque Pedro, como pessoa, fosse o “príncipe dos apóstolos” e “bispo dos bispos”.


6º Jesus deu as chaves do Céu a Pedro e o poder de “ligar” e “desligar”

Argumento católico– Em Mateus 16:19, Cristo entregou as chaves do reino dos céus a Pedro e disse que o que ele ligasse na terra seria ligado no Céu, e o que ele desligasse na terra seria desligado no Céu. Isso significa que Pedro possuía a infalibilidade papal e governava sobre todos os cristãos.

Refutação bíblica– Se Pedro fosse um papa infalível por possuir as chaves, então todos os discípulos de Cristo eram papas infalíveis, pois todos eles possuíam as chaves, e não somente Pedro. Isso fica claro porque no próprio texto de Mateus 16:19 é nos dito que as chaves serviriam para ligar e desligar qualquer coisa no reino dos céus, e a todos os discípulos foi dito o mesmo em Mateus 18:18:

“Em verdade vos digo que tudo o que vocês ligarem na terra será ligado no céu, e tudo o que vocês desligarem na terra será desligado no céu” (Mateus 18:18)

Portanto, esse poder era de todos os discípulos, e não somente de Pedro. Se as chaves fossem sinais de papado ou infalibilidade, então teríamos doze papas infalíveis na Igreja da época, já que Cristo disse aquilo em Mateus 18:18 no plural, para todos os seus discípulos e não somente a Pedro. Ele disse especificamente a Pedro em Mateus 16:18 porque foi Pedro quem naquela ocasião recebeu a revelação divina de que Cristo era o Filho do Deus vivo, e não porque somente Pedro fosse detentor das chaves. De fato, o próprio Orígenes já mostrava o quão ridícula e absurda é a tese de que somente Pedro possuía as chaves do reino dos céus e o poder de ligar e desligar:

A promessa dada a Pedro não é restrita a ele, mas aplicável a todos os discípulos como ele. Mas se supões que é somente sobre Pedro que toda a Igreja é edificada por Deus, que dirias sobre João o filho do trovão ou de cada um dos apóstolos? Atrever-nos-emos, de outro modo, a dizer que contra Pedro em particular não prevalecerão as portas do Hades, mas que prevalecerão contra os outros apóstolos e os perfeitos? Acaso o dito anterior, ‘as portas do Hades não prevalecerão contra ela’, não se sustém em relação a todos e no caso de cada um deles? E também o dito, ‘Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja?’ São as chaves do reino dos céus dada pelo Senhor só a Pedro, e a nenhum outro dos bem-aventurados as receberá? Mas se esta promessa, ‘Eu te darei as chaves do reino dos céusé comum aos outros, como não o serão também todas as coisas de que anteriormente se falou, e as coisas que estão subordinadas como tendo sido dirigidas a Pedro, ser comuns a eles?[18]

Antes de Pedro, as chaves estavam sobre o poder dos fariseus (Lc.11:52), e mesmo assim não vemos um “papa” divinamente proclamado pelo Senhor dentre eles. No Novo Testamento, essas chaves passam a ser de todos os cristãos, pois foi sobre todos os discípulos que Cristo soprou o Espírito Santo e lhes deu o poder de perdoar ou reter os pecados (Jo.20:23), sobre todos eles que ele disse que o que ligassem na terra seria ligado no Céu (Mt.18:18), e os outros fora dos doze, como Paulo e Barnabé, também tinham as chaves para abrir a porta da fé aos gentios:

Chegando ali, reuniram a igreja e relataram tudo o que Deus tinha feito por meio deles e como abriram a porta da fé aos gentios (Atos 14:27)

Como foi que Paulo e Barnabé “abriram a porta da fé aos gentios”? Com as chaves! Portanto, essas chaves não são nem de longe algum “poder papal” para fazer o que quiser aqui na terra, como a fogueira ou as máquinas de tortura da Santa Inquisição, a venda de indulgências para a salvação ou para obrigar Galileu Galilei a negar que a terra é esférica para não ser queimado, mas é a proclamação do evangelho para os gentios, isto é, para aqueles povos ainda não alcançados que precisam ouvir do evangelho de Cristo. E essa obrigação, como Cristo disse, é um imperativo “ide” a todos os cristãos (Mc.16:15), pois somos os “embaixadores de Cristo” (2Co.5:20) na terra[19].

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,

- Extraído de meu livro: "A História não contada de Pedro".


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[1] De acordo com a Concordância de Strong, 746.
[2]Uma abordagem mais extensa sobre isso você pode conferir no capítulo 8 deste livro.
[3] GEISLER, Norman; HOWE, Thomas. Manual popular de dúvidas, enigmas e 'contradições' da Bíblia. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1999.
[4]Uma abordagem mais extensa sobre isso você pode conferir no capítulo 3 deste livro.
[5]Uma abordagem mais extensa sobre isso você pode conferir no capítulo 5 deste livro.
[6] De acordo com a Concordância de Strong, 4741.
[7] De acordo com a Concordância de Strong, 2233.
[8] De acordo com a Concordância de Strong, 746.
[9] De acordo com a Concordância de Strong, 747.
[10]De acordo com a Concordância de Strong, 748.
[11]De acordo com a Concordância de Strong, 750.
[12]De acordo com a Concordância de Strong, 758.
[13]De acordo com a Concordância de Strong, 757.
[14]De acordo com a Concordância de Strong, 756.
[15]Homilia sobre a Transfiguração (PG 96:554-555).
[16]Comentário sobre Lucas VI,98 (CSEL 32:4).
[17]Comentário sobre o Cântico dos Cânticos (PG 87 [ii]: 1693).
[18]Comentário sobre Mateus XII, 11 (ANF 10:456).
[19]Além disso, o poder das chaves e o “ligar e desligar” está diretamente relacionado ao poder da oração. Em Mateus 18:18 Cristo fala sobre ligar e desligar, e logo no versículo seguinte ele diz que, onde dois ou três estiverem orando em Seu nome, ali ele estaria no meio deles. Quando Deus criou o homem, Ele lhe deu a autoridade sobre a terra (Sl.115:16), e confiou todas as coisas às orações dos crentes. Assim, quando oramos pela salvação de alguém, estamos “ligando” essa pessoa aos céus em oração, para que Cristo derrame sobre ela a Sua graça e lhe conceda a salvação através da fé. Mas, quando deixamos de orar, estamos “desligando” esse canal divino com o homem. Este assunto é muito abrangente e por essa razão deixarei para abordar mais quanto a isso em um livro propriamente sobre oração.

Hangout sobre episcopado de Pedro em Roma e papado nos primeiros séculos

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O hangout abaixo foi produzido por Elisson Freire (do blog Resistência Apologética), por Bruno Lima (do blog Respostas Cristãs) e por mim. Trata sobre os temas do episcopado de Pedro em Roma e do papado ao longo dos primeiros séculos. A ideia era tratar de mais dois temas, mas como o hangout já se alongava decidimos fazer a continuação no próximo domingo.


Nestas últimas semanas tenho produzido alguns vídeos, dentre os quais os seguintes têm alguma relação direta ou indireta com o catolicismo:

• O significado de Igreja e a Sola Scriptura


• Existiu uma Inquisição Protestante?


• A parábola do rico e Lázaro prova a imortalidade da alma?


• Quem eram os espíritos em prisão para os quais Jesus pregou? (1 Pedro 3:18-21)


Acompanhem também a minha série sobre as Cruzadas:

• A Cruzada Popular e as Causas das Cruzadas


• A Primeira Cruzada


• A Segunda e a Terceira Cruzada


• A Quarta Cruzada e o Saque de Constantinopla


Para acompanhar os novos vídeos, INSCREVA-SE no canal:


Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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Bruno Lima esmiúça texto do astronauta católico sobre Agostinho

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O Bruno Lima decidiu nas últimas semanas bater em bêbado e elaborou uma refutação completa ao artigo do picareta e embusteiro profissional Rafael Rodrigues, o astronauta e monstro moral que já foi detonado neste blog aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, e, mais recentemente, aquie aqui. O artigo em questão é um onde o malandro tenta provar que Agostinho era católico romano, com um texto cheio de mentiras, falsificações, traduções ridículas e distorções grotescas. O animal simplesmente não conhece nada de patrística e se mete a escrever artigos toscos sobre o tema, sempre levando paulada na cara depois.

Segue os artigos onde Bruno Lima salva a honra do bispo de Hipona e coloca o astronauta católico em seu devido lugar:








Se depois desta denúncia Rafael Rodrigues mantiver seu texto mentiroso e fajuto sobre Agostinho no ar, é porque é mais descarado e sem-vergonha do que a gente imagina.

Não, Agostinho nunca foi católico romano. Graças a Deus, ele era capaz de raciocinar por si mesmo e chegar às suas próprias conclusões doutrinárias independentes.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


ADENDO IMPORTANTE:

Neste domingo (dia 20/03/2016) haverá um novo hangout que tratará sobre os temas do papado, sucessão apostólica, tradição e Sola Scriptura. Convoco os leitores a assistir ao vivo no canal do Elisson Freire, disponível aqui, que estará transmitindo quando nós começarmos, em torno das 14h. Quem quiser deixar uma pergunta sobre os temas tratados no hangout para que ela seja respondida ao vivo por nós pode fazê-lo por aqui mesmo na caixa de comentários deste artigo, ou então no próprio link do hangout na hora. Para que ninguém se perca, na hora eu indicarei o link na minha página no facebook. 

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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Refutando argumentos idiotas contra a Sola Scriptura

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No desespero em juntarem o máximo de conteúdo possível contra a Sola Scriptura para atacarem a Bíblia, os teólogos e apologistas a serviço de Roma inovaram e inventaram os piores argumentos possíveis já vistos pelo homem. Tais argumentos de vez em quando causam algum incômodo a algum leigo que tem pouco ou nenhum conhecimento da doutrina reformada, mas não chegam a fazer cócegas em estudiosos, e são completamente inúteis em um debate inteligente. Mostraremos e refutaremos tais argumentos a partir de agora.


• A autoria dos evangelhos

Um dos argumentos idiotas perpetuados por alguns apologistas inexperientes é o de que não há a autoria de Mateus no Evangelho de Mateus, nem o de João no Evangelho de João, nem o de Marcos no Evangelho de Marcos, e isso de alguma forma significa que a Sola Scriptura é falsa. Este argumento é mais uma vez uma falsificação e um espantalho do real entendimento de Sola Scriptura, que novamente devemos avisar aos teólogos papistas que não é o princípio segundo o qual tudo tem que estar na Bíblia, mas sim o de que todas as doutrinas tem que estar na Bíblia.

A autoria de quem escreveu algum evangelho é uma doutrina? Não. Então isso não afeta em nada o princípio reformado de Sola Scriptura. Para o lixo mais este argumento.

Como nota adicional, devemos observar que a autoria dos evangelhos ou de qualquer outro livro não é de nenhuma importância; o que importa é o conteúdo que está presente no livro. Da mesma forma que não importa se o autor deste livro chama-se Lucas Banzoli ou se é Adamastor Elefôncio da Costa Pinto, mas sim o conteúdo que está neste livro, igualmente o que importa na questão dos evangelhos não é quem escreveu mas sim o que escreveu.

Adicionamos ainda que nem mesmo a tradição é capaz de afirmar a autoria do livro de Hebreus, mas os papistas creem neste livro mesmo assim, o que mostra que nem eles mesmos levam a sério o seu próprio argumento em torno da autoria dos livros, pois se uma autoria que não consta na Bíblia significa que a Bíblia não é suficiente, então uma autoria que não consta na tradição deveria implicar no mesmo. Mas eles ignoram o fato de que a tradição não dá certeza da autoria de Hebreus e mantém o “argumento” de que a Bíblia não dá certeza da autoria de alguns evangelhos. Isso é um argumento claramente tendencioso e arbitrário, e, portanto, mais um que vai para a lata do lixo.


A Sola Scriptura só seria possível a partir da invenção da imprensa

Este é com certeza o argumento mais infame de todos os argumentos mais estúpidos que temos conhecimento. Eles dizem que a imprensa foi criada no século XV e que antes disso poucas pessoas tinha acesso à Bíblia, e de alguma forma concluem que por causa disso a Sola Scriptura é falsa, pois aquelas pessoas não poderiam ler a Bíblia. Mesmo se isso fosse verdade, o que isso prova na questão da natureza das Escrituras? O nível de autoridade da Bíblia depende da data da criação da imprensa? Quem foi o primeiro a dar a sugestão de um argumento tão ridículo como esse?

Além de tornar a natureza e autoridade das Escrituras dependente de uma invenção humana, eles por essa lógica também deveriam anular a própria tradição oral para as pessoas surdas, porque elas não poderiam ouvir a tradição da Igreja Romana. Mas se o fato de uma pessoa ser surda não altera em nada a existência da tradição oral, então o fato de uma pessoa não poder ler a Bíblia por ser analfabeta ou por não ter acesso a ela também não altera em absoutamente nada o nível de autoridade das Escrituras.

Os Pais da Igreja também viveram muito antes da invenção da imprensa, mas vimos nos capítulos 3 e 4 mais de quatrocentas citações patrísticas da adoção do princípio de Sola Scriptura por eles. Isso também prova que a autoridade da Bíblia não depende da invenção da imprensa. Os romanistas distorcem mais uma vez de maneira grosseira o sentido de Sola Scriptura, pois Sola Scriptura não é o princípio segundo o qual todos tem que ter uma Bíblia para ler, mas sim o de que todas as doutrinas tem que estar na Bíblia.

Assim sendo, o ensino oral para aqueles que não têm Bíblia ou que são analfabetos deve ser pregado de acordo com o conteúdo registrado nas Escrituras, e isso não tem nada a ver se essas pessoas podem ler a Bíblia ou não. E da mesma forma que Deus não vai punir todos os índios ao inferno só porque eles não tiveram acesso à tradição nem ao magistério romano, ele não vai punir as pessoas que não puderam ter acesso à Escritura, mas que viveram uma vida com uma conduta moral de acordo com ela.

Sustentar que a Bíblia não podia ser a regra de fé até o século XV porque só depois disso é que os leigos tiveram mais acesso a Bíblia é como sugerir que Jesus não podia ser o Salvador antes do século XVI porque só depois disso é que os índios tiveram acesso à cultura européia e aos valores cristãos. Ou seja: é mais um argumento frouxo que supera o nível da imbecilidade. 

Continua... 

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,

-Extraído de meu livro "Em Defesa da Sola Scriptura".


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O que Paulo pregava quando Êutico morreu?

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Atos 20:7-9 nos conta a história de um jovem que morreu enquanto Paulo estava pregando. O texto em questão diz:

“E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou a prática até à meia-noite. E havia muitas luzes no cenáculo onde estavam juntos. E, estando um certo jovem, por nome Êutico, assentado numa janela, caiu do terceiro andar, tomado de um sono profundo que lhe sobreveio durante o extenso discurso de Paulo; e foi levantado morto” (Atos 20:7-9)

O que geralmente é pregado em cima deste relato é que Paulo posteriormente o ressuscitou. Um dos meus professores do mestrado, no entanto, fez uma pergunta incisiva para a turma: “Vocês lembram o que Paulo pregava quando Êutico morreu?”. A maioria dos alunos tentou voltar ao texto bíblico para ver se tinha ali algum registro, e outros (como eu) ficaram simplesmente esperando o circo pegar fogo. Por fim, ninguém “lembrou” o que Paulo tinha pregado naquela ocasião. E o professor arrematou:

– Vocês não lembram porque não escreveram sobre isso. Se tivessem escrito, alguém lembraria.

Este é o ponto em questão. Embora o professor tivesse usado essa ilustração para mostrar o quanto é importante que um pregador escreva livros em vez de apenas ensinar oralmente, isso tem tudo a ver com a questão da Sola Scriptura vs Tradição Oral. Hoje em dia, um pregador que ensina oralmente ainda pode ter seu ensino registrado e guardado para a posteridade por meio de gravações em áudio ou em vídeo, mesmo que ninguém escreva nada. Mas aqui não estamos falando do século XXI, mas do século I. No século primeiro, só havia a escrita como meio de preservação do que foi ensinado.

O que foi escrito se preservou, e o que não foi nós simplesmente não sabemos – da mesma forma que ninguém se “lembra” do que Paulo pregou nas ocasiões em que seu ensino não foi registrado por escrito. Quando os apologistas católicos vociferam que “Jesus disse muitas coisas que não foram escritas” e que “os apóstolos também pregaram de boca em boca”, eu concordo. É assim mesmo. O que discordamos completamente é que essas coisas que não foram escritas foram preservadas incorruptivelmente ao longo de vinte séculos sem passar por nenhum acréscimo ou modificação.

Para citar alguns exemplos:

• Entre essas “muitas coisas que não foram escritas”, mas que foram pregadas apenas oralmente, os espíritas deduzem que está a reencarnação.

• Os mórmons deduzem que está a ida de Jesus à América.

• Os muçulmanos deduzem que estão profecias sobre Maomé.

• Os católicos ortodoxos deduzem que está o ensino de que alguém condenado ao inferno ainda pode ser salvo depois da morte.

• Os católicos romanos deduzem que está o purgatório, o limbo, a imaculada conceição de Maria, sua assunção ao céu de corpo e alma, as rezas repetidas à exaustão, a oração pelos mortos, o culto às imagens, a infalibilidade e supremacia papal, etc. Muitas dessas coisas que nem os orientais ortodoxos dizem que existem – embora aleguem guardar a mesma “tradição apostólica”.

Inevitavelmente, o que todo charlatão irá querer provar pra você é que o que ele diz não foi escrito, mas foi pregado assim mesmo. Está ali, nas entrelinhas, subliminarmente, oculto, encoberto, escondido, mas está ali sim. Foi pregado, com certeza. E você só precisa ter a mesma imaginação fértil para acreditar que foi mesmo. Basta ser ingênuo e adestrado o suficiente e ter passado por toda a doutrinação e lavagem cerebral conhecida como catequismo. É assim que se convence os tolos de que inumeráveis doutrinas jamais pregadas pelos apóstolos foram ditas por eles – mesmo sem prova, sem documentação, sem registro, sem nada. Apenas uma fé cega e desnorteada.

Sempre que um católico romano quiser fazer com que você engula a lenda da tradição oral, peça a ele quatro coisas:

Quem disse.
Quando disse.
Para quem disse.
O que disse.

E é claro:

Quais as provas cabais de que disseram isso mesmo.

Com as Escrituras isso é muito fácil. Se um protestante quiser usar um versículo da primeira carta de Paulo a Timóteo, por exemplo, ele sabe:

Quem disse: Paulo.
Quando disse: cerca de 64 d.C.
Para quem disse: Timóteo.
O que disse: tudo o que está registrado na carta.

E também:

Quais as provas cabais de que disseram isso mesmo: mais de cinco mil manuscritos gregos antigos e bem preservados.

Agora faça o mesmo teste com a “tradição oral” dos católicos, por exemplo, no que se refere ao culto aos defuntos:

Quem disse: Ninguém sabe.
Quando disse: Não se tem ideia.
Para quem disse: Algum anônimo desconhecido.
O que disse: Alguma coisa incerta.
Quais as provas cabais de que disseram isso mesmo: Nada.

A tradição oral católica é uma tradição-fantasma, sem fundamento, sem embasamento, sem teor científico, apenas baseada no achismo e na sem-vergonhice de apologistas embusteiros e picaretas a serviço de uma Igreja Assassina. É como eu já disse aqui outras vezes:

Eu estou escrevendo uma tese de dissertação no mestrado chamada “A Bíblia e a Escravidão”. O propósito é estudar a temática da escravidão à luz da Bíblia e também à luz da história secular. Quais as fontes que eu poderia usar para o meu trabalho? Obviamente, fontes escritas. Eu posso usar a própria Bíblia, o Códice de Hamurabi e outros registros dos outros povos, assim como eu posso estudar os escritos de pessoas como Abraham Lincoln, John Wesley e William Wilberforce, que foram fundamentais para o fim da escravidão no mundo. Todas fontes escritas, obviamente. No entanto, imagine qual seria a minha nota na dissertação se eu dissesse alguma informação sem prová-la, e como pretexto alegasse que “isso chegou aos meus ouvidos”. Imagine qual seria a cara do meu orientador se eu escrevesse alguma groselha sem nenhum fundamento histórico e me justificasse sob o argumento de que “nem tudo o que aconteceu na história da escravidão foi escrito”. Imagine a vergonha que eu passaria se deixasse de lado o que foi escrito para ficar com aquilo que supostamente foi dito oralmente, mas que eu não tenho a menor condição de provar que foi mesmo. Sem dúvidas, a minha nota seria zero e eu seria expulso da faculdade, pois meu registro não teria nenhuma credibilidade.

Essa é a diferença entre a pesquisa séria, extraída de documentos escritos e de fontes primárias (no caso das doutrinas bíblicas, a Sagrada Escritura) e a fantasia do mágico que tira quantos e quais coelhos quiser da sua cartola, especificamente qualquer coisa que quiser inventar sob o nome de “tradição apostólica”.

Antes de concluir este artigo, gostaria de recomendar o hangout mais recente que trata sobre Papado, Sucessão Apostólica e Sola Scriptura, que será ainda complementado com um próximo que será realizado nas próximas semanas. O hangout conta com a participação minha e do Bruno Lima, do excelente blog Respostas Cristãs, que eu nunca canso de recomendar e que é de leitura obrigatória para qualquer um que quiser se aprofundar mais sobre as doutrinas protestantes:


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Refutando objeções ao aniquilacionismo (Parte 1)

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Em meu livro “A Verdade sobre o Inferno”, dissertei sobre os argumentos bíblicos para o aniquilacionismo final dos ímpios e refutei as principais argumentações do imortalismo. No entanto, como nem todas as argumentações possíveis foram refutadas e outras podem ser mais aprofundadas, deixarei neste espaço uma refutação breve a novos argumentos. Caso você ainda não tenha lido o livro mencionado, poderá entrar nestas páginas do meu blog onde estão presentes as refutações:
  
O “fogo eterno”:


O “bicho que não morre”:


O “castigo eterno” de Mateus 25:46:


O “tormento eterno” no Apocalipse:


O “lago de fogo”:



Aionios e aionios

Embora o texto de Mateus 25:46 seja um dos textos já comentados em meu livro, penso ser importante reiterar um ponto específico onde muita gente falha, que é em pensar que no texto em pauta o aionios em relação aos justos significa “aionios mesmo” (um tempo eterno e sem fim), e que na continuação do mesmo verso o aionios em relação aos ímpios já não significa “aionios mesmo”, mas apenas um tempo passageiro, que tem um fim temporal. É claro que essa interpretação é ridícula. O texto, diante de um contexto desses, exige que o aionios tenha a mesma duração nos dois casos: um tempo absolutamente eterno, sem fim. A vida para os justos é tão eterna quanto é a punição para os ímpios.

E então? Devemos concluir que o tormento seja eterno?

É lógico que não. E isso por uma razão simples: o texto em questão simplesmente não fala de “tormento” em absolutamente lugar nenhum. Essa confusão tem sido feita porque até hoje em toda a história apenas uma única tradução da Bíblia ao português verteu lastimavelmente o texto por “tormento” eterno (para os ímpios), embora absolutamente todas as outras traduções que eu conheço vertam apenas por “castigo” ou “punição”. Eu não sei qual alucinógeno que o cara que traduziu aquela única versão por “tormento” tomou (provavelmente foi o alucinógeno do desespero imortalista), porque se tem um significado que kolasin não significa, este certamente é “tormento”!

Em meu livro eu citei dezenas de léxicos do grego que provam que kolasin não significa “tormento”, mas simplesmente “punição”. Mais ainda: mostrei que esses mesmos léxicos (a maior parte deles escrito por imortalistas, diga-se de passagem) explicam que essa mesma palavra ou seus derivados eram usados naquele tempo no sentido de pena capital, de “podar” ou “cortar fora”, que é uma linguagem bastante típica de aniquilacionismo. Não vou passar aqui novamente todos esses léxicos, porque seria desperdício de tempo. Basta dizer que se Jesus tivesse dito “tormento”, havia uma palavra grega específica para isso, que era basanos, a qual Mateus fez questão de não utilizar. Então dizer que essa punição eterna é o tormento eterno é simplesmente forçar o texto para dizer aquilo que ele não diz.

A qual punição eterna, então, o texto diz respeito? Diante do arsenal bíblico gigantesco de mais de 150 passagens aniquilacionistas no Antigo e no Novo Testamento (também passadas em meu livro), é bem mais inteligente concluir que essa punição eterna diz respeito à morte eterna, e não ao tormento eterno. Em meu livro eu também mostrei um gráfico onde a mesma linguagem empregada por Jesus em Mateus 25:46 (contrastando o destino final de justos e ímpios) é usada na Bíblia. Ela aparece explicitamente em pelo menos outras oito ocasiões. Desta oito, um total de oito contrastavam vida eterna com morte eterna. E zero contrastava vida eterna com tormento eterno.

Claro que os imortalistas vão preferir continuar crendo que Jesus falava de “tormento eterno” com o argumento do “quero”: eu quero, porque quero, porque quero! Entretanto, para qualquer estudioso que tenha apreço por uma coisa chamada exegese e por outra coisa chamada verdade, torna-se claro que a punição eterna que Jesus falava nada mais era senão a morte eterna, em consonância com o parecer geral de toda a Escritura.

Em outras palavras, um grupo (dos salvos) viverá para sempre, ao passo em que o outro grupo (dos perdidos) morrerá para sempre. Um herda uma vida, e esta vida é eterna (isso significa que a pessoa nunca mais vai morrer), enquanto o outro herda uma morte, e esta morte também é eterna (isso significa que a pessoa nunca mais vai viver). No primeiro caso há uma existência eterna, enquanto no segundo há uma inexistência eterna. A “morte eterna” não é um processo eterno de morte onde você está sempre morrendo e nunca morre de uma vez; ao contrário, é eterna nos efeitos – os efeitos desta morte são irreversíveis, sem volta, é para sempre.

Era isso o que distinguia o aniquilacionismo cristão do aniquilacionismo estóico. Os estóicos, como vimos neste livro, eram aniquilacionistas, mas eles pensavam que a morte era apenas temporária, e que chegaria um momento em que Deus os recriaria novamente, para iniciar tudo outra vez, dando-lhes uma nova chance. O aniquilacionismo cristão, em contraste, não credita nova oportunidade aos perdidos. Os que forem mortos não serão mortos por um período temporário, mas para sempre. Eles nunca mais deixarão o estado de morte. Não haverá qualquer tipo de recriação ou ressurreição para eles. A segunda morte será a morte final e definitiva.

Se eu tenho um carrinho de brinquedo e digo que vou destruir este carrinho para sempre, o que eu estou querendo dizer com isso não é que eu vou estar a cada segundo da minha vida destruindo e destruindo e destruindo ainda mais o pobre carrinho (que nunca é destruído de uma vez), mas sim que eu darei uma marretada no carrinho e este carrinho, consequentemente, não voltará mais a existir como carrinho.

Da mesma forma, quando a Bíblia fala de “juízo eterno” (Hb.6:2), ela não está dizendo que o juízo é um processo que não tem fim, como se nós ficássemos para sempre dentro deste juízo. O juízo de fato ocorre em apenas um momento, mas as consequencias deste juízo serão eternas, e por isso o juízo é chamado de “eterno”. Não é a duração do “eterno” que está em jogo, e sim o que é eterno – no caso, se a punição eterna é a morte, devemos esperar uma cessação de existência para sempre, e não uma continuidade perpétua de vida em algum lugar.

Sempre vale a pena lembrar: a morte nunca deixou de ser uma forma de punição. Quando um criminoso é condenado à morte, não é dito que ele saiu ileso, mas sim que ele teve a pena de morte (ou “punição” de morte). Os únicos que pensam que a única forma possível de punição é um tormento consciente são os imortalistas, que tem poderosas evidências em favor disso: nada.


O sofrimento precisa ser eterno, porque Deus é um ser eterno?

Outro tipo de objeção que tem se tornado mais comum ultimamente é a que assevera que o sofrimento tem que ser eterno, porque a ofensa foi contra Deus, que é um ser eterno. Até onde eu pude averiguar, o primeiro a levantar este argumento foi Norman Geisler. Eu só gostaria de saber em qual lugar da Bíblia está escrito que a punição tem que ser eterna porque Deus é um ser eterno, ou mesmo em que raios de lógica se encaixa a ideia de que a punição tem que ser maior quanto maior for a idade daquele que foi ofendido.

Que eu saiba, se eu matar um menino de 10 anos ou um senhor de 80 anos, serei preso do mesmo jeito, acusado pelo mesmo crime, para pagar pelo mesmo tanto de pena. A idade nunca foi um critério lógico para aumentar ou diminuir qualquer coisa em relação à pena de quem quer que seja. Essa “lógica” é simplesmente um disparate se aplicada ao mundo real em que vivemos.

Em segundo lugar, a Bíblia não nos diz em lugar nenhum que Deus punirá os ímpios de acordo com a idade dEle (ou seja, que Ele é eterno, então o sofrimento será eterno). Ao contrário, o que ela sempre assevera é que Deus punirá os ímpios proporcionalmente aos seus pecados, o que mostra claramente que esse castigo tem relação não com o tempo ou idade de Deus em si, mas com o tempo de pecado do próprio pecador. É por isso que, biblicamente, esse castigo é variável de pecador a pecador, ao invés de ser um sofrimento eterno para todo mundo indistintamente, uma vez que todos pecaram contra o mesmo Deus eterno:

“Aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites. Mas aquele que não a conhece e pratica coisas merecedoras de castigo, receberá poucos açoites (Lucas 12:47-48)

“Eles devoram as casas das viúvas, e, para disfarçar, fazem longas orações. Esses homens serão punidos com maior rigor!(Lucas 20:47)

“Quando algum de vocês estiver indo com seu adversário para o magistrado, faça tudo para se reconciliar com ele no caminho; para que ele não o arraste ao juiz, o juiz o entregue ao oficial de justiça, e o oficial de justiça o jogue na prisão. Eu lhe digo que você não sairá de lá enquanto não pagar o último centavo (Lucas 12:58-59)

“Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti? E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia. Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas” (Mateus 18:32-35)

Esses textos deixam bastante claro que o sofrimento não é o mesmo a todos indistintamente, como seria caso o critério utilizado fosse a idade de Deus, ou qualquer outra coisa relacionada à natureza de Deus. Se fosse a eternidade ou natureza de Deus que estivesse em jogo, não haveria qualquer distinção de pena entre os pecadores, porque todos teriam igualmente pecado contra o único e mesmo Deus, e, portanto, deveriam sofrer eternamente do mesmo jeito, sem nenhuma graduação ou distinção. Mas a Bíblia fala de graduação, distinção e temporariedade de sofrimento no inferno tão clara e abertamente quanto fala sobre salvação ou redenção. Negar isso é negar o óbvio.

Em terceiro lugar, na Bíblia vemos várias pessoas ofendendo a Deus e pecando contra ele, mas nenhuma sendo condenada a um tormento eterno. Quando Davi cometeu assassinato e adultério, pecando fortemente contra o Deus eterno, Ele não o colocou em sofrimentos perpétuos, mas o puniu com a morte do seu filho (2Sm.12:18) e com a afronta de Absalão (2Sm.16:22). Quando alguém ofendia a Deus no Antigo Testamento, o sofrimento também nunca era eternizado, mas era sempre proporcional aos pecados de cada um:

“Se o culpado merecer açoitamento, o juiz ordenará que ele se deite e seja açoitado em sua presença com o número de açoites que o seu crime merecer” (Deuteronômio 25:2)

Quando Paulo falou sobre aqueles que comiam a Ceia do Senhor indevidamente (em pecado) e eram punidos por Deus em consequencia disso, ele deixou claro que a punição de Deus contra essas pessoas havia sido doenças e a morte(1Co.11:30), mas também não falou nada sobre um sofrimento eterno. Estamos aqui falando de um Deus eterno, mas não de um tormento eterno por ser Deus eterno! Eu realmente não faço ideia de onde foi que Geisler inventou o critério de que é necessário sofrimento eterno por Deus ser eterno, mas, sabe-se lá de onde quer que tenha sido, este é um conceito absurdamente arbitrário, inconsistente tanto com a realidade, quanto com a filosofia, como também com as Escrituras – o que é mais grave.

Para terminar, mesmo se eu concedesse que de fato a punição precisa ser eterna porque Deus é um ser eterno, por que razão, motivo, causa ou circunstância essa punição teria que ser um sofrimento eterno em meio a um lago de fogo literal ardendo com enxofre pelos séculos dos séculos, ao invés de ser a morte eterna, aquele mesmo aniquilacionismo irreversível que a Bíblia fala de ponta a ponta?

Não basta supor que a punição tem que ser eterna porque o pecado é contra um Deus eterno, e ainda querem fazer adivinhação também sobre a natureza dessa punição? Por que essa punição eterna não pode ser a morte eterna, mas precisa ser um sofrimento ardente e horripilante numa verdadeira carnificina sem fim, para satisfazer a um deus sádico e impiedoso, cuja ira não se satisfaz nem vendo suas criaturas sofrendo apavorantemente por todo o sempre?

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

- Extraído do meu livro: "Os Pais da Igreja contra a Imortalidade da Alma".

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Refutando objeções ao aniquilacionismo (Parte 2)

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A “destruição” é sempre apenas no sentido de “ruína”?

Outra estratégia usada pelos ‘infernistas’ é dizer que as várias ocorrências bíblicas dos termos “destruir” e “perecer” significam apenas “ruína”, e nunca tem o sentido de destruição total ou cessação de existência. Para fundamentar essa posição, citam os vários casos em que a palavra apollumi aparece no sentido de “perder” algo, e não no sentido de “destruir” efetivamente. Em resposta a essa objeção, deve ser observado que, realmente, apollumi tem um sentido secundário que muitas vezes é usado no Novo Testamento, que é o significado de “perder”. Sempre quando alguém “perde” algo (como a moeda da parábola de Lucas 15:9), ou está em “perdição”, é apollumi que aparece, porque o grego não tinha palavra exclusiva para “perder-se”. Essa é a razão pela qual encontramos tantos casos onde apollumi não implica em destruição total.

No entanto, qualquer indivíduo minimamente esclarecido sobre o grego bíblico sabe também que há outras palavras que só podem significar “destruição”, e que sempre quando aparecem significam destruição mesmo, no sentido de morte e cessação de existência consciente. Uma dessas palavras é olethros, que aparece, por exemplo, em 1ª Coríntios 5:5, texto este que diz:

“Entreguem esse homem a Satanás, para que o corpo seja destruído [olethros], e seu espírito seja salvo no dia do Senhor” (1ª Coríntios 5:5)

Ninguém em sã consciência faz oposição ao fato óbvio de que aqui o “destruir” do corpo se refere literalmente à morte (cessação de vida), pois o corpo não permaneceria vivo e ativo quando o olethros viesse a ocorrer. O problema para os imortalistas é que essa mesma palavra grega é usada várias vezes para o destino final dos ímpios depois do juízo, como, por exemplo, em 1ª Tessalonicenses 1:9, que afirma:

“Eles sofrerão a pena de destruição [olethros] eterna, a separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder”(2ª Tessalonicenses 1:9)

Paradoxalmente, em construções verbais semelhantes e onde aparece a mesma palavra grega para “destruir”, os imortalistas interpretam o primeiro caso como uma destruição real (morte), mas o segundo caso apenas como uma “perdição” ou “ruína”. O que pode explicar isso a não ser a grave epidemia de eisegese presente nos círculos imortalistas? Como Bacchiocchi corretamente observa, “a destruição dos ímpios não pode ser eterna em duração porque é difícil imaginar um processo eterno, inconclusivo de destruição. A destruição pressupõe aniquilamento. A destruição dos ímpios é eterna, não porque o processo de destruição continue para sempre, mas porque os resultados são permanentes”[1].

Norman Geisler, em sua Enciclopédia de Apologética, ainda tenta dar um último suspiro à crença imortalista com um exemplo totalmente defeituoso, onde a “destruição” final dos ímpios é comparada à destruição de um carro em um depósito de ferro que já foi destruído, mas não aniquilado, e ainda continua sendo carro. O problema com esta analogia é que para um carro voltar a funcionar como carro (i.e, em estado de atividade, e não como mera sucata) alguém precisa consertar ele. Os corpos dos ímpios depois da destruição final serão como o carro que é totalmente destruído e que já não está mais em atividade.

Os corpos mortos (cadáveres daqueles que morreram carborizados) permanecerão no geena por algum tempo, à vista de todos os justos, como advertência (Is.66:24), tal como o carro que já não anda mais, mas está totalmente quebrado. A diferença entre um caso e outro é que o carro ainda pode voltar a funcionar se alguém consertá-lo, mas os corpos mortos dos ímpios jamais serão ressuscitados para poderem voltar à vida e atividade. No fim das contas, o carro destruído que não é consertado virará sucata e com o tempo os elementos se dissolverão em nada, assim como os corpos dos ímpios. A diferença é que Deus acelerará este processo com a criação de “novo céu e nova terra”(Ap.21:1), e como o prof. Azenilto Brito bem observa, não há parte alguma que nos diga que tal lago de fogo “se transfira para alguma outra parte do universo para prosseguir queimando. Tal lago de fogo, após operar a ‘segunda morte’, simplesmente sai de cena”[2].

Portanto, a analogia com o “carro destruído”, ao invés de provar a sobrevivência e consciência eterna dos ímpios, prova apenas que eles precisariam ressuscitar caso tivessem que sair do estado de inatividade para o estado de atividade, onde poderiam ser sensíveis ao fogo. Um corpo morto ainda é um “corpo”, mas ele precisa ser ressuscitado para estar em vida. Um carro destruído ainda é um “carro”, mas ele precisa ser consertado para voltar a funcionar como carro. Se o corpo ou o carro não são consertados, estão apenas fadados a se dissolverem em nada – o carro é desintegrado, e o corpo volta ao pó da terra. E não há absolutamente nada que sugira que os ímpios serão “consertados” após serem “destruídos”!

A única forma de salvar a doutrina ‘infernista’ seria espiritualizando tudo. Ou seja: fazer de conta que todos esses textos de destruição dos ímpios nunca se referem ao estado natural em que o corpo deles se encontrará após o juízo, mas sempre somente à “condição espiritual”. O problema com isso é que quase sempre essa destruição dos ímpios está associada com a vida eterna dos remidos, a qual não é uma vida apenas “espiritual”, mas natural e literal também. Se a destruição eterna é usada em paralelo à vida eterna, e esta vida eterna não está no sentido de “apenas espiritual”, então espiritualizar a destruição dos ímpios para tentar encaixar um tormento eterno ali é simplesmente desonesto. A destruição precisa ser tão natural e física quanto a vida dos salvos na eternidade será natural e física.

E mesmo que o termo “destruir” por si só não bastasse para concluir em favor de um aniquilacionismo, sequer precisamos disso, porque tal como o erudito Basil Atkinson observa, há mais de 25 substantivos diferentes para descrever o aniquilacionismo final dos ímpios[3]. Os escritores vétero e neo testamentários simplesmente esgotaram os substantivos do idioma hebraico e grego para descrever a destruição completa que os ímpios sofrerão. Se o termo “destruir” não parece forte o suficiente, o que você diria sobre “exterminar” (Sl.37:9; Mc.12:5-9; At.3:23), “tornar em cinzas” (2Pe.2:6; Is.5:24; Ml.4:3), “evaporar” (Os.13:3) ou “deixar de existir” (Sl.104:35; Pv.10:25)? Ou que tal a linguagem de ser “consumido” (Ap.20:9; Sl.1:18; 21:9), de ser “como se nunca tivesse existido” (Ob.1:16) e de ser “reduzido a nada” (Is.41:11-12)?

Geisler esboça uma “refutação” a isso também. Em sua “Enciclopédia de Apologética”, ele cita dois textos bíblicos (Is.57:1; Mq.7:2) como a “prova” de que o “perecer” ou “destruir” não diz respeito ao aniquilacionismo dos ímpios, com essa argumentação brilhante:

“Deve-se observar que a palavra hebraica usada para descrever os ímpios perecendo no Antigo Testamento (’ãvad) também é usada para descrever os justos perecendo (v. Is.57:1; Mq.7:2). Mas até os aniquilacionistas admitem que os justos não serão aniquilados. Sendo esse o caso, não deveriam concluir que os ímpios deixarão de existir com base nesse termo”[4]

O que Geisler parece não perceber é que de fato esses textos dizem que os justos também serão aniquilados por esta ocasião, porque eles estão falando da primeira morte, e não da segunda! O problema é que os leitores leigos não têm o costume de conferir os textos citados entre os parêntesis como referência, e assim são facilmente ludibriados por qualquer argumentação tola. Qualquer um que de fato decida ir conferir nestas duas referências os textos em questão perceberá que o autor estava falando do destino de justos e ímpios nesta vida, e nesta vida é óbvio que tanto os justos quanto os ímpios igualmente morrem (i.e, deixam de existir). O texto de Miquéias referenciado diz:

Já pereceu da terra o homem piedoso, e não há entre os homens um que seja justo; todos armam ciladas para sangue; cada um caça a seu irmão com a rede” (Miquéias 7:2)

Note que o texto não diz que o justo “perecerá” (indicando um estado futuro depois do juízo), mas sim que ele “já pareceu” (indicando apenas esta vida terrena presente). Nesta vida, os justos e ímpios perecem (morrem). A diferença só ocorre na vida futura (depois da ressurreição), quando apenas os ímpios perecerão novamente (o que é conhecido como segunda morte), enquanto os justos não, e herdarão em lugar disso uma vida eterna. O outro texto referenciado por Geisler é o de Isaías 57:1, que diz:

O justo perece, e ninguém pondera sobre isso em seu coração; homens piedosos são tirados, e ninguém entende que os justos são tirados para serem poupados do mal”(Isaías 57:1)

Mais uma vez, o termo não está no tempo futuro (“perecerá”), como é costume quando os autores bíblicos estão tratando do juízo vindouro, mas sim “perece” (no tempo presente), indicando apenas a vida atual. Portanto, inferir através destes textos que o termo não implica em “aniquilar” porque ele também é usado aos justos nesta ocasião é simplesmente falso, pois de fato ele implica em aniquilar nestas ocasiões específicas, uma vez que ele é usado em aplicação à vida presente, e não à vida futura. O contra-argumento de Geisler não passa de um “tiro no pé”, com um efeito bumerangue, que volta contra si mesmo. Não apenas ele não explica nada sobre os inúmeros textos que tratam da destruição final depois do juízo, como ainda mostra que esta palavra realmente implica em morte real, já que nesta vida morremos de fato!

Um capítulo inteiro que deixa isso ainda mais claro é o Salmo 37, onde o escritor inspirado claramente se referia ao destino futuro posterior ao juízo, tendo em vista que ele fala de destinos distintos para salvos e perdidos, ao invés de uma destruição para ambos (como seria caso estivesse falando apenas da vida presente). Para que ninguém diga que um texto está “fora de contexto”, citarei os textos na íntegra:

Salmos 37
9 Porque os malfeitores serão desarraigados; mas aqueles que esperam no Senhor herdarão a terra.
10 Pois ainda um pouco, e o ímpio não existirá; olharás para o seu lugar, e não aparecerá.
11 Mas os mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundância de paz.
12 O ímpio maquina contra o justo, e contra ele range os dentes.
13 O Senhor se rirá dele, pois vê que vem chegando o seu dia.
14 Os ímpios puxaram da espada e armaram o arco, para derrubarem o pobre e necessitado, e para matarem os de reta conduta.
15 Porém a sua espada lhes entrará no coração, e os seus arcos se quebrarão.
16 Vale mais o pouco que tem o justo, do que as riquezas de muitos ímpios.
17 Pois os braços dos ímpios se quebrarão, mas o Senhor sustém os justos.
18 O Senhor conhece os dias dos retos, e a sua herança permanecerá para sempre.
19 Não serão envergonhados nos dias maus, e nos dias de fome se fartarão.
20 Mas os ímpios perecerão, e os inimigos do Senhor serão como a gordura dos cordeiros; desaparecerão, e em fumaça se desfarão.
21 O ímpio toma emprestado, e não paga; mas o justo se compadece e dá.
22 Porque aqueles que ele abençoa herdarão a terra, e aqueles que forem por ele amaldiçoados serão desarraigados.
23 Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor, e deleita-se no seu caminho.
24 Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor o sustém com a sua mão.
25 Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua semente a mendigar o pão.
26 Compadece-se sempre, e empresta, e a sua semente é abençoada.
27 Aparta-te do mal e faze o bem; e terás morada para sempre.
28 Porque o Senhor ama o juízo e não desampara os seus santos; eles são preservados para sempre; mas a semente dos ímpios será desarraigada.
29 Os justos herdarão a terra e habitarão nela para sempre.
30 A boca do justo fala a sabedoria; a sua língua fala do juízo.
31 A lei do seu Deus está em seu coração; os seus passos não resvalarão.
32 O ímpio espreita ao justo, e procura matá-lo.
33 O Senhor não o deixará em suas mãos, nem o condenará quando for julgado.
34 Espera no Senhor, e guarda o seu caminho, e te exaltará para herdares a terra; tu o verás quando os ímpios forem desarraigados.
35 Vi o ímpio com grande poder espalhar-se como a árvore verde na terra natal.
36 Mas passou e já não aparece; procurei-o, mas não se pôde encontrar.
37 Nota o homem sincero, e considera o reto, porque o fim desse homem é a paz.
38 Quanto aos transgressores, serão à uma destruídos, e as relíquias dos ímpios serão destruídas.

Torna-se claro que o autor inspirado não estava falando do destino terreno nesta vida (onde justos e ímpios perecem igualmente na morte), mas sim do destino final posterior ao juízo, tendo em vista tantos e numerosos contrastes sobre o destino futuro dos justos e dos ímpios, como demonstrado na tabela abaixo:

O Justo
O Malfeitor
Herdará a terra (v.9)
Será desarraigado (v.9)
Deleitar-se-á abundantemente (v.10)
Não existirá (v.10)
Permanecerá para sempre (v.18)
Será ferido mortalmente (v.15)
Terá uma morada eterna (v.27)
Perecerá (v.20)
Será preservado para sempre (v.28)
Desaparecerá (v.20)
Habitará na terra para sempre (v.29)
Se desfará como a fumaça (v.20)
Viverá em paz (v.37)
Será à uma destruído (v.38)
Notavelmente, o contraste era sempreentre uma existência eterna versus algum sinônimo, tipo ou analogia de aniquilacionismo. Em nenhum momento a vida eterna dos justos era contrastada com um “tormento eterno” para os ímpios. Se o salmista pensasse que os ímpios seriam atormentados para sempre como consequencia de seus pecados, seria imprescindível que ele registrasse isso pelo menos uma vez em meio às suas várias descrições sobre o futuro dos ímpios no mundo vindouro. Afinal, não haveria nada que pudesse ser pior do que isso como castigo por todas as maldades realizadas em vida. No entanto, esse fantasioso tormento eterno é absolutamente ignorado em todas as vezes em que o salmista descreve a punição dos ímpios.

Convenhamos: que tipo de gente, sabendo que um inimigo será punido com tormento eterno e querendo ressaltar essa terrível punição, não a menciona nunca, mas sempre diz apenas que será “destruído”, que “perecerá” e que “não mais existirá”? Antes que alguém responda que na época todo mundo interpretaria como “tormento eterno” uma vez que o aniquilacionismo não era conhecido, é necessário estudar aquilo que a história de fato nos diz. Historicamente falando, o conceito de tormento eterno era o menos conhecido, o menos popular e o menos crido em qualquer povo que fosse.

Pode parecer surpresa para muitos, mas o aniquilacionismo era muito mais popular e difundido na época em que os escritores bíblicos escreviam, do que é nos dias de hoje. Este não era nem de longe um conceito novo. Além do Antigo Testamento, que é explicitamente e obviamente aniquilacionista, os escritos judaicos do período intertestamentário ainda mantinham a visão tradicional e bíblica de que no fim dos tempos os ímpios serão aniquilados. O livro da “Assunção de Moisés” (que data do primeiro século antes de Cristo), muito respeitado entre os judeus e inclusive citado por Judas em sua epístola canônica (Jd.9), é abertamente aniquilacionista. Ele diz:

“E então o reino dele aparecerá através de toda Sua criação, e então Satanás não mais existirá, e a tristeza partirá com ele”[5]

O mesmo livro diz ainda que os “gentios” (i.e, os não-salvos, na concepção judaica da época) serão “exterminados”[6].

Já no apócrifo judaico do “Apocalipse de Elias”, é dito também:

“Naquele dia, ele [anticristo] será aniquiladona presença d'Ele, diluir-se-á como o gelo ao fogo. Ele será esmagado como a um dragão, sem que possa dar um suspiro. E ser-lhe-á dito: ‘Passado é o teu tempo. Serás agora eliminado, juntamente com aqueles que em ti acreditaram’ (...) E Deus criará um novo céu e uma nova terra, onde não existirá mais nenhum demônio. Então ele reinará com os santos, enquanto sobe e enquanto desce; e os santos também estarão o tempo todo com os Anjos e com o Ungido, durante mil anos”[7]

Na época de Flávio Josefo (38-100) é nos dito que os saduceus ainda eram aniquilacionistas[8], embora os fariseus provavelmente já cressem em imortalidade da alma[9]. De qualquer forma, o conceito aniquilacionista ainda era extremamente popular entre o povo judeu.

E quanto ao mundo gentio? As três principais vertentes do mundo grego da época eram o platonismo, o estoicismo e o epicurismo. Estes últimos dois eram explicitamente aniquilacionistas (os epicureus imediatamente após a morte, e os estoicos na conflagração universal). Apenas os platônicos criam na sobrevivência eterna e ininterrupta da alma, mas, mesmo assim, eles eram reencarnacionistas, e não criam em um “tormento eterno” do tipo tertulianista e agostiniano.

Um apócrifo cristão que foi muito considerado nos primeiros séculos chamava-se “Apocalipse de Pedro”, o qual é datado de aproximadamente 100 d.C, ou seja, muito próximo da morte do último dos apóstolos (João). Esse apócrifo consta como “canônico” no cânone muratoriano (do século II) e foi muito lido e usado por várias comunidades cristãs da época, até o século IV. O detalhe é que este livro também é reconhecidamente aniquilacionista. Ele diz:

“Nem todas as almas provêm da Verdade, nem todas dá imortalidade. Nestes éons, em nossa opinião, cada alma está destinada a morrer porque é sempre escrava, tendo sido criada para (satisfazer) os seus desejos, e o seu papel é a destruição eterna: nela se encontra e dela deriva”

E também:

“As pessoas sábias têm conhecimento de que não se colhem figos de cardos ou de espinhos, nem uvas de plantas espinhosas. Isto é, cada fruto provém sempre da árvore à qual pertence: se ele não for bom para ela (a alma) será a destruição e a morte; a outra alma, ao invés, provém da árvore eterna, a da Vida e da imortalidade, da Vida à qual ela se assemelha. Portanto, tudo que não tem existência verdadeira se dissolverá em nada

O ponto fundamental em questão é que os escritores bíblicos em geral, e os evangelistas e apóstolos em especial, não escreviam em um mundo que cria majoritariamente em um tormento eterno; ao contrário, eles escreviam em um mundo no qual quase ninguém cria em tormento eterno, e onde o aniquilacionismo era um conceito bastante comum e crido na época por uma grande quantidade de pessoas.

Consequentemente, se os apóstolos não fossem aniquilacionistas, seria de se esperar que eles empregassem uma linguagem totalmente contrária aos aniquilacionistas típicos, de modo que mostrasse claramente que eles criam em um sofrimento eterno e infindável em um “lago de fogo”, em contraste com todas aquelas várias pessoas que eram aniquilacionistas. Mas qualquer leitor honesto que leia o Novo Testamento nota exatamente o contrário. Não apenas os apóstolos não faziam jamais qualquer tipo de menção a um tormento eterno (o qual só aparece hiperbolicamente uma única vez, entre as figuras de linguagem do Apocalipse, e para falar dos demônios), como também reiteradamente empregavam a mesma linguagem que o mundo aniquilacionista da época empregava para tratar do destino final dos ímpios.

Para não me aprofundar aqui e ter que repetir tudo aquilo que já escrevi em meu livro anterior, por hora basta mencionarmos as analogias usadas pelos profetas, por Jesus e pelos apóstolos para retratar a sorte final dos ímpios. No “mundo aniquilacionista”, as analogias frequentemente utilizadas para retratar a morte final eram comparações onde o objeto em questão que era usado analogicamente era destruído, deixava de existir, ou virava cinzas – todas essas figuras perfeitas para retratar a destruição final. Em contraste, as analogias utilizadas pelos imortalistas eram comparações onde o objeto usado analogicamente não era consumido, mas mantinha uma existência contínua.

Já vimos no capítulo 20 deste livro que Tertuliano propôs a analogia do “monte em chamas”. Quando um monte é incendiado, não o vemos sendo consumido e nem desaparecendo. Ele continua existindo exatamente da mesma forma que antes, e embora sua superfície seja afetada, pouco depois ela é reparada. Para Tertuliano, o “monte em chamas” era uma analogia perfeita e fiel ao destino final dos ímpios: assim como a montanha, eles não desaparecerão nem serão consumidos pelo fogo, embora sofram assim como o solo da montanha que é queimada. É dele uma frase que ficou bem conhecida nos séculos seguintes sobre a natureza do fogo do inferno: “um fogo que não consome o que queima, mas enquanto queima repara”[10].

Agostinho propôs uma analogia semelhante, mas retirada da Bíblia: a sarça de Moisés, que estava em chamas, mas não era consumida (Êx.3:2). Agostinho viu nisso uma perfeita analogia com o destino dos ímpios: serão queimados, mas não consumidos. O que precisa estar claro aqui é que de fato existem exemplos e comparações que os escritores bíblicos poderiam ter usado caso cressem em um tormento eterno. Essas opções estavam prontas, à mão, que poderiam ter sido perfeitamente utilizadas por eles, caso eles quisessem. Não seria por falta de exemplos que eles deixariam de citar “analogias imortalistas”.

Contudo, não há absolutamente lugar nenhum da Bíblia que compare a destruição dos ímpios no inferno com um “monte em chamas”. Também não há absolutamente nada na Bíblia que assemelhe o destino dos ímpios com a “sarça ardente”. Também não há absolutamente nada nas Escrituras que trace qualquer tipo de analogia com qualquer coisa que não seja consumida ao ser queimada, mas que “enquanto queima, repara”.

Bastaria uma única analogia deste tipo e já estaria provado o tormento eterno. Mas, ironicamente, as analogias realmente empregadas na Bíblia sãosempre de aniquilacionismo, em meio a um mundo da época que usava essas mesmas analogias para ensinar o aniquilacionismo grego ou judaico. No Antigo Testamento, o futuro dos ímpios é comparado com uma “fumaça que desvanece” (Sl.37:20), com uma “flor que se esvaecerá como pó” (Is.5:23), com uma árvore da qual não sobrará “nem raiz nem ramo”(Ml.4:1), com cinzas que são pisadas pelos justos (Ml.4:3), com a fumaça que é levada pelo vento (Sl.68:2) e com a cera que derrete na presença do fogo (Sl.68:2).

Os ímpios são comparados ainda com um sonho que desaparece quando acordamos (Sl.73:20), com uma lâmpada que será apagada (Pv.24:20), com uma palha que é consumida pelo fogo (Is.5:24), com o restolho que é devorado pelas chamas (Is.5:24), com o pó que é levado pelo vento (Is.5:24), com a palha levada pelo vento e tornada em pó (Is.29:5), com a ovelha destinada ao matadouro (Jr.12:3), com o orvalho que bem cedo evapora (Os.13:3), com a palha mais seca que é consumida (Na.1:10), e, finalmente, “serão como se nunca tivessem existido” (Ob.1:16).

Observe quantas vezes o aniquilacionismo final dos ímpios é comparado a coisas como o “pó”, a “fumaça” ou as “cinzas”, que são bastante apropriadamente utilizadas para algo que deixa de existir, uma vez que são visivelmente os menores elementos que poderiam ser comparados. Alguém que se torna “cinzas” ou “pó” não pensa, não sente, não age, não sofre. É apenas uma forma de dizer que eles serão “reduzidos a nada” (Is.41:12). Por mais que os escritores bíblicos tivessem numerosos exemplos para citar de coisas que não são consumidas e que mantém uma existência intacta por toda a eternidade, eles faziam questão de sempre comparar a sorte final dos pecadores com coisas perecíveis. Sempre.

Engana-se quem pensa que este padrão foi alterado com a chegada do Novo Testamento. As analogias neotestamentárias continuam sendo bastante aniquilacionistas, e ainda não há sequer uma única comparação que nos sugira que os não-salvos serão imortais no geena. Jesus foi o que mais ensinou o aniquilacionismo por comparação. Ele disse que os ímpios serão como o sal que é jogado fora e pisado pelos homens (Mt.5:13), como os lavradores da vinha que foram exterminados (Mc.12:9), como os galileus que pereceram e morreram mesmo (Lc.13:2-3), como os dezoito da torre de Siloé que foram aniquilados pela torre quando ela caiu em cima deles (Lc.13:4-5), como os cidadãos da cidade que foram executados pelo rei (Lc.19:27) e como alguém que é “reduzido ao pó” ao ser atingido por uma grande pedra (Mt.21:44).

Paulo comparou o destino final dos ímpios com um vaso que está preparado para a destruição (Rm.9:22), o autor de Hebreus disse explicitamente que o fogo devorará os rebeldes (Hb.10:27), e Pedro disse que eles teriam “repentina destruição” (2Pe.2:1), o que não condiz com uma destruição meramente espiritual, a qual não acontece “subitamente”, mas é fruto de um processo de morte espiritual. Ao invés de dizer que eles serão atormentados eternamente, ele diz que “a sua destruição não tarda” (2Pe.2:3), porque, para ele, o “Dia do Juízo destruirá os homens ímpios”(2Pe.3:7). Pedro disse ainda que toda alma que rejeitasse Jesus seria exterminada (At.3:23), e que os ímpios seriam estrado para os pés dos justos (At.2:35).

Até mesmo João, o mesmo que é tão usado pelos imortalistas por ter dito hiperbolicamente que a besta e o falso profeta sofreriam eternamente (Ap.20:10), disse com a mesma clareza que o fogo do céu que cairá sobre os ímpios os consumirá (Ap.20:9), em direto contraste com os imortalistas, que garantem que o fogo não consumirá os corpos, porque aparentemente a Bíblia deles só tem o verso 10. Mas o caso mais interessante se encontra mesmo em 2ª Pedro 2:6, onde o apóstolo trabalha com uma analogia explicitamente aniquilacionista, dizendo:

“Também condenou as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-os as cinzas, tornando-as como exemplo do que acontecerá com os ímpios” (2ª Pedro 2:6)

Pedro não apenas disse que o destino final dos ímpios será se tornarem cinzas (o que por si só já é uma refutação gigante ao imortalismo), como também disse que o destino deles será o mesmoque as cidades de Sodoma e Gomorra tiveram, para não deixar nenhuma sombra de dúvida de que essa linguagem de aniquilacionismo era mesmo literal. Essas duas cidades foram atingidas em cheio pelo fogo devorador de Deus enviado do céu, e como consequência foram totalmente destruídas, ao invés de terem sido refratárias ao fogo sem serem consumidas.

Se Pedro diz que o destino final dos ímpios será o mesmo daquele que as cidades de Sodoma e Gomorra tiveram, e essas cidades foram literalmente reduzidas ao pó, então ele estava sendo literal quando disse que os ímpios se tornariam cinzas. Ele não podia ter sido mais claro. É óbvio que ele não vislumbrava qualquer tipo de imortalidade aos ímpios em meio a um fogo “que não consome”. Pedro poderia perfeitamente ter comparado o destino dos ímpios com o monte em chamas, com a sarça ardente ou com as outras analogias empregadas pelos imortalistas, mas ele fez questão de pegar uma que define com exatidão o aniquilacionismo bíblico, de uma forma que ninguém poderia fazer melhor.

Não apenas Pedro, mas nenhum dos escritores bíblicos faz qualquer tipo de analogia imortalista. Em vez disso, nas mais de trinta comparações que são feitas, elas em todos os casos retratam um destino de destruição final e de ser totalmente consumido pelo fogo, ao invés de ser mantido em existência perpétua em meio a ele. Podemos até perdoar a ignorância de Tertuliano, mas não podemos perdoar a ignorância de apologistas que em pleno século XXI ainda continuam sustentando uma mentira tão descaradamente antibíblica como essa, de que os ímpios não serão consumidos. Geisler diz isso explicitamente em sua Enciclopédia e, para piorar, ainda cita como referência um único texto bíblico (o de Marcos 9:48), o qual não diz em lugar nenhum que o fogo não consome![11]

É difícil entender o porquê que os imortalistas ainda insistem tolamente na tecla de que os ímpios não serão consumidos, quando a evidência bíblica unânime e esmagadora é que eles serão sim consumidos! O salmista diz que“no dia em que te manifestares farás deles uma fornalha ardente. Na sua ira o Senhor os devorará, um fogo os consumirá (Sl.21:9). Isaías afirma que “sem dúvida eles são como restolho, o fogo os consumirá (Is.47:14), e “que o fogo reservado para os teus adversários os consuma (Is.26:11). Jó ressalta que “um fogo não assoprado o consumirá(Jó 20:26), e Naum declara que os ímpios “serão consumidos como a palha mais seca”(Na.1:10). João confirma que depois da ressurreição dos ímpios “virá fogo do céu sobre esses exércitos atacantes que os consumirá (Ap.20:9), e o autor de Hebreus dá o golpe de misericórdia ao dizer que virá “o julgamento de Deus e o fogo furioso que consumirá todos os que se levantam contra ele” (Hb.10:27).

Contra todos esses textos bastante claros e incontestáveis, há uma quantidade impressionante de zero textosque dizem o contrário, afirmando que o fogo “não consumirá”. Simplesmente não dá para acreditar e muito menos para entender o porquê que ainda existe teólogo no planeta que defenda a tese ridiculamente antibíblica de que “o fogo não vai consumir”, exceto por puro preconceito exegético que os faz interpretar tudo à luz das lentes do imortalismo e das tradições denominacionais. São tantos teólogos repetindo e repetindo e repetindo geração após geração a tese agostiniana, que os teólogos atuais repetem sem nem perceber o que estão dizendo, e sem se dar conta do quão absurdamente antibíblico é aquilo que eles dizem sem pensar.

Se formos para a patrística, então, a evidência se torna ainda mais esmagadora. Não repetirei aqui todos aqueles textos que já vimos nos primeiros Pais (do século I e II) ao longo deste livro, mas vimos incessantemente citação após citação onde cristãos como Inácio, Melito, Clemente, Justino, Taciano, Barnabé, Irineu e Teófilo repetiam vez após vez que os ímpios serão consumidos e que apenas os justos possuirão a incorruptibilidade (que é a capacidade de não ser corruptível). É só com a chegada de Tertuliano (o primeiro a levantar a tese do tormento eterno) que vemos pela primeira vez alguém dizendo que os ímpios não serão consumidos, e desde então teólogos repetem esse mantra sem sequer refletirem no que estão dizendo.

O mais importante que devemos ter em mente é que os escritores do Antigo e do Novo Testamento, assim como esses primeiros Pais, não estavam escrevendo para um público já absolutamente doutrinado e acostumado com a doutrina do tormento eterno. Em vez disso, como analisamos previamente, o tormento eterno era a doutrina mais incomum nos tempos do Novo Testamento, enquanto muitos da época eram aniquilacionistas. É absurdo que diante de um povo tão tendenciado ao aniquilacionismo os autores da Bíblia ignorassem tão sumariamente a doutrina do sofrimento eterno e, em vez disso, lançassem mão a todo instante de uma abordagem explicitamente aniquilacionista, e das mesmas comparações aniquilacionistas que eram feitas pelos mortalistas da época.

Ao invés dos apóstolos tomarem o máximo cuidado para que seus destinatários não ficassem com a impressão de que o Cristianismo ensina o mesmo aniquilacionismo tão presente no mundo da época, eles faziam o contrário, sendo ainda mais categóricos em sua descrição sobre o mundo porvir e com uma riqueza ainda mais profunda de substantivos, analogias e descrições vívidas de uma destruição completa do que as outras religiões da época que também ensinavam o aniquilacionismo.

Não há dúvidas de que o repertório bíblico de aniquilacionismo, somado à notória ausência de evidências de tormento eterno, eliminam por completo qualquer chance de que o Cristianismo seja a religião de um mal eternizado em um lago de fogo literal que não consome ninguém – exceto se alegorizarmos a Bíblia ao extremo, como faziam Clemente e Orígenes, e podendo assim colocar qualquer coisa nela, até mesmo o universalismo dos alexandrinos. Uma exegese séria, no entanto, aniquila o imortalismo, e faz o amor vencer o medo.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

- Extraído do meu livro: "Os Pais da Igreja contra a Imortalidade da Alma".

Por Cristo e por Seu Reino,


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[1] Samuele Bacchiocchi. Imortalidade ou Ressurreição: Uma abordagem bíblica sobre a natureza e o destino eterno. Unaspress, 1ª edição, 2007.
[3] Basil F. C. Atkinson, Life and Immortality. An Examination of the Nature and Meaning of Life and Death as They Are Revealed in the Scriptures (Taunton, Inglaterra, s. d.), pp. 85-86.
[4]Norman Geisler, Enciclopédia de Apologética. Editora Vida: 2001.
[5] Assunção de Moisés, c. 10.
[6] ibid.
[7] Apocalipse de Elias, c. 43.
[8] Flávio Josefo, História dos Hebreus. Livro X, c. 2.
[9] ibid. Nota-se, entretanto, que a descrição que Josefo faz sobre a crença farisaica não é de a alma ser “atormentada eternamente”, mas sim de ser “eternamente retida prisioneira nessa outra vida”, no sentido de não poder retornar a esta vida, enquanto os justos, por contraste, “retornam a esta [vida]”, deixando implícito que a recompensa eterna dos salvos na visão farisaica era ainda de um Paraíso terreno, ao passo em que o castigo dos não-salvos consistia justamente em não poder voltar a esta vida (para o Reino terreno). Não se sabe com exatidão se os fariseus já adotavam a imortalidade incondicional na época de Jesus (embora isso seja provável), ou se essa foi uma construção posterior de modo que na época de Josefo (duas gerações após Jesus) eles já adotavam essa crença, em função do sincretismo helenista já mencionado anteriormente.
[10]Tertuliano, Apologia 48:31-33.
[11] Este texto, se analisado em seu devido contexto, prova exatamente o contrário daquilo que Geisler argumenta, e serve de prova em favor do aniquilacionismo, e não do tormento eterno. Eu já comentei sobre esse texto em meu livro sobre o inferno, mas para quem quiser acessar online está disponível em: http://desvendandoalenda.blogspot.com.br/2013/08/o-que-e-o-bicho-que-nao-morre.html

Refutando objeções ao aniquilacionismo (Parte 3)

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A morte eterna é uma morte “somente espiritual”?

Também é argumentado pelos imortalistas que a “segunda morte” (morte eterna) que a Bíblia se refere é apenas uma “morte espiritual”, no sentido de estar “separado de Deus”, mas que não tem nada a ver com morte natural (inexistência). É lógico que este conceito distorce o sentido primário de morte, que é o inverso de vida. Embora haja algumas ocasiões onde o termo “morte” na Bíblia se refira a um afastamento de Deus, isso está bem longe de ser o conceito-padrão. A esmagadora maioria das vezes em que a palavra “morte” aparece na Bíblia é interpretada pelos imortalistas como se referindo a uma morte literal, embora creiam que se refira somente ao corpo.

Mesmo que fosse somente ao corpo, isso implicaria que a primeira morte é a cessação de vida no corpo. Mas o mesmo termo “morte” é aplicado à segunda morte, e os imortalistas não podem afirmar que é uma “morte apenas do corpo”, porque eles creem que os ímpios ressuscitarão em corpos incorruptíveis e imortais, para sofrerem eternamente em corpo e alma. Consequentemente, eles entendem que a “primeira morte” é a cessação de vida corporal, mas que a “segunda morte” não tem nada a ver com uma cessação de vida corporal. Se isso não é um caso gritante de eisegese, sinceramente eu não sei o que é.

Mas há um texto que explica bem do que se trata essa segunda morte. Ele está em Apocalipse 20:13-14, que diz:

“O mar entregou os mortos que nele havia, e a morte e o Hades entregaram os mortos que neles havia; e cada um foi julgado de acordo com o que tinha feito. Então a morte e o Hades foram lançados no lago de fogo. O lago de fogo é a segunda morte” (Apocalipse 20:13-14)

Este verso é fatal para os imortalistas, pois eles creem que o Hades é o inferno (i.e, um lugar de sofrimento com fogo), e também creem que o lago de fogo é um lago de fogo mesmo, literalmente, e também com sofrimento. Então você já pode começar a visualizar a cena em que um lago de fogo literal é lançado para dentro de outro lago de fogo literal! Uma sandice dessas, onde um “inferno” é lançado para dentro de “outro inferno”, só poderia ser mesmo fruto da maravilhosa teologia imortalista, sempre clara e muito lúcida.

Saindo do campo dos devaneios e entrando no espectro bíblico, o Hades (o Sheol do Antigo Testamento), como eu escrevi em meu livro anterior, não tem nada a ver com um lugar de sofrimento ou “inferno”, mas é, primariamente, a sepultura coletiva e universal de todos os mortos. Isso traz novamente sentido ao texto violado pelos imortalistas. O mar dá os seus mortos (i.e, todos os corpos que estavam dentro dele), o Hades também (i.e, todos os corpos que estavam na terra), e a morte também (i.e, todos os corpos que já haviam deixado de existir e não estavam mais em algum local físico da terra). Nenhum trata de almas incorpóreas sendo religadas a corpos físicos, nem de inferno sendo lançado em outro inferno.

O sentido básico do texto é que aquelas pessoas que haviam passado pela primeira morte agora passariam pela segunda morte (simbolizada pela figura do “lago de fogo”), que é a morte final e definitiva. A diferença entre a primeira e a segunda morte é que a primeira é uma morte temporária, porque existe ressurreição para o juízo e castigo, enquanto a segunda morte é eterna, porque o morto não irá ressuscitar para voltar à vida nunca mais. Esta é a “segunda morte”, muito mais sensata e convincente do que a segunda morte dos imortalistas.

Em terceiro lugar, não há como a segunda morte ser apenas uma “morte espiritual”, pela simples razão de que espiritualmente os ímpios já estariam mortos antes disso, e, assim, não haveria qualquer lógica ou razão em mandar para a morte aqueles que já estão mortos! A lógica só existe caso a segunda morte seja mais que uma “morte espiritual”, mas uma morte física e natural, no sentido de cessação de existência. Assim sendo, os que morreram nesta vida ressuscitam ao final do milênio, e nesta condição de vivos podem coerentemente ir para a morte; afinal, ninguém mata os mortos. No entanto, se a morte é espiritual e aquelas pessoas já foram condenadas, então a segunda morte se resume a “matar mortos”, isto é, mandar para a morte pessoas que já estavam mortas antes disso – o que é profundamente irracional e absurdo, e confronta todo o senso lógico que Deus nos deu.

A solução seria propor que os ímpios fossem regenerados para voltar à condição espiritual de “vivos”, para que, aí sim, possam apropriadamente ser “mortos” na segunda morte. Mas quem é que defende uma coisa dessas? Ninguém. Nem os imortalistas acreditam que os ímpios condenados passarão por uma regeneração espiritual para voltar à condição de “vivos” no espírito a fim de que possam apropriadamente “morrer” depois disso. Isso é ainda mais insano. A conclusão lógica que se segue é que essa segunda morte não pode ser uma morte apenas espiritual, mas uma em que coloca pessoas em um estado em que não estavam antes – consequentemente, são vivos que são mortos, e se essa vida é natural e não espiritual, então é no sentido natural que essa morte deve ser entendida.

Em quarto lugar, há textos claros que implicam que o ímpio não será imortal, o que elimina as chances desta morte ser “apenas espiritual”. Paulo disse que a imortalidade precisa ser buscada (Rm.2:7) e que ela só é alcançada por meio do evangelho (2Tm.1:10). Se isso não significa que somente os salvos serão imortais, eu sinceramente não sei que motivo haveria para “buscar” algo que já obteríamos de qualquer jeito. Adicione isso às mais de 150 passagens bíblicas de destruição final dos ímpios e às várias diferentes tipologias claramente aniquilacionistas, que não deixam dúvidas quanto à natureza da punição futura. Pedro, por exemplo, fala sobre o destino dos ímpios ser o mesmo das cidades de Sodoma e Gomorra (que foram completamente destruídas pelo fogo) e que eles, assim como essas cidades, seriam reduzidos às cinzas (2Pe.2:6).

Em quinto lugar, creio que o que Jesus fez em nosso lugar exemplifica perfeitamente bem que tipo de morte que os ímpios terão no futuro. Jesus veio a terra para pagar o preço em nosso lugar, mas essa expiação só se torna efetiva para aqueles que o aceitarem como Senhor e salvador de suas vidas. Isso significa que, se nós aceitarmos Cristo, os méritos de Cristo serão imputados a nós, e nós seremos justificados, obtendo vida eterna. Por outro lado, se nós rejeitarmos a Cristo, os méritos dele não serão imputados a nós, e sofreremos a morte, que é a consequencia natural do pecado (Rm.6:23).

Creio que essa é a parte que todo mundo já sabe. Em que isso sugere que a morte dos ímpios será uma morte natural, e não apenas espiritual? Porque Jesus não sofreu meramente uma “morte espiritual” na cruz, mas uma morte real, natural e literal. Os imortalistas hão de concordar que pelo menos o corpo de Jesus esteve morto (no sentido de cessação de vida) durante três dias. Se este foi o preço que ele teve que pagar em nosso lugar, significa que este seria o fim que nós mesmos teríamos caso Jesus não tivesse vindo e morrido em nosso lugar: uma morte real e literal, no sentido de deixar de viver. Mas essa é exatamente a condição em que os ímpios se encontram hoje: eles rejeitam Jesus, e então os méritos de Cristo não são imputados a eles.

Consequentemente, somos levados a concluir que a sorte final deles será a mesma que Jesus teve quando se fez pecado em nosso lugar: não uma morte espiritual apenas, mas uma morte natural também. Dizer que a consequencia natural pelo pecado é o “tormento eterno” é o mesmo que dizer que Jesus teria que sofrer eternamente para se colocar em nosso lugar e sofrer o destino que nós deveríamos ter sofrido. Mas se Jesus apenas morreu, e não foi atormentado em um mundo pós-morte, é porque a consequencia natural do pecado não é morte no sentido de “vida em tormentos”, mas no sentido natural do inverso de vida.

É claro que Jesus não ficou para sempre na morte, porque Deus o ressuscitou para junto dEle, visto que viveu justamente na terra. Essa é a diferença da morte de Jesus para a morte dos ímpios no futuro: eles não terão uma nova ressurreição depois da condenação, para poderem voltar à vida. A morte para eles será final, e, por isso, eterna. Todavia, este estado ou condição em que Jesus se encontrava antes de sua ressurreição é determinante para concluirmos que a consequencia natural do pecado não é o tormento, mas a morte (a não ser que alguém creia que Jesus “queimou no fogo do inferno” nos dias em que esteve morto!).

No fim das contas, toda a lógica do sistema imortalista quanto à realidade futura é extremamente falha, antibíblica e desconexa. Se você for um ímpio e morrer, passará por um “juízo individual” depois da morte e sua alma será imediatamente condenada ao inferno. Você passará alguns anos ou milênios neste terrível lugar, até que em um momento você deixará o inferno para se religar ao corpo que “dorme” no túmulo e passará por uma ressurreição para um novo julgamento na volta de Cristo. O resultado? Condenação de novo (que surpresa). Então você volta novamente para o mesmo lugar de fogo e tormento em que estava antes, para sofrer horrivelmente do mesmo jeito que já estava sofrendo, só que desta vez com o corpo e com a alma, e não somente com a alma...

Compare esta visão completamente distorcida pela introdução da doutrina da imortalidade da alma com o simplismo bíblico sobre a morte: você morre e permanece na condição de morto (sem vida) até a ressurreição, quando então será julgado e obterá a vida eterna ou a morte eterna, após pagar pelo tempo respectivo e proporcional aos seus pecados no geena. Por incrível que pareça, ainda há gente que leia a Bíblia e que mesmo assim é audacioso o suficiente para concluir que a opção imortalista não apenas é razoável, mas é a certa.


O aniquilacionismo conduz ao pecado?

Gosto muito do Dr. Augustus Nicodemus. Ele é provavelmente o melhor teólogo brasileiro na atualidade, e seu livro “Polêmicas na Igreja” não fica por menos. O capítulo 8 do livro é uma crítica ao universalismo (doutrina de que todos serão salvos no fim), na qual concordo em grande parte. No entanto, Nicodemus dedica um breve parágrafo para criticar também o aniquilacionismo em meio às suas críticas ao universalismo, e, lamentavelmente, ele coroou a pior crítica ao aniquilacionismo já feita na história. Trata-se de uma crítica que, além de puramente emocional, ainda distorce o que os aniquilacionistas de fato creem, e faz julgamentos preconcebidos e completamente inverídicos. Ele escreve:

“Embora defenda a aniquilação da alma como castigo dos ímpios, essa corrente acaba tendo efeito prático idêntico ao do universalismo. Afinal, se a punição pelos pecados, por mais graves que sejam, é simplesmente deixar de existir, o indivíduo tende a sentir-se livre para praticar todo tipo de iniquidade, da mesma forma como se soubesse que, depois da morte, será salvo de um modo ou de outro. O que os defensores desses dois pensamentos [universalismo e aniquilacionismo] têm em comum é a negação enfática de que haverá algum sofrimento após o fim da vida física humana”[1]

O que Nicodemus em primeiro lugar deveria provar é que cristãos como John Stott “sentem-se livres para praticar todo tipo de iniquidade”, ou provar que os crentes aniquilacionistas são em geral mais pecadores do que os crentes imortalistas. Eu aposto que ele não pode.

O que Nicodemus deveria aprender em segundo lugar é que na visão aniquilacionista majoritária (por exemplo, no aniquilacionismo defendido pela Igreja Adventista) o aniquilacionismo só vem depois de um tempo de sofrimento proporcional aos pecados de cada um, ou seja, é simplesmente falso que no aniquilacionismo há uma “negação enfática de que haverá algum sofrimento após o fim da vida física humana”. Antes da morte eterna (aniquilacionismo), os pecadores irão pagar no geena pelo tanto correspondente aos seus pecados, uns mais, outros menos:

“Aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites. Mas aquele que não a conhece e pratica coisas merecedoras de castigo, receberá poucos açoites (Lucas 12:47-48)

Se uns vão levar “muitos açoites” e outros vão levar “poucos açoites”, é porque não há uma quantidade ilimitada e infinita de “açoites” para levar (a não ser que alguém que é açoitado para sempre tenha levado apenas “poucos” açoites!). Os “açoites” (sofrimento após o juízo) são, portanto, temporalmente limitados (finitos) e proporcionais aos pecados de cada um. Assim, é só depois de cada pessoa pagar pelos seus pecados “até o último centavo” (Lc.12:59) que elas serão eliminadas, isto é, irão para a punição da “morte eterna”.

O terceiro grande erro de Nicodemus é tentar equivaler aniquilacionismo e universalismo, colocando os dois no mesmo patamar, como se fossem “farinha do mesmo saco”. Mas a diferença entre aniquilacionismo e universalismo é gigante: enquanto no universalismo todos os ímpios são salvos para sempre, no aniquilacionismo todos são condenados para sempre. Enquanto no universalismo os ímpios herdam uma vida eterna, no aniquilacionismo eles têm é uma morte eterna. Se Nicodemus não vê uma diferença gritante entre uma coisa e outra, é realmente um caso complicado.

O quarto erro de Nicodemus é a sugestão implícita de que se o sofrimento não é eterno, então o mal compensa. Mas isso simplesmente não faz sentido. Em nossa vida real, sempre sentimos que o mal é “compensado” quando se paga o tanto correspondente a ele, e não com sofrimento eterno. Por exemplo, se você tem um filho e este seu filho faz alguma coisa bem errada que mereça disciplina, não passa pela sua cabeça que “se eu não bater nele para sempre, ele vai pensar que o mal compensa!”. Ao contrário: você vai castigá-lo somente na medida proporcional ao erro que ele cometeu. Na minha época era a chinelada: quanto maior a gravidade do erro, maior a quantidade de chineladas!

A mesma coisa é presumida também em relação aos criminosos. A justiça não prende para sempre qualquer um que cometa um crime qualquer. Alguém que rouba uma bicicleta não irá ficar preso pelo mesmo tempo daquele que torturou, estuprou e matou uma pessoa. E mesmo assim, ninguém em sã consciência irá pensar que já que o ladrão de bicicletas não sofrerá por um período indefinido ou eterno, então o mal que ele fez “compensou”! Ser punido por mais do que aquilo que se merece não satisfaz a senso algum de justiça, mas de injustiça.

Em suma, na vida real (e não no mundo de fantasia dos imortalistas), um mal é sempre compensado de uma forma proporcionalmente justa, e já estamos satisfeitos com isso. Nenhuma pessoal racional realmente levaria a sério uma tese que diz que se não houver sofrimento eterno então “vale a pena pecar”, como se o fato de perder uma vida eterna, de ser castigado com o tanto de “açoites” correspondente aos delitos e de por fim ser morto eternamente já não fosse o bastante. Se alguém realmente acredita que isso tudo ainda não é o bastante, essa psicose ou sadismo precisa ser tratado. Urgente.

Por fim, há por detrás de toda objeção imortalista uma indireta (às vezes bem direta, como vemos aqui com Nicodemus) de que o tormento eterno faz moralmente bem às pessoas, no sentido de que em função do terrorismo psicológico causado pelo terror de uma carnificina sem fim as pessoas se mantêm com “um pé atrás” antes de pensar em pecar, como se o inferno eterno fosse um mantenedor da santidade da Igreja.

Essa teoria grotesca ignora o fato de que quem mantém a santidade e convence “do pecado, da justiça e do juízo” (Jo.16:8) não é um “tormento eterno”, mas o Espírito Santo. Talvez o leitor não saiba que os muçulmanos também creem em tormento eterno para os “infiéis”, mas nem por isso alguém chegaria ao ponto de dizer que ali há uma prática assídua de santidade ou boas obras incansáveis para escapar deste tormento.

O que mantém um cristão firme na fé e torna ele propício à santidade e boas obras não é o inferno, mas Cristo. Se houver uma entrega total a Cristo e um relacionamento profundo e pessoal com Ele, nenhum cristão pensará em pecar, porque o alvo da vida dele será conquistar a Cristo e viver com Ele para sempre, independentemente se a outra opção é um tormento ou uma morte, ou o que quer que seja. Quando você está apaixonado por alguém, você só quer ficar perto deste alguém, e não importa em que outro lugar você estaria caso não estivesse com essa pessoa.

Quando você realmente ama alguém, você não vai querer estar com ela só porque alguém te intimida com a ameaça de um sofrimento sem fim caso não queira ir. Ao contrário: é você mesmo que deseja ir. O cristão verdadeiro quer ter a vida eterna, não porque quer escapar de um tormento eterno, mas porque quer alcançar a Cristo e amá-lo para sempre. Mas se alguém está na fé só porque tem medo do inferno, essa fé não está alicerçada em Cristo ou no amor, mas no medo e no terror. E o problema é que uma fé fundamentada no medo não leva a lugar algum.

Os católicos aterrorizados pelo medo do inferno na Idade Média não eram melhores cristãos ou mais salvos do que os de hoje, eram apenas mais intimidados a contribuir com indulgências na tentativa de comprar a salvação ou livrar uma alma do purgatório. Da mesma forma, nos dias de hoje um crente que está na fé pelo medo de um tormento eterno pode ser melhor dizimista, mas não melhor cristão. O medo prende por um tempo, mas só o amor dura para sempre. O medo pode levar a um relacionamento superficial, mas só o amor leva a um profundo. O medo pode levar à coerção, mas só o amor pode levar a Cristo.

Ao invés de o temor do inferno tornar os crentes “mais santos”, o que se constata na vida real é justamente o contrário. Multidões deixam a igreja por não conseguir conciliar a crença em um Deus de amor e justiça infinita com a crença em um inferno de terror e pavor eterno. Tenho recebido inúmeras cartas de pessoas que voltaram à fé após descobrirem que não há tormento eterno. Essas pessoas haviam esfriado ou deixado a fé após pensarem que Deus criou seres humanos já sabendo previamente que a maioria deles passaria a eternidade em sofrimentos terríveis. Elas pensavam que o Cristianismo era isso, e que a outra opção era a apostasia.

Felizmente, essas pessoas voltaram após descobrir que a Bíblia ensina expressamente o contrário. Mas muitas outras ainda não têm este conhecimento, e permanecem distantes de Deus. O inferno, ao invés de servir como um motor propulsor à fé mediante o medo, presta o desserviço de pintar Deus como um monstro de abominável crueldade, que não se satisfaz nem com bilhões de anos de sofrimento em meio a um lago de fogo literal. O tormento eterno macula a imagem do Deus justo e amoroso e, desta forma, afasta as pessoas mais racionais da fé. Assim, ao invés de o inferno da visão popular prestar um serviço, presta um enorme desserviço.

A visão bíblica-cristã não é de um Deus tão irado contra o pecado que decide perpetuá-lo para sempre, eternizando o mal através da existência eterna daqueles que o praticam, mas sim de um mundo futuro no qual “o ímpio já não existe, mas o justo permanece firme para sempre” (Pv.10:25), e onde “não há mais pranto, nem luto, nem dor, nem tristeza, porque as primeiras coisas já passaram” (Ap.21:4).

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

- Extraído do meu livro: "Os Pais da Igreja contra a Imortalidade da Alma".

Por Cristo e por Seu Reino,


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[1] Augustus Nicodemus, Polêmicas na Igreja. Editora Mundo Cristão: 2015, p. 60.

Debate sobre Trindade (Alon Franco x Anônimo)

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Este é um espaço aberto exclusivamente para debater sobre trindade, divindade de Cristo, pré-existência de Cristo e temas relacionados. O debate é entre Alon Franco e o anônimo que está debatendo com ele no outro artigo. A partir de agora, qualquer comentário sobre trindade feito em outros artigos será deletado, e qualquer comentário sobre outros temas feito neste daqui também será deletado. Comentários sobre o debate serão aceitos, mas não comentários ou perguntas sobre outras coisas. Se o anônimo quiser se identificar, será melhor. Se quiserem copiar para cá o que já está sendo debatido ali, sintam-se a vontade.

Ataques pessoais não serão aceitos.

O debate está aberto.

Tertuliano e Orígenes em defesa da Sola Scriptura

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 Tertuliano (160 - 220)

Tertuliano também se esforçou em mostrar a autoridade única da Bíblia:

“Pois mesmo o apóstolo, em sua declaração - que ele não faz sem sentir o peso dela - que ‘Cristo morreu’, imediatamente adiciona, ‘de acordo com as Escrituras’, para que ele possa aliviar a dureza da declaração pela autoridade das Escrituras, e assim remover a ofensa do leitor”[1]

Para ele, a única razão que poderia levá-los a crer em uma doutrina é se ela fosse dada a eles nas Escrituras:

“Certamente não se poderia crer até mesmo nestas coisas mesmo do Filho de Deus, a menos que elas fossem dadas a nós nas Escrituras[2]

Ele não diz: “a menos que nos seja dado na Escritura ouna tradição”, mas somente na Escritura. Ela é a única autoridade que pode levar um cristão a crer em alguma doutrina. Ela também é suficiente, como ele disse:

“Nos deixe felizes em dizer que Cristo morreu, o Filho do Pai; e deixe isto ser suficiente, porque as Escrituras nos disseram assim”[3]

Para ele, a “voz do Espírito Santo” presente na Escritura já é suficiente e nenhuma outra deliberação é necessária além disso:

“E por que deveria eu, um homem de memória limitada, sugerir alguma coisa mais? Por que recordar algo mais nas Escrituras? Como se a voz do Espírito Santo não fosse suficiente; ou então qualquer outra deliberação fosse necessária, se o Senhor amaldiçoou e condenou por prioridade os artífices dessas coisas, dos quais Ele amaldiçoa e condena os adoradores!”[4]

Contra a escola de Hermógenes, ele declara uma das mais enfáticas afirmações da Sola Scriptura, dizendo:

“Mostre-nos a escola de Hermógenes que o que ela ensina está escrito: se não está escrito, trema em vista do anátema fulminado contra aqueles que acrescentam à Escritura, ou tiram alguma coisa dela”[5]

Havia, portanto, duas opções: ou a doutrina estava escrita (nas Escrituras) e era válida; ou, se não estava escrita, representava um acréscimo às Escrituras e seria alvo do anátema fulminado de Deus. Por essa declaração vemos quão seriamente os primeiros Pais da Igreja levavam o conceito de Sola Scriptura, onde apenas as doutrinas que estavam escritas na Bíblia eram aceitas e onde qualquer coisa a mais ou a menos que isso era anátema. 


• Orígenes (185 - 253)

Assim como os demais, Orígenes reforçou o fato da suficiência das Escrituras. Ele declarou que “o que temos tirado da autoridade da Escritura deve ser suficiente para refutar os argumentos dos hereges”[6]. Quando ele entrava em debates teológicos, fazia questão de dizer que a discussão em pauta deveria ser resolvida com base na Bíblia. Ele disse:

“Em terceiro lugar, os apóstolos nos manifestaram o Espírito Santo, associado em honra e dignidade ao Pai e ao Filho. Nisto, porém, já não se distingue manifestamente se o Espírito Santo é gerado ou não gerado, ou se deve ser tido também ele mesmo como Filho de Deus ou não. São estas coisas que devem ser investigadas com o melhor de nossa capacidade através de uma cuidadosa busca a partir das Sagradas Escrituras[7]

“Importa, portanto, que use destas coisas como de elementos e fundamentos, segundo o mandamento que diz: ‘Iluminai-vos pela luz da ciência’, todo aquele que deseje construir uma série e um corpo de razões de todas estas coisas, para investigar por meio de afirmações manifestas e necessárias o que haja de verdade em cada uma delas, e edificar um corpo de exemplos e afirmações a partir do que tiver encontrado nas Sagradas Escrituras[8]

“Ora, tudo isto, como sublinhamos, foi feito pelo Espírito Santo para que, vendo que aqueles eventos que jazem na superfície não podem ser nem verdadeiros nem úteis, possamos ser guiados à investigação daquela verdade que está oculta mais profundamente, e à afirmação de um significado digno de Deus naquelas Escrituras que cremos inspiradas por Ele”[9]

Ele também fazia questão de analisar na Bíblia a veracidade de cada doutrina ou teoria elaborada. Quando alguma coisa não era confirmada pela autoridade da Sagrada Escritura, ele rejeitava, para dar lugar àquilo que era bíblico:

Não observo que isso seja grandemente confirmado pela autoridade da Sagrada Escritura; ao passo que, em relação aos restantes dois, se encontra um considerável número de passagens nas Sagradas Escrituras que parecem passíveis de ser-lhes aplicados”[10]

A prova das doutrinas que ele afirmava ele não tomava da tradição, mas das Escrituras:

“Para tratar de tantas e tais coisas não basta confiar a sumidade deste assunto aos sentidos humanos e à inteligência comum, discorrendo, por assim dizer, visivelmente sobre as coisas invisíveis. Devemos tomar também, para a demonstração das coisas de que falamos, os testemunhos das Divinas Escrituras[11]

“Exortados assim brevemente pela própria lógica e coerência do assunto, embora nos tenhamos estendido um pouco, seja suficiente o que dissemos para mostrar que há algumas coisas cuja significação não pode ser explicada por nenhum discurso da língua humana, mas que são declaradas por uma inteligência mais simples do que as propriedades de quaisquer palavras. A esta regra deve ater-se também a inteligência das letras divinas, e considere-se o que se diz não pela vileza da palavra, mas pela divindade do Santo Espírito que inspirou quem as escreveu[12]

O inverso também era verdadeiro. Se a razão pela qual uma doutrina era aceita era por sua conformidade com as Sagradas Escrituras – e não pela tradição –, o motivo pelo qual alguns erravam não era por ignorar a tradição, mas por ignorar as Escrituras ou não as ler corretamente:

“Feito este breve comentário sobre a inspiração das Sagradas Escrituras pelo Espírito Santo, parece-nos agora necessário explicar por que motivo alguns, ignorando o caminho pelo qual se alcança o entendimento das letras divinas, não as lendo corretamente, caíram em tantos erros”[13]

A Escritura como a base de todas as doutrinas fica ainda mais nítido quando vemos Orígenes dizendo que tanto os mais simples como os mais adiantados teriam que ser edificados pela Escritura, sem mencionar a tradição nem para um nem para outro:

“Deve fazê-lo, primeiro, para que os mais simples sejam edificados pelo próprio corpo das Escrituras, por assim dizer. É deste modo que chamamos ao entendimento comum e histórico. Se, porém, eles já começam a adiantar-se um pouco, de tal modo que possam entender algo mais profundamente, que sejam edificados também pela própria alma das Escrituras”[14]

Toda a busca dele pela doutrina verdadeira estava fundamentada na Escritura:

“Tudo isto, conforme dissemos, o Espírito Santo buscou para que, na medida em que o que está na superfície não possa ser verdadeiro ou útil, rapidamente fôssemos chamados à busca de uma verdade mais alta e procurássemos nas Escrituras, que cremos inspiradas por Deus, um sentido digno de Deus[15]

A mesma Escritura, que os papistas afirmam ser insuficiente para a salvação, Orígenes dizia que foi concedida exatamente para a nossa salvação!

“Assim como o homem é dito ser constituído de corpo, alma e espírito, assim também o é a Sagrada Escritura que pela liberalidade divina foi concedida para a salvação dos homens[16]

Ele também defendia o livre exame. Ao invés de dizer que o significado das passagens só poderia ser examinado e descoberto pelo magistério romano, ele afirmava que qualquer pessoa inteligente que estudasse as Escrituras poderia descobrir por si mesma o significado:

“As pessoas de inteligência que desejam estudar a Escritura também podem descobrir o seu significado por si mesmas”[17]

Até mesmo as “verdades mais profundas” poderiam ser descobertas por quem investigasse por conta própria o significado nas Escrituras, citando três textos bíblicos em sua defesa:

“As verdades mais profundas são descobertas por aqueles que sabem como ascender de uma fé simples e investigar o significado que subjaz nas Escrituras divinas, conforme as admoestações de Jesus, que disse ‘Esquadrinhai as Escrituras’, e o desejo de Paulo, que ensinou que ‘devemos saber como responder a todo o homem’, sim, e também de quem disse ‘estai sempre preparados para dar um resposta a todo aquele que vos pedir a razão da fé que há em vós’”[18]

É interessante notar que Orígenes em momento nenhum disse a Celso que se ele quisesse descobrir os significados mais profundos dos textos bíblicos ele teria que recorrer a um magistério infalível em Roma, ou consultar um papa que interpretaria as Escrituras infalivelmente. Ao contrário, o que ele reafirma é que qualquer pessoa pode estudar a Bíblia e descobrir por si mesmo o significado das passagens. Era exatamente o mesmo princípio restaurado pelos Reformadores, sendo pregado explicitamente naquela época.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

- Extraído do meu livro: "Em Defesa da Sola Scriptura".

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Ateísmo Refutado (Evidências da existência de Deus e veracidade da Bíblia)
Fim da Fraude (Refutando as mentiras dos apologistas católicos)



[1]Contra Práxeas, 29.
[2]Contra Práxeas, 16.
[3]Contra Práxeas, 29.
[4]On Idolatry, 4.
[5]Contra Hermógenes, 22.
[6]De Principiis, Livro II, 5:3.
[7]De Principiis, Cap.4.
[8]De Principiis, Cap.10.
[9]De Principii, 4:15.
[10]De Principii, 4.
[11]De Principiis, Livro IV, Cap.1.
[12]De Principiis, Livro IV, Cap.27.
[13]De Principiis, Livro IV, Cap.8.
[14]De Principiis, Livro IV, Cap.11.
[15]De Principiis, Livro IV, Cap.15.
[16]De Principiis, Livro IV, Cap.11.
[17]Contra Celso, Livro VII, 11.
[18]Contra Celso III, 33.
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