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Cruzadas: Os bárbaros e o anacronismo histórico

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O anacronismo histórico é quando se tenta entender um passado distante através do presente. Giovana Faviano escreve que “o historiador, ao contar, relatar e analisar um determinado evento ou personagem histórico, não pode levar em consideração o que aconteceu depois; afinal, os agentes daquele momento não tinham em mente a sucessão de acontecimentos posteriores”[1]. Ou seja, não adianta tentar julgar o passado pelas lentes do presente. O que determinadas pessoas eram ou fizeram em uma determinada época deve ser analisada de forma totalmente à parte do que seus descendentes ou sucessores fizeram no futuro. Por mais que isso seja algo tão óbvio para qualquer estudante amador em história, infelizmente é onde muita gente, bem ou mal intencionada, incorre em erro.

Apenas para citar alguns exemplos rápidos: (1) A Grécia, outrora a sede intelectual do mundo, é hoje apenas um pequeno país na Europa lutando para sobreviver; (2) A tão famosa e temida Babilônia foi, historicamente, localizada naquilo que hoje é o Iraque (com todo respeito ao Iraque, especialmente se meu amigo Bawar estiver lendo isso); (3) Roma, que já foi por muito tempo a “capital do mundo”, é hoje só um belo destino turístico na Itália. Exemplos inversos também ocorrem: (1) Aquilo que hoje é a Alemanha, um dos países mais desenvolvidos do mundo, há muito tempo atrás era um bando de tribos bárbaras com pouca cultura; (2) Aquela que hoje é a nação mais poderosa do mundo (EUA) um dia foi mera colônia inglesa e escravocrata; (3) Aquilo que hoje é a avançada Austrália era, antigamente, o lugar onde enviavam os piores bandidos da Inglaterra.

Em suma, o anacronismo histórico consiste em olhar o que hoje é bom, belo ou grandioso, e presumir que há muito tempo atrás também era bom, belo ou grandioso – e, da mesma forma, olhar o que hoje é ruim, feio ou pequeno, e presumir que há muito tempo atrás também era ruim, feio ou pequeno. Se passássemos para a linguagem futebolística, seria como se alguém visse o atual tri-rebaixado Vasco da Gama (que, acreditem, já foi grande) e achasse que ele sempre foi pior do que o Atlético/MG, embora pela maior parte da história de ambos os clubes o Vasco sempre foi superior ao Atlético (me desculpem os atleticanos, mas é a verdade).

Após essa introdução básica nos princípios mais elementares da história, passemos ao foco do artigo: os muçulmanos. Não é raro vermos na internet os ataques ferozes de quem nunca estudou história na vida e por isso só julga a partir daquilo que vê hoje. Ele vê que hoje os países católicos são bem civilizados e os muçulmanos estão cheios de atraso ou de grupos terroristas, e então conclui o mesmo que um torcedor que nasceu ontem: que o Atlético sempre foi melhor que o Vasco (i.e, países católicos sempre foram superiores a países muçulmanos).

De forma bisonha e bastante engraçada, muitos defendem as cruzadas católicas dos séculos XI ao XIII porque hoje em dia existem católicos bonzinhos e terroristas do ISIS, e então conclui que sempre os católicos foram bonzinhos e os muçulmanos eram genericamente um ISIS, e portanto os católicos fizeram certo em estuprar as mulheres muçulmanas, assassinar bebês e crianças, saquear as cidades por onde passava (inclusive ortodoxas), queimar judeus na sinagoga por estarem no meio do caminho, incendiar 20 mil pessoas até a morte após ter assinado um tratado com elas para uma rendição sem mortes, trucidar suas próprias crianças e cavalos para praticar canibalismo a fim de matar a fome, trair a tudo e a todos com quem se aliançava, e assim por diante. Afinal, se existe o ISIS no século XXI, então vale tudo para acabar com os muçulmanos no século XI. Claro, faz todo o sentido. Para um troglodita, faz todo o sentido mesmo.

Afinal: eram os muçulmanos daqueles tempos como os terroristas do ISIS do século presente? Para responder esta pergunta, li (e continuo lendo) dezenas de livros sobre história medieval, que nos falam sobre uma época em que os muçulmanos eram mais desenvolvidos do que os católicos ocidentais, o que reforça o contraste que eu passei neste outro artigo. Não farei uso das minhas palavras daqui em diante, apenas do que dizem historiadores com PhD nos mais variados livros (limitarei o tanto de citações para o artigo não ficar excessivamente longo).

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Historiador: Hilário Franco Jr.

“A hostilidade muçulmana e bizantina era grande, produto do desprezo de civilizações mais refinadas e sofisticadas pelos ocidentais rudes, incultos e violentos, ‘cães cristãos’ para os muçulmanos, ‘bárbaros’ para os bizantinos” (p. 46-47)

“É interessante verificar como o cristão recém-chegado à Síria franca – e portanto ainda carregado de imagens deformadas e preconceituosas sobre os islamitas – indignava-se ao ver as boas relações dos potros (latinos nascidos na Terra Santa, muitas vezes de casamentos mistos) com os muçulmanos” (p. 68-69)

(FRANCO, Hilário. As Cruzadas. 1ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1981)

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Historiador: Ivan Lins.

“Encontravam, por vezes, os cristãos, nos muçulmanos, como o prova o exemplo de Saladino, virtudes morais imensamente superiores às de qualquer dos cavaleiros da cruz, inclusive os mais perfeitos e completos, como Godofredo de Bouillon” (p. 417)

“Muito deve às cruzadas a medicina europeia, porquanto era imensa, a este respeito, a superioridade dos árabes, bastando lembrar que os médicos de Saladino trataram de Ricardo Coração de Leão e outros guerreiros ocidentais, enquanto a recíproca nunca se verificou. Observação idêntica faz Joinville, a propósito da doença de São Luiz e dos cruzados franceses aprisionados em Mansurá” (p. 414)

Sobre a tolerância dos muçulmanos na época, escreve Lins:

            «Interrompidas, em 614, por ter Jerusalém caído em poder dos persas, continuaram, logo depois, as peregrinações, porquanto, retomada em 629, pelo imperador Heráclio, passou a cidade santa, daí a oito anos, isto é, em 637, para o domínio dos árabes. Caracterizando-se pela tolerância, nenhum obstáculo opuseram estes à piedade dos cristãos, tendo eles próprios em particular veneração a capital da Judeia, a que chamavam “a casa santa”[2]. Estando, entre os maometanos, confundidos, num só órgão, os dois poderes – temporal e espiritual – foram sempre muito mais tolerantes do que os cristãos, por se achar, entre eles, o ponto de vista religioso mais ou menos subordinado aos interesses políticos, atenta a necessidade em que se encontraram de governar povos altamente evoluídos e que adotavam crenças irredutíveis às deles próprios.
            A tolerância árabe chegou ao ponto de Moviá, o primeiro califa omíada, fazer reparar e reconstruir igrejas cristãs[3]. Nunca a tolerância se associou de um modo tão singular com o entusiasmo religioso – escreve Alexandre Herculano. Esta tolerância, que procedia da índole do islamismo, das suas máximas, digamos assim, canônicas e civis, não se limitou na Espanha à concessão de seguirem em silêncio a própria crença os habitantes avassalados pela espada do islã, nem ainda à de celebrarem publicamente os seus ritos: manifestou-se também no respeito às instituições dos vencidos e à sua propriedade.
            A tolerância dos muçulmanos chegara ao último auge. Limitadas no princípio a um certo número, as igrejas e mosteiros multiplicavam-se por toda parte, e as antigas paróquias ornavam-se e acrescentavam-se com os primores da arte oriental. Providos em cargos civis, admitidos ao serviço militar, nas exterioridades os hispanos-godos só se distinguiam pela diferença dos lugares onde adoravam a Deus. A voz do almuaden chamando os moléns à oração misturava-se com a do sino que anunciava aos nazarenos a hora das solenidades do culto. Dirigindo-se à basílica o bispo perpassava pelo imã que se encaminhava para a mesquita: o presbítero cruzava com o moadi; e num dos dois templos, ou contíguos ou próximos, o salmista entoava os hinos do ritual gótico, enquanto no outro o alime ou ulema invocava na chotba as bênçãos do céu sobre o califa[4].
            Em fins do VII século e princípios do IX, a proteção muçulmana aos cristãos foi explicitamente assegurada a Carlos Magno por Harum-Al-Rachid, constituindo o que se convencionou chamar o protetorado franco do Oriente[5]. Foi então que Carlos Magno fez construir, na cidade santa, um hospital para os peregrinos, uma basílica, uma biblioteca e um mercado, fundações que permaneceram em atividade durante todo o século IX. No século seguinte tornaram-se as peregrinações ainda mais frequentes, dirigindo-se à terra santa fieis de toda a Europa e até mesmo da Escandinávia e da longínqua Islândia» (p. 298-301)

(LINS, Ivan. A Idade Média – A Cavalaria e as Cruzadas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pan-Americana, 1944)

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Historiador: Juan Brom.

“Nos séculos X e XI, os árabes tem a cultura mais alta da época. Além de realizar importantes trabalhos próprios, são os grandes transmissores do pensamento e da técnica. Muitos conhecimentos da antiguidade grega voltaram através deles a Europa. Organizam um bom sistema de escolas. Várias ciências tem sua origem em suas atividades, como a alquimia, que se transforma na química, e outras recebem um grande impulso, como a astronomia e as matemáticas (transmitem a Europa os chamados números arábicos, que provém da Índia, e inventam a álgebra). Os médicos árabes são os melhores de seu tempo e gozam de estima geral. Nas artes destacam sobretudo na arquitetura e na literatura. Na Espanha e em muitas outras partes, os árabes reorganizam os sistemas de irrigação construídos pelos romanos. Ensinam aos europeus a fabricação do vidro, o uso do sabão, a elaboração do papel (proveniente da China). São famosas suas telas, muitas das quais hoje tem os nomes das cidades onde se produziam principalmente (Damasco, Gasa). Também transmitem a Europa a pólvora, cuja fabricação haviam aprendido dos chineses” (p. 97-98)

“Na Itália, centro do desenvolvimento destas novas formas, aparecem os sistemas e instrumentos bancários, entre eles a letra de câmbio. Muitos destes elementos são tomados dos árabes, que tinham uma estrutura econômica sumamente avançada” (p. 108)

(BROM, Juan. Esbozo de historia universal. 21ª ed. México: Grijalbo, 2004)

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Historiador: Plínio Bastos.

“Os árabes possuíam universidade, colégios, bibliotecas. Estudavam geometria, astronomia, geografia, matemática. Entre eles a arte mais importante foi a arquitetura. Esculpiam em madeira, fabricavam tapetes, armas, muitos objetos de cobre. Plantavam arroz, cana de açúcar, café, açafrão. Cultivavam hortas e pomares. Comerciavam com quase todos os povos orientais” (p. 86)

(BASTOS, Plínio. História do Mundo - Da pré-história aos nossos dias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Império, 1983)

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Historiadores: Manuel Ballesteros e Juan Luis Alborg.

            «Gozou o mundo islâmico, no começo da sua construção, de uma grande prosperidade econômica. Sua paixão pela química lhes permitiu criar uma importante indústria de perfumaria, sabonetes, tintas e medicamentos. Foram também mestres na arte de tecer, que aprenderam dos persas e elevaram a grande perfeição; Mosul, que se especializou nos tecidos finos, deu seu nome à musselina. Decoravam as telas com preciosos desenhos, que diferem segundo as tradições de cada país, pois os árabes receberam e assimilaram toda classe de influências, ainda que as amoldassem a seus gostos ou costumes. Se distinguiram igualmente como fabricantes de armas, objetos de ourivesaria, joias, bronzes, artesanato, trabalhos em madeira e em marfim, em relevo, esculpidos em pedra. Fabricaram estupendos mosaicos, cerâmicas, porcelanas e vidros, e gozaram de fama universal seus couros.
            Se aplicaram intensamente à agricultura, e com hábeis procedimentos de irrigação melhoraram muitíssimo os campos em todas as partes, sendo seu cultivo base importante de sua economia. Certamente tiveram bons mestres na Mesopotâmia e no Egito, mas se esforçaram por fazer da agricultura uma verdadeira ciência. Sua especialidade foi a horticultura e a jardinagem. Desenvolveram também de modo extraordinário o comércio, cuja profissão, que havia sido a do profeta, gozava entre os árabes de grande estima. Donos de toda a costa norte-africana e, ademais, de numerosas ilhas – entre elas Creta, Chipre e parte da Sicília – dominaram com seus navios todo o Mediterrâneo, arrebatando a hegemonia naval de Bizâncio.
            Por outra parte, Bagdá centralizava o comércio de caravanas, sendo o verdadeiro nó do intercâmbio terrestre, como ponto de encontro entre as terras africanas e o Oriente Médio com as remotas regiões da Ásia Central e até do remoto Oriente, cujos produtos chegavam por via marítima até as costas do golfo Pérsico. A eles se deve a introdução na Europa, através da Espanha, do papel, invenção chinesa, e da cana de açúcar, e do arroz que importaram da Índia. Trouxeram igualmente a amoreira, o açafrão, o cânhamo, a laranja e outras muitas frutas e hortaliças» (p. 375-376)

            «A atividade muçulmana na ordem das ciências foi enorme, sobretudo durante a época abbasí, depois de haver se acalmado a atividade guerreira dos primeiros tempos. Se destacaram rápido em medicina, que conheceram primeiramente através dos textos gregos, e muitos desses se conservaram a nós pelas traduções árabes. Tiveram médicos notáveis, como Avicena e Arrazí, e em suas notáveis escolas de Bagdá, Cairo e Córdoba realizaram grandes trabalhos com um sério espírito científico, muito moderno. Possuíam verdadeiras clínicas, criaram a farmácia e realizaram intervenções cirúrgicas, como a das cataratas.
            Elaboraram importantes obras sobre mineralogia, zoologia e botânica. Assim mesmo conseguiram importantes progressos na física, na mecânica e na astronomia, mas suas maiores contribuições foram na matemática. Difundiram as figuras arábicas, e foram os criadores da álgebra e da trigonometria. Montaram importantes observatórios, calcularam a obliquidade da eclíptica e mediram um grau de meridiano. À química chegaram por sua fixação pela alquimia. Criam que poderiam encontrar o elixir que desse a juventude eterna e trabalharam para achar a famosa pedra filosofal, que transmutavam todos os metais em ouro. Mas aqueles esforços lhes permitiram fazer grandes descobertas químicas e aprenderam a obter numerosas substâncias novas» (p. 376-377)

“Foi notável o cultivo da geografia. A obrigação de peregrinar a Meca e a grande atividade comercial que desenvolveram os colocou em contato com numerosos países, dos quais deixaram descrições. Não somente por necessidade, mas por puro desejo de exploração, realizaram também importantes viagens terrestres e marítimas. Para esses últimos lhes serviu muitíssimo o emprego da bússola, que aprenderam provavelmente dos chineses e difundiram pelo Ocidente” (p. 377)

“Igualmente destacaram-se os muçulmanos no cultivo da história. Abundam, sobretudo, as crônicas particulares de sucessos de um personagem ou de uma época, mas existem também ensaios da História Universal” (p. 377)

“Na literatura fantástica são notáveis suas narrações breves, chamadas makamas, compostas para serem lidas de uma só vez, mas que soam, não obstante, se entrelaçar com outras composições para formar uma série. Deste tipo são as célebres Mil e uma noites e as Sessões de Jariri. Nas primeiras, sobretudo, são importantes as reminiscências persas. A esta mesma influência e à dos indianos se deve a paixão dos muçulmanos pelas fábulas. Os comentários de toda espécie sobre o Corão deram origem a uma extensa literatura em prosa, e a necessidade de ensinar o árabe nos países conquistados estimulou os estudos gramaticais” (p. 377)

“A poesia, grande paixão do povo árabe e único gênero cultivado antes de Maomé, seguiu seu formidável desenvolvimento. A propensão dos árabes à metáfora recarregada conduziu a um virtuosíssimo refinado e sutil excessivo quase sempre, mas sempre belíssimo e enormemente poético. Todos os príncipes e senhores principais gostaram de rodear-se de poetas que se agruparam em verdadeiras cortes; ali se compunham toda classe de poemas líricos” (p. 377)

“Foi também a filosofia outra das grandes preocupações dos árabes, antes que os cristãos ocidentais conhecessem e difundissem as obras de Aristóteles e dos neoplatônicos alexandrinos, que em Bizâncio haviam sido descartadas por serem consideradas perigosas. Seus primeiros grandes representantes foram Alquindí (século IX), homem de enciclopédicos conhecimentos, e Alfarabí, de origem turca, que trabalhou intensamente sobre os grandes filósofos gregos, tratando de conciliá-los com as ideias muçulmanas. Floresceu depois Avicena, e já dentro do século XII, os famosos filósofos espanhois Abentofail, Avempace e Averroes. Avempace escreveu o Guia de solitários, que defendia a filosofia como meio de chegar à divindade, em lugar da mística, e Averroes foi chamado ‘O Comentarista’ pelos enormes comentários que realizou sobre Aristóteles” (p. 378)

“Na arte tomaram também os árabes elementos de todos os povos que dominaram, e mesmo assim conseguiram um estilo tão pessoal que nenhum outro estilo artístico é tão popular nem tão facilmente reconhecível. Como o Corão proibia a representação de imagens, não tiveram apenas pintura nem escultura e sua grande produção era arquitetônica. Característica desta é o emprego do arco de ferradura, que não inventaram, mas que difundiram e aperfeiçoaram maravilhosamente, e o predomínio da decoração sobre o fundamental. Com os arcos fizeram combinações geométricas e entrecruzamentos belíssimos, e na ornamentação, quase sempre de gesso, empregaram complicadas figuras geométricas, muito típicas” (p. 378)

“Desde o século VIII até o XII o mundo antigo não conheceu mais do que duas civilizações: a dos bizantinos e a dos árabes” (p. 376)

(BALLESTEROS, Manuel; ALBORG, Juan Luis. Historia Universal Hasta el Siglo XIII. 4ª ed. Madrid: Editorial Gredos, S. A., 1967)

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Historiador: Joseph Michaud.

“Enquanto o Império do Oriente tocava assim o seu declínio, e parecia minado pelo tempo e pela corrupção, o Ocidente estava na infância das sociedades; nada mais restava do Império e das leis de Carlos Magno. Os povos já quase não tinham relações entre si e só se aproximavam com o ferro e a espada na mão; a Igreja, a realeza, as nações, os reinos, tudo estava misturado e confundido; nenhum poder era bastante forte para deter o progresso da anarquia e os abusos do feudalismo. Embora a Europa estivesse cheia de soldados e coberta de castelos fortes, as nações ficavam o mais das vezes sem apoio contra os inimigos e não tinham exércitos para sua própria defesa. No meio da confusão geral, não havia segurança a não ser nos campos e nas fortalezas, alternativamente, a salvaguarda e o terror das aldeias e do campos. As maiores cidades não ofereciam asilo algum para a liberdade; a vida dos homens era tida em tão pouco que se podia com algumas moedas comprar a impunidade do assassino. Era de espada na mão que se invocava a justiça, era pela espada que se fazia a reparação dos erros e das injúrias. A língua dos barões e dos senhores não tinha palavras para exprimir o direito das gentes; a guerra era toda sua ciência, era toda a política dos príncipes e dos Estados” (p. 70-71)

(MICHAUD, Joseph François. História das Cruzadas – Volume Primeiro. 1ª ed. São Paulo: Editora das Américas, 1956)

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Historiador: Jean Duché.

“Os muçulmanos fundavam grandiosas mesquitas, hospitais, escolas públicas – as madrassas – e respeitavam os cristãos, fazendo o mesmo desde quatro séculos: os tolerando” (p. 344)

“Desde quatro séculos antes, imperadores e califas lutavam com constância, mas sempre se saudando com o título de ‘irmão’ do que só eles, em meio a um mundo bárbaro, se achavam dignos. A guerra, sim, mas dentro de uns limites civilizados. O furor franco deixava entrever enormes complicações diplomáticas. Em relação à Terra Santa, os bizantinos estavam acostumados desde muito tempo a vê-la em mãos do Islã, posto que para eles a Terra Santa era Bizâncio” (p. 380)

(DUCHÉ, Jean. Historia de la HumanidadII – El Fuego de Dios. 1ª ed. Madrid: Ediciones Guadarrama, 1964)

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Considerações Finais

Está claro que nem os muçulmanos da época eram os terroristas de hoje, e muito menos os católicos da época eram os democratas ocidentais de hoje. Na “era de ouro” do Islã, eram os árabes que possuíam o maior desenvolvimento científico da época e eram os bizantinos (ortodoxos) que possuíam a maior cultura e riqueza. A Europa ocidental era a periferia do mundo, os verdadeiros “bárbaros” da história. Tal quadro só veio a se reverter depois do saque de Constantinopla (1204), quando os católicos roubaram toda a riqueza dos bizantinos e destruíram grande parte das artes e dos livros da cidade, e quando o Islã entrou em declínio cultural e moral, restando aos europeus a predominância, que só veio a se fortalecer em definitivo após a Reforma Protestante do século XVI.

Se alguém estava mais próximo dos terroristas do ISIS de hoje não eram os muçulmanos do exército de Saladino, mas precisamente os templários, dos quais Lins afirma:

“Alimentando monstruosa e insaciável ambição, passaram os templários a constituir verdadeiros ‘bandidos ungidos’, porquanto, se ostentavam bravura, acobertavam, com o hábito monástico, os mais detestáveis vícios e as mais veementes paixões do guerreiro medieval. ‘Celerados, ímpios, raptores, sacrílegos’, tais, em sua maioria, os templários no dizer insuspeito do autor de sua regra, São Bernardo, que se congratula com isso no ‘De Laude Novae Militiae’[6]

O próprio São Bernardo (santo católico da época), criador da regra da ordem dos templários e que portanto os conhecia melhor do que ninguém, assim celebrava a saída dessa peste da Europa para os países muçulmanos:

“Há, nisso, dupla vantagem; a partida dessa escória é uma libertação para a Europa e o Oriente se regozijará com sua chegada por causa dos serviços que poderá prestar-lhe. Que prazer, para nós, perder crueis devastadores, e que alegria, para Jerusalém, ganhar fieis defensores! É assim que se vinga Cristo de seus inimigos; é assim que triunfa deles e por eles. Transforma adversários em parceiros; de um inimigo faz um cavaleiro, como, outrora, de um Saulo perseguidor, fez um Paulo apóstolo”[7]

Mesmo assim, é evidente que monstros deformados que tem horror aos livros de história irão preferir continuar apelando ao anacronismo histórico do que refutar qualquer coisa com base em historiadores conceituados. Afinal, que tipo de conhecimento histórico devemos esperar de quem diz que Jerusalém era a cidade que reinava sobre os reis da terra no século I (Ap.17:18)? Nada, exceto boas gargalhadas.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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[2] Abade FLEURY, "Histoire Ecclésiastique", vol. I, pg. 725 da edição de 1844.
[3] ibid, vol. III, pg. 1.
[4] VideAlexandre Herculano: “História de Portugal”, t. VI, pgs. 26 e seguintes da 7ª ed, 1916.
[5]Vide: LOUIS BRÉHIER: “L’Église et L’Orient cru Moyen Age: Les Croisades”, pg. 6 da 5ª ed.
[6] LINS, Ivan. A Idade Média – A Cavalaria e as Cruzadas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pan-Americana, 1944, p. 348-349.
[7]Apud Abade VACANDARD, “Vie de Saint Bernard”, t. I, pg. 254.

Papa: O ditador e inimigo da liberdade de pensamento

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Geralmente quando se pensa em “papa”, vem à mente aquela ideia de um homem carismático, afável, ecumênico e moderno; enfim, um “papa Francisco”. Um homem que jamais se oporia à liberdade de pensamento, e que nunca poderia ser comparado a um “ditador”. Mas esta é a noção popular que tomou forma através de papas mais modernos como João Paulo II e o nosso Jorge Mario Bergoglio, que de modo algum se assemelham ao papado, isto é, aos papas ao longo da história, até tempos relativamente bem próximos. O papado sempre foi uma ditadura e agiu como verdadeiro inimigo da liberdade de pensamento.

Entre as teses condenadas pelo papa Pio IX (1846-1878), no Syllabus, consta:

"É livre a qualquer um abraçar o professar aquela religião que ele, guiado pela luz da razão, julgar verdadeira"[1]

Ou seja: para a Igreja Católica, as pessoas não devem ter liberdade para professar a religião que, pelo uso da razão, ela julgar ser a verdadeira. Em vez disso, deve crer cegamente na católica romana, é claro. Mesmo que a razão lhe diga o oposto.

Como se não bastasse, o papa Leão XIII (1878-1903), em sua encíclica Libertas Praestantissimum, escreve:

"Oferecer ao homem liberdade (de culto) de que falamos, é dar-lhe o poder de desvirtuar ou abandonar impunemente o mais santo dos deveres, afastando-se do bem imutável, a fim de se voltar para o mal. Isto, já o dissemos, não é liberdade, é uma escravidão da alma na objeção do pecado”[2]

Se não ficou claro, deixe-me explicar a “lógica” da Igreja Católica: o homem não pode ter liberdade de culto para seguir sua própria consciência, porque, assim, ele pode descobrir que o catolicismo romano não é a religião verdadeira, e por isso se desviar “para o mal”. Essa é a mesma “lógica” empregada pelos nazistas: o povo não pode ter liberdade para se opor ao nazismo, porque, deste jeito, ele pode descobrir que o nazismo é errado. De fato, é a lógica por detrás de todo regime facínora e ditatorial na história da humanidade.

O papa Gregório XVI (1831-1846), em sua encíclica “Mirai-vos”, expôs o mesmo pensamento:

“Esta fonte lodosa do indiferentismo promana aquela sentença absurda e errônea, digo melhor disparate, que afirma e que defende a liberdade de consciência. Esse erro corrupto que abre alas, escudado na imoderada liberdade de opiniões que, para confusão das coisas sagradas e civis, se estende por toda parte, chegando a imprudência de alguém asseverar que dela resulta grande proveito para a causa da religião. Que morte pior há para a alma do que a liberdade do erro?”[3]

Como vemos, para a Igreja Católica a liberdade de consciência é um horror, uma coisa absurda, um disparate, um cruz-credo. O bom mesmo é amarrar as pessoas dentro do catolicismo e não deixar que elas possam raciocinar por si mesmas e chegar às suas próprias conclusões.

Na mesma encíclica, o papa vocifera contra a “liberdade de opiniões”:

“As cidades que mais floresceram por sua opulência, extensão e poderio sucumbiram, somente pelo mal da desbragada liberdade de opiniões, liberdade de ensino e ânsia de inovações”[4]

E, para fechar com chave de ouro, temos ainda o papa Pio IX (1846-1878), em sua encíclica “Quanta Cura”, onde escreve:

“E, contra a doutrina da Sagrada Escritura, da Igreja e dos Santos Padres, não duvidam em afirmar que ‘a melhor forma de governo é aquela em que não se reconheça ao poder civil a obrigação de castigar, mediante determinadas penas, os violadores da religião católica, senão quando a paz pública o exija’. E com esta idéia do governo social, absolutamente falsa, não hesitam em consagrar aquela opinião errônea, em extremo perniciosa à Igreja católica e à saúde das almas, chamada por Gregório XVI, Nosso Predecessor, de feliz memória, loucura, isto é, que ‘a liberdade de consciências e de cultos é um direito próprio de cada homem, que todo Estado bem constituído deve proclamar e garantir como lei fundamental, e que os cidadãos têm direito à plena liberdade de manifestar suas idéias com a máxima publicidade - seja de palavra, seja por escrito, seja de outro modo qualquer -, sem que autoridade civil nem eclesiástica alguma possam reprimir em nenhuma forma’. Ao sustentar afirmação tão temerária, não pensam nem consideram que com isso pregam a liberdade de perdição, e que, se se dá plena liberdade para a disputa dos homens, nunca faltará quem se atreva a resistir à Verdade, confiado na loquacidade da sabedoria humana mas Nosso Senhor Jesus Cristo mesmo ensina como a fé e a prudência cristã hão de evitar esta vaidade tão danosa”[5]

Neste último, o papa Pio IX condena as teses de que:

• A melhor forma de governo é aquela em que não se reconheça ao poder civil a obrigação de castigar, mediante determinadas penas, os violadores da religião católica, senão quando a paz pública o exija.

• A liberdade de consciências e de cultos é um direito próprio de cada homem, que todo Estado bem constituído deve proclamar e garantir como lei fundamental, e os cidadãos têm direito à plena liberdade de manifestar suas ideias com a máxima publicidade.

A conclusão a que se chega é que, para a Igreja Católica, o poder civil tem a obrigação de castigar quem manifesta uma opinião não-católica mediante a liberdade de expressão do pensamento, e ninguém tem liberdade de culto se não for católico. Ou seja, a Igreja Católica é totalmente a favor da liberdade, desde que seja a liberdade dela em castigar qualquer um que queira ser livre não sendo católico. É o mesmo conceito de “liberdade” que certo jornal católico expressou ao condenar as ideias de Ivan Lins, dizendo:

“Acredito que a conferência do senhor Ivan Lins fosse sectária, porque em caso contrário não haveria vaia. Se o senhor Ivan Lins quer a liberdade de pensamento, ele compreenderá que o pensamento, para ser livre, deve estar condicionado à verdade, assim não haverá nem vaia nem motivo para isso”[6]

Ou seja: o não-católico é “livre” para falar o que quiser, desde que concorde em tudo com o catolicismo. Senão, tem que calar a boca ou ser punido pelo poder civil. É óbvio que isso não passa de um jogo de palavras descarado para camuflar a verdadeira tirania, ditadura e intolerância do catolicismo romano – você é “livre”, mas só para concordar com o papa, não para discordar. Com a mesma tática os nazistas calaram os outros grupos políticos, os regimes comunistas cessaram a liberdade de expressar uma opinião que não fosse a comunista, os fascistas impediram que exprimissem opiniões que fugissem do fascismo, e assim por diante. Em todos os regimes tirânicos que o mundo já viu, as pessoas eram “livres”: mas livres só para concordar com o tirano, nunca para discordar.

Na Coreia do Norte, até hoje é proibido expressar opinião contrária a do “líder supremo”, o grande e mítico Kim Jong-un, o homem que obriga os norte-coreanos a terem o mesmo corte de cabelo dele e a chorarem de comoção pela morte do seu pai (e se não fingir o choro direito, vai pra cadeia). Todos os regimes tirânicos do planeta (comunismo, fascismo, nazismo, catolicismo romano) seguem exatamente a mesma linha: primeiro vem a lavagem cerebral, para que seus seguidores pensem que o líder deste sistema é um ser infalível e intocável. Depois vem a proibição a expressar uma opinião contrária à do sistema, porque qualquer opinião contrária é imediatamente considerada “do mal”, e por último vem a proibição a pesquisar a verdade por conta própria (no caso do catolicismo, a proibição ao livre exame da Bíblia). Só uma criança ingênua e imatura é que não percebe isso.

Para se ter uma ideia, até antes da proclamação da República (quando houve a separação entre Igreja e Estado no Brasil) os evangélicos e demais grupos não-católicos eram proibidos de fundar igrejas construindo qualquer coisa em forma de templo religioso, e também eram proibidos até mesmo de casar(!) legalmente, já que o único casamento considerado válido era aquele realizado na Igreja Católica. E isso porque o Dom Pedro II ainda tinha certo apreço pelos evangélicos, chegando inclusive a ir aos Estados Unidos ver Spurgeon pregar. Senão, a coisa seria bem pior.

Em compensação, nos Estados Unidos e demais países protestantes os católicos podiam fundar igrejas e se casar normalmente, e não havia nenhumaproibição à liberdade de pensamento. Não há absolutamente nenhum concílio protestante que tenha restringido nem por um segundo a liberdade de expressão ou sufocado a consciência individual, até porque o próprio protestantismo nasceu pela liberdade de pensamento. Como Geoffrey Blainey corretamente destaca em seu best seller “Uma Breve História do Mundo”, “enquanto a Espanha se recusava a deixar que judeus, muçulmanos e protestantes emigrassem para suas novas colônias, Inglaterra e Holanda permitiam que os dissidentes protestantes partissem para as novas colônias americanas”[7].

Não se enganem por esses papas pops modernos, que aparentam ser super a favor da liberdade de pensamento em uma era em que o protestantismo e o iluminismo conquistaram esse direito para nós. A Igreja Católica continua uma ditadura em sua essencia, da mesma forma que não existe “comunismo” do bem, “fascismo” do bem, ou qualquer outro regime totalitário do bem. A diferença é que a Igreja Católica perdeu quase tudo da força política que tinha, e por isso foi obrigada a evoluir com o tempo.

Antes, bastava o papa Urbano II pregar uma cruzada para dilacerar os infieis que todo o mundo seguia jubilando que Deus lo Vult. Hoje, se o papa Francisco fizer o mesmo, vai todo mundo jogar tomate nele, inclusive os católicos. Antes, papas como Gregório VII e Inocêncio III tinham poder para depor reis e colocar outros no lugar. Hoje, se o papa quiser fazer o mesmo, o Obama e a rainha Elizabeth vão rir da cara dele e lhe recomendar tomar gardenal. A Igreja Católica não evoluiu porque quis, ela evoluiu porque a forçaram a evoluir, porque tiraram dela o poder político tirânico que ela exerceu por séculos. Mas um monstro em estado de sono ainda é um monstro, e ainda é necessário ficar atento com o risco de se despertar.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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[1] 15ª Tese condenada no Syllabus.
[2] Libertas Praestantissimum.
[3] Papa Gregório XVI (1831-1846), Mirari Vos.
[4]ibid.
[5] Papa Pio IX na Encíclica Quanta Cura.
[6]“Vozes de Petrópolis”, número de novembro de 1938.
[7] BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do mundo. 1ª ed. São Paulo: Fundamento Educacional, 2010, p. 188.

Afinal: Há salvação fora da Igreja Católica?

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Uma das consequencias mais lastimáveis de se autoproclamar “infalível” é não poder admitir que errou quando tenta consertar o erro. Assim, em vez de admitir aberta e honestamente que errou no passado no que tange a certo ponto, e que agora está revisando o erro, prefere fazer malabarismos mentais na tentativa de conciliar tanto o erro quanto a mudança, como se fossem a mesma coisa, apenas dita sob “perspectivas diferentes”. Talvez nenhum outro exemplo seja mais admirável do que o da salvação fora da Igreja Católica (leia-se “Romana”) no ponto de vista dos próprios papistas.

Até o começo do século passado, se você perguntasse a qualquer bispo ou papa se é possível alguém se salvar não sendo católico, a resposta óbvia, categórica e automática seria um sonoro: “NÃÃÃÃÃOOOO!!!”. Hoje em dia, no mundo moderno e ecumênico em que vivemos, se você fizer a um bispo ou ao papa essa mesmíssima pergunta, a resposta será um: “Veja bem, meu caro...”.

Não há nada que seja mais explícito, claro, direto e categórico nos documentos antigos da Igreja Romana quanto a completa impossibilidade de alguém se salvar não sendo católico romano e sem estar sujeito ao pontífice romano. Os documentos oficiais da Igreja podiam ser dúbios em muitos aspectos, mas certamente não neste. O Concílio de Florença (1431-1445), por exemplo, afirmava categoricamente:

“A Igreja crê firmemente, professa e prega que todos aqueles que estão fora da Igreja Católica, não só pagãos, mas também judeus ou hereges e cismáticos, não podem compartilhar a vida eterna e irão para o fogo eterno que foi preparado para o diabo e seus anjos, a menos que eles estejam ligados à Igreja Católica antes do final de suas vidas, pois a unidade do corpo eclesiástico é de tal importância que somente aqueles que recebem os sacramentos da Igreja contribuem para a salvação, fazendo jejuns, obras de piedade e práticas cristãs que produzem recompensas eternas, e ninguém pode ser salvo, não importa o quanto tenha doado em esmolas e até mesmo se derramou o seu sangue em nome de Cristo, a menos que tenha perseverado no seio e na unidade da Igreja Católica[1]

Mais claro do que isso é impossível. Se você fosse pagão, judeu, “herege” ou “cismático” (ou seja, qualquer coisa que não seja católico romano, para eles), você está lascado, e o “fogo eterno” está à sua espera, aguardando-lhe ansiosamente para torturar-lhe por não ter sido católico. Sem receber os sacramentos da ICAR, não adianta dar esmolas e nem mesmo ser um mártir: já era. Sem chances. Hasta la vista, baby.

Entre as teses condenadas de John Wycliffe pelo Concílio de Constança (1414-1418), está a de que “não é necessário para a salvação acreditar que a Igreja Romana é suprema entre as outras igrejas”[2]. O que implica, obviamente, que é necessário para a salvação acreditar na supremacia papal, o que manda direto para o quinto dos infernos todos os protestantes e ortodoxos.

O “Catecismo Maior”, de 1905, mantém este mesmo parecer, sob a forma de perguntas e respostas rápidas. Segue algumas delas:

153 – Então não pertencem à Igreja de Jesus Cristo as sociedades de pessoas batizadas que não reconhecem o Romano Pontifice por seu chefe?

Resposta – Todos os que não reconhecem o Romano Pontifice por seu chefe, não pertencem à Igreja de Jesus Cristo.

168 – Pode alguém salvar-se fora da Igreja Católica, Apostólica, Romana?

Resposta – Não. Fora da Igreja Católica, Apostólica, Romana, ninguém pode salvar-se, como ninguém pôde salvar-se do dilúvio fora da arca de Noé, que era figura desta Igreja.

Mais claro do que isso, impossível. As chances de alguém ser salvo fora da Igreja Romana e sem reconhecer o papa como Sumo Pontífice são as mesmas de alguém que não entrou na arca de Noé sair vivo do dilúvio, ou seja, nada. Por essa razão, o papa Bonifácio VIII, em sua bula Unam Sanctam (1302), decreta que “é absolutamente necessária para a salvação que toda criatura humana esteja sujeita ao Pontífice Romano”[3]. Sobre essa bula papal, a Enciclopédia Católica reconhece que:

“A Bula Unam Sanctam reza as proposições dogmáticas da Igreja Católica e a necessidade de se pertencer a ela para a salvação eterna. A posição do papa como líder supremo da Igreja e o dever desde então crescente de submissão ao papa com o objetivo de pertencer à Igreja e, portanto, obter salvação”[4]

E o famoso Concílio de Latrão (1123), logo em seu primeiro cânon, já dispara o que era o mais importante para a época:

"Há apenas uma Igreja universal dos fiéis, fora da qual absolutamente ninguém é salvo, em que Jesus Cristo é tanto sacerdote e sacrifício”[5]

Contudo, os documentos mais modernos da Igreja, que datam da metade do século passado para cá, tem mudado o tom de tudo aquilo que era dito até então, dando razão ao choro de tradicionalistas da Montfort que não reconhecem a autoridade do Concílio Vaticano II e ao berro dos sedevacantistas que creem que todos os últimos papas são ilegítimos e que a “cátedra de Pedro” se encontra atualmente desocupada. Na carta do S. Ofício ao arcebispo de Boston, em 8 de outubro de 1949, a história já começa a mudar, tomando rumos diferentes do que era dito até então. De repente, de uma hora pra outra, “não é sempre necessário” que esteja efetivamente na Igreja (Romana) para ser salvo:

“Para que alguém obtenha a salvação eterna não é sempre necessário que seja efetivamente incorporado à Igreja como membro, mas requerido é que lhe esteja unido por voto e desejo”[6]

Como vemos, basta “desejar” a salvação oferecida pela Igreja Romana que já é suficiente; não é mais necessário receber efetivamente os sacramentos (como diz o Concílio de Florença), nem mais necessário reconhecer o papa como Sumo Pontífice (como diz o Catecismo Maior). Agora, basta ter “vontade”...

O mesmo documento diz ainda:

"Todavia, não é sempre necessário que este voto seja explícito como o é aquele dos catecúmenos, mas, quando o homem é vítima de ignorância invencível, Deus aceita também o voto implícito, chamado assim porque incluído na boa disposição de alma pela qual essa pessoa quer conformar sua vontade à vontade de Deus”[7]

Nada de exigir submissão ao bispo romano ou ter parte efetiva nos sacramentos: agora basta ter “boa disposição” que a galera não-católica já pode entrar na arca de Noé.

O atual Catecismo da Igreja Católica mantém este mesmo parecer modernista e revisionista afirmando:

“Graças a Cristo e à sua Igreja, podem conseguir a salvação eterna todos os que, sem culpa própria, ignoram o Evangelho de Cristo e a sua Igreja mas procuram sinceramente Deus e, sob o influxo da graça, se esforçam por cumprir a sua vontade, conhecida através do que a consciência lhes dita”[8]

Veja só que maravilha: agora não precisa nem mais do “voto implícito”, que mesmo os que ignoram o Evangelho e a Igreja (Romana) já podem ser salvos se “procuram sinceramente a Deus”. Se eu procuro a Deus com sinceridade, posso ignorar o Evangelho e a Igreja Romana e ser salvo do mesmo jeito. É show de bola, ecumenismo e tolerância pra dar e vender!

O “Decreto Unitatis Redintegratio”, sobre o ecumenismo, é outra pérola rica de amabilidade e tolerância religiosa, colocando na sola do sapato aqueles documentos velhos e ultrapassados (embora ainda infalíveis) que diziam que é preciso ser católico romano para ser salvo. O documento em questão afirma:

“Também não poucas ações sagradas da religião cristã são celebradas entre os nossos irmãos separados. Por vários modos, conforme a condição de cada Igreja ou Comunidade, estas ações podem realmente produzir a vida da graça. Devem mesmo ser tidas como aptas para abrir a porta à comunhão da salvação. Por isso, as Igrejas e Comunidades separadas, embora creiamos que tenham defeitos, de forma alguma estão despojadas de sentido e de significação no mistério da salvação. Pois o Espírito de Cristo não recusa servir-se delas como de meios de salvação cuja virtude deriva da própria plenitude de graça e verdade confiada à Igreja Católica”[9]

Falando sobre os “irmãos separados” (em vez de “rebelados”, “filhos da serpente” ou “descendentes do dragão”, como os apologistas católicos nos tratam), este documento, em vez de dizer que todos os evangélicos estão condenados ao “fogo eterno” por não reconhecerem a supremacia papal e não receber os sacramentos católicos, diz que:

• Essas igrejas nossas podem realmente produzir a vida da graça.

• Essas igrejas nossas podem abrir a porta à comunhão da salvação!

• Essas igrejas nossas não estão de forma alguma despojadas do “mistério da salvação”.

• O Espírito Santo usa as nossas igrejas como meios de salvação!

Se o papa Bonifácio VIII e os bispos dos concílios de Latrão, Florença e Constança estivessem vivos hoje, morreriam do coração (ou abririam outra igreja católica sedevacantista). Os que condenaram Wycliffe por ele ter dito o mesmo que este documento católico moderno devem estar se revirando no túmulo. E os que elaboraram o Catecismo Maior teriam um enfarte se vissem que este mesmo documento católico modernista assevera que a Igreja é apenas o meio “geral” de salvação, e não mais o “único” meio:

“Só pela Igreja católica de Cristo, que é o meio geral de salvação, pode ser atingida toda a plenitude dos meios salutares”[10]

Diante disso tudo, o padre Gargamel Paulo Ricardo, sempre ele, fez um artigo engraçadíssimo onde tenta dar uma de malabarista de circo e conciliar estes documentos claramente contraditórios, mas sua tentativa foi tão miserável e fracassada que a conclusão foi que até Mahatma Gandhi poderia ser salvo!

Ele diz:

“Suponha-se que um pagão, como Mahatma Gandhi, se tenha salvado. Como homem de boa vontade, ele salvou-se unido de alguma forma ao mistério da Igreja Católica”[11]

Pelo jeito, a “arca de Noé” está ficando cada vez maior e mais espaçosa. Agora, não é preciso nem reconhecer o papa como pontífice supremo, nem receber os sacramentos, nem mesmo ser católico, porque Gandhi não era nada disso e, mesmo assim, na opinião do padre Paulo Ricardo pode ter sido salvo “misteriosamente”. Com uma arca tão grande assim, parece que o dilúvio não é um problema. A capacidade da Igreja Romana em conciliar documentos infalíveis e contraditórios entre si mediante malabarismos de Cirque du Solei é tão notável que daqui alguns séculos não estarão mais discutindo se existe salvação fora da Igreja Católica, mas se existe salvação na Igreja Católica.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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[1] Concílio de Florença, 1431-1445.
[2]Concílio de Constança, Sessão 8.
[3] Papa Bonifácio VIII, Unam Sanctam, Rome: 1302.
[4] Enciclopédia Católica. Disponível em: http://www.newadvent.org/cathen/15126a.htm
[5] Concílio de Latrão, Cânon 1.
[6] Carta do S. Ofício ao arcebispo de Boston, 8 de outubro de 1949. Cf. Denzinger-Hünnermann, n. 3867-3870.
[7]ibid.
[8] Catecismo da Igreja Católica – Compêndio, n. 171.
[9] Decreto Unitatis Redintegratio - Sobre o Ecumenismo.
[10]ibid.

Refutando calúnias contra Martinho Lutero (Em Português)

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Em meu artigo "Refutando calúnias contra Martinho Lutero" há um compilado de várias refutações às inúmeras calúnias lançadas por indivíduos desonestos e mentirosos contra o principal reformador protestante. Todavia, elas estão em inglês, razão pela qual decidi produzir este outro compilado com aquilo que já foi escrito ou traduzido ao português até o momento. Nos Estados Unidos, os apologistas católicos mentirosos e desesperados se meteram a um trabalho frenético e incansável de calúnias contra o reformador protestante, tantas que James Swan, um dos maiores estudiosos de Lutero, foi obrigado a criar um site inteiro apenas refutando centenas de calúnias católicas, que pode ser acessado clicando aqui.

Por causa do trabalho brilhante de James Swan os apologistas católicos mais sérios de lá pararam de pincelar textos, isolar citações e falsificar trechos para caluniar Lutero, mas aqui no Brasil uma turba de mentirosos safados decidiu importar as calúnias de lá para cá, em especial o embusteiro de carteirinha Fernando Nascimento, mas conhecido como Fakenando Nascimento. Eu ia linkar as refutações que este sujeito já levou na cara, mas quando eu vi que já passavam de trinta, desisti da ideia, porque teria que ficar o dia todo mostrando os inumeráveis artigos em que este sujeito pérfido já foi destruído[1]. Mesmo assim, o charlatão continua dando as caras nos debates para ser cada vez mais ridicularizado. Chega a dar pena, e olha que eu não costumo ter pena de bandido.

Fakenando é do tipo tão medíocre e desprezível que sequer chegou a ler qualquer obra de Lutero na vida. Todas as suas citações de Lutero que ele faz são apud, ou seja, citação de citação, muitas vezes tiradas de livros em alemão ou em francês, que ele obviamente jamais leu. Se limita a copiar calúnias de blogs americanos já refutados, e quando é rebatido se resume a postar outra calúnia em cima, em vez de sustentar a anterior que já foi desmascarada. Se alguém se recusasse a debater com ele enquanto ele não citasse uma fonte primária, o sujeitinho teria que ficar chorando e chupando o dedo até a volta de Jesus.

Uma das táticas mais vagabundas usadas por este pilantra nos debates é desmerecer de antemão qualquer historiador que discorde dele. É assim que ele tenta desmerecer um dos historiadores católicos mais renomados do mundo, Paul Johnson, simplesmente porque Johnson diz o contrário do que ele, como zumbi idiotizado que é, acredita e divulga como “conhecimento” à legião de ignorantes que o seguem. Para camuflar sua falta de vergonha na cara, alega que Johnson era socialista, esquecendo-se completamente que Johnson já havia abandonado seu socialismo décadas antes de escrever sua famosa obra A History of Christianity. Em contrapartida, o picareta cita como autoridade em seus artigos David Irving, um neo-nazista que até hoje nega a existência do holocausto.

Para tentar mascarar sua desonestidade intelectual e completo desconhecimento histórico sobre tudo, o pimpolho fraudulento adora fazer gracinha com as fotos pessoais dos seus oponentes, caçando as fotos deles para depois caricaturá-las pejorativamente (claro que sem nunca mostrar seu próprio rosto). Isso até o Elisson Freire pesquisar e descobrir a cara do sujeito, que não passa de um velhaco fétido e moribundo (foto abaixo), embora escreva como uma criança de doze aninhos durante recreio escolar:


Com um ser imundo desses, ninguém precisa fazer gracinha e nem memes. Basta deixar a foto do sujeito tal como ele é, que já é vexame o bastante.

O pior de tudo é que as mentiras importadas por Fakenando Nascimento dos blogs católicos americanos mentirosos e já refutados são constantemente republicados por outros sites vigaristas como o do “Macabeus Insanidades”, esse que nem mesmo as fontes secundárias sobre Lutero leu, muito menos as fontes primárias, e mesmo assim cita referências como essa:


De forma bisonha, o cidadão cita Lutero sem nenhuma fonte primária de Lutero, mas com um apud de Pére Barrielle, que por sua vez é um apud de Daniel Raffard, que por sua vez supostamente remete a Lutero (mas sem a citação da obra de Lutero!). O cara tem uma citação de citação de citação, das quais nenhuma remete à fonte original!

Claro que ele não leu Barrielle, da mesma forma que ele nunca leu Raffard e muito menos leu Lutero. Ele sequer sabe da existência dos dois primeiros, saindo copiando e colando qualquer coisa que vê pela frente. Mas na cabeça de vagabundos, qualquer coisa serve se for para caluniar Lutero – até vender a alma para o diabo, o que ele certamente já fez há muito tempo. Um sujeito que não sabe nem escrever em português e que jamais acertou uma pontuação em qualquer de seus artigos já escritos na vida, calunia Lutero com citação de citação de citação de fontes em francês, em latim e até em alemão, caindo em um ridículo sem fim que não engana nem a seus próprios leitores imbecilizados. 

Para refutar cachorro morto que sai caçando citação isolada e pincelada para caluniar Lutero em cima de livros que eles jamais leram, não é preciso fazer mais do que ler Lutero de fato. Segue abaixo alguns artigos traduzidos ou já elaborados em português (principalmente por Elisson Freire, do blog Resistência Apologética), onde o leitor pode conferir a refutação às calúnias mais rotineiras lançadas contra o reformador protestante que lutou contra a corrupção da Igreja e a Igreja corrupta:

Calúnia
Refutação
“Lutero era um assassino que se tornou monge para fugir da condenação de homicídio”
“Lutero chamou Cristo de adúltero”
“Lutero disse que Deus é estúpido”
“Lutero disse que Deus age como um louco”
“Lutero era um gnóstico pagão que dizia que Cristo era Satanás
“Melanchthon disse que Lutero era maniqueu”
“Lutero cometeu suicídio”
“Lutero era bêbado”
“Lutero causou o nazismo”
“Lutero era maçom e ocultista”
“Lutero criou uma inquisição protestante”
“Lutero retirou sete livros da Bíblia”
“Lutero disse que o Decálogo deve sumir dos nossos olhos
“Lutero era um revolucionário”
“Lutero causou a divisão”
“Lutero mandou matar camponeses”
“Lutero era um devoto mariano”
“Lutero disse para pecar fortemente”
“Lutero chamou a epístola de Tiago de palha”
“Lutero não admitia que sua doutrina fosse julgada por ninguém, nem pelos anjos”
“Lutero perdeu um debate para Johannes Eck”
“Lutero disse que o protestantismo tinha tantas seitas quanto cabeças”
“Lutero dizia que podia mentir se fosse por uma boa causa”
“Lutero mandou jogar o livro de Ester no Elba”

*Atenção: Este não é um quadro fixo. Na medida em que novos artigos em português vão sendo elaborados (ou traduzidos das fontes em inglês), eu vou acrescentando a este mesmo quadro de refutações às calúnias contra Lutero. Se você quiser conferir o quadro completo de refutações (em inglês), clique aqui.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

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[1] Um compilado de refutações ao sujeito você encontra em: https://fimdafraude.wordpress.com

Catecismo católico refuta a apologética católica

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O principal argumento da apologética católica, e às vezes o único, é o da “divisão protestante”, sobre a qual eu já escrevi dezenas de artigos que podem ser conferidos nesta tag. Argumentam os papistas apologéticos que todos os evangélicos estão hoje sob o “pecado da divisão”, porque provém da “divisão de Lutero” ou porque são divididos entre si. Quem dá o hadouken neste argumento ridículo é o próprio Catecismo Católico, que afirma:

818. Os que hoje nascem em comunidades provenientes de tais rupturas, «e que vivem a fé de Cristo, não podem ser acusados do pecado da divisão. A Igreja Católica abraça-os com respeito e caridade fraterna [...]. Justificados pela fé recebida no Batismo, incorporados em Cristo, é a justo título que se honram com o nome de cristãos e os filhos da Igreja Católica reconhecem-nos legitimamente como irmãos no Senhor» (278).

Como se vê, para o Catecismo Católico os que causaram a ruptura (no caso Lutero, na ótica deles) tem pecado, mas os que hoje nascem em comunidades provenientes dessas rupturas não têm nenhum pecado de divisão. Ou seja, o apologista católico que acusa os crentes de hoje de incorrerem em pecado de divisão está indo contra a determinação da própria norma de fé deles. E isso inclui 99% dos apologistas católicos brasileiros, que não conhecem nem seu próprio catecismo, ou que o ignoram deliberadamente.

Se nós evangélicos não temos pecado de divisão, então que arrumem outro argumento mais decente para nos acusar. Esse já era.


A doença e o fanatismo antiprotestante dos apologistas católicos são tão gritantes que conseguem colocá-los contra o próprio catecismo católico, porque só deste jeito conseguem manter de pé seu discurso de ódio e intolerância aos evangélicos. 

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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A terrível, monstruosa e abominável "Inquisição Protestante"

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(Imagem do monge rebelado pregando as teses da inquisição protestante)

Revisionismo histórico é quando um bando de sem vergonhas tenta desesperadamente mudar aquilo que está consumado perante a história mundial, mediante truques baixos e uma nova literatura formada especificamente para este objetivo. Existem, por exemplo, revisionistas nazistas, que são os “historiadores” que tentam dizer hoje que o holocausto judeu nunca aconteceu, ou que, se aconteceu, não morreu quase ninguém. Um certo Porcão que detesta o povo israelita mantém este ponto de vista inescrupuloso, assim como outros dementes por todo o mundo, inclusive alguns de batina.

No caso do catolicismo, a tentativa consiste, primeiramente, em negar absolutamente tudo o que os livros de história, os livros escolares, os historiadores do passado, a opinião popular e acadêmica, enfim, o que todos afirmaram por séculos sobre a inquisição católica. Como eles estão desesperados, perdendo fieis até para a Seicho-No-Ie e para a Umbanda, decidiram revisar tudo o que já foi escrito até então sobre inquisição para “concluir” que ela nunca existiu, ou então que nunca torturou ninguém, ou que matou meia dúzia de gatos pingados. Ou seja: a mesma estratégia dos neo-nazistas.

Mas a apologética católica, mentirosa como sempre, não se contenta apenas em negar os horrores da inquisição real. Nos últimos anos, alguns lunáticos foram além, chegando até mesmo a inventar uma monstruosa e abominável “inquisição protestante”(!), essa sim uma inquisição de verdade, terrível, assombrosa, que matava um tantão de gente, e que por alguma razão misteriosa nunca constou nos livros de história, embora curiosamente pipoque de montão nos blogs católicos. É como se um nazista, não satisfeito em negar o holocausto nazista, ainda dissesse que o “verdadeiro” holocausto foi dos judeus matando milhões de nazistas...

Sem ter conta do senso do ridículo, os picaretas ainda conseguem iludir um punhado de zumbis bitolados que tem horror aos livros de história e que, em vez de lê-los, prefere ver videozinhos do padre GargamelPaulo Ricardoou do Paulo Porcão (ou pior ainda, ler o Fakenando Nascimento). Alguns chegam a descer mais ainda, ao ponto de se basear em artigos de um astronauta católico.

O que eles chamam de “inquisição protestante”, na verdade, jamais foi uma inquisição e muito menos tinha este nome. Trata-se de alguns eventos isolados sem nenhuma conexão entre si, que os vigaristas juntam em um artigo tosco e tentam relacionar todos eles a uma fantasmagórica e lendária “inquisição protestante”. De todos os casos citados, o que é sempre o mais referido em 99% das vezes é o da guerra dos camponeses, em que Lutero teria sido responsável pelo assassinato de 30 mil camponeses. Daí concluem que Lutero criou uma “inquisição” para matar os pobres camponeses indefesos...

O livro que todos eles citam (um copiando do outro), mas que nenhum deles leu, é a “História Universal”, de Veit Valentin. Por coincidência, encontrei este livro na biblioteca enquanto procurava por mais livros sobre Idade Média, Cruzadas e Reforma Protestante. Passei essa última semana lendo os dois volumes e vi, como já era de se esperar, a forma com que os embusteiros sem caráter tiraram totalmente do contexto as palavras de Valentin e todo o contexto que envolve a guerra dos camponeses. Irei deixar para comentar especificamente sobre este livro deturpado pelos apologistas católicos em um artigo dos próximos dias, e aqui me limitarei apenas a mostrar o que o autor diz sobre essa tal “inquisição” protestante.

A citação de Valentin que eles tiram do contexto e que é repetida à exaustão pelos blogs católicos é a seguinte:

“Infrutíferos, que Münzer crescia, pôs-se ao lado das autoridades e descarregou como uma bomba o seu escrito... Um documento de inclemência e de ódio, só compreensível como uma arma de combate contra o diabo, que Lutero via em Münzer e nos seus... Sufocaram a revolução dos camponeses com crueldade que mesmo naqueles rudes tempos causou horror. O furor, as torturas, as violências e as batalhas, pareciam que não teriam mais fim; pelo menos 30.000 camponeses perderam a vida”

O catoleigo sem instrução e sem conhecimento histórico que lê uma citação como essa, cheia de reticências, cortes e totalmente pincelada, pensa que o Lutero malvadão mandou matar 30.000 camponeses indefesos, que, pobrezinhos, nada estavam fazendo de errado e nada podiam fazer para se defender dessa monstruosa “inquisição protestante” armada pelo monge rebelado filho da serpente...

O que os vigaristas escondem é que o próprio Valentin, ao longo de todo o livro, faz questão de ressaltar que estes camponeses eram revolucionários arruaceiros, saqueadores, que destruíam tudo por onde passavam e que ameaçavam matar bem mais gente para levar adiante aquela que seria a primeira revolução da história, se não tivesse sido repelida pelo Estado. O autor em questão afirma:

“Em Zurickan surgiu uma corrente profética mística que se propagou até Wittenberg provocando tumultos e fervores fanáticos e degenerando numa lamentável e estúpida fúria iconoclasta. Movimentos semelhantes, verificaram-se em muitas outras localidades. Lutero tinha horror a esse proselitismo, nada lhe repugnava mais do que a multidão enfurecida e sequiosa de destruição[1]

Quem assistiu ao filme de Lutero deve se lembrar desta parte. Os camponeses revoltados, até aquele momento simpatizantes de Lutero, tumultuavam, saqueavam e destruíam tudo o que viam pela frente, sendo severamente repreendidos pelo próprio Lutero, que fez questão de mostrar que não era a favor deste movimento e que o repugnava. Mas os camponeses furiosos não queriam saber da opinião de Lutero, e continuavam fazendo suas bandidagens por onde passavam. Veit escreve:

“Bastilhas e mosteiros foram demolidos por eles, os bens monásticos divididos, o nobre dali por diante teria de viver como o camponês, a proteção do núcleo de seu patrimônio ficava a cargo de um ‘conselho rural’. Pior foi a destruição de preciosos monumentos eclesiásticos, tesouros de arte e bibliotecas; execráveis foram os maus tratos e o escárnio a que se submeteram os padres, monges e freiras”[2]

Como vemos, estes camponeses extremistas, muito diferente do que os apologistas católicos mentirosos tentam nos passar, não eram pessoas pacíficas e amigáveis que foram repelidas pela força do Estado em função de uma suposta “inquisição protestante”. Muito pelo contrário: eram bandidos travestidos de “revolucionários”, sobre os quais Valentin diz que lutavam por“um comunismo elementar de subsistência”[3]. Eram um MST numa versão muito mais agressiva, extremista e radical. Valentin deixa claro que Lutero era totalmente contra o que eles vinham fazendo:

“A Lutero desagradavam profundamente todas essas coisas. Seu reino não era deste mundo; realmente importante para ele só podia ser a eternidade; se o temporal queria impor-se assim não o toleraria. E dirigiu-se como conciliador a ambas as partes; atirou-se, impávido como sempre, ao encontro do aniquilamento, tentando conciliar. Quando viu que seus esforços eram infrutíferos, que Münzer crescia, pôs-se ao lado das autoridades e descarregou como uma bomba o seu escrito: ‘Contra os bandos de camponeses assassinos e ladrões’”[4]

Ou seja: mesmo vendo que os camponeses eram radicais, extremistas, revolucionários e que representavam uma ameaça real à segurança da nação, ele ainda fez questão de tentar primeiro pelas vias conciliatórias, tentando convencê-los a parar com a bandidagem. Mas ele não conseguiu. Os camponeses revoltados eram intransigentes e estavam absolutamente determinados a levar a cabo a “revolução”. Só depois que Lutero viu que não tinha como se omitir e muito menos como convencer os camponeses a mudar de atitude, é que ele escreve sua obra em que defende que o poder civil faça uso da força para reprimi-los.

Mesmo assim, Valentin é claro em dizer que os príncipes não fizeram a matança por causa de Lutero, porque, de uma forma ou de outra, eles iriam defender seu território contra a revolta:

“E afinal os príncipes, os nobres, a Liga Suábia não precisavam das advertências luteranas para se defenderem. Sufocaram a revolução dos camponeses com uma crueldade que mesmo naqueles rudes tempos causou horror...”[5]

Só um asno sem cérebro acredita mesmo que os príncipes do Estado, vendo seus territórios sendo conquistados, seus patrimônios sendo depredados e a vida deles e de suas famílias sendo colocadas em risco, mesmo assim não matariam ninguém se não fosse pelo Lutero malvadão escrever um livro em que defende essa atitude...

Na posição em que Lutero se encontrava, ele não podia ser omisso. Ele tinha duas opções: ou ficava do lado dos camponeses, ou ficava do lado do Estado. Se ele ficasse do lado do Estado, não teria como combater um exército gigante de camponeses revoltados com flores nas mãos, da mesma forma que não dá para vencer os terroristas do ISIS com balas de borracha. Em uma luta corpo-a-corpo, é matar ou morrer.

Naquelas condições, Lutero escolheu a primeira opção. O único erro do Estado foi ter usado uma força excessiva, praticando tortura (de acordo com o que diz Valentin). Mas Lutero em momento nenhum disse para torturar os camponeses, apenas para defender o território e matar em um contexto de guerra. E vale ressaltar, mais uma vez, que o próprio Valentin disse que a opinião de Lutero foi irrelevante. Os príncipes iriam defender seu território independentemente da opinião de Lutero.

Alguém poderia ainda sugerir que seria melhor que Lutero tivesse ficado ao lado dos camponeses, então. É o que os apologistas católicos, que não entendem porcaria nenhuma do que estava acontecendo, parecem sugerir. No entanto, a história nos mostra as consequencias catastróficas de uma revolução comunista. Essas revoluções já mataram mais de 100 milhões no mundo, dados extraídos do “Livro Negro do Comunismo”, e continuam matando até hoje. Junto a isso, o comunismo sempre trouxe consigo profunda decadência econômica, favorecendo com isso regimes ditatoriais, trabalhos forçados e outros milhões que morrem de fome.

Ou seja: por pior que possa ter sido a morte de 30 mil arruaceiros revolucionários, pode apostar que seria muito pior se o contrário tivesse ocorrido, isto é, se os revolucionários tivessem ganhado a guerra e implantassem um regime comunista naquele lugar. Não apenas um tanto muito maior de pessoas morreria, como também acarretaria em uma enorme crise econômica por toda a Alemanha, que muito dificilmente seria a potência mundial que é hoje. Gerações após gerações viveriam na miséria, na fome e no caos. Isso sem falar no fato óbvio de que uma revolução bem sucedida dos camponeses alemães iria suscitar novas revoluções no resto do mundo; afinal, os demais camponeses iriam criar esperanças de sucesso ao ver as conquistas do outro, o que resultaria em mais banho de sangue.

Valentin não diz quantos camponeses estavam lutando, mas outro historiador, David Christie-Murray, diz que eram 300 mil(!), um exército enorme para os padrões da época, muito superior a qualquer cruzada católica em direção à Terra Santa. Um exército de 300 mil revolucionários baderneiros era um potencial para um baita estrago na Europa, se tivessem vencido a guerra. Se isso tivesse acontecido, Lutero seria hoje responsabilizado pelos católicos por ser o primeiro “revolucionário”, ou seja, por ser o primeiro líder da primeira grande revolução bem-sucedida no planeta. Mas como ocorreu o inverso, Lutero é culpado mesmo assim: mas por ter ficado contra os camponeses!

Para os apologistas católicos, Lutero seria culpado de um jeito ou do outro. Ele sempre tem que estar errado sobre tudo. Se ficasse do lado dos camponeses, seria o culpado pela morte dos civis inocentes que não escapariam das mãos dos revolucionários. Por ter ficado do lado oposto, passou a ser o culpado pela morte dos camponeses assassinos que tocavam o terror na Alemanha, mas que mesmo assim são descritos da forma mais bonitinha possível pelos apologistas católicos, que pensam que Lutero mandou matar pobres inocentes indefesos em um contexto de paz e amor...

Valentin descreve esses camponeses bonzinhos da apologética católica de “comunistas-terroristas”:

“Em Münster na Westfália ocorreu uma série de movimentos espirituais: oposição rústico-burguesa, agitação apocalíptica. Surgiu o Estado anabatista, notável pelo fanatismo quanto à fé e ambição de poder terreno, uma temerária tentativa de criar na grande família uma nova sociedade comunista-terrorista. Todos os vizinhos coligaram-se contra essa revolução fantástica e prepararam um fim horrível aos seus prosélitos e líderes, o ‘rei’ João de Leiden na sua frente”[6]

E a prova mais clara de que o próprio Valentin não culpava Lutero por este episódio está nas próprias descrições do autor sobre o reformador protestante. Ele escreve sobre o “monge rebelado”:

“Sua influência crescia, todos lhe pressentiam a superioridade não só no saber, e na consciência, como no caráter. O caráter alemão personificado em ação, genuíno, desprendido, espiritual, sobretudo moralmente seguro de si, impregnado do sentimento nacional, estava concentrado nele humana e espontaneamente e por isso mesmo mais arrebatador”[7]

E também:

“Lutero, este verdadeiro alemão, é, num sentido elevado, digno de estima. Nele cascateava caudalosa a torrente de Deus; nisto foi único, não tendo tido sucessores”[8]

E também:

“O luteranismo conservou sempre algo de quietista; era, se não um isolamento monástico do mundo, um isolamento do grande no pequeno mundo, um renunciar às lutas políticas históricas para entregar-se ao tranquilo convívio de todos os dias com os seus pequenos e agradáveis prazeres”[9]

Quem é, em sã consciência, que, conhecendo a história de um bêbado malvadão que mandou matar na “inquisição protestante” 30.000 camponeses inocentes bonzinhos que não fizeram nada de errado, ainda assim o descreve como sendo um exemplo no caráter, genuíno, espiritual, “verdadeiro alemão”, digno de estima, que estava sob a torrente de Deus, e cuja vertente religiosa era “quietista” e renunciava às lutas políticas para ter um convício tranquilo e pacífico com todas as pessoas? Está óbvio que os canalhas da apologética católica estão distorcendo grosseiramente as palavras de Veit Valentin, de forma sorrateira e criminosa, esperando que ninguém leia o livro referenciado para desmascará-los.

Em suma, o autor citado pelos apologistas católicos para embasar uma suposta “inquisição protestante”:

Nunca descreveu a guerra dos camponeses como sendo uma “inquisição”, muito menos protestante.

Nunca disse qualquer coisa sobre aquilo ser fruto de intolerância religiosa (os camponeses eram, inclusive, simpatizantes de Lutero, que tentava convencê-los na base do diálogo a deixar a bandidagem).

Nunca retratou esses camponeses como “inocentes”. Ao contrário: disse que eram bandidos, saqueadores, que depredavam as igrejas, quebravam as imagens, destruíam as bibliotecas e tentavam criar uma «nova sociedade comunista-terrorista»!

Nunca disse que Lutero foi o “responsável” pela morte dos camponeses no campo de batalha. Ao contrário, disse que a opinião de Lutero era irrelevante, porque de qualquer forma os príncipes iriam defender seus territórios assim mesmo.

Nunca disse que Lutero cometeu um erro ao ficar do lado do poder civil e contra os camponeses revolucionários. Ao contrário, ressaltou que Lutero era um exemplo de caráter, genuíno, espiritual e digno de estima.

Essa, amigos, foi a terrível, monstruosa e abominável “inquisição protestante”, inventada diretamente pelos lunáticos da apologética católica.

Agora já podemos voltar a falar da inquisição católica, ou seja, a que existiu. Para o lixo o revisionismo mentiroso.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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[1] VALENTIN, Veit. História Universal – Tomo II. 6ª ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1961, p. 259.
[2]ibid, p. 263.
[3]ibid, p. 264.
[4]ibid, p. 264.
[5]ibid, p. 265.
[6]ibid, p. 275.
[7]ibid, p. 252.
[8]ibid, p. 274.
[9]ibid, p. 278.

O que diz o livro que os católicos citam sem ler

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Há poucos dias publiquei aqui o artigo intitulado "A terrível, monstruosa e abominável Inquisição Protestante", onde investigo o principal livro utilizado pelos apologistas católicos para sustentar – mediante um único parágrafo pincelado, distorcido e recortado – a existência de uma suposta “inquisição protestante”, da qual o autor do livro realmente nunca falou. Como eu mostrei no artigo em questão, o autor citado pelos apologistas católicos para embasar uma suposta “inquisição protestante”:

Nunca descreveu a guerra dos camponeses como sendo uma “inquisição”, muito menos protestante.

Nunca disse qualquer coisa sobre aquilo ser fruto de intolerância religiosa (os camponeses eram, inclusive, simpatizantes de Lutero, que tentava convencê-los na base do diálogo a deixar a bandidagem).

Nunca retratou esses camponeses como “inocentes”. Ao contrário: disse que eram bandidos, saqueadores, que depredavam as igrejas, quebravam as imagens, destruíam as bibliotecas e tentavam criar uma «nova sociedade comunista-terrorista»!

Nunca disse que Lutero foi o “responsável” pela morte dos camponeses no campo de batalha. Ao contrário, disse que a opinião de Lutero era irrelevante, porque de qualquer forma os príncipes iriam defender seus territórios assim mesmo.

Nunca disse que Lutero cometeu um erro ao ficar do lado do poder civil e contra os camponeses revolucionários. Ao contrário, ressaltou que Lutero era um exemplo de caráter, genuíno, espiritual e digno de estima.

Mas para expor de uma vez por todas ainda mais a safadeza e canalhice de Fernando Nascimento, Montfort, Paulo Leitão, Cris Macabeus, Oswaldo Garcia e o caramba a quatro que copiam a mesma citação em todos os sites católicos do Brasil (sem jamais terem lido o livro que citam em seus artigos), vou transcrever aqui para os católicos o que este livro que eles citam diz, para que eles pensem duas vezes antes de continuar usando este historiador como autoridade.


O que Veit Valentin tem a dizer sobre a jurisdição do bispo de Roma no início da Igreja:

“Uma contingência memorável e única tinha feito papa do bispo de Roma – desse bispo que no começo era só um bispo como os outros e que dentro em pouco gozou dum imenso prestígio como senhor da comunidade da velha capital do mundo, como dirigente da ação dos estados dos príncipes apostólicos”[1]


O que Veit Valentin tem a dizer sobre as falsificações da Igreja Romana:

“Por esse tempo deu-se em Roma também uma das mais célebres falsificações da história, a chamada Doação de Constantino, pela qual Constantino, o Grande, conferia ao papa ascendência sobre todos os patriarcas, concedia-lhe inúmeras honrarias e presenteava-o com a posse de toda a Itália e territórios ocidentais. Essa falsificação mostra a que extremos as ambições de poder do papa poderiam chegar[2]


O que Veit Valentin tem a dizer sobre a criação da Igreja Romana atual:

“Havia muito que fazer: a muito recomendada ruptura com a Igreja grega [em 1054 d.C] foi agora definitivamente ultimada, o que tornou possível a criação da nova Igreja Romana, sem nenhuma ligação com a outra[3]


O que Veit Valentin tem a dizer sobre o progresso nos países católicos-romanos medievais:

“Bizâncio e reinos islamitas apresentavam, comparados com a modéstia agrária e atraso dos Estados germânicos, especialmente os do norte dos Alpes, economicamente uma enorme superioridade”[4]

“Esse mundo oriental, a cujas portas estava Constantinopla ávida de lucros, parecia ao primitivo e rude mundo ocidental como um empório inesgotável dos tesouros da terra!”[5]


O que Veit Valentin tem a dizer sobre a sede de poder dos papas:

“O papado, assim se expressou ele [Inocêncio III], está colocado entre Deus e a humanidade como o governo de Cristo; exerce por isto o verdadeiro principado sobre toda a terra, tem o direito de admoestar todos os cristãos e por isto o direito de arbitragem e o de exercê-lo em todas as disputas profanas e perante todos os governos terrenos. O papa é ao mesmo tempo o bispo máximo e o imperador sobre a terra. Era a velha doutrina do imperador e Sumo Pontífice”[6]

“Herdeiro do antigo poder absoluto romano, profeta espiritual e temporal, exercendo uma soberania ao mesmo tempo ocidental e ecumênica. O papa [Gregório VII], foi ele o primeiro que o quis e conseguiu, seria o rei dos reis e imperador dos imperadores; assim como todo o sacerdote deve ter primazia sobre o rei e o duque e o papa sobre todos os poderes terrestres. Se São Pedro é o senhor do mundo terreno e os apóstolos dispõem do céu e da eternidade com tanto mais certeza disporão das coisas deste mundo, dos seus bens e de tudo o que diz respeito à vida secular”[7]

“O papa, como senhor absoluto, impunha sua autoridade sobre todas as coisas, a vida e a salvação eterna e podia exercer uma influência decisiva sobre os destinos humanos, o prestígio, a felicidade conjugal, o sucesso e até obre as consciências, os bispos, abades, padres até ao último capelão dentro dos limites de suas circunscrições não só exigiam o respeito natural, como a obediência incondicional”[8]


O que Veit Valentin tem a dizer sobre o saque de Constantinopla:

“Constantinopla foi ultrajada e saqueada. Cristãos romanos se atiraram com incrível ferocidade contra os cristãos gregos, para eterna vergonha de sua confissão e de seus créditos de cavaleiros. Nesta rapina ignominiosa perderam-se tesouros insubstituíveis, herança da antiguidade. Mais ainda, a Roma Ocidental vingava-se tardiamente da Roma Oriental, destruía na sua cegueira o último baluarte do Império contra o islamismo e erigia em lugar do enfraquecido Império grego algo muito mais fraco: aquele Império latino, uma instituição artificial, improvisada com elementos heterogêneos, balda de ideias e tradições, uma criação inerte”[9]


O que Veit Valentin tem a dizer sobre o dízimo cobrado pela Igreja Católica:

“A Igreja manteve por toda a parte com grande êxito a luta pelos dízimos. Donativos, dispensas, as espórtulas e os emolumentos dos serviços espirituais aumentavam notavelmente as rendas do clero”[10]


O que Veit Valentin tem a dizer sobre a falsificação de relíquias medievais:

“A feição mais triste do mundo religioso da época era a falta de escrúpulos com que se falsificavam relíquias e documentos muitas vezes dum modo lamentavelmente grosseiro, outras com perfeição, mas que a escassa crítica dos tempos deixava passar como provas suficientes para justificar uma veneração ou assegurar o direito a uma posse. A própria Cúria romana dava disso o mais eloquente exemplo”[11]


O que Veit Valentin tem a dizer sobre a perseguição da Igreja Católica aos valdenses:

“Diante da crescente secularização e corrupção tinha que acentuar-se a necessidade dum espírito e dum modo de proceder mais verdadeiramente cristãos. Um mercador lionês, Pedro Valdo, distribuiu todos os seus bens em 1173 e entregou-se a uma vida de pobreza apostólica, mendigando e pregando a penitência. Muitos aderiram a ele e, embora perseguidos, conseguiram manter-se nos vales alpinos ocidentais mais obedientes ao seu Deus do que aos homens”[12]


O que Veit Valentin tem a dizer sobre a perseguição da Igreja Católica aos albigenses:

“Recorreu à abominável matança de inocentes sob a liderança de clérigos, complicando-se a luta com a mistura de interesses inteiramente seculares e ambições de mando e predomínio e deixando cair devastado nas mãos dos monarcas franceses o belo e infeliz Meio-dia. Tudo isso se fez em nome e sob sinal da cruz! Talvez tenha sido ainda mais vergonhoso o extermínio dos infelizes camponeses ‘stadinghs’ pela cruzada contra eles. Não quiseram pagar o dízimo ao arcebispo de Bremen e foram por isso eliminados como hereges”[13]


O que Veit Valentin tem a dizer sobre a Inquisição:

“O frade espanhol Domingos fez da luta contra os hereges a tarefa primordial de sua vida. Um homem douto, combativo, pregador emérito, organizador incomparável – a Ordem Dominicana era obra instituída de conformidade com princípios de direito romano pela Cúria, para combater a heresia. Conrado de Marburgo, o fanático e bárbaro carcereiro de Sta. Izabel, inebriou-se com as sangrentas fantasias da cruzada como primeiro inquisidor alemão. O Santo Ofício quase não permitia a defesa do infeliz acusado; recorria à prova do fogo e da água, à tortura também e servia-se dum abominável sistema de espionagem contra o qual nenhum velho costume tradicional e nenhum resto de antigas crenças estava seguro, mandava os culpados para a fogueira do poder civil e enriquecia-se com uma parte de seus bens. As consequencias desse terror tinham que ser a destruição do sentimento de justiça, o ódio e o pavor”[14]


O que Veit Valentin tem a dizer sobre a cristandade romana:

“A cristandade romana era unidade e caos, ambicionava o domínio universal e estava manchada pelo fraticídio, afirmava a sagrada justiça com a autoridade da espada, mas suspirava realmente entre a contradição dos dois direitos, o canônico e o temporal”[15]

“A alegre tranquilidade e a segurança tornaram-se uma irrealidade, a vida conforme a harmonia terrena e divina só pôde ser realizada por alguns indivíduos ou grupos. Para a coletividade deixara de existir, para ela só ficara a velha senda do vácuo. A realidade tornou-se dura, bárbara, em parte desenfreada e malfazeja. A Igreja Romana não pôde absolutamente, com o seu estilo de Cristianismo, criar uma forma tolerável, absolutamente superior para a vida da humanidade em comum. E por isso nesta transição de época reinam o desespero, a perturbação, a renúncia ao antigo. Contra a Igreja pontífica surge a reforma confessional, contra o império a instituição dos principados, contra a universidade da cristandade latina a evolução nacional das culturas particulares dos povos, contra o feudalismo agrário o espírito mercantil burguês das cidades, contra o escolasticismo dos teólogos a livre investigação científica”[16]

“O respeito nas famílias estava muito fora de moda. Os filhos riam dos pais. A rebelião do filho contra o pai era comum na Idade Média, isto agora porém era novidade. O matrimônio era desdenhado como uma servidão desprezível; a Igreja Romana, mesmo com a santificação do matrimônio como um sacramento, nunca conseguiu alcançar a realização prática da monogamia”[17]


O que Veit Valentin tem a dizer sobre a perseguição a Wycliffe e seus seguidores:

“Os tribunais de heresias perseguiam desapiedadamente o espírito de Oxford. Muitos de seus membros foram abalados por terríveis ameaças, outros foram queimados; a despeito dessas perseguições os adeptos de Wycliffe, os Lollards, mantiveram-se fieis à doutrina de seu grande pregador; até ao fim do século quinze o lollardismo continuou como uma corrente subterrânea, e o espírito do grande reformador preparou o caminho para a Reforma”[18]


O que Veit Valentin tem a dizer sobre a venda de indulgências:

“O comércio das indulgências era, havia muitos anos, uma fonte de lucros para a Igreja Romana. Que o jovem príncipe Hohenzollern Alberto, arcebispo eleitor de Maiença, tivesse de pagar a Cúria devido à acumulação de cargos uma contribuição extra de 10.000 ducados e que para pagar a metade dessa soma se tivesse comprometido a vender as indulgências concedidas pela Bula o Jubileu da Igreja de S. Pedro não tinha em si nada de extraordinário; mas os abusos, a má aplicação do produto desse comércio, exploração da ingênua credulidade por intermédio de grosseiros propagandistas da Ordem Dominicana podiam proporcionar os elementos para uma eficiente e justificada campanha”[19]


O que Veit Valentin tem a dizer sobre Lutero e o luteranismo:

“Sua influência crescia, todos lhe pressentiam a superioridade não só no saber, e na consciência, como no caráter. O caráter alemão personificado em ação, genuíno, desprendido, espiritual, sobretudo moralmente seguro de si, impregnado do sentimento nacional, estava concentrado nele humana e espontaneamente e por isso mesmo mais arrebatador”[20]

“Surgiu assim a nova doutrina do verdadeiro Cristianismo. O que ele aspirava sempre, o que continuava pedindo, foi e ficou sendo espiritual, a pureza religiosa devia ser recuperada, independente da hierarquia. Das forças temporais não esperava senão a proteção para essa liberdade cristã”[21]

“Lutero, este verdadeiro alemão, é, num sentido elevado, digno de estima. Nele cascateava caudalosa a torrente de Deus; nisto foi único, não tendo tido sucessores”[22]

“O luteranismo conservou sempre algo de quietista; era, se não um isolamento monástico do mundo, um isolamento do grande no pequeno mundo, um renunciar às lutas políticas históricas para entregar-se ao tranquilo convívio de todos os dias com os seus pequenos e agradáveis prazeres”[23]


O que Veit Valentin tem a dizer sobre o trabalho na perspectiva protestante:

“Se o supremo ideal católico era o ascetismo, a fuga do mundo, o protestantismo adquire no novo conceito de profissão uma consagração do trabalho cotidiano, dignifica-o, elevando-o como algo altamente moralizador, como algo que deve ser feito espontaneamente. Lutero na sua tradução da Bíblia dera à palavra ‘profissão’ esta nova e eloquente significação. Não é o moderno capitalismo como tal que tem um pronunciado caráter protestante e sim esse sentido ético do ofício, da profissão, que, alheio aos gozos da vida, é a afirmação do trabalho metódico racional como tal”[24]


O que Veit Valentin tem a dizer sobre o caráter e o modus operandi de Inácio de Loyola:

“Realiza-se assim com desígnio político, uma racionalização de toda a ética, perigosa não só pelos processos como pela degeneração que podem facilmente produzir-se. O próprio Loyola declarava explicitamente que para combater o demônio podia-se recorrer a todos os meios de que este se servia para perder as almas”[25]


O que Veit Valentin tem a dizer sobre o massacre dos protestantes na Noite de São Bartolomeu:

“Foi esse negregado acontecimento histórico, manchado pela mais bestial sede de sangue e cegueira, pela vil cobiça pessoal e vergonhoso regozijo pelo mal alheio, um triunfo político para a causa do catolicismo”[26]

É nisso que dá quando um bando de jumentos copia uns dos outros um trecho recortado e distorcido de um livro que eles nunca leram, citando como autoridade um autor que desce o cacete no catolicismo no livro todo, e que jamais compactuaria com o revisionismo hipócrita desses “apologistas” de meia tigela.

Toda vez que você ver analfabetos obscenos como o Macabeus, velhacos moribundos como o Fakenando, palhaços de circo como o Leitão e astronautas como o saco de pancadas oficial do protestantismo citando o mesmo trecho recortado do mesmo livro, pode apostar duas coisas: que nenhum deles leu o livro e que estão citando como autoridade um autor que desconhecem completamente, cruzando os dedos e rezando o terço para que ninguém leia o livro citado e desmascare a fraude.

A não ser que os palhaços da apologética católica estejam dispostos a admitir cada palavra que Veit Valentin citou no livro que eles não leram – inclusive que a Igreja Católica falsificava documentos, assassinava inocentes, promovia chacinas, recorria à tortura, lucrava com venda de indulgências e fomentava o terror –, que deixem de citar como autoridade um autor que teria nojo de uma apologética tão nefasta, mentirosa, falsa e descarada como a moderna apologética católica no Brasil, representada por sujeitos da mais baixa índole e moral.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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[1] VALENTIN, Veit. História Universal – Tomo I. 6ª ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1961, p. 262.
[2]ibid, p. 264-265.
[3]ibid, p. 302.
[4] VALENTIN, Veit. História Universal – Tomo II. 6ª ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1961, p. 20.
[5]ibid, p. 21-22.
[6]ibid, p. 42-43.
[7] VALENTIN, Veit. História Universal – Tomo I. 6ª ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1961, p. 306-307.
[8] VALENTIN, Veit. História Universal – Tomo II. 6ª ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1961, p. 60.
[9]ibid, p. 45-46.
[10]ibid, p. 59.
[11]ibid, p. 60-61.
[12]ibid, p. 61.
[13]ibid, p. 61.
[14]ibid, p. 62.
[15]ibid, p. 77.
[16]ibid, p. 86.
[17]ibid, p. 96.
[18]ibid, p. 129-130.
[19]ibid, p. 251.
[20]ibid, p. 252.
[21]ibid, p. 257-258.
[22]ibid, p. 274.
[23]ibid, p. 278.
[24]ibid, p. 273.
[25]ibid, p. 288.
[26]ibid, p. 321-322.

“Roma locuta est; causa finita est” (“Roma falou, a causa acabou”). Ou não...

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São várias as citações patrísticas adulteradas ou tiradas do contexto pelos papistas, mas nenhuma se compara a Roma locuta est; causa finita est, repetida à exaustão por todos os que nunca leram o sermão em questão de Agostinho e muito menos estudaram o contexto da tal citação (que sequer chega a ser uma citação, mas uma paráfrase em cima da citação!). Vergonhosamente arrancada de seu contexto original, Roma locuta est; causa finita est é usada há tempos para fundamentar o que Agostinho jamais defendeu: a infalibilidade do bispo romano, ou a pretensa “autoridade final” do mesmo.

Antes de ler este artigo, recomendo ao caro leitor a leitura de um artigo do "Conhecereis a Verdade" sobre o mesmo tema, escrito em 2012, disponível clicando aqui. Ele explica melhor e de forma mais detida o contexto tanto da citação em si como também do contexto histórico em que ela se inseria. Confiram também a caixa de comentários do mesmo artigo, onde ele refuta o palhaço católico conhecido como astronauta, que fez um texto ridículo e miserável sobre o tema onde se enrola todo para no final admitir que se trata mesmo de paráfrase e adulterar descaradamente o que dois historiadores protestantes disseram sobre a questão, sem refutar nada do artigo do Hugo.

Para não ficar apenas repetindo aqui o que já foi dito pelo Hugo no artigo dele, recomendo a leitura do artigo dele antes de continuar a leitura do meu. Tendo feito isso, vejamos novamente o que Agostinho realmente disse:

"Já sobre esta causa dois concílios foram enviados à Sé Apostólica, donde também rescritos chegaram. A causa está terminada. Que o erro possa igualmente terminar”

Onde está o Roma locuta est; causa finita est? Em lugar nenhum, apenas se parafrasearmos o texto, como os apologistas católicos fazem. Mas da mesma forma que alguém pode fazer uma paráfrase com “Roma falou, a causa acabou”, também poderia parafrasear dizendo que “dois concílios falaram, e a causa acabou”. É por isso que paráfrase, especialmente quando feita por sujeitos desonestos e sem caráter, é quase sempre uma interpretação tendenciosa e manipuladora daquilo que foi dito por outro. O contexto some, e o “apologista” se sente livre e à vontade para arrancar as palavras que quiser dentre o todo para fazer a lambança necessária.

Isso me lembra muito o texto vergonhosamente adulterado pelo Fakenando Nascimento, onde Cipriano supostamente dizia que “Roma é a matriz e o trono da Igreja Católica”. A referência indicada é da “Epístola 48” de Cipriano, que não diz isso em lugar nenhum (veja aqui). Mesmo o malandro dizendo que arrancou essa citação do “Hartel” e não do “New Advent”, ela ainda permanece inexistente, visto que não aparece em nenhuma das cartas de Cipriano, independentemente da numeração (veja aqui). A citação mais perto disso e que é geralmente fornecida por outros apologistas católicos vem da Epístola 44 de Cipriano, que diz isso aqui:

"Porque nós, que fornecemos todas as pessoas que navegam daqui com um plano para que possam navegar sem qualquer ofensa, sabemos que os exortamos a reconhecer e manter a raiz e matriz da Igreja Católica”

Como vemos, o texto só tem dois probleminhas:

Não fala de "Roma" em lugar nenhum.

Não fala de "trono" em lugar nenhum.

Ou seja: os apologistas católicos inventam uma paráfrase onde Roma é o trono da Igreja Católica, quando na citação original não tem nem Roma e nem trono...

Voltando ao texto de Agostinho em questão, e o analisando perante o devido contexto, o que ele basicamente estava dizendo era que:

• Dois concílios (africanos) haviam sido realizados para tratar a questão (do pelagianismo).

• Esses dois concílios decidiram contra o pelagianismo.

• Os bispos daqueles concílios também enviaram mensagem ao bispo de Roma, inquirindo-o a respeito do pelagianismo.

• O bispo de Roma também ficou contra o pelagianismo.

• Então, a questão foi encerrada.

Note que a questão não foi encerrada simplesmente porque o bispo de Roma disse, mas porque dois concílios e também o bispo de Roma se opuseram ao pelagianismo. Portanto, usar este texto como prova da infalibilidade do bispo romano é tão de má-fé quanto usá-lo como prova da infalibilidade dos concílios africanos locais. Além disso, se a palavra do bispo romano fosse considerada autoridade final e normativa em si mesma, por que raios os bispos africanos teriam todo o trabalho de se reunir em dois concílios para tratar exaustivamente a questão? Bastaria apenas enviar uma carta ao bispo de Roma e pronto – todas as discussões teológicas acabavam em um passe de mágica. Contudo, qualquer um que não seja um completo abestalhado e total ignorante de história patrística sabe que as coisas não funcionavam assim.

Mas, afinal de contas, por que os concílios africanos enviaram a mensagem a Roma? Segundo os pobres apologistas católicos, é porque o bispo romano era um tipo de ser supremo cuja palavra não poderia ser contradita nem a pau, uma espécie de entidade mágica com todas as respostas infalíveis em sua cartola. Todavia, basta um exame simples no contexto histórico para vermos que não há nada mais longe da verdade. O historiador Abbe Guettee, no trecho citado no artigo do Hugo, mostra-nos o porquê que os bispos africanos enviaram carta a Roma, e como isso não tinha absolutamente nada a ver com uma “autoridade final” ou “infalibilidade papal”:

“Os bispos africanos condenaram os erros de Pelágio em dois concílios, sem pensar em Roma ou na sua doutrina. Os pelagianos então expuseram, para opor-se a eles, a alegada fé de Roma, a qual diziam harmonizava-se com a sua. Em seguida, os bispos africanos escreveram a Inocêncio, a perguntar-lhe se a afirmação dos pelagianos era verdadeira. Eles foram levados a isso porque os pelagianos tinham grande influência em Roma. Eles não escreveram ao papa para lhe pedir uma sentença que devesse guiá-los, mas para que pudessem silenciar aqueles que afirmavam que a heresia era mantida em Roma. Inocêncio condenou-a e, portanto, Agostinho diz: ‘Tu fingiste que Roma estava contigo; Roma te condena, tu também foste condenado por todas as outras igrejas, por isso o caso está terminado’. Em vez de pedir uma decisão de Roma, os bispos africanos apontaram ao papa o percurso que ele devia seguir nesta questão”[1]

Em outras palavras, a razão pela qual os bispos africanos mandaram mensagem ao papa Inocêncio não era por pensar que ele fosse investido de uma autoridade máxima intocável e que por isso pedir a opinião dele era imprescindível, mas porque os pelagianos estavam falsamente dizendo que o bispo de Roma era partidário deles, e então os bispos africanos quiseram saber se essa alegação procedia ou não. Essa é a razão pela qual o bispo romano foi notificado, o qual então confirmou que não tinha nenhuma ligação com o pelagianismo e que, portanto, não havia mais nada a se discutir, já que ninguém estava a favor dessa heresia. É incrível e impressionante a capacidade que os apologistas católicos têm de arrancar grosseiramente um texto patrístico de seu contexto, igual eles fazem com a Bíblia. Ou é muita desonestidade, ou é muita burrice.

Para piorar ainda mais a situação dos apologistas católicos, depois de tudo isso ter acontecido e de Agostinho ter dado a questão por encerrada após as decisões dos concílios africanos que condenavam o pelagianismo e a confirmação do bispo romano de que não tinha nada a ver com a heresia, surgiu um novo bispo romano, chamado Zósimo, o qual por sua vez apoiou o pelagianismo(!), contrariando seu antecessor Inocêncio (ao qual os concílios africanos haviam escrito) e exigindo dos bispos africanos a revogação do que eles haviam decidido em seus concílios. Sobre isso, Hugo escreve:

            «O novo bispo de Roma Zósimo desdiz o seu predecessor, põe-se do lado dos pelagianos e incentiva os africanos, com a autoridade da sé apostólica, a retirarem a condenação aos pelagianos. Que fizeram os bispos africanos, com Agostinho incluído? Proclamaram Roma locuta est; causa finita est?Não. Convocaram um concílio em finais de 417 e decidiram manter a sua posição de condenação dos pelagianos, fizeram saber a Zósimo que meteu a pata na poça, e rejeitaram a sua autoridade e as suas conclusões. Como a questão não acabou aqui, em 418 voltou-se a reunir outro concílio em Cartago. O cálculo dos assistentes foi de 212 prelados, não só da África mas de todo o Ocidente. Resolveram apelar ao imperador e informá-lo do mau exemplo que dava o bispo romano apoiando os hereges Celéstio e Pelágio. O imperador Honório decreta a expulsão de Roma mediante desterro dos que eram a cabeça dos pelagianos.
            E neste momento o que acontece? Zósimo, temendo o imperador, mudou o seu parecer e se retratou. De modo que, quando é que Zósimo foi infalível. Antes, ou depois? Condenou Pelágio e Celéstio mediante um documento chamado Tractoria que teve a desfaçatez de enviar a todos os bispos para que o assinassem. Só que 19 bispos italianos se opuseram e apelaram a um concílio ecumênico. Pelo visto, até na Itália, todo o episcopado ignorava que o papa fosse um pastor e mestre supremo, cuja autoridade era final e inapelável. Assim que, quem afirma que Agostinho sustentava o axioma “Roma (César) locuta, causa finita” no sentido do direito romano, a verdadeira origem desta expressão, aplicado ao bispo romano é um ignorante ou simplesmente tem uma fé muito cega»[2]

O papa Zózimo falou (em favor dos pelagianos), e a causa não foi encerrada de jeito nenhum. Ao contrário: os bispos africanos e o próprio imperador ficaram contra o papa “infalível”, que ficou tão pressionado que teve que mudar de opinião, e mesmo assim não convenceu nem a totalidade dos bispos da própria Itália! Só isso já deveria ser o bastante para calar qualquer pretensão de papista desonesto que tenta perverter ridiculamente o suposto Roma locuta est; causa finita est, de Agostinho.

Mas para acabar de uma vez por todas com qualquer nova tentativa de perversão das palavras do bispo de Hipona, irei demonstrar na segunda parte deste artigo alguns rápidos exemplos de que quando Roma falava, a causa não se encerrava. Comecemos com o papa herege, Honório I (625-638), que adotou a heresia monotelista e por isso foi condenado e anatemizado pelo Terceiro Concílio de Constantinopla (680), que se manifestou dizendo:

“Anatemizamos o herege Sérgio, o herege Ciro e o herege Honório... O autor de todo o mal encontrou um instrumento próprio para a sua vontade em Honório, o antigo papa de Roma”[3]

Para ler mais sobre este papa herege, clique aqui.

Outro caso interessante envolve o arianismo, que foi condenado por um sínodo de bispos convocados pelo bispo romano Silvestre I (314-335). Apesar de Roma haver condenado o arianismo neste concílio, mesmo assim não foi o bastante, e por isso cinco anos mais tarde o imperador Constantino convocaria o famoso concílio ecumênico de Niceia (325) para tratar a questão e condenar os arianos por heresia. Como está óbvio, Roma falou, mas a causa não foi encerrada. Ao contrário: a decisão do papa não foi considerada final e nem deu fim à questão, tendo que outros concílios locais se reunirem por si (como o sínodo de Alexandria, em 321) e um concílio universal ser convocado por um imperador.

O segundo concílio ecumênico (381) é outro caso interessante, visto que ele foi presidido por Melécio, bispo de Antioquia, o qual havia sido excomungado pelo bispo de Roma[4][5]. Mais uma vez, Roma falou, mas não adiantou nada. Melécio presidiu assim mesmo.

O Concílio de Éfeso (431), que condenou Nestório, não considerou a palavra do papa como autoridade final, visto que Nestório já havia sido condenado pelo papa Celestino I (422-432) antes disso[6]. Roma falou, e a causa não foi encerrada, porque mesmo assim ainda tiveram que se reunir em um concílio ecumênico para decidir finalmente a questão, se Nestório era ou não era um herege. A autoridade do papa, mais uma vez, não foi tida como autoridade final e muito menos infalível[7].

Para piorar ainda mais a situação, o Concílio de Calcedônia (451) foi convocado contra a vontade do papa Leão (440-461), e se reuniu assim mesmo[8]. Mais uma vez, Roma falou... e não adiantou nada.

O Segundo Concílio de Constantinopla (553), por sua vez, condenou os “Três Capítulos” escritos pelos bispos Teodoro, Teodoreto e Ibas. Ocorre que, antes disso, o papa Vigílio (537-555) já havia se oposto à condenação dos Três Capítulos. Ou seja: Roma falou, e ninguém quis saber. Mesmo contra a vontade do papa, o concílio ecumênico condenou os Três Capítulos, e ainda ameaçou excomungar e remover o papa do cargo, o qual se viu obrigado a mudar de ideia e rever suas opiniões[9]. Que grande “infalibilidade” e “autoridade final” possuía o bispo de Roma!

O Concílio de Frankfurt (794), que contava com dois legados papais (Teofilato e Estêvão) repudiou os termos do Segundo Concílio de Niceia (787), embora este concílio tivesse sido aceite pelo papa. Novamente, Roma falou, e ficou falando sozinha. Ninguém quis saber.

Para não me alongar muito com outras centenas de exemplos que mostram que o bispo romano não era visto como autoridade final, cito apenas mais um: o Sétimo Concílio de Cartago (255), presidido por Cipriano. Apesar da forte oposição do papa Estêvão I (254-257), o qual era contra o rebatismo, o concílio em questão determinou o rebatismo dos hereges, por considerar o batismo dos mesmos inválido. Além de se opor à decisão do bispo de Roma, o concílio em questão ainda proclamou:

“Pois nenhum de nós coloca-se como um bispo de bispos, nem por terror tirânico alguém força seu colega à obediência obrigatória; visto que cada bispo, de acordo com a permissão de sua liberdade e poder, tem seu próprio direito de julgamento, e não pode ser julgado por outro mais do que ele mesmo pode julgar um outro. Mas esperemos todos o julgamento de nosso Senhor Jesus Cristo, que é o único que tem o poder de nos designar no governo de Sua Igreja, e de nos julgar em nossa conduta nela”[10]

Claro que era uma indireta ao tirânico bispo de Roma, que se opunha às decisões do concílio e foi rechaçado categoricamente. Roma falou, e a causa não acabou. Os bispos africanos se reuniram à parte e não quiseram nem saber da posição teológica do papa.

Há muitos outros exemplos na história antiga que podem ser dados, mas, francamente, chega. O que já foi exposto já serve a qualquer sujeito que não seja demasiado rasteiro e desonesto ao ponto de querer continuar pervertendo criminosamente as palavras de Agostinho, a fim de dar ares de “autoridade final” a um bispo que jamais a possuiu. Fiquemos com a verdade: na esmagadora maioria das vezes, Roma locuta est; causa non finita est.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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[1]Abbe Guettee, The Papacy (Blanco: New Sarov, 1866) pp. 180-181.
[3] 18ª Sessão do referido concílio.
[4]Empie, P. C., & Murphy, T. A., (1974) Papal Primacy and the Universal Church: Lutherans and Catholics in Dialogue V (Augsburg Publishing House; Minneapolis, MN), p. 82.
[5]Davis, L. D. (1990). The First Seven Ecumenical Councils(325-787) Their History and Theology. Minnesota: Liturgical Press. pp. 128–129.
[6]Whelton, M., (1998) Two Paths: Papal Monarchy - Collegial Tradition, (Regina Orthodox Press; Salisbury, MA), p. 59.
[7]Davis, L. D. (1990). The First Seven Ecumenical Councils(325-787) Their History and Theology. Minnesota: Liturgical Press. pp. 153.
[8]Whelton, M., (1998) Two Paths: Papal Monarchy - Collegial Tradition, (Regina Orthodox Press; Salisbury, MA), p. 50.
[9]Whelton, M., (1998) Two Paths: Papal Monarchy - Collegial Tradition, (Regina Orthodox Press; Salisbury, MA), pp. 68.
[10] Sétimo Concílio de Cartago, presidido por Cipriano em 255 d.C.

Roma falou, e de novo a causa não acabou

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Em primeiro lugar, feliz ano novo a todos. Fiquei a última semana sem mexer no blog e sem atualizar nada, mas agora os comentários antigos já estão sendo publicados/respondidos.

Meu último artigo antes da minha ausência foi sobre "Roma locuta est; causa finita est" (“Roma falou, a causa acabou”), onde eu refuto a péssima interpretação de texto e a completa descontextualização histórica que os papistas fazem ao usar isso como argumento para a infalibilidade ou a supremacia papal, como se Roma tivesse a autoridade final e o que ela dissesse não pudesse ser jamais postergado ou rejeitado. Este artigo é uma continuação ao tema, que abordará a divergência pascoal entre os bispos romanos e asiáticos no século II, divergência essa que é outra prova de que Roma locuta est; causa non finita est.

Como já observado em meu artigo "O telefone sem fio e a tradição oral", nenhuma tradição oral que não seja passada por escrito tem a capacidade de conservar inalteravelmente um conteúdo por muito tempo, tendo sempre a tendência de subtrair ou adicionar conteúdo novo à mensagem original. É por isso que até mesmo quando nos é dito o que comprar no Supermercado nós não confiamos na nossa memória, mas, em vez disso, fazemos questão de anotar em um papel o que tem que ser comprado, caso contrário poderemos esquecer algum item ou talvez até mesmo comprar algo desnecessário.

Se até mesmo quando vamos comprar algo no Supermercado temos que anotar em um papelzinho para não cometer nenhuma falha, quanto mais quando o que está em jogo é toda a doutrina apostólica, que deveria ser guardada incorruptível e inalterável pelos séculos dos séculos, em todas as igrejas do Oriente e do Ocidente. Obviamente, é somente a partir do que foi conservado por escrito que podemos ter certeza da mensagem original, e o que os apóstolos nos deixaram por escrito é justamente o que nos foi legado na Escritura – daí vem o termo Sola Scriptura, importantíssimo e verdadeiro princípio da Reforma.

A divergência pascoal é outra demonstração do quanto a tradição oral sem ser passada por escrito tem o potencial enorme de ser corrompida com o tempo. De um lado estavam os bispos romanos, que diziam que a páscoa tinha que ser celebrada no domingo. Do outro, os bispos da Ásia, que diziam que a páscoa devia ser comemorada na data tradicional de 14 de Nisã, a chamada “Páscoa Quartodecimana”. O mais interessante é que os dois lados da história diziam estar bem fundamentados na “tradição oral”, já que nenhum apóstolo escreveu sobre o dia em questão.

Os bispos romanos sustentavam guardar a tradição que já vinha desde os seus primeiros presbíteros, e os bispos asiáticos afirmavam guardar a tradição ensinada pelos apóstolos Filipe e João, que estabeleceu igrejas em Éfeso. No entanto, as tradições eram conflitantes, o que mostra que pelo menos uma delas não se preservou incorruptivelmente, demonstrando a facilidade com a qual uma tradição oral pode se corromper tão rapidamente como em questão de apenas um século, como é o caso aqui (e os papistas ainda acham que guardam incorruptivelmente centenas de tradições por vinte séculos!).

O primeiro conflito ocorreu entre o bispo romano Aniceto (155-166) e Policarpo (69-155), o famoso bispo de Esmirna que foi pessoalmente doutrinado pelo apóstolo João. Tendo o bispo de Roma defendido a comemoração da páscoa no domingo, seria de se esperar que Policarpo cedesse à primazia e infalibilidade do mesmo, renegando seu ponto de vista para dar razão ao Roma locuta est; causa finita est dos romanistas atuais. Mas o que realmente aconteceu foi que nenhum dos dois convenceu o outro e nenhum deles cedeu ao outro, como nos conta Eusébio de Cesareia (265-339) em sua “História Eclesiástica”:

“E encontrando-se em Roma o bem-aventurado Policarpo nos tempos de Aniceto, surgiram entre os dois pequenas divergências, mas em seguida estavam em paz, sem que sobre este capítulo se querelassem mutuamente, porque nem Aniceto podia convencer Policarpo a não observar o diacomo sempre o havia observado, com João, discípulo de nosso Senhor, e com os demais apóstolos com quem conviveu–, nem tampouco Policarpo convenceu Aniceto a observá-lo, pois este dizia que devia manter o costume dos presbíteros seus antecessores”[1]

O que fez Policarpo de Esmirna, quando viu que o grande e todo-poderoso bispo de Roma defendia uma posição contrária à sua? Disse em voz alta que Roma locuta est; causa finita est, e voltou para Esmirna de cabeça baixa?Não. Ao contrário, conservou sua posição sobre o assunto e não cedeu ao bispo romano, da mesma forma que o bispo romano também não cedeu a Policarpo.

A mesma divergência veio a ocorrer pouco tempo mais tarde, mas desta vez de forma bem mais tensa do que foi entre Aniceto e Policarpo. Isso porque subiu ao trono romano um papa arrogante chamado Vítor (189-199), que entrou na mesma polêmica com Polícrates, o bispo de Éfeso da época. Diferente de seu antecessor Aniceto, Vítor era orgulhoso e queria obrigar todo mundo a concordar com ele, chegando até mesmo a ameaçar excomungar os bispos da Ásia(!) na ocasião.

O que foi que os bispos da Ásia fizeram frente à reivindicação do raivoso e irado bispo de Roma? Disseram Roma locuta est; causa finita est, e foram para as suas casas comemorar a páscoa no domingo? Nananinanão. Mais uma vez, eles ficaram contra o bispo de Roma, e o repreenderam severamente, como nos conta Eusébio:

“Também restam as expressões que empregaram repreender com grande severidade a Vitor. Entre eles também estava Irineu”[2]

O termo usado no original em que o bispo romano foi repreendido pelos outros bispos foi plêktikôteron kazaptomenôn tou Biktoros,que é muito mais forte do que uma simples repreensão, tendo kazaptô o sentido de “atacar” ou “atirar-se para cima de alguém”. Como se isso não bastasse, Eusébio adiciona ao kazaptô o advérbio plêktikôteron, que significa “duramente” (de plêktikos, à porrada)[3]. De modo que o arrogante bispo romano não foi contradito de forma suave enquanto tomava um cafezinho com os bispos da Ásia, mas foi severa e asperamente repreendido, como em uma briga.

Note ainda que Eusébio diz que até Irineu estava entre os bispos que repreenderam a Vítor. Irineu nem bispo da Ásia era: ele era bispo de Lyon, sujeito ao metropolitano de Roma. Ou seja, o bispo de Roma foi tão irresponsável e leviano que foi severamente repreendido até mesmo pelos bispos que estavam sob sua jurisdição! O erudito patrístico Hans van Campenhausen adiciona que Irineu escreveu uma carta repreendendo mais ainda o bispo de Roma:

“Quando Vítor de Roma aceitou ser persuadido a romper relações eclesiásticas com as igrejas da Ásia Menor, por causa das diferenças duradouras sobre a festa da Páscoa, Irineu lhe escreveu uma vigorosa carta na qual condenava esta ação ditatorial de uma maneira conveniente[4]

Roma locuta est; causa finita est? Não! Roma falou... e os outros bispos o repreenderam severamente e não deixaram que Roma falasse nem um pio a mais. O bispo de Roma não era um reizinho infalível cuja posição devesse ser sempre acatada como autoridade final; ao contrário, era um bispo como todos os outros, que podia ser acatado quando estivesse certo, da mesma forma com que podia ser rejeitado ou severamente repreendido quando estivesse errado. O mito papista de que a palavra do bispo romano sempre encerrará qualquer discussão não passa de puro engodo para ludibriar os mais ingênuos e facilmente adestrados por este sistema apóstata e falido.


Paz a todos vocês que estão em Cristo.

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[1] História Eclesiástica, Livro V, 24:1.
[2] História Eclesiástica, Livro V, cap. XXIV.
[4] Hans van Campenhausen, Os Pais da Igreja, p. 24.

A inversão do ônus da prova (Sola Scriptura e Tradição Oral)

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Uma das falácias mais comuns é a inversão do ônus da prova. Para quem não sabe, o “ônus da prova” é a obrigação de um indivíduo em provar sua posição. Quando dizemos que o ônus da prova está sobre Fulano e não sobre Beltrano, queremos dizer que não é Beltrano que tem que provar sua posição, mas sim Fulano. Isso pressupõe que a posição de Beltrano, neste caso, é a posição-padrão, e uma posição-padrão só pode ser alterada se há provas muito boas de que essa alteração no caso específico é necessária.

Vamos exemplificar isso com algo mais prático. Suponhamos que Fulano acuse Beltrano, dizendo Beltrano escondeu uma bomba em algum lugar de São Paulo, e que ele é um terrorista que quer matar todo mundo. Imagine como seria se fosse Beltrano que tivesse que provar que ele não escondeu a bomba. Obviamente, não é possível provar esse tipo de coisa. Beltrano pode mostrar evidências de que é uma boa pessoa, mas não pode provar acima da dúvida de que ele nunca escondeu uma bomba, a não ser que levasse consigo uma câmera filmando 24h por dia todos os seus movimentos, o que não é o caso.

Portanto, o ônus da prova recai totalmente sobre Fulano. É o Fulano que tem que provar que Beltrano escondeu uma bomba, e não Beltrano que tem que provar que não escondeu. Na pior das hipóteses, tudo o que Beltrano precisa fazer é rebater os argumentos usados por Fulano, sem a necessidade de “provar” coisa alguma. Isso presume uma posição-padrão, que é a de que todo mundo é inocente até que se prove o contrário.

No mundo dos debates, constantemente há uma posição-padrão, e, consequentemente, o ônus da prova nos ombros daquele que deseja alterar essa posição-padrão em alguma circunstância especial. Mas, na maioria das vezes, a questão do ônus da prova é tão mal discernida que um charlatão consegue impor o ônus da prova ao outro, mesmo quando é ele mesmo que precisava provar algo, por estar afirmando alguma coisa na direção contrária da posição-padrão. E, pior ainda, muita gente inocente acaba caindo nesse falso discurso, e trabalhando exaustivamente para provar algo que simplesmente não é necessário, pela inversão do ônus da prova. Ou seja: estão como Beltrano, tentando provar que não escondeu uma bomba em algum lugar de São Paulo.

Vamos trazer isso para dentro da discussão em questão: a Sola Scriptura. Os apologistas católicos são extremamente hábeis em conseguir inverter o ônus da prova com êxito nos debates. Eles conseguem, na maioria das vezes, fazer com que o protestante pense que é ele que tem a obrigação de provar a Sola Scriptura, em vez de ser o católico que precisa provar a tradição oral. E os evangélicos têm mordido a isca, lastimavelmente.

Você já deve ter ouvido um milhão de vezes coisas do tipo: “Prove a Sola Scriptura!”; ou então: “Onde está a Sola Scriptura na Bíblia?”. E como de fato é possível provar (veja aqui, por exemplo), os evangélicos têm dado mais atenção a essas provas do que se dado conta de que uma inversão do ônus da prova está ocorrendo aqui. Ele está sendo colocado contra a parede, quando, pela lógica, deveria estar acontecendo o contrário. Não somos nós que precisamos provar a Sola Scriptura, são eles que precisam provar a tradição oral e invalidar, por conseguinte, a Sola Scriptura. Em outras palavras, a Sola Scriptura é a posição-padrãoem questão.

Mas, afinal, como saber se a Sola Scriptura é a posição-padrão? Basta comparar a lógica empregada com qualquer outro documento ou personagem da antiguidade. Sola Scriptura é um termo em latim que significa “somente a Escritura”. Embora os cristãos geralmente o usem no sentido de Bíblia (com “e” maiúsculo), qualquer documento escrito pode ser considerado “escritura” (com “e” minúsculo). E talvez o católico nunca tenha pensado nisso, mas ele também é sola scripturista para muitas coisas na história, ainda que não reconheça isso abertamente.

Em meu artigo "Como funciona a Sola Scriptura de forma simples e prática", eu exemplifico isso através de uma analogia com Platão. Suponhamos que você deseja conhecer toda a doutrina deste filósofo grego, seja para ser um adepto da ideologia, ou para realizar algum trabalho acadêmico, ou mesmo apenas para conhecer. Quais fontes você teria? Vejamos: você teria os escritos de Platão e os escritos dos discípulos de Platão. Em outras palavras, você teria sola scriptura (=somente escritura). Você não teria nada como uma “tradição oral” duvidosa e fantasmagórica, supostamente transmitida de boca em boca até os dias de hoje, para fundamentar a sua pesquisa.

Se você fizer um trabalho acadêmico sobre Platão e citar algo sem referência escrita nenhuma, dizendo que aquilo “veio oralmente”, mas sem citar de onde veio, de quem veio, quando veio, onde foi registrado, etc, você simplesmente levará um zero de nota. Se Platão vivesse nos dias de hoje, poderíamos usar aquilo que ele escreveu e também seus vídeos e áudios, mas como ele viveu há tanto tempo, só nos resta o que foi escrito como tendo sido conservado até nós.

Um aluno que estudasse tudo sobre Platão e então fizesse uma tese de dissertação sobre o mesmo, usando apenas referências escritas da época (i.e, sola scriptura), estaria fazendo somente o óbvio. Mas um aluno que usasse também supostos ditos orais sem nenhuma referência direta de um escrito de Platão ou de um discípulo dele teria que prestar contas aos seus orientadores e estaria em apuros. Em outras palavras, é ele que tem que provar que essas supostas “fontes não-escritas” sobre Platão dizem mesmo aquilo que ele afirma que dizem. O ônus da prova não está sobre quem usa o princípio da sola scriptura, mas sobre quem o invalida.

No artigo supracitado, eu trabalho com outra analogia:

“Eu estou escrevendo uma tese de dissertação no mestrado chamada ’A Bíblia e a Escravidão’. O propósito é estudar a temática da escravidão à luz da Bíblia e também à luz da história secular. Quais as fontes que eu poderia usar para o meu trabalho? Obviamente, fontes escritas. Eu posso usar a própria Bíblia, o Códice de Hamurabi e outros registros dos outros povos, assim como eu posso estudar os escritos de pessoas como Abraham Lincoln, John Wesley e William Wilberforce, que foram fundamentais para o fim da escravidão no mundo. Todas fontes escritas, obviamente. No entanto, imagine qual seria a minha nota na dissertação se eu dissesse alguma informação sem prová-la, e como pretexto alegasse que ‘isso chegou aos meus ouvidos’. Imagine qual seria a cara do meu orientador se eu escrevesse alguma groselha sem nenhum fundamento histórico e me justificasse sob o argumento de que ‘nem tudo o que aconteceu na história da escravidão foi escrito’. Imagine a vergonha que eu passaria se deixasse de lado o que foi escrito para ficar com aquilo que supostamente foi dito oralmente, mas que eu não tenho a menor condição de provar que foi mesmo. Sem dúvidas, a minha nota seria zero e eu seria expulso da faculdade, pois meu registro não teria nenhuma credibilidade”

O mesmo raciocínio pode e deve ser empregado não apenas em relação a Platão, mas também em relação a qualquer outra linha de pensamento de um autor na história. Platão disse muitas coisas que não foram escritas? É óbvio que disse. No entanto, as coisas que ele disse sem ter escrito, nós não sabemos hoje, exatamente porque não foram escritas! Se tivessem sido escritas, nós saberíamos. De modo que, ainda que Platão certamente tenha ensinado muita coisa apenas oralmente, é somente a partir do que foi conservado por escrito(i.e, sola scriptura) que podemos ter hoje acesso à doutrina de Platão. A analogia com a Sola Scriptura da Bíblia é óbvia e autoevidente.

Há algum tempo atrás, um católico veio querer provar que a Sola Scriptura era falsa porque Abraão e Noé viveram antes da época em que a Escritura começou a ser escrita (por Moisés) e que os fatos eram passados apenas oralmente na época. Talvez ele não tenha raciocinado direito, mas o argumento que ele deu é outra prova da Sola Scriptura, visto que nós só sabemos o que eles criam porque foi escrito, e se não tivesse sido escrito nós simplesmente não saberíamos nada sobre a crença deles! Curiosamente, aquele católico não tinha um compilado infalível de tradições orais de Abraão e Noé, fora do que foi escrito (Bíblia). Tudo o que ele sabia sobre Abraão e Noé, vinha daquilo que foi escrito sobre ambos.

Ele também não tinha uma lista de tradições orais do primo de Noé ou do tio de Abraão. Por quê? Porque eles não escreveram nada, e ninguém escreveu sobre eles. Então, não sobrou nada conservado até nós sobre eles. Mas se algo tivesse sido conservado por escrito, ele certamente teria alguma coisa a responder! O católico tenta argumentar contra a Sola Scriptura, usando um raciocínio que leva à... Sola Scriptura. Até ele sabe que só tem o que foi escrito. Embora a fonte da mensagem seja oral e escrita, a única coisa que se conserva com a longa passagem de tempo é o que foi escrito, e não o que foi transmitido oralmente. A Sola Scriptura é a posição-padrão. A “tradição oral” não passa de uma distorção.

Mas se você quiser ser hardcore com o apologista católico, há um jeito ainda mais irônico e engraçado de provar que ele mesmo aprova a Sola Scriptura quando está em sã consciência. Basta perguntar a ele sobre o que ele crê no concernente ao Antigo Testamento. Ele vai resmungar, chorar, blefar, murmurar, surrar a parede, mas no final vai chegar à mesma conclusão dos protestantes malvados: Sola Scriptura!

Sabemos que nem tudo o que Moisés disse foi escrito. Também nem tudo o que Abraão disse foi escrito. Também nem tudo o que qualquer personagem do Antigo Testamento disse foi escrito. E, mesmo assim, os apologistas católicos não têm sequer uma única “tradição oral” preservada de Abraão, Noé, Moisés, Isaías, Davi, etc. Eles só têm o que foi escrito, e (sola) o que foi escrito (scriptura). Naquela época, os fariseus também diziam guardar as “tradições” dos profetas e de Moisés, mas foi deste jeito que Jesus se referiu a estas tradições não-escritas:

Mateus 5:13– E por que vocês transgridem o mandamento de Deus por causa da tradição de vocês?

Mateus 15:6– Assim vocês anulam a palavra de Deus por causa da tradição de vocês.

Marcos 7:3– Assim vocês anulam a palavra de Deus, por meio da tradição que vocês mesmos transmitiram. E fazem muitas coisas como essa.

Marcos 7:6-7– Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, Mas o seu coração está longe de mim; em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.

Marcos 7:8– Vocês negligenciam os mandamentos de Deus e se apegam às tradições dos homens.

Marcos 7:9– Vocês estão sempre encontrando uma boa maneira para pôr de lado os mandamentos de Deus, a fim de obedecer às suas tradições!

Se alguém tivesse guardado qualquer coisa dita oralmente pelos personagens do Antigo Testamento, esses certamente seriam os líderes religiosos. No entanto, a tradição supostamente “conservada” pelos fariseus estava completamente corrompida, alterando o sentido da própria Escritura Sagrada. Jesus condenou essas tradições, e ficou somente com o que foi escrito (=Sola Scriptura). Os católicos não podem se apoiar nestas tradições orais que o próprio Cristo condenou, e também não tem outras supostamente conservadas.

Logo, o católico também adota a Sola Scriptura no que lhe convém. Pelo menos no que tange ao conteúdo do Antigo Testamento, ele é sola scripturista como os protestantes, embora em relação ao Novo Testamento ele faça exatamente o mesmo que os fariseus faziam com o Antigo. Os argumentos que o católico usa (“onde está na Bíblia?”; “nem tudo foi escrito!!!”, etc) ele mesmo sabe que são fraudes intelectuais, visto que para eles não havia nada explícito no Antigo Testamento prescrevendo que apenas o que foi escrito deveria ser seguido para a época, e mesmo assim eles adotam apenas o que foi escrito na época. E também é óbvio que “nem tudo foi escrito” nos tempos do Antigo Testamento, e, no entanto, eles não têm nenhuma lista de coisas do que “não foi escrito” na época. Falácia total.

A conclusão de toda pessoa sensata é uma só: a sola scripturaé a posição-padrão. Ela é o padrão para o estudo de qualquer doutrina ou indivíduo da antiguidade (ex: Platão e o platonismo), e também o padrão dos próprios católicos em relação ao Antigo Testamento. Portanto, não somos nós que temos que provar o óbvio: são eles que precisam provar que o padrão mudou completamente no Novo Testamento, de modo que agora, de repente, não é mais apenas o que foi escrito que se preserva a longo tempo.

É o católico que tem que provar a existência, autenticidade e incorruptibilidade de suas “tradições” extrabíblicas, e não o protestante que tem que “provar a Sola Scriptura”. A inversão do ônus da prova não passa de um truque para que você seja persuadido do engano, e passe a crer em uma tradição mágica sem fundamento em lugar nenhum, não sendo jamais delimitada em toda a sua extensão e deliberadamente vaga o suficiente para tirar dali quantos e quais coelhos que o mágico quiser. 

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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Quem acompanha Jesus na sua vinda?

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Este post não é apenas mais um artigo, é também uma errata. Em dois livros meus – "A Lenda da Imortalidade da Alma" e "A Igreja na Grande Tribulação"– eu manifesto o parecer de que, por ocasião da volta de Jesus, os mortos ressuscitarão primeiro, virão ao encontro de Cristo, e então Cristo desce com eles ao encontro dos vivos arrebatados ao final da tribulação. Nunca é tarde para mudar de perspectiva quando nos convencemos de um erro, o que só é possível com pessoas abertas para a verdade, e não com entidades autoproclamadas “infalíveis” que, por definição, não podem voltar atrás nem mesmo quando sabem que erraram em algo. Pessoas normais e falíveis, graças a Deus, podem discutir e evoluir.

Um argumento que de vez em quando é suscitado pelos imortalistas está baseado em algumas traduções de 1ª Tessalonicenses 4:14, que diz:

“Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele” (1ª Tessalonicenses 4:14)

Pela parte final, que diz que “Deus os tornará a trazer com ele”, eles deduzem que Paulo estava dizendo que na segunda vinda Jesus sairá do céu levando consigo uma legião de almas incorpóreas fantasminhas, as quais se encontrarão com os crentes vivos nos ares e então se religarão aos seus corpos terrenos, agora revestidos de incorruptibilidade. Uma vez que o conceito de “religação” da alma com o corpo por ocasião da ressurreição é algo inteiramente estranho à Bíblia (embora abundante na literatura apócrifa e pagã) e Paulo não menciona nada disso no texto, deve haver algo errado nesta interpretação.

No entanto, a solução para esta interpretação cabulosa não é que os mortos em suas sepulturas ressuscitarão primeiro, encontrarão Cristo e então virão para o encontro dos vivos nos ares. Isso porque a continuação da passagem nos diz que os vivos e os mortos ressurretos serão arrebatados juntos, ou seja, no mesmo momento:

“Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (1ª Tessalonicenses 4:16-17)

Como vemos, os mortos ressuscitam primeiro, e logo depois os vivos são arrebatados juntamente com os mortos ressurretos, o que mostra que estes mortos ressurretos nem vieram de uma dimensão celestial, nem tampouco se encontraram com Cristo em algum momento antes deste encontro nos ares que se dá em conjunto com os vivos arrebatados. Portanto, a minha compreensão do versículo estava errada, o que significa que, na volta de Jesus, apenas Cristo e os anjos é que descerão à terra para o encontro com os vivos arrebatados e os mortos ressuscitados (e depois arrebatados junto com os vivos).

O meu próximo passo foi, então, pesquisar com mais atenção o que a Bíblia tem a dizer sobre isso especificamente. Quem é que descerá à terra junto com Cristo, por ocasião de seu segundo advento? Para a minha surpresa, foi impressionante o número de versículos que respondem a esta questão definindo exatamente da forma que eu esperava: apenas Jesus e os anjos. Vejamos alguns deles, onde o próprio Senhor Jesus e também o apóstolo Paulo respondem a esta questão sem nenhuma sombra de dúvida:

“Pois o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então recompensará a cada um de acordo com o que tenha feito” (Mateus 16:27)

“Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras nesta geração adúltera e pecadora, o Filho do homem se envergonhará dele quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos"(Marcos 8:38)

"Quando o Filho do homem vier em sua glória, com todos os anjos, assentar-se-á em seu trono na glória celestial”(Mateus 25:31)

“E ele enviará os seus anjos com grande som de trombeta, e estes reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (Mateus 24:31)

“E dar alívio a vocês, que estão sendo atribulados, e a nós também. Isso acontecerá quando o Senhor Jesus for revelado lá do céu, com os seus anjos poderosos, em meio a chamas flamejantes”(2ª Tessalonicenses 1:7)

Qual a conclusão que qualquer pessoa séria e honesta toma a partir desses vários textos bíblicos? Que na volta de Jesus ele virá junto com os anjos e também com uma multidão de almas de santos falecidos para o encontro dos vivos nos ares? Óbvio que não. A não ser que Jesus e Paulo estivessem constantemente se esquecendo de mencionar os mortos e misteriosamente sempre se lembrando apenas dos anjos, é lógico que apenas os anjos vêm junto com Jesus ao nosso encontro, na Sua volta.

Há um único texto que é usado por alguns como uma “prova” do oposto, que é o que diz:

“Enoque, o sétimo a partir de Adão, profetizou acerca deles: ‘Vejam, o Senhor vem com milhares de milhares de seus santos, para julgar a todos e convencer a todos os ímpios a respeito de todos os atos de impiedade que eles cometeram impiamente e acerca de todas as palavras insolentes que os pecadores ímpios falaram contra ele’”(Judas 1:14-15)

E pronto, já é o suficiente para alguns concluírem que esses santos são os homens falecidos, ou pior ainda, os “santos” da Igreja Católica!

Este problema crônico na interpretação, conhecido como anacronismo, é algo que eu tive que tratar em um capítulo à parte em meu livro "Exegese de Textos Difíceis da Bíblia", visto que é um dos maiores equívocos em que incorrem os intérpretes inexperientes. O anacronismo consiste em interpretar algum termo antigo à luz do que esta palavra significa hoje em dia, em vez de interpretar esta mesma expressão à luz do que o escritor antigo achava que era. Um católico que lê o termo “santos” já pensa imediatamente nos santinhos canonizados pela Igreja Romana, que mais tarde se transformam naquelas imagens de gesso que estamos acostumados a ver. Mas obviamente não era isso que o autor da epístola tinha em mente naquela época.

Note, em primeiro lugar, que Judas não está falando algo de si mesmo, e sim fazendo uma citação de Enoque. No livro de Enoque, por sua vez, o termo “santos” é constantemente atribuído precisamente aos anjos, o que ocorre tão frequentemente que eu citarei aqui apenas um pequeno parágrafo da obra, que fala por si mesma:

“Estes são os nomes dos anjos Sentinelas: Uriel, um dos santos anjos, o qual preside sobre o clamor e o terror. Rafael, um dos santos anjos, o qual preside sobre os espíritos dos homens. Raguel, um dos santos anjos, o qual inflige punição ao mundo e às luminárias. Miguel, um dos santos anjos, o qual, presidindo sobre a virtude humana, comanda as ações. Sarakiel, um dos santos anjos, o qual preside sobre os espíritos dos filhos dos homens que transgridem. Gabriel, um dos santos anjos, o qual preside sobre Ikisat, sobre o paraíso e sobre o querubim”[1]

É evidente que estes santos que Enoque se referia não eram aquilo que o católico tem em mente hoje, e sim os anjos, que toda a literatura judaica antiga de índole messiânica assegurava que viriam junto com o Messias no dia final. Na própria Bíblia vemos exemplos claros dos anjos sendo chamados de “santos”, como por exemplo:

“Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras nesta geração adúltera e pecadora, o Filho do homem se envergonhará dele quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos"(Marcos 8:38)

“Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier em sua glória e na glória do Pai e dos santos anjos(Lucas 9:26)

“Também beberá do vinho do furor de Deus que foi derramado sem mistura no cálice da sua ira. Será ainda atormentado com enxofre ardente na presença dos santos anjos e do Cordeiro”(Apocalipse 14:10)

Portanto, os santos que Judas diz que virão com Jesus na citação de Enoque nada mais são do que os próprios anjos, que são sempre exclusivamente mencionados como sendo os que virão com Cristo na sua volta (Mc.8:38; Lc.9:26; Mt.16:27; Mt.25:31; Mt.24:31; 2Ts.1:7). Judas 14 não é nenhuma exceção à regra para falar que as “almas” dos mortos virão com Cristo em vez dos anjos!

Mas se não haverá nenhuma alma humana no céu para descer com Cristo na segunda vinda e se religar ao corpo na sepultura, então como explicar o texto de Paulo aos tessalonicenses, citado no início do artigo? Estudando o texto em questão, percebi que ele é um dos mais divergentes em questão de tradução, sendo poucos os versos que o superam em termos de traduções ambíguas ou contraditórias entre si. Não tenho como citar todas as versões do mundo, mas citarei aqui algumas das mais usadas:

“Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele”(Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

“Porque, se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, assim também aos que dormem, Deus, mediante Jesus, os tornará a trazer juntamente com ele” (Almeida Revisada Imprensa Bíblica)

As versões acima da Bíblia Almeida têm um elemento que passa despercebido por muitos, que é o “tornará”. Eu não encontrei este termo no grego e nem nas outras versões em português ou em outros idiomas, o que me leva a crer que eles traduziram de algum outro manuscrito e não do mesmo. De qualquer forma, elas colocam em xeque a interpretação de que Paulo estivesse neste texto dizendo que as almas dos mortos descerão com Cristo ao encontro dos vivos. Isso porque, se Jesus tornará a trazer com ele, é porque eles não estavam com ele. Você só “torna” a trazer algo se este algo já não estava mais com você, embora estivesse antes. O sentido aparente com esta tradução é que aquelas pessoas estavam conectadas a Cristo durante a vida, depois não mais durante a morte, e então Cristo volta a trazer aquelas pessoas para si. 

Quem não concorda com as versões Almeida é a NVI, que traduz:

“Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e juntamente com ele, aqueles que nele dormiram”(Nova Versão Internacional)

Essa versão sim abre a possibilidade de que Paulo estivesse falando de Jesus vindo à terra junto com os mortos, mas claramente não é este o sentido pretendido por Paulo no texto. Uma outra tradução segue a linha de Almeida com um acréscimo importante:

“Porque se cremos que Jesus, depois de morrer, ressuscitou, também devemos crer que todos aqueles que morreram, fiéis a Jesus, Deus os tornará a trazer à vida, na companhia de Jesus”(O Livro)

Esta versão tem um adendo importante – “Deus os tornará a trazer à vida”. Ela faz muito mais sentido do que aquelas que abrem a possibilidade de Paulo estar se referindo a trazer almas incorpóreas com Cristo no momento de descer à terra ao encontro dos vivos, porque mostra que este “tornar” está relacionado à existência que lhes foi tirada pelo simples fato de estarem mortos. Em outras palavras, os indivíduos falecidos estão sem vida, e então Deus torna a trazê-los à existência por meio de Cristo e para a companhia dEle.

Já a versão católica “Ave Maria” traduz deste jeito:

“Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, cremos também que Deus levará com Jesus os que nele morreram” (Ave Maria)

Embora alguém possa interpretar que este “levará com Jesus” significa que os mortos estarão voltando junto com Cristo no céu, o texto também pode ser interpretado da maneira mais simples, como significando que aqueles que agora estão mortos (sem vida) um dia serão levados novamente para a presença de Jesus. Este é o significado presumível à luz de todo o contexto, como veremos mais adiante. Poderia passar várias outras traduções aqui, mas deixaria o artigo demasiadamente extenso e apenas basicamente repetiria o teor de alguma das versões que já foram transcritas. De todo modo, se você quiser conferir mais amplamente as traduções, pode consultar aqui, aquie aqui.

Infelizmente, a análise do texto grego em si não nos ajuda muito a elucidar este texto especificamente, porque ele é cheio de lacunas que são posteriormente preenchidas pelos tradutores de alguma maneira que o tradutor julga mais conveniente, o que explica o tanto de traduções diferentes que existem. Abaixo está o que o “Novo Testamento Interlinear Analítico Grego-Português”, de Paulo Sérgio e Odayr Oliveti, verte no texto em pauta:


Embaixo da palavra em grego está o significado literal de acordo com os autores (que pode ser comparado com o significado oferecido pelo léxico de Strong, disponível aqui), e mais abaixo ainda está a tradução que os autores sugerem, a qual preenche as lacunas deixadas pelo texto grego, isso porque o texto grego em si diz literalmente algo como isso:

“Se de fato cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus os que adormeceram por meio de [ou em] Jesus há de trazer com ele”

As lacunas poderiam ser preenchidas de uma forma mais simples se tão somente vertessem por:

“Se de fato cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, [quanto aos] que adormeceram em Jesus, há de trazer com ele”

Essa sugestão interpretativa fecharia o texto com bem menos lacunas do que o que é traduzido pela maioria das versões bíblicas, ou seja, é o que corresponderia com o texto grego em maior proximidade, sem a necessidade de muitas interpolações.

A palavra grega συν, de acordo com o léxico de Strong (4862), é “uma preposição primária que denota união; com ou juntos”. O significado mais plausível do texto, por conseguinte, é que os que “dormiram em Cristo” (i.e, os que morreram) não estão perdidos para sempre, porque, da mesma forma que Deus ressuscitou Jesus, ele também os ressuscitará para trazê-los à sua presença, a fim de estarem unidos com Cristo. Infelizmente (ou felizmente), não há nada de “almas” incorpóreas voltando junto com os anjos para se religar a corpos mortos na terra...

Em um texto de difícil tradução, a definição de seu significado pretendido é geralmente estabelecida mediante o contexto, mais até do que a análise do texto grego em si. E o contexto rejeita totalmente a idéia de que Paulo estivesse com almas desencarnadas voltando com Cristo em mente. Vejamos o que diz o texto com atenção a seu contexto maior:

“Irmãos, não queremos que ignoreis coisa alguma a respeito dos mortos, para que não vos entristeçais, como os outros homens que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, cremos também que Deus levará com Jesus os que nele morreram. Eis o que vos declaramos, conforme a palavra do Senhor: por ocasião da vinda do Senhor, nós que ficamos ainda vivos não precederemos os mortos. Quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o mesmo Senhor descerá do céu e os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro. Depois nós, os vivos, os que estamos ainda na terra, seremos arrebatados juntamente com eles sobre nuvens ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras”(1ª Tessalonicenses 4:13-18)

Vejamos, portanto, o que Paulo estava expressando em sua totalidade:

• Alguns tessalonicenses estavam tristes (v.13), já presumivelmente perdendo as esperanças (v.13) de rever seus entes queridos falecidos um dia. Em outras palavras, eles pensavam que estes mortos estariam mortos para sempre.

• Paulo refuta esse desânimo dos tessalonicenses com a real esperança do verdadeiro cristão: a ressurreição (v.14). Não há razão para se entristecer ou para perder a esperança, uma vez que na ressurreição os mortos voltarão à existência e nós iremos ao encontro deles no arrebatamento.

• Paulo então faz uma analogia com a ressurreição de Jesus: se nós cremos que Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos, então também temos que crer que Deus irá ressuscitar os outros mortos (v.14), o que inclui estes entes queridos dos tessalonicenses. Consequentemente, chegará o dia em que estes mortos ressuscitarão como Jesus ressuscitou, e serão levados juntamente para a presença dEle.

• Paulo então decide aprofundar a questão, abordando como que isto se concretizará. Ele começa falando sobre o quando, e aponta a segunda vinda de Cristo (v.15).

• Então, o apóstolo diz que nós (os que ficarmos vivos até Jesus voltar) não precederemos os que dormem (isto é, os que morreram antes disso). Este adendo serviu para refutar o pensamento daqueles que pensavam que nós (os vivos) fôssemos encontrar Cristo, mas eles (os mortos) já haviam perdido a chance. Era por isso que eles estavam tristes (v.13). Paulo reitera que isso não vai acontecer. Na volta de Jesus, os mortos ressuscitarão e os vivos serão arrebatados no mesmo momento (vs.16-17), de modo que entraremos na glória no mesmo instante. Portanto, não é preciso se preocupar com isso.

• Quando o arcanjo tocar a trombeta, os mortos ressuscitarão primeiro e os vivos logo em seguida serão arrebatados juntamente com os ressuscitados para o encontro com Cristo nos ares. Pense no momento: todos os átomos do corpo humano serão milagrosamente reintegrados, e os mortos ressurretos subirão junto conosco, num mesmo instante, para a presença de Cristo e dos anjos que vem com Ele! Será o reencontro esperado entre todos os que se amavam, e o glorioso momento em que nos veremos face a face com o Senhor!

• Paulo, por fim, conclui: “consolem uns aos outros com estas palavras” (v.18). Era uma forma de dizer: estaé a esperança do cristão, é nistoque vocês têm que se animar!

Infelizmente, essa esperança dos cristãos primitivos foi totalmente substituída por uma falsa esperança vã e vazia na alma saindo do corpo e indo pro céu depois da morte, para depois se religar ao defunto no sepulcro, ensino este jamais pregado por apóstolo nenhum. A esperança voltada exclusivamente à ressurreição dos mortos e à volta de Jesus deu lugar a uma crença pagã numa “alma imortal” que vai pro céu e fica ali pra sempre. Quão longe isso está da perspectiva de Paulo, segundo o qual “e assim [isto é, desde modo, através da ressurreição] estaremos para sempre com o Senhor”(v.17).

Se Paulo fosse imortalista, ele teria simplesmente dito que a tristeza dos tessalonicenses era sem sentido uma vez que seus parentes falecidos já estavam com Jesus no céu e que eles iriam ao seu encontro tão logo suas almas deixassem o corpo em direção à outra dimensão... neste caso, a ressurreição seria um mero detalhe na trama.

Não, não há fantasminhas saindo e voltando ao corpo, para viver num Paraíso etéreo e impalpável, voando no céu enquanto persegue as nuvens, vestindo um manto branco, tocando harpa e bebendo leite de ambrósia. O que há é um Paraíso tangível, habitado por seres físicos, cuja natureza tornada gloriosa mediante a ressurreição o capacitará a viver em um planeta purificado, transformado e tornado perfeito mediante a vinda do Senhor. O realismo bíblico, longe de ser de evasão da terra, consiste em um Paraíso do Éden renovado à sua perfeição original, na regeneraçãode todas as coisas”(Mt.19:28).

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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[1] Livro de Enoque, 20:1-7.

Como funciona o mundo na cabeça de um zumbi tridentino (Parte 3)

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*Obs: As imagens que estiverem pequenas demais podem ser ampliadas clicando nelas.

Depois da parte 1 e da parte 2, chegou a vez de continuar a série de pérolas católicas tridentinas. Dessa vez, eu vou comentar menos e deixar que as imagens falem por si só. Cabe ressaltar que este artigo não se refere a todos os católicos, mas especificamente ao tipo de católico zumbi tridentino, aqueles corajosos que vociferam nos debates enquanto se escondem atrás do anonimato, aqueles fakes intimidadores que espumam pelos dentes enquanto dizem que os protestantes são os “filhos da serpente”, aqueles ilustres desconhecidos que conseguiram acesso ao mundo dos debates depois que instalaram internet no hospício. Esses são os mesmos que de vez em quando aparecem no anonimato vomitando alguma sandice aqui no blog.

Para ter uma idéia de como essa raça é, comecemos com essas demonstrações de humanidade e tolerância da parte deles.


Sessão 1: Respeito



 



 


Sessão 2: Mariolatria

Claro que em se tratando de tridentinos não poderia faltar aquilo que mais sobra no catolicismo romano: mariolatria, de todos os tipos.

Essa católica diz que invocar “Nossa Senhora” assusta mais o demônio do que invocar a Jesus:


Esse aqui tem até um MÉTODO de “consagração à Santíssima Virgem”:


Essa aqui nos traz revelações fenomenais sobre a mulher de José, que na verdade não era sua mulher, mas apenas sua esposa, porque o seu verdadeiro esposo era o Espírito Santo... ops, bugou aqui.


Este aqui tem um argumento tão excepcional em favor da “co-redenção” de Maria (sim, agora Jesus já não é o único redentor, vocês estão atrasados) que me admira que até hoje o papa não tenha pensado nisso para proclamar de uma vez este novo dogma:


Esse aqui usa o texto DO APOCALIPSE, aquele que diz que Maria esmagará a cabeça das serpentes protestantes, entre outras constatações surpreendentes que precisam ser estudadas pelos astrólogos:


Já esse outro católico garante que, quanto mais o tempo passa, mais o nome de Maria será invocado, e menos o de Jesus será usado:


Esse aqui dispensa comentários:


O que leva alguém a chegar a este ponto? Remédio tarja preta? Problemas mentais? Zueira infinita? Não. Apenas fanatismo católico.

Este outro tridentino comprova que os católicos “apenas veneram” Maria, mas “só adoram a Deus”:


Este outro print é um amontoado de loucuras. Começa com a indignação feroz de um zumbi que não aceita a troca dos “números romanos” pelos “números normais” (???), e como se não bastasse essa troca absurda que ofende a dignidade humana e prediz o fim do mundo, ainda tem católico atirando contra o padre Fábio de Melo, por ter dito que Maria não salva ninguém:


Quem também faz parte deste “exército de Nossa Senhora” é essa aqui:


Este outro católico está indignado pelo fato do papa Francisco ainda não ter proclamado oficialmente que Maria é redentora, porque acha que os católicos não estão invocando Maria o suficiente...


 

Este outro louco garante que não houve casamento entre Maria e José, foi tudo uma encenação, porque Maria na verdade é esposa do Espírito Santo, não do pobre José...



Esta página de psicopatas e retardados mentais faz jus aos terroristas medievais dos quais herdam o nome, e diz:


Este outro mostra os católicos sendo arrebatados... para Jesus? Não. Para Maria, é claro:


Essa outra aqui garante que “carrega Maria”(?), da mesma forma que os israelitas carregavam a arca...


O sangue de Maria nos purifica de todo pecado:


Respire fundo e tenha muita calma antes de ler isso:


E isso:


E isso:


E isso:


E isso:


Sim, eles conseguem usar o versículo em que Jesus diz que ele é a porta, para concluir que Maria é a porta... (e isso porque Pedro já é o porteiro!).

Se você sobreviveu a esses prints, talvez tenha estômago para chegar a esse:


Não sei do que choro mais: se é do fato de que a intercessão de Maria é melhor que a de Jesus, ou se é pelo fato de que A BÍBLIA NÃO ESTÁ NA BÍBLIA!!!

Por falar em Bíblia, chegou a hora de mostrar o quanto os tridentinos amam e valorizam as Escrituras...


Sessão 3: Ódio e Desprezo à Bíblia

Para os católatras tridentinos, a Bíblia não vale nada: é um lixo, um papel morto, comparável ao Corão, falha, contraditória, insuficiente, que vale menos que a missa e que tem a mesma importância do papel higiênico usado para limpar a bunda:









E pior de tudo: NADA ESTÁ ESCRITO NA BÍBLIA!!!


Se você abrir a sua Bíblia e vir alguma coisa escrita, não se iluda: é ilusão de ótica. O que está ali, na verdade, é um papel morto. #FicaDica

Por que tanto ódio e desprezo à Bíblia? Pela razão óbvia: é o livro que, em disparada, mais tirou gente da Igreja Católica até hoje, o que faz dela o inimigo número 1 dos papistas enfurecidos e fanáticos. Desprezá-la, odiá-la e diminuí-la é obrigação para se manter o gado na obediência.


Sessão 4: Loucuras Gerais

Se por um lado a Bíblia é um papel morto sem nada escrito, não fique triste, porque toda a Bíblia está no terço, então basta ficar com o terço em vez daquele livro morto:


Este aqui mostra que sabe:


Note que duas pessoas curtiram isso, ou seja, estão conscientes de que só chegarão ao Céu passando pelo purgatório primeiro. Sem purgatório, sem chance :(

Isso aqui eu não vou nem comentar, vai que é doença...


Se você vir um monte de gente indo pro cemitério em novembro, já sabe o porquê:

O mais engraçado são os experts em inquisição. A doutrinação feita pelos apologistas católicos deu certo, e agora seus zumbis adestrados saem por aí dizendo que “A IGREJA NÃO FEZ INQUISIÇÃO”, mas sim alguns católicos contra o mandamento da Igreja:


É realmente triste saber que na Idade Média a Igreja não tinha consciência de que estava rolando uma inquisição bem debaixo do seu nariz, e que o papa não podia fazer nada a respeito (#Bad).

O print abaixo é um dos meus favoritos. No site do Sr. Obsceno, um dos ícones do fanatismo tridentino e cão de guarda dos zumbis adestrados, um leitor mostra que tem realmente aprendido muita coisa o lendo:


Realmente, ele tem aprendido muita coisa mesmo: aprendeu a ser um analfabeto igual ao autor do site.

Essa outra católica mostra todo o seu conhecimento sobre História dizendo que existiu uma “inquisição protestante” que matava os ÍNDIOS!


E você aí pensando que a malvadeza do monge satânico rebelado (Lutero) se limitava à Alemanha... sabe de nada, inocente!

Este outro tem um argumento bombástico que com toda a certeza irá revolucionar o mundo dos debates, e provar à humanidade que os apóstolos eram católicos romanos...


Brilhante!!! Como eu nunca tinha pensado nisso?

Essa página católica postou algo que só quem é incrédulo e herege duvida:


Em meio a este fato notório e insofismável, fica a dúvida: como foi que a mula sem cabeça morreu?

Vamos agora a mais alguns comentários no blog, já que isso aqui é visitado assiduamente pelos fanáticos tridentinos que espumam pelos dentes com seus argumentos fenomenais. Os argumentos são tão bons que eu não sei como não me converti ao catolicismo ainda. Devo ser muito “rebelado” mesmo.

Este católico tem um argumento fantástico que destrói com a Sola Scriptura: o diabo usou a Bíblia contra Jesus; logo, o diabo era Sola Scripturista!


Essa outra está fugindo dos inimigos do Leste...


Este aqui mostra todo o seu conhecimento bíblico para provar o primado de Pedro, naquele episódio tão famoso e conhecido, onde Pedro brigou com Tiago por causa das carnes proibidas, e a palavra de Pedro prevaleceu:


Não sabe onde está o verso em questão? Eu ajudo: está em Atos 29:2, e também por ser encontrado em Marcos 17:15.

Esse outro louco que fugiu do hospício, logo após acabar de ler meu último artigo, concluiu que eu disse que OS ANJOS DORMEM!


Qual alucinógeno esses caras tomam?

Infelizmente, isso não é tudo. Na minha caixa de e-mails também recebo alguns comentários feitos em meu outro site, incluindo esse aqui, que eu estou até hoje sem entender direito do que se trata:


Depois de receber essa mensagem importantíssima, eu respondi perguntando: “Eu também sou maçom?”. E a resposta foi...


(Clique na imagem para ampliar) 

Depois disso eu não mandei mais mensagens, apenas fiz as minhas malas para fugir para os montes.

Agora vocês já podem ter alguma noção média do que eu tenho que aturar todos os dias. É esse o tipo de gente com quem estamos lidando. Na maioria das vezes eu tento responder de uma forma com que pareça que o zumbi tridentino não é um retardado, mas nem sempre consigo. Resta-nos ter pena e orar por essa gente...

Para terminar, fiquem com essa mensagem do Gargamel:


Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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Destruindo a panfletagem católica mentirosa das redes sociais

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Circula pelas redes sociais uma ridícula caricatura católica repleta de mentiras e distorções grotescas do que vem a ser o protestantismo, com a finalidade óbvia de ridicularizar a fé alheia mediante truques baixos. Talvez você já tenha se deparado com ela (foto acima). O “folheto” propagandista católico diz o seguinte sobre o protestantismo:

“É a doutrina que ensina que devemos crer apenas na Bíblia, mesmo sabendo que até o Século IV dC. Não existia o NT, que foi compilado por uma Igreja mentirosa, desonesta e manipuladora, de nome Católica, que definiu pela inspiração do Espírito Santo os 27 livros do NT, mas que traiu a fé em Cristo se tornando herética, sendo necessário que Deus inspirasse um Profeta, chamado Padre Martinho Lutero, que apenas depois de 1500 anos depois de Cristo ensinaria o Cristianismo verdadeiro, mas que depois apareceu um outro desmentindo este primeiro profeta, ensinando o Cristianismo verdadeiro Chamado Calvino, e depois um outro profeta desmentiu Calvino e fundou finalmente a verdadeira Igreja de Cristo, de nome Universal, e depois outros profetas que... Eu pergunto: Isso faz algum sentido?”

Eu não sei quem foi o jumento que fez um troço tão ridículo e pitoresco como esse, embora tenha fortes suspeitas de que tenha vindo do Paulo Porcão ou de algum de seus correligionários. Nota-se que o autor sequer sabe escrever: logo na primeira frase coloca um ponto depois do “Século IV d.C”, iniciando a outra frase com letra maiúscula quando sequer deveria haver qualquer pausa. Sabendo, portanto, que o sujeito que escreveu esse lixo fugiu da escola ainda no primário, só pode se tratar do rockeiro Paulo Porcão ou do obsceno Cris Macabeus. Façam as suas apostas.

Vamos destruir este texto parte por parte:

“É a doutrina que ensina que devemos crer apenas na Bíblia, mesmo sabendo que até o Século IV dC. Não existia o NT, que foi compilado por uma Igreja mentirosa, desonesta e manipuladora, de nome Católica, que definiu pela inspiração do Espírito Santo os 27 livros do NT...”

Sim, por incrível que pareça, o texto já começa dizendo que NÃO EXISTIA O NOVO TESTAMENTO ATÉ O SÉCULO IV. Eu deveria ter amor próprio e parar de ler esta porcaria aqui mesmo, mas fiz um esforço sobrenatural para não apenas continuar lendo isso, mas também refutar tanta baboseira.

Como todo ser humano decente sabe, o Novo Testamento foi escrito inteiramente ainda no século I. Só quem questiona isso são os neo-ateus (que não crêem nem que Jesus existiu) e alguns teólogos liberais. O último livro a ser escrito foi o Apocalipse, em 95 d.C, sendo que quase todos os outros foram escritos antes mesmo de 70 d.C. As epístolas paulinas foram escritas entre a década de 50 e 60 d.C, e tudo isso é evidente a qualquer um que decida pesquisar um pouco. Recentemente foi achado um fragmento do evangelho de Marcos datando de 80-90 d.C (veja aqui), e já havia fragmentos do evangelho de João e das epístolas de Paulo datando do século II d.C. Tudo isso muito antes do século IV d.C, apontado pelo católico mentiroso.

Outro fato que corrobora com isso são os escritos dos Pais da Igreja mais antigos, que já faziam citações, desde finais do século I e princípios do século II, a quase todos os livros do Novo Testamento:


Vale ressaltar que, como qualquer estudioso de Crítica Textual sabe, quando tratamos de documentos antigos nós nunca possuímos o original em mãos, mas apenas cópias do original. O Novo Testamento é surpreendentemente o documento que, em disparado, possui a maior proximidade entre o original e a cópia mais antiga preservada, quando colocamos lado a lado com outros documentos antigos famosos:


Compare todos esses autores antigos, que tem milênios de distância entre a obra original e a cópia mais antiga preservada, com os livros do Novo Testamento escritos por Mateus, Marcos, Lucas, João, Paulo, Tiago, Pedro e Judas, em que temos 25 mil cópias antigas com uma diferença mínima inferior a 200 anos entre a cópia completamais bem preservada e o original, e décadasentre o original e o fragmento mais antigo.

Mas os Pais da Igreja não apenas citavam os livros do Novo Testamento como quem cita uma coisa qualquer. Eles citavam como Escritura, como vemos Policarpo dizendo:

“Creio que sois bem versados nas Sagradas Letras e que não ignorais nada; o que, porém, não me foi concedido. Nessas Escrituras está dito: ‘Encolerizai-vos e não pequeis, e que o sol não se ponha sobre vossa cólera’. Feliz quem se lembrar disso. Acredito que é assim convosco”[1]

Policarpo, o discípulo do apóstolo João, escreveu isso ainda no final do século I, e citou como Escritura Sagrada um trecho que só se encontra no livro de Paulo aos Efésios:

“Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira”(Efésios 4:26)

Portanto, muito antes de qualquer concílio no século IV abordar a questão do cânon, Policarpo já sabia que as epístolas de Paulo eram Escritura. Havia alguma discussão sobre alguns livros considerados duvidosos (entre eles 2ª Pedro e o Apocalipse), mas desde o século II o cânon já estava praticamente estabelecido da mesma forma que existe hoje, como se nota no Cânone de Muratori. Na primeira metade do século III, 150 anos antes dos concílios de Hipona e Cartago do século IV, Orígenes já nos dava uma lista completa dos livros do Novo Testamento:

“Assim também nosso Senhor Jesus Cristo (...) enviou seus apóstolos como sacerdotes, levando trombetas bem forjadas. Primeiro Mateus tocou a trombeta sacerdotal no seu Evangelho, Marcos também, e Lucas e João, cada um deu publicamente a força sobre suas trombetas sacerdotais. Pedro além disso soa com as duas trombetas de suas epístolas; Tiago também e Judas. Ainda assim, o número é incompleta, e João dá adiante o som da trombeta através de suas epístolas [e Apocalipse]; e Lucas ao escrever os atos dos apóstolos. Depois de todos, além desses, veio um que disse: ‘Eu acredito que Deus me fez como o último dos apóstolos’ (1 Cor 4:9), e trovejando sobre as catorze trombetas de suas epístolas ele derrubou, mesmo para seus próprios fundamentos, o muro de Jericó, ou seja, todos os instrumentos de idolatria e os dogmas dos filósofos”[2]

Até o próprio termo «Novo Testamento» já era conhecido e considerado muito antes de finais do século IV, a data apontada pelo apologista católico. Eusébio, por exemplo, citando um autor ainda mais antigo, escreve:

“Faz muito e bem longo tempo, querido Avircio Marcelo, que tu me ordenaste escrever algum tratado contra a heresia dos chamados ‘de Milcíades’, mas até agora de certa maneira sentia-me indeciso, não por dificuldade em poder refutar a mentira e dar testemunho da verdade, mas por temor de que, apesar de minhas precauções, parecesse a alguns que de certo modo acrescento ou junto algo novo à doutrina do Novo Testamento, ao qual não pode juntar nem tirar nada quem tenha decidido viver conforme este mesmo Evangelho[3]

Soma-se a isso o fato de que Irineu e Justino, ainda no século II, já mencionavam os evangelhos como sendo apenas quatro: Mateus, Marcos, Lucas e João. Ou seja: todos os livros do Novo Testamento foram escritos ainda no primeiro século; os primeiros Pais da Igreja desde finais do século I já reconheciam estes livros como “Escritura”, os evangelhos já eram limitados a quatro desde o século II, já existia 27 livros conhecidos como «Novo Testamento» pelo menos desde Orígenes (185-253), e mesmo assim os palhaços da apologética católica dizem que não existia Novo Testamento até o século IV!

É pra rir ou é pra chorar?

Continuando...

“...que foi compilado por uma Igreja mentirosa, desonesta e manipuladora, de nome Católica, que definiu pela inspiração do Espírito Santo os 27 livros do NT”

E quem disse que a Igreja do século IV se resumia em “mentirosa, desonesta e manipuladora”? A igreja que se transformou em mentirosa, desonesta e manipuladora foi a Igreja latina medieval, conhecida pelo nome de “Igreja Católica Apostólica Romana” após o racha de 1054 d.C. Quem “definiu” o cânon do Novo Testamento (que na verdade foi apenas um reconhecimento) no século IV foram dois concílios do norte da África, um em Hipona (393) e outro em Cartago (397). Estes concílios não eram ecumênicos (universais), mas regionais. Em outras palavras, eles valiam apenas para aquelas igrejas do norte da África.

Usar estes concílios como uma “prova” da Igreja Romana é um anacronismo ridículo e totalmente sem fundamento, visto que a Igreja de Roma da época teve zero participação nas definições de Cartago e de Hipona. Tais concílios não foram convocados por um papa, não foram presididos por um papa, e, como se não bastasse, não tiveram sequer a presença do papa e nem mesmo de um legado papal! O único concílio convocado por um papa da época para tratar da questão do cânon foi o de Roma, em 382, só que este concílio deixou de fora o livro de 2ª Coríntios, como já escrevi neste artigo. Em outras palavras, na única vez em que o papa da época se reuniu para tratar a questão do cânon, ele errou. Nem o Concílio de Trento (1546) seguiu a lista do concílio do papa Dâmaso, preferindo adotar a lista de Hipona e Cartago!

Portanto, dizer que o papa ou que a Igreja de Roma teve alguma participação na questão do cânon é simplesmente desonestidade intelectual de apologista sem vergonha. Se o papa tivesse tido qualquer papel relevante, teríamos que jogar fora o livro de 2ª Coríntios. Do jeito que ficou, se alguma igreja (comunidade local da época) merece o crédito são as do norte da África supracitadas. Mas elas não estavam sob a jurisdição do bispo de Roma, e ainda atacavam com dureza toda e qualquer tentativa de um bispo de fora querer se impor sobre as decisões deles, como fica bastante evidente em seus concílios locais:

“Igualmente decidimos que os presbíteros, diáconos e outros clérigos inferiores, nas causas que surgirem, se não quiserem se conformar com a sentença dos bispos locais, recorram aos bispos vizinhos, e com eles terminem qualquer questão (...) E que, se ainda não se julgarem satisfeitos e quiserem apelar, não apelem senão para os concílios africanos, ou para os primazes das próprias províncias; e que, se alguém apelar para a Sé Transmarina (de Roma) não seja mais recebido na comunhão(Concílio de Cartago, ano 418)

Pois nenhum de nós coloca-se como um bispo de bispos, nem por terror tirânico alguém força seu colega à obediência obrigatória; visto que cada bispo, de acordo com a permissão de sua liberdade e poder, tem seu próprio direito de julgamento, e não pode ser julgado por outro mais do que ele mesmo pode julgar um outro. Mas esperemos todos o julgamento de nosso Senhor Jesus Cristo, que é o único que tem o poder de nos designar no governo de Sua Igreja, e de nos julgar em nossa conduta nela” (Sétimo Concílio de Cartago, ano 256)

O que fica claro ao consultar estes concílios de Cartago? Que os bispos dali tinham a consciência de que eram totalmente submissos ao infalível e todo-poderoso bispo de Roma, que supostamente detinha uma jurisdição universal sobre toda a Igreja, inclusive sobre Cartago? É óbvio que não. O que está evidente é que a Igreja do norte da África era independente, ou seja, fazia parte da Igreja universal (“católica”) assim como as demais igrejas ocidentais e orientais, mas tinha jurisdição própria e autonomia local, não sendo sujeita à igreja de Roma de forma alguma.

Seguindo a lógica papista, devemos nos submeter à igreja que “definiu” o cânon. Essa igreja não foi a Igreja Romana (que surgiu depois do cisma) e nem a comunidade local de Roma já existente na época, mas as igrejas do norte da África, especialmente Cartago e Hipona. Mas elas foram totalmente destruídas pelos muçulmanos nas invasões árabes que tomaram a totalidade da África na Alta Idade Média. Para ser claro: essas igrejas não existem mais.

Colocá-las na conta da Igreja Romana é puro devaneio: ninguém sabe se por ocasião do cisma de 1054 elas decidiriam se aliar à Roma e fazer parte da Igreja Romana, ou se iriam se aliar à ortodoxia grega, ou se iriam permanecer independentes até hoje. O romanista que joga na base do achismo é simplesmente um desonesto intelectual. Querer usar o “argumento do cânon” para fundamentar uma Igreja Romana desenvolvida após um racha que ocorreu séculos depois dos concílios africanos é mais do que jogo sujo: é mau-caratismo mesmo.

Continuando...

“...mas que traiu a fé em Cristo se tornando herética, sendo necessário que Deus inspirasse um Profeta, chamado Padre Martinho Lutero”

Que doente escreveu uma asneira dessas? Desde quando o reformador protestante se chamava “Padre Martinho Lutero”? Eu pensava que ele se chamava apenas “Martinho Lutero”, e que “padre” não fazia parte do nome, mas era seu ofício. E quem disse que Lutero era profeta? E pior, escreveram “Profeta”, com “p” maiúsculo mesmo. Devem achar que nós consideramos Lutero uma espécie de segundo Elias ou um Nostradamus da vida. Nem Lutero se considerava “profeta”, nem os seus seguidores o consideravam assim. Não existe nenhuma visão, sonho, revelação ou profecia de qualquer tipo que Deus tenha dado a Lutero. O próprio Martinho dizia:

“Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir”

E o palhaço católico não apenas diz que Lutero era um profeta, mas um Profeta! Se o fundo do poço tem um nome, ele se chama apologética católica.

Continuando...

“...que apenas depois de 1500 anos depois de Cristo ensinaria o Cristianismo verdadeiro”

E quem disse que o “Cristianismo verdadeiro” só começou a ser ensinado depois de 1500 anos? O que este papista andou bebendo antes de escrever isso? Qual protestante do planeta terra algum dia já afirmou uma asneira deste tamanho?

Lutero não “criou” coisa alguma. Ele reformou. Só se reforma aquilo que já existe. Em outras palavras, Lutero não criou uma religião paralela, um novo Cristianismo para concorrer com o Cristianismo original. Em vez disso, ele retornou às bases da Escritura que por um bom tempo foram mantidas pela maior parte dos Pais da Igreja e que, posteriormente, foi grosseiramente desvirtuado pela Igreja latina medieval. Não há nada que Lutero tenha pregado que já não tivesse sido explicitamente ensinado antes dele pelos Pais da Igreja, como eu demonstrei neste artigo, de leitura obrigatória a qualquer romanista que queira escrever qualquer baboseira sobre a Reforma Protestante.

Em termos simples, os papistas queriam que a sujeira que entrou na Igreja ao longo dos séculos permanecesse ali, e Lutero queria que ela saísse, para voltar à pureza do Cristianismo original, ou pelo menos para algo bem mais próximo disso do que o que estava em sua época. Não foi Lutero quem criou algo novo: quem inovou foi a Igreja Romana, adicionando dogmas e doutrinas sem nenhum fundamento, que jamais foram ensinadas por apóstolo nenhum e tampouco pelos Pais da Igreja. E ela continua inovando até hoje: em 1854 definiu o dogma da imaculada conceição de Maria, em 1950 proclamou o dogma da assunção mariana, e já há inúmeras petições à Santa Sé de católicos que querem oficializar um novo dogma: a co-redenção de Maria, que parece ser mesmo o próximo passo da seita. É tudo mera questão de tempo para ir surgindo novas inovações.

E, mesmo assim, ele acha que Lutero é o “inovador”...

Continuando...

“...mas que depois apareceu um outro desmentindo este primeiro profeta, ensinando o Cristianismo verdadeiro Chamado Calvino”

O “Cristianismo verdadeiro” chamava-se “Calvino”? Eu li isso mesmo? Eu já sabia que quem escreveu é um analfabeto funcional, mas isso?

E desde quando Calvino “desmentiu o primeiro profeta”? Aliás, desde quando Calvino se considerava “profeta”? Se Calvino tivesse “desmentido” Lutero, ele não teria aderido à Reforma, mas criado uma outra coisa, estilo anabatistas. No entanto, as igrejas luterana e presbiteriana são reformadas, ou seja, fazem parte do mesmo grupo protestante. Calvino não se “opôs” a Lutero, muito pelo contrário. Ele o lia tanto que se converteu à Reforma e o chamava de “pai muito respeitável”.

As poucas divergências doutrinárias entre ambos eram mais superficiais do que ocorre hoje entre uma igreja católica da Renovação Carismática comparada com uma igreja católica tradicionalista. As cinco solas e o fundamento da Reforma eram absolutamente compartilhados. Mas para o autor da panfletagem antiprotestante, vale tudo para enganar os incautos...

Continuando...

“...e depois um outro profeta desmentiu Calvino e fundou finalmente a verdadeira Igreja de Cristo, de nome Universal”

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Essa foi a pior de todas: o apologista católico lunático que escreveu o texto trata todos os protestantes como sendo da Igreja Universal do Edir Macedo!!! O que fazer com um cara desses? Internar em um sanatório? Em um hospício? Em um manicômio? Não sei por que decidir perder tempo respondendo a um troço patético desses...

Para terminar, gostaria de fazê-los sentir um pouquinho do gosto de como é satirizar a religião alheia em um parágrafo – mas desta vez apenas com verdades. Para isso, preparei um pequeno textinho:


Agora já podem dormir com este barulho.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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[1] Policarpo aos Filipenses, 12:1.
[2]Hom. Josh. 7.1, as cited in Metzger, The New Testament Canon, 139.
[3] História Eclesiástica, Livro V, 16:3.

Extremistas católicos perseguem cristãos. Idade Média? Não: 2015

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Intolerância religiosa: no México, católicos ameaçam queimar evangélicos que não negarem a fé
(Tiago Chagas)

Um conflito religioso entre cristãos católicos e evangélicos no México chamou a atenção da imprensa mundial, depois que o prefeito da cidade de San Juan Ozolotepec, Pedro González, ameaçou queimar e jogar os evangélicos da região de um penhasco.

Segundo o Noticia Cristiana, o pastor Leopoldo Alonso Silva, da Igreja Cristã Independente Getsêmani, disse que a perseguição religiosa se dá simplesmente pelo fato de que os evangélicos se recusam a tornarem-se católicos.

O município fica localizado no Estado de Oaxaca, conhecido pelo radicalismo dos fiéis católicos. Silva afirmou ao jornal La Reforma que o prefeito González e seu secretário, Salvador Rivera Cruz, são os dois principais responsáveis pelas ameaças.

O pastor pediu ajuda às autoridades estaduais, pois a prefeitura está ameaçando fechar os templos evangélicos e proibir os cultos. Entretanto, a resposta obtida pelo pastor do responsável pelos Assuntos Religiosos na Secretaria-Geral do Governo foi que seria melhor se os evangélicos pagassem uma multa de $ 7 mil pesos para obterem o direito de cultuar e não serem mais incomodados.

Outros conflitos entre católicos e evangélicos já ocorreram na região. Anos atrás quando um evangélico faleceu, o prefeito à época proibiu que seu corpo fosse sepultado no cemitério municipal. A situação voltou a se repetir em 2011, quando uma senhora evangélica morreu.

González, atual prefeito, argumenta dizendo que a proibição é resultado de uma determinação da Câmara Municipal, que proibiu o enterro no cemitério municipal de “qualquer pessoa que professa uma religião diferente do catolicismo”.

As crianças da igreja Getsêmani também têm sofrido perseguição nas escolas da cidade, e um dos meninos chegou a ser expulso depois de ser agredido por outras crianças de famílias católicas.

Os programas sociais governamentais passaram a ser negados aos evangélicos, que também estão sendo impedidos de trabalhar com agricultura, principal atividade econômica da região. Segundo o jornal La Reforma, as ações governamentais visam a expulsão de todos os evangélicos da cidade.

Há, segundo o pastor Silva, um forte sentimento de medo nos evangélicos de San Juan Ozolotepec: “Tememos pelo irmãos, porque as coisas desagradáveis no passado aconteceram e agora eles querem nos queimar.  Mesmo com as autoridades do México dizendo ‘não à intolerância religiosa’”, lamentou.

Fonte: Gnotícias

***

Famílias de evangélicos são perseguidas por católicos no México e têm suas casas incendiadas

Mais um grupo de famílias se tornou alvo de perseguição religiosa no México. Dez mulheres e quatorze crianças, além de nove homens, foram expulsos do vilarejo de Leyva Velásquez, na cidade de Las Margaritas.

A perseguição religiosa no interior do país é perpetrada por católicos fundamentalistas. Nesse incidente recente, as casas das famílias expulsas foram queimadas.

Não bastasse essa tragédia, as famílias voltaram a ser afligidas na última terça-feira, quando a população os expulsou do auditório municipal, onde haviam sido alojados temporariamente pelas autoridades.

A fúria dos católicos se deu pela recusa das famílias em abandonar a fé evangélica e se converter à tradição romana, segundo informações do site Zocalo.

O porta-voz para a Coordenação de Organizações Cristãs, Luis Herrera, disse que desde o ano passado um grande número de evangélicos passaram a ser assediados por líderes comunitários do vilarejo Leyva Velázquez.

Ele observou que o problema surgiu nos subúrbios vizinhos da Flórida, onde um membro da Igreja estava envolvido em um assassinato pelo qual foi preso e condenado pela autoridade competente. Isso fez com que os líderes do vilarejo exigissem o abandono à denominação evangélica. Diante da recusa, eles passaram a ameaçá-los de expulsão.

Quando concretizaram a ameaça, os aldeões católicos se armaram e forçaram a fuga dos evangélicos para as montanhas, temendo por suas vidas. Quando as coisas se acalmaram, os homens, mulheres e crianças caminharam por longas horas, sob frio intenso, sede e fome, até a sede da Câmara Municipal, onde pediram ajuda às autoridades.

A situação desses evangélicos permanece indefinida, vivendo em um novo abrigo temporário e ainda sob ameaça dos extremistas católicos. Ore pelos irmãos da Igreja Perseguida no México.

Fonte: CPAD News

***

Essa é para os católicos tridentinos que acham que a inquisição não perseguiu nem matou ninguém na Idade Média: se vocês fazem isso em pleno século XXI, mesmo sem ter mais nada da força política, do poder do Estado e do apoio de quase 100% do povo que tinha na Idade Média, imagina o que gente como vocês fazia no passado, quando ainda não havia mídia, quando o papa era um ditador com poderes totalitários mesmo fora do aspecto religioso, e quando matar os “hereges” era tido como obrigação social, como mostrei neste artigo sobre a inquisição.

Graças ao bom Deus, a Igreja Católica não tem mais hoje o poder político que tinha antes para perseguir e exterminar qualquer um que não compactuasse com suas idéias satânicas. Ela não pode mais fazer hoje aquilo que o Concílio de Tolosa, em 1229, prescrevia, dizendo:

“Proibimos os leigos de possuírem o Velho e o Novo Testamento... Proibimos ainda mais severamente que estes livros sejam possuídos no vernáculo popular. As casas, os mais humildes lugares de esconderijo, e mesmo os retiros subterrâneos de homens condenados por possuírem as Escrituras devem ser inteiramente destruídos. Tais homens devem ser perseguidos e caçados nas florestas e cavernas, e qualquer que os abrigar será severamente punido” (Concílio de Tolosa, Papa Gregório IX, Cânon 14:2)

Por isso, no mundo de hoje o máximo que ela consegue fazer é perseguir os cristãos, forçando conversões e incendiando casas em algum ponto isolado aqui ou ali, como nestes casos do México. Mas um monstro adormecido ainda é um monstro. Alimentem este monstro politicamente, dêem a ele a força e o poder que ele tinha nos tempos antigos, coloquem os extremistas católicos fundamentalistas para dentro do cenário político internacional, e então vocês estarão reavivando o ímpeto de gente que até hoje pensa assim:








Aos apologistas católicos: vocês estão conscientes do tipo de monstros morais que vocês estão criando ao defender uma aberração como a inquisição? É gente do naipe de vocês, os “cruzados” fundamentalistas do século XXI.

Leia também:

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

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A que ponto chegou o catolicismo romano...

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Vou nem falar nada. Apenas veja o vídeo do frei Gilvander Luís Moreira, ensinando o “evangelho” comunista ao povo católico:


Se quiser ler mais sobre isso, clique aqui.

E depois ainda querem achar moral para caçoar das igrejas pentecostais. Isso é muita falta de espelho...

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

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Que raios é a "tradição" católica?

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É praxe dos debatedores católicos, quando acuados em um debate e se vendo sem saídas ao ser deparado com a Bíblia, apelar para uma palavrinha mágica: “tradição”. Para os tridentinos, a tradição é o poder mágico que funciona como a carta curinga para se dar bem em qualquer debate. Funciona assim: sempre quando a sua distorção bíblica for desmascarada e você não tiver mais absolutamente nenhuma evidência em favor da sua argumentação, apele para a tradição. Diga bem assim: “Pode não estar na Bíblia, MAAAAAAAASSSSS está na tradição!!!!”. E não precisa fornecer prova nenhuma de que essa tradição é verdadeira, confiável ou bem fundamentada; basta citar o mantra da tradição e se mandar.

Para quem chegou agora e não conhece meus artigos sobre tradição, recomendo a leitura dos seguintes artigos:


Descrição: Este artigo prova na patrística que o que os Pais da Igreja entendiam por “tradição” não tinha absolutamente nada a ver com o que os pedantes papistas asseveram hoje em dia.


Descrição: Este artigo prova que um ensinamento transmitido apenas oralmente tem sempre o potencial de ser corrompido, passando por adições ou subtrações ao conteúdo da mensagem original.


Descrição: Este artigo prova que a Sola Scriptura é a posição-padrão, não apenas para o Cristianismo, mas também de qualquer sistema antigo.


Descrição: Este artigo prova que o que Papias afirmava ter vindo a ele oralmente são coisas que a Igreja Romana ensina o contrário hoje em dia.


Descrição: Este artigo prova que nós só conhecemos alguma coisa sobre Abraão (e demais personagens bíblicos) porque escreveram sobre ele (não temos nada que veio apenas oralmente).


Descrição: Este artigo prova que a tradição que Paulo mencionou aos tessalonicenses não tem absolutamente nada a ver com a tradição romanista.


Descrição: Este artigo compara as tradições dos ortodoxos com as tradições dos romanos, mostrando suas incongruências e concluindo que a tradição oral não pode ser confiável – pelo menos uma das duas (ou as duas) não se preservou.


Descrição: Este artigo prova que os primeiros Pais da Igreja eram abertamente pré-milenistas, e mesmo assim a Igreja Romana afirma que o amilenismo veio por tradição oral desde os apóstolos...

Presumindo que o leitor já leu todos os artigos acima, vamos a este. Neste aqui eu não irei destruir novamente a tradição romanista, porque seria bater em cachorro morto, pisar em cadáver de quem já morreu faz tempo. Eu tentarei apenas entender aquilo que os apologistas católicos inventam sob o nome de “tradição”. Uma vez que o catecismo católico é deliberadamente vago, justamente para não ser falseável, vou expor (e comentar) aquilo que os debatedores papistas geralmente entendem e defendem pelo termo “tradição”.


Falácia 1: Tradição é o que foi pregado oralmente pelos apóstolos, mas que não foi escrito

Mas se não foi escrito, como você sabe que eles disseram isso? Telepatia? Poderes mágicos? Necromancia?

Como podemos saber o que Platão disse sem ter sido passado por escrito? Simplesmente não sabemos, e o motivo pelo qual não sabemos é justamente porque não foi escrito! Se tivesse sido escrito, nós saberíamos. Uma vez que não foi escrito, qualquer coisa que Platão tenha supostamente dito oralmente não passa de mera especulação, e qualquer charlatão que disser saber o conteúdo não passa de um farsante. Da mesma forma, é óbvio que os apóstolos ensinaram oralmente, mas, uma vez que ninguém estava lá para filmar ou gravar o que eles disseram, nós só sabemos o que eles escreveram, que é o que foi preservado até os dias atuais.

Qualquer embusteiro que diga conhecer precisamente o conteúdo daquilo que foi dito (mas não escrito) tem a obrigação do ônus da prova, ou seja, é sobre ele que recai a necessidade de provar que tal coisa foi mesmo pregada oralmente por algum apóstolo. Que ele diga qual apóstolo pregou, quando pregou, para quem pregou, e quais são as evidências de que ele disse exatamente aquilo. Mas se ele não tem as provas, então que admita sua insignificância em vez de ficar colocando palavras na boca dos apóstolos, feito um charlatão desesperado.

Ademais, é preciso muita imaginação (para não dizer demência) para supor que o que os apóstolos ensinaram oralmente é diferente do espírito daquilo que eles escreviam em suas cartas. Paulo, por exemplo, nuncacitou Maria (mãe de Jesus) em nenhuma de suas treze cartas, mas os apologistas malandros garantem que quando ele ensinava oralmente fazia questão de pregar que Maria era imaculada, impecável, intercessora, advogada, co-redentora, medianeira das graças, perpetuamente virgem e todas as outras sandices inventadas por Roma. É preciso ser um mestre na arte de ser enganado para dar um mínimo de crédito a essa estória de pescador.

Por fim, os católicos ortodoxos (aqueles orientais que se separaram de Roma há muito tempo) têm também suas tradições, que, no entanto, são bastante conflitantes com as tradições romanas. Para citar alguns exemplos rápidos, os ortodoxos não crêem que Maria teve concepção imaculada, não aceitam a jurisdição ou supremacia papal, não entendem que o bispo romano é infalível em circunstância alguma, não acreditam na existência de limbo e purgatório, batizam por imersão e comungam em ambas as espécies, além de permitir o casamento dos sacerdotes.

O engraçado é que eles também dizem que a tradição deles veio dos apóstolos, e eles têm listas de sucessão apostólica de todos os doze apóstolos, incluindo até mesmo do próprio Pedro, que teria sido o primeiro bispo de Antioquia (confira aqui). Estes apóstolos que fundaram igrejas no oriente foram sucedidos por outros bispos, e assim sucessivamente até chegar aos dias de hoje. Roma, no entanto, supostamente tem a sucessão de Pedro, mas de nenhum outro mais. Para ser claro: os papistas pedantes querem que nós aceitemos a tradição romanista porque ela veio de Pedro, e rejeitar a tradição ortodoxa que veio de Pedro e dos outros onze apóstolos. Sim, tem que ser lesado para ser apologista católico.


Falácia 2: A tradição é o que os Pais da Igreja escreveram

Essa falácia descarada foi a saída de escape de certo romanista que tentou rebater meu artigo "Como funciona a Sola Scriptura de forma simples e prática" na caixa de comentários do mesmo. Ele disse que essa tradição oral papista não é essa coisa fantasmagórica sem nenhum registro histórico que os apologistas católicos propõem, mas que consiste em tudo aquilo que pode ser provado pela patrística. Eu lhe respondi assim:

Quando Gregório Magno rejeitou o título de “bispo universal” e o chamou de “título de blasfêmia”, ele fez isso baseado na tradição oral?

“Os próprios mandamentos de nosso Senhor Jesus Cristo são transtornados pela invenção de uma certa orgulhosa e ostensiva frase, que seja o piedosíssimo senhor a cortar o lugar da chaga, e prenda o paciente remisso nas cadeias da augusta autoridade. Pois ao atar estas coisas justamente alivias a república; e, enquanto cortas estas coisas, provês o alargamento do teu reinado (...) O meu companheiro sacerdote João, pretende ser chamado bispo universal. Estou forçado a gritar e dizer: Oh tempos, oh costumes! (...) Os sacerdotes, que deveriam chorar jazendo no chão e em cinzas, buscam para si nomes de vanglória, e se gloriam em títulos novos e profanos (...) Quem é este que, contra as ordenanças evangélicas, contra os decretos dos cânones, ousa usurpar para si um novo nome? O teria se realmente por si mesmo fosse, se pudesse ser sem nenhuma diminuição dos outros – ele que cobiça ser universal (...) Se então qualquer um nessa Igreja toma para si esse nome, pelo qual se faz a cabeça de todo o bem, segue-se que a Igreja universal cai do seu pedestal (o que não permita Deus) quando aquele que é chamado universal cai. Mas longe dos corações cristãos esteja esse nome de blasfêmia, no qual é tirada a honra de todos os sacerdotes, no momento em que é loucamente arrogado para si por um só”[1]

Quando Agostinho rejeitou a transubstanciação e disse que era uma “expressão simbólica” de algo espiritual, ele fez isso baseado na tradição oral?

“‘Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós’ (Jo 6,54). Aqui, parece ser ordenada uma ignomínia ou delito. Mas aí se encontra expressão simbólica que nos prescreve comungar da paixão do Senhor e guardar, no mais profundo de nós próprios, doce e salutar lembrança de sua carne crucificada e coberta de chagas por nós”[2]

“Entenda espiritualmente o que eu disse; não é para você comer esse corpo que você vê; nem beber aquele sangue que será derramado por aqueles que irão me crucificar. Recomendei-lhes um certo mistério; espiritualmente compreendido, vivificará. Embora seja necessário que isso seja visivelmente celebrado, contudo precisa ser espiritualmente compreendido”[3]

Quando Cipriano negou a existência de um “bispo dos bispos”, ele fez isso baseado na tradição oral?

“Pois nenhum de nós coloca-se como um bispo de bispos, nem por terror tirânico alguém força seu colega à obediência obrigatória; visto que cada bispo, de acordo com a permissão de sua liberdade e poder, tem seu próprio direito de julgamento, e não pode ser julgado por outro mais do que ele mesmo pode julgar um outro. Mas esperemos todos o julgamento de nosso Senhor Jesus Cristo, que é o único que tem o poder de nos designar no governo de Sua Igreja, e de nos julgar em nossa conduta nela”[4]

Quando Cirilo de Jerusalém pregou o batismo por imersão, ele fez isso baseado na tradição oral?

“Depois disto fostes conduzidos pela mão à santa piscina do divino batismo, como Cristo da cruz ao sepulcro que está à vossa frente. E cada qual foi perguntado se cria no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. E fizestes a profissão salutar, e fostes imersos três vezes na água e em seguida emergistes, significando também com isto, simbolicamente, o sepultamento de três dias de Cristo. E assim como nosso Salvador passou três dias e três noites no coração da terra , do mesmo modo vós, com a primeira imersão, imitastes o primeiro dia de Cristo na terra, e com a imersão, a noite. Como aquele que está na noite nada enxerga e ao contrário o que está no dia tudo enxerga na luz, assim vós na imersão, como na noite, nada enxergastes; mas na emersão, de novo vos encontrastes no dia”[5]

Quando Taciano negou a imortalidade da alma, ele fez isso baseado na tradição oral?

“Com efeito, do mesmo modo como, não existindo antes de nascer, eu ignorava quem eu era e só subsistia na substância da matéria carnal – mas uma vez nascido, eu, que antes não existia, acreditei em meu ser pelo nascimento – assim também eu, que existi e que pela morte deixarei de ser e outra vez desaparecerei da vista de todos, novamente voltarei a ser como não tendo antes existido e portanto nasci. Mesmo que o fogo destrua a minha carne, o universo recebe a matéria evaporada; se me consumo nos rios ou no mar, ou sou despedaçado pelas feras, permaneço depositado nos tesouros de um senhor rico. O pobre ateu desconhece esses depósitos, mas Deus, que é rei, quando quiser, restabelecerá em seu ser primeiro a minha substância, que é visível apenas para ele”[6]

Quando Cirilo de Jerusalém disse que todas as doutrinas tinham que ser provadas na Escritura, ele fez isso baseado na tradição oral?

“Com respeito aos mistérios divinos e salvadores da fé, nenhuma doutrina, mesmo trivial, pode ser ensinada sem o apoio das Escrituras divinas... pois a nossa fé salvadora deriva a sua força, não de raciocínios caprichosos, mas daquilo que pode ser provado a partir da Bíblia”[7]

Quando Beda pregou a justificação somente pela fé, ele fez isso baseado na tradição oral?

“Por isso, é errado interpretar Paulo de modo a sugerir que não importava se Abraão colocou a sua fé em prática ou não. O que Paulo queria dizer era que não se obtém o dom da justificação com base em méritos derivados de obras realizadas de antemão, porque o dom da justificação vem somente pela fé”[8]

Quando Lactâncio disse que onde há imagem não há religião, ele fez isso baseado na tradição oral?

“É indubitável que onde quer que há uma imagem não há religião. Porque se a religião consiste de coisas divinas, e não há nada divino a não ser nas coisas celestiais, segue-se que as imagens se acham fora da esfera da religião, porque não pode haver nada de celestial no que se faz da terra (...) não há religião nas imagens, mas uma simples imitação de religião”[9]

Quando Eusébio esmagou a tese de que os irmãos de Jesus eram primos, ele fez isso baseado na tradição oral?

“Naquele tempo também Tiago, o chamado irmão do Senhor- porque também ele era chamado filho de José; pois bem, o pai de Cristo era José, já que estava casado com a Virgem quando, antes que convivessem des­cobriu-se que havia concebido do Espírito Santo, como ensina a Sagrada Escritura dos evangelhos -; este mesmo Tiago pois, a quem os antigos puseram o sobrenome de Justo, pelo superior mérito de sua virtude, refere-se que foi o primeiro a quem se confiou o trono episcopal da Igreja de Jerusalém”[10]

Quando Agostinho disse que a pedra era Cristo e não Pedro, ele fez isso baseado na tradição oral?

“Mas eu sei que em seguida expus, muito frequentemente, as palavras de Nosso Senhor: ‘Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja’, da forma seguinte: que a Igreja seria edificada sobre Aquele que Pedro confessou, dizendo: ‘Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo’. Assim Pedro (Petrus) que teria tomado o seu nome desta pedra (Petra), simbolizaria a Igreja que é construída sobre esta pedra e que recebeu as chaves do Reino dos Céus. Com efeito, não lhe foi dito: Tu és a pedra (Petra), mas: Tu és Pedro (Petrus), pois a Pedra (Petra) era o próprio Filho de Deus, Cristo. Simão Pedro, ao confessar Cristo como a Igreja inteira O confessa, foi chamado Petrus (Pedro)”[11]

Quando João Crisóstomo disse que Maria pecou, ele fez isso baseado na tradição oral?

"Nas bodas de Caná, Maria foi molesta e ambiciosa"[12]

Quando Jerônimo disse que os apócrifos não podiam fundamentar doutrina nenhuma, ele fez isso baseado na tradição oral?

"E assim da mesma maneira pela qual a igreja lê Judite, Tobias e Macabeus (no culto público) mas não os recebe entre as Escrituras canônicas, assim também sejam estes dois livros [Sabedoria e Eclesiástico] úteis para a edificação do povo, mas não para estabelecer as doutrinas da Igreja"[13]

Quando Papias, Irineu, Lactâncio e Tertuliano pregaram o pré-milenismo, eles fizeram isso baseados na tradição oral?

“Ele [Papias] divulgou uma segunda vinda de Nosso Senhor ou Milênio. Irineu, Apolinário e outros dizem que após a ressurreição do Senhor, ele irá reinar em carne com os santos. Também Tertuliano, em sua obra ‘Sobre a Esperança dos Fieis’, Vitorino de Petau e Lactâncio seguem este ponto de vista”[14]

Quando João Crisóstomo disse que só devemos orar a Deus, ele fez isso baseado na tradição oral?

“Não fazes oração aos homens, mas a Deus”[15]

Deixa eu dar um palpite: não, né? Acho que você se faz de cego e não considera nada disso parte da “tradição”. E deixa eu ver se eu ganho nessa nova aposta: você deve pegar textos isolados de outros Pais da Igreja dizendo coisas diferentes. Acertei? Isso é exatamente o que eu expus no artigo que você não leu: vocês selecionam arbitrariamente na patrística o que “vale” e o que “não vale”, como uma cartola de um mágico, que tira dali quantos e quais coelhos quiser. Só um retardado mental pra acreditar que essa seleção arbitrária – que ignora completamente o que os Pais disseram em contrário e se agarra nas poucas coisas que disseram em favor – é o bastante para fundamentar uma suposta “tradição oral” romanista da qual estes mesmos Pais nunca falaram.

(Para ler mais sobre isso, consulte o meu artigo: "O sequestro dos Pais da Igreja")

Adicionalmente a isso, saliento que todos os Pais da Igreja estavam plenamente conscientes de que a doutrina já havia sido dada, e a eles bastava interpretar corretamente esta doutrina extraída das Escrituras, em vez de criar doutrinas novas como se tivessem autoridade apostólica para isso. Os Pais não citavam a Escritura à toa: eles a citavam como autoridade, porque ela estava acima de qualquer coisa que eles pudessem dizer por si mesmos. Inácio, por exemplo, disse que “não vos dou ordens como Pedro e Paulo”[16], e Agostinho escreveu:

"Persuadiste-me de que não eram de repreender os que se apoiam na autoridade desses livros que Tu deste a tantos povos, mas antes os que neles não crêem (...) Porque nessa divina origem e nessa autoridade me pareceu que devia eu crer (...) Por isso, sendo eu fraco e incapaz de encontrar a verdade só com as forças da minha razão, compreendi que devia apoiar-me na autoridade das Escrituras; e que Tu não poderias dar para todos os povos semelhante autoridade se não quisesses que por ela te pudéssemos buscar e encontrar"[17]

Deixemos que sejam removidas de nosso meio as coisas que citamos uns contra os outros, não com apoio nos livros canônicos divinos, mas de outras fontes quaisquer. Talvez alguém possa perguntar: Por que desejais remover essas coisas do vosso meio? Porque não queremos a santa igreja aprovada por documentos humanos, mas sim pelos oráculos divinos”[18]

“Quem é que se submete a divina Escritura, senão aquele que a lê ou ouve piamente, submetendo a ela como a autoridade suprema?[19]

“Em primeiro lugar, esta classe de escritos [dos Pais] deve ser considerado de menor autoridade, distinguindo-se da Escritura canônica. Pois tais escritos não são lidos por nós como um testemunho do qual seria ilegal manifestar qualquer opinião diferente, pois pode ser que as opiniões deles sejam diferentes daqueles que a verdade exige a nossa concordância [as Escrituras][20]

“Mas quem pode deixar de estar ciente de que a Sagrada Escritura canônica, tanto do Antigo como do Novo Testamento, está confinada dentro de seus próprios limites, e que ela está tão absolutamente em uma posição superior a todas as cartas posteriores dos bispos, e que sobre ela não podemos ter nenhum tipo de dúvida ou disputa se o que está nela contida é certo e verdadeiro, mas todas as cartas de bispos que foram escritas ou que estão sendo escritas são susceptíveis de serem refutadas, se há alguma coisa nelas contidas que se desvia da verdade[21]

Como está claro, Agostinho não via os escritos dos Pais como uma segunda fonte de autoridade ao lado das Escrituras. Ao contrário: enquanto o papel dos Pais era apenas de guardar e interpretar corretamente as Escrituras – podendo eventualmente incorrer em erros e se desviar da verdade bíblica – a Escritura era vista como sendo a autoridade suprema, a fonte de onde se extrai a doutrina em si. Portanto, querer impor os escritos dos Pais como autoridade à par das Escrituras em vez de vê-los como meros intérpretes da mesma implica em contrariar a própria visão de Agostinho, que disse também:

“Nem ouse alguém concordar com bispos católicos, se por acaso eles errarem em alguma coisa, resultando que sua opinião seja contra as Escrituras canônicas[22]

“Nos inúmeros livros que foram escritos ultimamente podemos às vezes encontrar a mesma verdade como está na Escritura, mas não é a mesma autoridade. A Escritura tem uma sacralidade peculiar a si mesma. Em outros livros, o leitor pode formar sua própria opinião, e, talvez, de não concordar com o escritor, por ter uma opinião diferente da dele, e pode pronunciar em favor do que ele escreve, ou contra o que ele não lhe agrada. Mas, em conseqüência da peculiaridade distintiva das Sagradas Escrituras, somos obrigados a receber como verdadeira qualquer coisa que tenha sido dita por um profeta, ou apóstolo, ou evangelista”[23]

“Pois os raciocínios de qualquer homens que seja, mesmo que seja católico e de alta reputação, não é para ser tratado por nós da mesma forma que a Escritura canônica é tratada. Estamos em liberdade, sem fazer qualquer ofensa ao respeito que estes homens merecem, para condenar e rejeitar qualquer coisa em seus escritos, se por acaso vemos que eles têm tido opiniões divergentes daquela que os outros ou nós mesmos temos, com a ajuda divina, descoberto ser a verdade. Eu lido assim com os escritos de outros, e eu gostaria que meus inteligentes leitores lidassem assim com os meus[24]

Nem o próprio Agostinho queria que seus próprios escritos fossem vistos como uma fonte de autoridade ao lado das Escrituras, mas os pedantes papistas transformam os livros de Agostinho e dos outros Pais em “tradição” (selecionando arbitrariamente apenas o que lhes convém, é claro) e a colocam como fonte de autoridade do mesmo nível que a Bíblia!


Falácia 3: A tradição é qualquer coisa que a Igreja Romana queira que seja

Essa é a pior de todas, e o cúmulo da apelação e do desespero: sem ter como provar a tradição oral fantasmagórica e nem como fundamentar a estratégia do mágico que tira quantos coelhos quiser da cartola patrística, alguns apologistas néscios chegaram ao ponto de afirmar que qualquer coisa que a Igreja Romana diga deve ser considerado parte da “tradição”, mesmo que não se tenha fundamento nenhum nem na patrística, nem na Bíblia e nem em parte alguma!

Por exemplo, se o papa aceitar os pedidos insistentes enviados à Santa Sé para reconhecer Maria oficialmente como co-redentora, ele não precisa provar nada na Bíblia ou na patrística. Mesmo que toda a Bíblia e todos os Pais tenham dito o contrário, aquilo que ele proclamou é “tradição” mesmo assim, pelo simples fato de ele ter proclamado. Se isso não é o ápice da falcatrua e do embuste, eu não sei mais o que pode ser!

Usando o mesmo recurso desonesto, qualquer um de qualquer religião ou igreja poderia sustentar a mesma coisa, alegando que qualquer coisa que dissesse é a verdade, pelo simples fato de que este alguém o disse. É assim que o Inri Cristo “prova” que ele é a reencarnação de Jesus: ele disse que é, então está “provado”. E pensar que este é o mesmo recurso que os zumbis tridentinos usam para validar a tradição do papa: o papa disse que é, então é e pronto, caso encerrado.

Não há como discutir racionalmente com isso, uma vez que se trata de um argumento circular e não-falseável. Só nos resta a diversão garantida que os apologistas católicos nos oferecem a cada vez que plantam cambalhota e fazem malabarismos de circo a fim de provar que “não está na Bíblia, MAAAAAAAASSSSSS está na tradição!!!”.


Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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[1] Epístola XX a Maurício César.
[2] A Doutrina Cristã, 3,24.
[3] Agostinho, contra Adimante.
[4] Sétimo Concílio de Cartago.
[5] Segunda Catequese Mistagógica, Cap.4.
[6] Discurso contra os Gregos, c. 6.
[7] Das Divinas Escrituras.
[8] Super Divi Jacobi Epistolam, Caput II, PL 93:22.
[9] Instituições Divinas, 2:19.
[10] História Eclesiástica, Livro II, 1:2.
[11] Retractações, Cap. 21.
[12] Homília sobre Mt 12:48.
[13] Prefácio dos Livros de Salomão.
[14] Jerônimo, De Viris Illustribus, 18.
[15] Homilias sobre São Mateus, 19:3.
[16]Inácio aos Romanos, 4:3.
[17] Confissões, Livro VI, 5:2-3.
[18] De unitate ecclesiae, 3.
[19] Do Sermão do Monte, Livro I, 11.
[20] Letter 93, 10.
[21] Do Batismo, Contra os Donatistas, Livro II, 3.
[22] De unitate ecclesiae, 10.
[23] Contra Fausto, Livro XI, 5.
[24] Letter 148, 4.

Só um interpreta: o papa

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Na caixa de comentáriosdo artigo "A Bíblia é filha da Igreja?", um perfil fake de nome “Sola Ecclesia” começou uma discussão primeiro comigo e depois com o Bruno Lima, terminando por concluir algo bastante curioso:

“É loucura dizer que não deve haver uma única autoridade interpretativa, ou um só interpreta, ou ninguém falará a mesma língua”

Apesar do Bruno já ter lhe dado uma excelente resposta em cima deste mesmo comentário, vou aqui explanar mais um pouco de como essa objeção romanista é mesmo infantil.

Em primeirolugar, se é mesmo apenas um quem pode interpretar – aqui evidentemente fazendo menção ao papa romano – então a conclusão que qualquer estudioso sério e honesto chega é que a Igreja primitiva era tudo, menos católica-romana, já que nem de longe era apenas o papa que interpretava. Mesmo se levássemos em conta a lenda de que Pedro foi o primeiro papa, os problemas na Igreja primitiva não se resolviam na base do “pergunta pro Pedro”, mas na base da discussão teológica com todos os apóstolos, como fica claro no Concílio de Jerusalém, de Atos 15.

Se só Pedro é que podia interpretar, por que raios é que convocaram os apóstolos que estavam pregando em outras partes do mundo da época, como Paulo e Barnabé, que tiveram que voltar a Jerusalém apenas para participar do concílio? Se apenas a opinião de Pedro devesse ser levada em conta e os outros apóstolos fossem meros fantoches subservientes, por que não trouxeram a questão exclusivamente a Pedro, poupando os outros apóstolos que não precisariam nem participar se não podiam interpretar nada? E por que o concílio precisou ainda da posição de Paulo e Barnabé (At.15:12), para enfim terminar com a decisão de Tiago (At.15:13), sendo que bastaria apenas Pedro falar e toda a discussão já estaria resolvida em um passe de mágica?

Em segundolugar, qualquer criatura, por mais ignorante de patrística que seja, conhece o suficiente para saber que os Pais da Igreja não trabalhavam na base do “só o bispo de Roma interpreta, e nós repetimos”. Ao contrário: os Pais que não eram bispos de Roma constantemente faziam suas próprias interpretações bíblicas em seus próprios tratados teológicos, muitas vezes ignorando completamente o que o bispo de Roma pensava sobre determinado tema. É assim que se criou no Oriente o método alegórico de interpretação da Bíblia, muito utilizado por Pais proeminentes de Alexandria como Clemente e Orígenes, em direto contraste com o método literal, utilizado pela escola de Antioquia, representada por teólogos do peso de Inácio e Teófilo.

Se só o papa pudesse interpretar, por que havia métodos diferentes de interpretação da Bíblia, já nos tempos primitivos? Não deveria. Tanto a escola de Alexandria como a de Antioquia deveriam ter um mesmo método interpretativo, que por sua vez estaria completamente condicionado à interpretação do bispo romano. Isso obviamente não existe, e é justamente pela inexistência de uma autoridade central à qual se condicionasse a interpretação bíblica que havia tantas interpretações distintas, sobre vários temas diferentes. Em meu livro "Em Defesa da Sola Scriptura", a partir da página 167, eu listo 20 divergências teológicas entre os Pais da Igreja, que são apenas um resumo de um todo bem maior. Onde estava o “único intérprete”, em meio a tantas divergências teológicas? Não existia.

Em terceiro lugar, que o papa não era o único que interpretava na Igreja primitiva, isso é tão óbvio que basta ler um Pai da Igreja como Orígenes ou Tertuliano. Ambos foram tão longe em suas interpretações que acabaram mais tarde sendo excomungados ou anatemizados nos concílios que se seguiram. Se eles não tivessem “asas” para voar, como chegavam tão longe? Se fosse conhecido na Igreja do século II que apenas o papa tinha o direito de interpretar, nem Orígenes e nem Tertuliano iriam interpretar à sua maneira; ao contrário, iriam apenas repetir o que o suposto papa dizia e não teriam nenhuma razão para se contradizerem entre si e com os demais Pais.

Em quarto lugar, todos os grandes tratados primitivos sobre interpretação da Bíblia tinham zero instrução quanto ao suposto fato da correta interpretação (ou da mera capacidade de interpretar) estar condicionada ao papa de Roma. Agostinho escreveu uma obra gigante, chamada “A Doutrina Cristã”, onde elenca diversos princípios de hermenêutica e exegese das Escrituras. Eu desafio qualquer papista e me mostrar UM ÚNICO verso nesta obra onde o bispo de Hipona diz aquilo que teoricamente seria o mais importante, e cujo fator é o mais ressaltado pelos papistas atuais: que apenas o papa é que pode interpretar a Bíblia.

A verdade é que ele não diz uma loucura dessas em absolutamente lugar nenhum. Suas instruções de exegese eram direcionadas a qualquer leitor que quisesse colocá-las em prática. Não tinha nada que buscar a interpretação do papa e repeti-la como um zumbi ou um papagaio, estando proibido de interpretar qualquer coisa. Agostinho jamais reconheceu qualquer princípio de que só o papa podia interpretar a Bíblia, nem mesmo quando escrevia livros inteiros sobre interpretação da Bíblia. Ao contrário, ele claramente dizia que o próprio leitor poderia orar e interpretar as Escrituras, examinando-a por si mesmo:

“Portanto, eu tenho nesta carta, que chegou a você, mostrado por passagens da Sagrada Escritura, que você pode examinar por si mesmo, que nossas boas obras e piedosas orações não poderiam existir em nós, a menos que tenhamos recebido tudo a partir dele”[1]

A Escritura podia ser interpretada por todos os que a lessem:

“Daí provém que a divina Escritura, a qual socorre a tão grandes males da vontade humana, tendo sido originada de uma só língua que lhe permitia propagar-se oportunamente pelo orbe da terra, foi divulgada por toda a parte, em diversidade de línguas, conforme os intérpretes. Os que a leem não desejam encontrar nela mais do que o pensamento e a vontade dos que a escreveram e desse modo chegar a conhecer a vontade de Deus, segundo a qual creem que esses homens compuseram”[2]

Ao invés de dizer que “os que leem” devem buscar a interpretação do infalível magistério romano, ele diz que os que leem devem tentar interpretar a Bíblia em conformidade com o sentido expresso pelos homens que a compuseram. Por isso, “quem escruta os divinos oráculos deve esforçar-se por chegar ao pensamento do autor, por cujo intermédio o Espírito Santo redigiu a Escritura”[3].

O princípio seguido e incentivado por Agostinho não era o de ler a Bíblia e consultar a interpretação oficial do papa, mas sim aquele mesmo princípio reformado, onde o leitor deve particularmente orar a Deus para que possa entender as Escrituras:

“Agora, quem é que se submete a divina Escritura, se não aquele que a lê ou ouve piamente, submetendo a ela como de autoridade suprema; de modo que o que ele entende ele não rejeita por causa disso, sentindo que ela seja contrária aos seus pecados, mas ama sendo repreendido por ela, e se alegra de que seus males não são poupados até que sejam curados; e por isso que, mesmo em relação ao que lhe parece obscuro ou absurdo, ele, portanto, não levanta contradições ou controversas, mas ora para que ele possa entender, entretanto lembrando que a boa vontade e reverência há de se manifestar no sentido de uma tão grande autoridade?”[4]

Como já ressaltei, Agostinho redigiu uma obra inteira destinada às regras de interpretação da Bíblia, conhecida como “A Doutrina Cristã”, dividida em vários volumes. Surpreendentemente, nela não há sequer uma única linha dizendo que a interpretação correta da Bíblia está confiada exclusivamente a um magistério romano. Ao contrário: ele mostra ao leitor como ele deve interpretar particularmente a Bíblia, seguindo as regras e instruções de exegese que ele observou em sua obra:

“Quanto aos princípios que devem ser seguidos na interpretação das Sagradas Escrituras, são demonstrados no livro que eu escrevi, e em todas as introduções aos livros divinos que eu tenho na minha edição prefixado para cada um; basta remeter ao prudente leitor”[5]

Seria realmente de um esquecimento incrível ou de uma soberba enorme se Agostinho tivesse propositalmente ou ocasionalmente deixado de mencionar aquilo que deveria ser o mais importante sobre a interpretação da Bíblia em uma obra sobre a interpretação da Bíblia: que a Bíblia só pode ser corretamente interpretada pelo magistério romano. A razão pela qual Agostinho nunca cita um magistério particular em Roma como autoridade infalível na interpretação das Escrituras, mas transmite regras gerais de exegese para que qualquer leitor pudesse ler e interpretar a Bíblia, é porque a Igreja primitiva só era Romana na ilusão de mentes presas ao erro, ao sofisma e à mentira.

Em quintolugar, os concílios primitivos são a prova irrefutável de que a Igreja antiga não funcionava na base do “só o papa interpreta”. Como disse o Bruno na resposta dada ao fake católico:

“Como você acha que os concílios funcionavam? O bispo de Roma dizia ‘esta é a verdade’, ai todo mundo apenas concordava? Não mesmo. Nenhum dos sete primeiros concílios ecumênicos foi ou convocado ou presidido pelo bispo de Roma e eles expressavam a opinião de um colégio de bispos, que poderia ser de algumas centenas”

Este assunto já foi tratado com mais abrangência neste artigo, razão pela qual não vou me estender aqui falando as mesmas coisas. Resumidamente, basta mencionar que:

• Nenhum concílio ecumênico foi convocado por um papa; todos foram convocados por imperadores bizantinos.

• Um concílio geral podia ignorar as decisões do pontífice romano.

• As decisões tomadas pelos papas em casos que envolviam outros bispos foram muitas vezes confirmadas por concílios ecumênicos. Isso indica que a própria decisão papal em si não era considerada final.

Leia mais sobre isso clicando aqui.

Em sextolugar, o fato de a Igreja antiga ter muitas vezes contrariado e se oposto explicitamente a um posicionamento ou interpretação do bispo romano também prova que eles não viam o bispo de Roma como “intérprete único”. Por exemplo, quando o papa Honório aderiu à heresia monotelista, o Concílio de Calcedônia não aceitou a heresia pelo simples fato do papa tê-la aceito. Em vez disso, anatemizou o papa:

“Anatemizamos o herege Sérgio, o herege Ciro e o herege Honório... O autor de todo o mal encontrou um instrumento próprio para a sua vontade em Honório, o antigo papa de Roma”[6]

Quando o papa Zózimo acatou a heresia pelagiana, os outros bispos não se sujeitaram automaticamente ao pelagianismo. Em vez disso, pressionaram o papa a tal ponto em que ele foi obrigado a mudar de opinião[7].

Quando o papa Vigílio se opôs à condenação da obra “Três Capítulos”, dos bispos Teodoro, Teodoreto e Ibas, o Concílio de Constantinopla não quis nem saber, e condenou os Três Capítulos assim mesmo. Como se não bastasse, o concílio ameaçou excomungar o papa, que logo se viu novamente na obrigação de mudar de opinião para não ser removido do cargo[8].

Quando o papa excomungou Melécio, o bispo de Antioquia da época, o Concílio de Constantinopla não quis nem saber, e chamou Melécio para não apenas participar, mas presidir o concílio[9]!

Quando Vitor, o arrogante bispo romano do segundo século, tentou excomungar os bispos do oriente por causa da divergência da Páscoa (que eu já tratei neste artigo), ele não apenas falhou em excomungá-los, como também foi duramente repreendido por todos os outros bispos, inclusive por Irineu[10].

Tudo isso mostra que o bispo de Roma nem de longe era visto como uma espécie de autoridade final e infalível, cuja palavra devesse ser sempre acatada em toda e qualquer circunstância. Em vez disso, era um bispo como todos os outros. O papista pode até dizer que “só o papa pode interpretar”, mas neste caso terá que considerar que toda a Igreja antiga não era católica-romana, e muito menos seguia este esquema. Em outras palavras, para manter de pé o pobre e infantil argumento do “só um interpreta”, eles terão que dizer que a Igreja primitiva não era uma Igreja verdadeira, pois não seguia o “método verdadeiro”, que só veio a surgir em plena Idade medieval no ocidente. Poucos estarão dispostos a admitir isso.

Em sétimolugar, e para concluir, nem os próprios papistas seguem este método que eles propõem e dizem defender. Ou seja, são pouquíssimos deles que realmente apenas repetem a interpretação do papa, e se calam nas coisas em que a Igreja não afirma explicitamente. 99% dos apologistas católicos são tão malandros que praticam livre exame mesmo quando vociferam contra o livre exame protestante. Eles simplesmente não conseguem se limitar a apenas repetir e defender somente o que o catecismo afirma abertamente.

O Sr. Obsceno, por exemplo, tem um blog inteiro de livre exame. E ele diz ser um blog católico, defendendo uma doutrina católica, que todavia ele próprio reconhece que o magistério não ensina nada disso:

(Clique na imagem para ampliar)

Traduzindo: "Nem a Igreja sabe, nem os Pais sabem, mas EU sei !!!"

Se o magistério não tem nenhuma posição oficial sobre o Apocalipse, que raios ele faz criando um blog inteiro interpretando todo o Apocalipse capítulo por capítulo? A resposta é óbvia e autoevidente: livre exame. O mesmo livre exame que os hipócritas vociferam como animais quando praticado pelos protestantes é largamente utilizado por eles mesmos, quando lhes convém. Milhares de apologistas católicos afora fazem afirmações categóricas que de modo algum podem ser encontradas no catecismo ou em qualquer outro documento oficial da Igreja Romana, e uma simples olhada nos prints da minha série sobre os zumbis tridentinos mostra isso claramente (veja aquie aqui).

Católicos como o “Demapro” defendem que o “tabernáculo perfeito” de Hebreus 9:11 é Maria – mesmo sem o catecismo afirmar isso em parte alguma. Católicos como Paulo Leitão defendem que Maria é “co-redentora” – mesmo sem o catecismo afirmar isso em parte alguma. Católicos como o Sr. Richard Smith defendem que Maria é co-participe da Santíssima Trindade – mesmo sem o catecismo afirmar isso em parte alguma. Católicos como Cris Macabeus defendem que toda a tribulação apocalíptica já aconteceu em 70 d.C – mesmo sem o catecismo afirmar isso em parte alguma. Católicos como o padre Jonas e o Gargamel defendem o dom de línguas ao estilo pentecostal – mesmo sem o catecismo afirmar isso em parte alguma.

Pode ser que algum dia a Igreja Romana venha a incorporar essas doutrinas? Pode. Mas, até lá, se eles fossem mesmo obedientes a seu próprio critério, deveriam calar a boca onde a Igreja se cala, e só falar onde a Igreja fala. Afinal, é até possível que a Igreja nunca se posicione sobre estes assuntos, ou até mesmo que se posicione em contrário. Não cabe ao católico praticar livre exame, o mesmo que ele tanto condena nos evangélicos. Mas eles praticam, porque nem eles mesmos levam a sério o seu próprio critério. No fundo, lá no fundo, todos eles sabem que essa história de “só o papa interpreta” é uma grande bobagem.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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[1] Letter 214, 4.
[2] A Doutrina Cristã, Livro II – Sobre os sinais a serem interpretados nas Escrituras, 6.
[3] A Doutrina Cristã, Livro III – Sobre as dificuldades a serem dissipadas nas Escrituras, 38.
[4] Do Sermão do Monte, Livro I, 11.
[5] Letter 75, 6.
[6] 8ª Sessão do referido concílio.
[8]Whelton, M., (1998) Two Paths: Papal Monarchy - Collegial Tradition, (Regina Orthodox Press; Salisbury, MA), pp. 68.
[9]Empie, P. C., & Murphy, T. A., (1974) Papal Primacy and the Universal Church: Lutherans and Catholics in Dialogue V (Augsburg Publishing House; Minneapolis, MN), p. 82.
[10] Eusébio de Cesareia. História Eclesiástica, Livro V, cap. XXIV.

Vídeos para animar seu dia

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Estou preparando um artigo importante que será publicado nos próximos dias. Enquanto ele não chega, selecionei alguns vídeos divertidos que eu presumo que a maioria de vocês já conhece, mas que nunca perdem a graça.

1) Note a comoção do público quando percebe que o deus deles era uma imagem de gesso sem vida que não podia nem se defender:


“Os ídolos deles, de prata e ouro, são feitos por mãos humanas. Têm boca, mas não podem falar, olhos, mas não podem ver; têm ouvidos, mas não podem ouvir, nariz, mas não podem sentir cheiro; têm mãos, mas nada podem apalpar, pés, mas não podem andar; nem emitem som algum com a garganta. Tornem-se como eles aqueles que os fazem e todos os que neles confiam” (Salmos 115:4-8)

O mano Isaías pediu permissão para comentar o vídeo:

Isaías 44
10 Quem é que modela um deus e funde uma imagem, que de nada lhe serve?
11 Todos seus companheiros serão envergonhados; pois os artesãos não passam de homens. Que todos eles se ajuntem e declarem sua posição; eles serão lançados ao pavor e à vergonha.
12 O ferreiro apanha uma ferramenta e trabalha com ela nas brasas; modela um ídolo com martelos, forja-o com a força do braço. Ele sente fome e perde a força; passa sede e desfalece.
13 O carpinteiro mede a madeira com uma linha e faz um esboço com um traçador; ele o modela toscamente com formões e o marca com compassos. Ele o faz na forma de homem, de homem em toda a sua beleza, para que habite num santuário.
14 Ele derruba cedros, ou talvez apanhe um cipreste, ou ainda um carvalho. Ele o deixou crescer entre as árvores da floresta, ou plantou um pinheiro, e a chuva o fez crescer.
15É combustível usado para queimar; um pouco disso ele apanha e se aquece, acende um fogo e assa um pão. Mas também modela um deus e o adora; faz uma imagem e se encurva diante dela.
16 Metade da madeira, ele a queima no fogo; sobre ela ele prepara sua refeição, assa a carne e come sua porção. Ele também se aquece e diz: "Ah! Estou aquecido; estou vendo o fogo".
17 Do restante ele faz um deus, seu ídolo; inclina-se diante dele e o adora. Ora a ele e diz: "Salva-me; tu és meu deus".
18 Eles nada sabem, nada entendem; seus olhos estão tapados, não conseguem ver, e suas mentes estão fechadas, não conseguem entender.
19 Ninguém pára para pensar, ninguém tem o conhecimento ou o entendimento para dizer: "Metade dela usei como combustível; até mesmo assei pão sobre suas brasas, assei carne e comi. Faria eu algo repugnante com o que sobrou? Iria eu ajoelhar-me diante de um pedaço de madeira?"
20 Ele se alimenta de cinzas, um coração iludido o desvia; ele é incapaz de salvar a si mesmo ou de dizer: "Esta coisa na minha mão direita não é uma mentira?"


2) “Palhaço é você, idiota!”



3) Esse vídeo é fake, mas quem fez é profissional:



4) Faça esse teste da zueira no seu facebook:




5) Padre Gargamel dando piti com os outros padres:



Ouça o Padre Paulo Ricardo até o fim! hahaha
Publicado por Papo de um Católico Mariano em Segunda, 25 de janeiro de 2016


6) Astrólogo que disse que o Brasil estaria “de alto astral” na Copa de 2014:



7) Astrólogo mais ruim ainda, que disse que o microchip seria obrigatório nos Estados Unidos até 2013:


Isso é tudo, pessoal.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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Fim da Fraude (Refutando as mentiras dos apologistas católicos)

O livro que é o tapa na cara de todo apologista católico

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Quantas vezes você já ouviu um apologista católico embusteiro (com o perdão do pleonasmo) dizer coisas como:

“A inquisição não matou quase ninguém!”

“Não havia tortura na inquisição!”

“Quem matava era o Estado, e a Igreja não podia fazer nada contra isso!”

Pois bem. Está na hora de acabar com toda essa palhaçada do revisionismo católico porco e virulento, e mostrar a verdadeira face da inquisição. Mas quem irá fazer isso não sou eu. Como protestante, eu seria suspeito demais. Portanto, vou usar aqui apenas o que diz o Manual dos Inquisidores, uma fonte primária absolutamente imprescindível para qualquer um que queira estudar o assunto, e que misteriosamente nunca é recomendada pelos apologistas católicos nos sites deles, pela razão óbvia de que essa fonte primária é o golpe de morte em suas intenções revisionistas patéticas.

O livro foi escrito por Nicolau Eymerich, um inquisidor dominicano do século XIV, e ampliado por Francisco Peña, um doutor em Direito Canônico do século XVI. Sua importância é tão grande que, depois da Bíblia (o Livro dos Salmos é de 1457), foi um dos primeiros textos a serem impressos, em 1503, em Barcelona. E quando o Vaticano quis reanimar a inquisição para fazer frente à Reforma protestante mandou reeditar o livro como manual para todos os inquisidores, primeiro em Roma, em 1578, 1585 e 1587, e depois em Veneza, em 1595 e 1607.

Referência:

EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1993.

Vejamos o que essa fonte primária tem a nos dizer sobre a inquisição, e se ela concorda com o que dizem os revisionistas católicos como Pe. Paulo Ricardo, Felipe Aquino, Paulo Leitão e demais mentirosos:


A inquisição que não torturava ninguém

“Comumente, a prática dos tribunais em relação a esses hereges é a seguinte: Quem, praticando tais atos, comparece espontaneamente diante do inquisidor e declara que não sabia que era herege, e que tinha sempre guardado a fé no fundo do coração, é obrigado a abjurar sob forte suspeita de heresia, recebendo uma pena bem pesada. Quem confessa voluntariamente os seus atos, e admite, sem contestação, que conhece a natureza e o significado deles, é obrigado a abjurar como formalmente herege ou apóstata, e receberá uma pena ainda mais pesada. As penas serão de um rigor extremo, se o depoente confessar que não praticou seus atos por medo, e sim voluntariamente. Quem não comparece espontaneamente e confessa que praticou atos heréticos, sempre negando sua adesão intelectual à heresia, será submetido à torturapara que o inquisidor possa formar uma opinião sobre a realidade da adesão mental do acusado à verdadeira fé. Depois da tortura, se se mantiver na posição inicial, será também obrigado a abjurar sob forte suspeita de heresia: é possível, neste caso, que tenha praticado atos condenáveis por medo, e não voluntariamente. Se, ao contrário, depois de torturado, confessar suas crenças heréticas, será obrigado a abjurar como herege formal ou apóstata (se resolver retornar ao seio da Igreja). Este receberá as penas mais pesadas” (p. 40)

“O inquisidor interrogará, então, o suspeito sobre este assunto, torturando-o se ele fingir ignorar o valor dos sacramentos” (p. 53-54)

“Seus poderes? Receber todas as denúncias, informações e acusações de quem e contra quem quer que seja (dentro dos limites da diocese); proceder contra quem achasse que fosse oportuno; citar tanto os criminosos quanto as testemunhas; prender; manter preso; ouvir depoimentos e confissões, examiná-los, convocar para depor; torturar – junto com o bispo – para obter confissões; prender, convocar especialistas e fazer tudo o que, de uma maneira geral, o inquisidor poderia fazer se estivesse fisicamente presente” (p. 95)

“O nono truque consiste em simular idiotice ou demência. Fingem que são loucos – como fez o rei Davi diante de Acaz – para não serem humilhados. Riem enquanto respondem às perguntas, misturando várias palavras inconvenientes, engraçadas e absurdas. Assim, acabam encobrindo os seus erros.Fazem isso frequentemente, quando sentem que vão ser torturados ou que vão ser entregues à autoridade secular. Tudo isso, para escapar à tortura e à morte. Vi isso mil vezes: os acusados fingem que são completamente loucos ou que têm somente alguns momentos de lucidez” (p. 121-122)

“A questão de se fingir de louco merece uma atenção especial. E se se tratasse, por acaso, de um louco de verdade? Para ficar com a consciência tranqüila, tortura-se o louco, tanto o verdadeiro como o falso. Se não for louco, dificilmente poderá continuar a sua comédia sentindo dor. Se houver dúvidas, e se não se puder saber se se trata mesmo de um louco, de toda maneira, deve-se torturar, pois não há por que temer que o acusado morra durante a tortura(p. 122)

“O veredicto da tortura é assim: ‘Nós, inquisidor etc, considerando o processo que instauramos contra ti, considerando que vacilas nas respostas e que há contra ti indícios suficientes para levar-te à tortura; para que a verdade saia da tua própria boca e para que não ofendas muito os ouvidos dos juízes, declaramos, julgamos e decidimos que tal dia, a tal hora, será levado à tortura (p. 153)

“Existem pessoas com o espírito tão fraco, que confessam tudo com o mínimo de tortura, mesmo se não cometeram nada. Outras, são tão obstinadas que não abrem a boca, independentemente das torturas que sofrerem. Há pessoas que já foram torturadas; estas suportam mais que as outras a tortura, porque contraem os membros, endurecendo-os; porém, outras pessoas saem enfraquecidas das torturas anteriores e ficam incapazes de suportar outras. Existem os enfeitiçados que, sob o efeito de bruxarias utilizadas durante a tortura, ficam quase insensíveis: preferem morrer a confessar” (p. 154)

“Se não conseguir nada através desses meios, e se as promessas se revelarem ineficazes, executa-se a sentença e tortura-se o réu da forma tradicional, sem buscar novos artifícios nem inventar os mais rebuscados: mais fracos ou mais violentos; de acordo com a gravidade do crime. Durante a tortura, primeiramente, interroga-se o réu sobre os pontos menos graves, depois, sobre os mais graves, porque vai confessar mais facilmente as faltas pequenas do que as graves. O escrivão, enquanto isso, tomará nota das torturas, das perguntas e respostas. Se, depois de ter sido convenientemente torturado, não confessar, vão lhe mostrar os instrumentos de um outro tipo de tortura, dizendo-lhe que vai passar por todos eles, se não confessar. Se mesmo assim não conseguir nada, continua-se com a tortura no dia seguinte, e no outro, se for preciso (p. 155)

“Quando o réu, submetido a todo tipo de tortura, continua sem confessar, param de brutalizá-lo e o soltam. Se pedir a definição da sentença, não se pode recusar. Será lavrada nos seguintes termos: que depois do exame meticuloso de seu dossiê, não se encontrou nada que pudesse provar com legitimidade o crime de que o acusaram, prosseguindo nos termos previstos para sentença de absolvição”(p. 155)

“A pessoa que confessa sob tortura tem as suas palavras registradas pelo escrivão. Depois da sessão, será conduzido para um local onde não exista nenhum sinal de tortura. Lerão a confissão feita sob tortura e continuarão o interrogatório até obterem de sua boca toda a verdade. Se o réu não confirmar a confissão ou se negar ter confessado sob tortura, e se ainda não passou por todas as sessões previstas, continua-se a torturá-lo(p. 155)

“Uma questão que merece particular atenção é quanto à existência ou não de categorias de pessoas não torturáveis, em decorrência de algum privilégio. Efetivamente, funciona, do ponto de vista jurídico, e com uma certa frequencia, a ideia de que certas pessoas não podem ser torturadas – soldados, cavaleiros, pessoas importantes – devendo se limitar a aterrorizá-los, mostrando-lhes os instrumentos de tortura e ameaçando-os de utilizá-los. Mas este é um direito que não se conta nas questões de heresia: nenhuma das pessoas isentas de tortura a propósito de qualquer delito não o será, tratando-se de heresia. É o caso de se perguntar, em contrapartida, se se podem torturar as crianças e os velhos por causa da sua fragilidade.Pode-se torturá-los, mas com uma certa moderação; devem apanhar com pauladas ou, então, com  chicotadas. E o que fazer se o réu em questão é uma mulher grávida? Esta não é torturada nem aterrorizada, para evitar que dê à luz ou aborte. Deve-se tentar arrancar-lhe a confissão através de outros meios, antes de dar à luz. Depois do parto, não haverá mais nenhum obstáculo à tortura (p. 156-157)

“O valor da confissão é absoluto quando obtido sob ameaça de tortura ou através da apresentação dos instrumentos de tortura. Nesse caso, considera-se que o réu confessou espontaneamente, tendo em vista que não foi torturado. A mesma coisa, se a confissão é obtida quando o réu já está despido e amarrado para ser torturado. Se confessar durante a tortura, deve, depois, confirmar a confissão, já que esta foi obtida através do sofrimento e do terror. Dizem que podem recomeçar as torturas, quando sob o seu efeito conseguira-se novos indícios: deve-se assinalar que tudo o que o réu disser sob tortura pode ser considerado como um novo indício, e, em tais casos, é absolutamente correto recomeçar (p. 157)

“Além disso, muitos réus ficam, depois das primeiras sessões de tortura, num tal estado de fragilidade e enfermidade, que devemos nos perguntar, sinceramente, se seriam capazes de suportar o restante” (p. 157)

“Se o réu foi pouco torturado, podem-se repetir as torturas, até que o réu seja suficientemente torturado (p. 157)

“O réu confessa sob tortura. Depois, levado a confirmar a confissão, desdiz tudo. Em tais situações, recomeça-se toda a série de torturas, porque a confissão obtida durante a série anterior constitui, justamente, o novo indício que se precisa” (p. 158)

“Quando se pode dizer que alguém foi ‘suficientemente torturado’? Quando parecer aos juízes e especialistas que o réu passou, sem confessar, por torturas de uma gravidade comparável à gravidade dos indícios. Entenderão, portanto, que expiou suficientemente os indícios através da tortura” (p. 158)

“Como o réu confirma a confissão efetuada sob tortura? O escrivão pergunta-lhe depois da tortura: ‘Lembras-te do que confessaste ontem ou anteontem sob tortura? Então, repete agora com total liberdade’. E registra a resposta. Se o réu não confirmar, é porque se lembrou e, então, é novamente submetido à tortura (p. 158)

“A prisão na qual os presos devem cumprir pena – depois do processo – será comum ao inquisidor e ao bispo. É uma prisão horrorosa, porque foi concebida muito mais para o suplício dos condenados do que para sua simples detenção. É nesta prisão que deverão ocorrer as sessões de tortura” (p. 203)

O suspeito que só tem uma testemunha contra ele é torturado. Realmente, um boato e um depoimento constituem, juntos, uma semiprova, o que não causará espanto a quem sabe que um único depoimento já vale como um indício” (p. 208)

“Vamos logo assinalando que, no começo, os inquisidores não torturavam, com medo de cometerem alguma irregularidade. Mandavam aplicar a tortura através de juízes leigos (Inocêncio IV). Mas soube-se logo que, nos tribunais leigos, nem sempre se procedia com o sigilo absoluto exigido nas questões inquisitoriais. E constatou-se que toda questão inquisitorial envolve, por definição, o domínio da fé. Por isso, só os inquisidores devem conduzi-la. Na maioria das vezes, não se levam esses casos até o fim sem recorrer à tortura. Pareceu, então, mais prudente confiar aos inquisidores e bispos a tarefa de torturar, ficando assim determinado nos documentos posteriores em que se baseia Eymerich, como, por exemplo, em Urbano IV (ut negotium)” (p. 209-210)

“Se, por outros crimes e diante dos tribunais, a regra é nunca torturar certas categorias de pessoas (por exemplo, letrados, soldados, autoridades e seus filhos, crianças e velhos), para o terrível crime de heresia não existe privilégio de exceção, não existe exceção: todos podem ser torturados. O motivo? O interesse da fé: é preciso banir a heresia dos povos, é preciso desenraizá-la, impedir que cresça” (p. 211)

“Quanto à idade, os menores de vinte e cinco anos serão torturados, mas não as crianças de menos de quatorze anos. Elas serão aterrorizadas e chicoteadas, mas não torturadas” (p. 212)

“Por fim, quero assinalar que há países em que a prática da tortura é totalmente proibida. É o caso do reino supercatólico de Catalunha-Aragão, de onde eu sou – mas, às vezes, neste reino, autorizam torturar os acusados no Tribunal da Inquisição (p. 212)

“Os inquisidores observam, à luz da obra de Eymerich e do exemplo citado, que um único depoimento basta para aplicar a tortura, como demonstra claramente o meu comentário a respeito do sétimo princípio” (p. 212)

“Lembremos que um só testemunho basta para justificar a tortura, sem precisar de indícios fortes ou graves. O conteúdo dos depoimentos basta” (p. 213)

Como vemos, a inquisição boazinha dos nossos amigos apologistas católicos é essa na qual se torturava o suspeito de cometer o terrível “crime” de heresia até arrancar a “confissão” da boca dele. O contraste com os tribunais civis é expresso nitidamente: enquanto o Estado não torturava certos tipos de pessoas (como velhos e crianças), a Igreja não dava privilégio de exceção: torturava-se todo mundo (p. 211). Mas como os católicos eram bonzinhos e misericordiosos, apenas chicoteavam as crianças menores de 14 anos... o resto teria torturas bem piores (p. 212). Ademais, Peña é claro ao dizer que mesmo nos lugares onde o poder civil não praticava a tortura, abria-se uma exceção para a inquisição (p. 212).

Em outras palavras, enquanto o Estado ou não torturava ninguém ou não torturava todo mundo, a inquisição torturava a tudo e a todos. Para piorar, não havia nenhum critério sério para se estabelecer a tortura. Como Peña cansa de destacar, bastava um único testemunho para levar a pessoa à tortura, mesmo “sem precisar de indícios fortes ou graves” (p. 213). Isso significa que todo mundo que não “confessava” era torturado, uma vez que todos que estavam sendo julgados pela inquisição haviam sido denunciados por alguém. Até mesmo aqueles que nunca haviam cometido “heresia” eram torturados para “provar” isso. O ônus da prova não estava com o acusador, estava com o acusado. Era essa a moral católica.

A forma de se extrair as confissões também era infame. Como os textos nos mostram, funcionava exatamente da forma com que Duché descreveu:

“Torturar um suspeito para obter sua confissão era lhe fazer um favor. Inocêncio IV autorizou a tortura nos casos extremos, e uma só vez; os inquisidores concluíram disso que uma só vez por cada interrogatório. Com o chicote, o fogo, a permanência prolongada no fundo de uma masmorra, assando os pés do acusado com carvões ardendo, amarrando-o sobre um aparato de tortura e separando-o docilmente os membros do corpo com a ajuda de uma tesoura... tinha que ser o diabo para não obter uma confissão. Certo que o tribunal, em sua sabedoria, sabia que as confissões assim tiradas não tinham valor; e esta dificuldade se remediava fazendo com que o acusado as confirmasse três horas depois, bem entendido que, se se retratasse, poderia voltar a recomeçar a coisa. Esses entravam em um ciclo perpétuo, e aos que se obstinavam em negar e estavam convencidos, e aos que haviam confessado seu erro mas haviam recaído nele, os relapsos, o tribunal os entregava ao braço secular para sua execução, recordando que a Igreja tinha horror a todo derramamento de sangue. Por isso os queimavam: assim o sangue não corria; na Espanha esta cerimônia se chamava um ato de fé, o auto-da-fé[1]


A inquisição que não matava ninguém

Como eu já mostrei neste outro artigo, o fato de ser o Estado que matava não isenta a responsabilidade da Igreja pelo ato, pois todos os concílios diziam expressamente que o Estado era obrigado a matar, quando ela entregava a seu “braço secular”. Em outras palavras, o Estado só matava os hereges porque a Igreja o forçava a matá-los, entregando-os na sua mão justamente com esta finalidade. Os magistrados não tinham outra opção, ou então eram punidos com excomunhão e eram depostos do cargo. O Manual dos Inquisidores retrata isso com perfeição. Há uma parte de perguntas e respostas, que trata precisamente deste assunto. O interlocutor repete uma afirmação de cunho popular, e em seguida o inquisidor refuta:

Alegação– Ressalta-se que este ou aquele príncipe condena judeus à morte: portanto, isso não é uma tarefa da Igreja, mas do poder civil.

Refutação– O fato de serem condenados à morte pelos príncipes não exclui a Igreja de fazer o mesmo, se achar válido, depois do processo. Por outro lado, a Igreja deve intervir para condenar onde, justamente, reis e príncipes tenham a audácia de proteger os judeus. Sem a Igreja, sob o pretexto de que cabe ao poder civil condenar, esses hereges seriam, na verdade, protegidos. (p. 64-65)

Como está óbvio na resposta do inquisidor, o poder civil só matava os hereges porque a Igreja os obrigava a matar. Ele deixa claríssimo que se não fosse pela Igreja esses hereges seriam protegidos, ou seja, não seriam mortos. Eles eram mortos porque a Igreja Assassina queria que eles fossem mortos. Simples assim.

Em outra parte do Manual, há outra alegação e refutação, que se segue:

Alegação– Os especialistas em Direito Civil lembram o princípio de que ‘ninguém deve provocar tumulto nas províncias sob o pretexto de fazer investigações sobre heresia: cabe, portanto, ao governo se ocupar disto’. E concluem: se os judeus atacam a religião, é problema dos judeus e do poder civil, ninguém deve se envolver.

Refutação – Este argumento não significa nada. Entende-se, por este princípio do Direito Civil, que o inquisidor não deve se envolver com as questões civis durante as investigações (que são, efetivamente, da competência do poder civil); ele não quer dizer que cabe ao poder civil definir quando e como o inquisidor deve instaurar processos. É possível que este princípio seja interpretado no sentido mencionado anteriormente, em uma ou outra região: mas as leis daí decorrentes devem ser consideradas como obstáculos ao exercício da inquisição, e, consequentemente, devem ser anuladas. (p. 65)

Mais uma:

Alegação– Finalmente, os especialistas em Direito Civil dizem que, a rigor, cabe ao poder civil e ao bispo, juntos, e não ao inquisidor, julgar o delito canônico. Se é cometido por judeus ou por cristãos, continua a ser um delito: a questão é, portanto, da competência do poder civil também, e não exclusivamente do bispo.

Refutação– Voltemos aos textos conciliares e pontíficos: cabe aos bispos e inquisidores, juntos, convocar, julgar e condenar. E aos civis, executar as sentenças da inquisição, principalmente, quando a punição implica derramamento de sangue. Não existe nada pior do que esse tipo de argumento. (p. 65-66)

Como vemos, eram os próprios inquisidores (autores do Manual em questão) que refutavam expressamente a alegação de que a morte dos hereges era de competência exclusiva do poder civil. Eles queriam o mérito dos assassinatos para a conta da Igreja; afinal, matar os hereges era um grande serviço a Deus na visão desses psicopatas católicos. Aos civis cabia apenas executar as sentenças da inquisição, ou seja, executar o herege na fogueira, no “auto-da-fé”.


A inquisição que amava os judeus

A Igreja Católica Romana sempre teve um histórico desprezível de abominável perseguição sistemática aos judeus, desde quando o exército de Pedro o Eremita massacrou as comunidades judaicas na Cruzada Popular, e de quando a Cruzada Oficial, ao conquistar Jerusalém, colocou todos os judeus para dentro da sinagoga e ateou fogo. Os judeus eram constantemente perseguidos, tinham seus bens confiscados, eram considerados de “sangue impuro” e eram severamente caçados pela inquisição, seja ela a romana, a medieval, a espanhola ou a portuguesa. Eles eram o alvo predileto dos inquisidores:

“Os cristãos que aderem ao judaísmo e os judeus que, convertidos ao Cristianismo, retornam, depois de algum tempo, à execrável seita judaica, são hereges e devem ser vistos como tais. Tanto uns quanto outros renegaram a fé cristã assumida através do batismo. Se querem renunciar ao rito judaico sem renunciar ao judaísmo nem fazer penitência, serão perseguidos como hereges impenitentes pelos bispos e inquisidores, que os entregarão para serem queimados. Em segundo lugar: os cristãos que ajudaram, aconselharam, etc, um cristão convertido ou reconvertido ao judaísmo serão considerados como protetores da heresia e julgados como tais, pois são hereges tanto os que aderem ao judaísmo como os que se reconvertem a ele(p. 58-59)

“Por causa de todos estes crimes, os judeus não poderão escapar ao julgamento do bispo e do inquisidor, nem a seus justos castigos” (p. 62)

“Os hóspedes dos hereges, se estão excomungados há um ano, serão exilados para sempre, tendo os seus bens confiscados. Os inquisidores não chegaram a um acordo sobre o que fazer com os parentes próximos dos ‘hospedeiros’. Deve-se bani-los também? Não existe uma legislação clara a respeito. Se os ‘hospedeiros’ são judeus, ou outro tipo de infiel, serão processados sem maiores investigações e condenados às penas previstas habitualmente: prisão perpétua, entrega ao braço secular, confisco dos bens (p. 72)

“O inquisidor procederá qualquer cristão que manifeste, por um dos indícios apontados, uma simpatia, de fato pela seita judaica” (p. 132)

“Haveria uma suspeita gravíssima se o filho ou os descendentes do convertido continuassem a se abster de certas carnes: por que se absteriam, senão por respeito e reverência a essa satânica seita judaica?” (p. 133)

Pergunta: De uma maneira geral, contra quem o inquisidor pode proceder? Resposta:Já dissemos que pode proceder contra os blasfemadores, lançadores da sorte, necromantes, excomungados, apóstatas, cismáticos, neófitos que retornaram aos erros anteriores, judeus, infiéis que vivem no meio dos cristãos, invocadores do diabo. Digamos que, de uma maneira geral, o inquisidor procede contra todos os suspeitos de heresia, os difamados de heresia, hereges, seus seguidores, quem lhes dá guarida ou ajuda e quem emperra o trabalho do Santo Ofício, retardando, direta ou indiretamente, sua ação” (p. 200)

Há muito mais a ser contado sobre o Manual dos Inquisidores (Directorium Inquisitorum, no original em latim), mas limitarei este artigo por aqui, senão ele poderia se tornar um livro. Recomendo entusiasticamente esta fonte primária sobre a inquisição pela boca dos próprios inquisidores da época, a todos os leitores deste blog. Mais do que isso, sinta-se formalmente intimado a adquirir este livro. Embora ele dificilmente possa ser achado em uma livraria comum, certamente consta em qualquer biblioteca decente. Não perca a chance de ler esta obra. Há alguns resumos sobre ela na internet, mas não compensam a oportunidade de lê-la por completo.

Este livro católico é o maior tapa na cara que os apologistas católicos já receberam. De agora em diante, o picareta e cretino que continuar defendendo a inquisição para salvar a honra da “Santa” Igreja não é mais do que um monstro moral e uma personificação da desonestidade humana. Isso é para mostrar até que ponto os apologistas embusteiros são capazes de modificar a história para não admitir que a Igreja Romana é, definitivamente, “a mãe de todas as prostituições e abominações da terra” (Ap.17:5), embriagada com o sangue dos mártires (Ap.17:6). Uma Igreja encharcada de sangue até o pescoço. Uma Igreja que vendeu a sua fé.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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[1] DUCHÉ, Jean. Historia de la Humanidad II – El Fuego de Dios. 1ª ed. Madrid: Ediciones Guadarrama, 1964, p. 527.

Adulterações católicas propositais nos escritos dos Pais da Igreja

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Frequentemente pessoas vêm na caixa de comentários com algum texto patrístico que supostamente “prova” o primado jurisdicional do bispo de Roma, e dizendo: “Lucas, explica esse texto”; “Lucas, como você interpreta esse outro texto?”, etc. Só que tem um problema: se o texto não existe, não há nada para ser “explicado”. Várias vezes me passaram textos forjados atribuídos a Cipriano na caixa de comentários de artigos do blog, e eu sempre tenho que repetir que são fraudes, mas não muito tempo depois vem um outro leitor perguntar a mesma coisa. Por isso, mencionarei aqui alguns dos textos forjados pelos papistas embusteiros para não precisar ficar explicando texto por texto a toda hora.

O texto mais mencionado em favor do primado papal é esse que supostamente foi dito por Cipriano, o bispo de Cartago:

“Estar em comunhão com o Papa é estar em comunhão com a Igreja Católica” (Epístola 55)

A citação é falsamente atribuída à “Epístola 55” de Cipriano, que obviamente não diz nada disso em lugar nenhum:


Sempre quando você vir uma argumentação católica na patrística, verifique a fonte. As citações que eles usam seguem sempre a mesma sincronia:

1) Ou não existem;

2) Ou existem, mas foram tiradas do contexto e mal interpretadas;

3) Ou é um non sequitur(quando a conclusão não segue as premissas);

4) Ou ignora tudo o que o mesmo autor escreveu sobre o mesmo tema, como também é aqui o caso de Cipriano, que foi um dos que mais combateu a tirania papista e jamais aceitou qualquer tipo de jurisdição universal do bispo romano. Cipriano presidiu o Sétimo Concílio de Cartago, o qual decidiu o seguinte:

Pois nenhum de nós coloca-se como um bispo de bispos, nem por terror tirânico alguém força seu colega à obediência obrigatória; visto que cada bispo, de acordo com a permissão de sua liberdade e poder, tem seu próprio direito de julgamento, e não pode ser julgado por outro mais do que ele mesmo pode julgar um outro. Mas esperemos todos o julgamento de nosso Senhor Jesus Cristo, que é o único que tem o poder de nos designar no governo de Sua Igreja, e de nos julgar em nossa conduta nela”[1]

Portanto, Cipriano não admitia qualquer tipo de obediência incondicional ou de jurisdição universal de um bispo sobre todos os outros, e esse concílio foi feito justamente quando o bispo romano Estêvão estava querendo interferir na questão do rebatismo dos hereges, tema no qual Cipriano se opunha ao bispo de Roma e o chamava de “amigo de hereges e inimigo dos cristãos”[2]. Era essa a grande “infalibilidade” e “submissão” que Cipriano tinha para com o “papa”...

A citação da “comunhão com o papa” é tão adulterada, mas tão adulterada, que o embusteiro que a inventou sequer sabia que na época de Cipriano o bispo de Roma ainda não era chamado de “papa”. O próprio Cipriano era chamado de “papa”, bem como os bispos de Alexandria, mas o bispo de Roma só viria a ser chamado pelo mesmo apelido um século mais tarde. A adulteração é tão tosca e grosseira que só engana idiotas totalmente analfabetos em patrística.

Como se não bastasse, eles também adulteraram outra passagem de Cipriano, em mais uma falsificação onde o bispo de Cartago supostamente diz que “Roma é a matriz e o trono da Igreja Católica”. A referência fornecida é a “Epístola 48” de Cipriano, a qual não diz nada disso em lugar nenhum:


A referência que chega mais perto disso está na Epístola 44, que diz:

"Porque nós, que fornecemos todas as pessoas que navegam daqui com um plano para que possam navegar sem qualquer ofensa, sabemos que os exortamos a reconhecer e manter a raiz e matriz da Igreja Católica”

Só tem dois probleminhas para o católico:

O texto não fala de “trono” em lugar nenhum.

O texto não fala de “Roma” em lugar nenhum.

Ou seja: o texto usado pelo embusteiro é uma completa fraude. O picareta falsificador parafraseia tudo enxertando os termos que ele quer e que julga necessários para dar embasamento à fraude.

Como se não fosse suficiente adulterarem Cipriano, eles decidiram também adulterar Agostinho, inventando a famosa paráfrase onde o bispo de Hipona supostamente diz que “Roma falou, a causa acabou”. Eu já refutei essa baboseira em dois artigos que deixaram os apologistas católicos chupando o dedo até hoje:



Ainda não contentes em inventarem uma falsa paráfrase que distorce grosseiramente tudo o que o próprio Agostinho e toda a patrística disseram sobre o tema em questão, eles foram além, e inventaram também uma citação onde Agostinho supostamente afirma:

“Não é possível crer que guardais a fé católica se não ensinais que se deve guardar a fé romana” (Sermão 120:13)

A referência fornecida pelos fraudulentos adulteradores é o capítulo 13 do Sermão 120 de Agostinho. Mas tem um probleminha: o Sermão 120 só tem três capítulos(!), e nenhum deles diz a tal frase!

Confira aqui:


Mas os cretinos não se cansam. Empenhados na árdua tarefa de tornar os Pais da Igreja bons católicos romanos papistas, traduziram errado (se é que se pode considerar mesmo “tradução”) o texto em que Agostinho supostamente afirma:

“Viram que Ceciliano estava unido por cartas de comunhão à Igreja romana, na qual sempre residiu a primazia da cátedra apostólica” (Carta 43,3,7)

O texto na verdade diz:

“Roman Church, in which the supremacy of an apostolic chair has always flourished”


Qualquer um que tenha estudado o básico de inglês sabe que “an = uma”, e não “a”. Em outras palavras, para Agostinho, Roma era somente uma dascátedras apostólicas, e não a única cátedra apostólica! As Sés Apostólicas tinham a supremacia sobre as demais comunidades locais, e Roma era uma dessas Sés Apostólicas. Em outra carta de Agostinho, ele mais uma vez escreve “Sés Apostólicas”, no plural, reconhecendo que não havia uma única sede na Igreja da época, como os papistas creem que Roma era. Em vez disso, havia múltiplas sedes, sendo Roma uma delas, mas não a única:

"Você não pode negar que você vê o que chamamos de heresias e cismas, ou seja, muitos rompem com a raiz da sociedade cristã, que por meio das Apostólicas Sés, e as sucessões de bispos, se divulgou em uma indiscutível difusão mundial" (Carta 232.4)


Mas os papistas mentirosos e trapaceiros não se contentam apenas em adulterar textos para “provar” a supremacia papal. Eles também sentem a necessidade de forjar citações ou traduzir ridiculamente textos para “provar” que os primeiros Pais da Igreja já criam em imortalidade incondicional da alma. A editora Paulus, a favorita dos tridentinos lunáticos, é especialista nessa arte de adulterar textos.

Vamos começar com a Epístola de Barnabé, que a porcaria do site católico "Veritatis" (reproduzindo o texto da Paulus) traduziu por “morte eterna nos tormentos”, para dar a entender que Barnabé cria que essa morte eterna era um “tormento eterno” (do tipo imortalista draconiano). Na continuação do verso, eles traduzem por “arruínam” a alma, para passar a noção de um dano “apenas espiritual”:

(Clique na imagem para ampliar)

Disponível em:


Então vamos ao CCEL (Christian Classics Ethereal Library), um site mundialmente reconhecido e respeitado na área da patrística, que reproduz as traduções do grande historiador da Igreja Philip Schaff, e o que vemos de fato é isso:

(Clique na imagem para ampliar)


Ou seja, ao invés de “morte eterna nos tormentos”, o correto é “morte eterna com punição”, passando claramente a ideia aniquilacionista de uma morte eterna que se segue a uma punição temporária pelos pecados. A Paulus achou que isso não estava certo e trocou o termo “morte eterna com punição” pelo termo “morte eterna nos tormentos”, esse sim bastante com a cara católica, pra ficar mais bonitinho. A continuação do verso, na versão original, diz destroy the soul (i.e, destrói a alma). A Paulus achou isso pesado demais, porque seus leitores católicos poderiam pensar que Barnabé cria que esta morte eterna era a destruição da alma, então ela achou melhor suavizar e trocar para “arruínam a alma”. Os caras são feras!

Para que não apareça nenhum insano dizendo que a Paulus que traduziu corretamente e que o Philip Schaff é que estava errado(!), o New Advent (que também é um site católico como o Veritatis, com a diferença de que não é produzido por picaretas e embusteiros), traduziu assim:

(Clique na imagem para ampliar)


Então eu vou ler a Segunda Apologia de Justino Mártir, um dos mais explícitos aniquilacionistas da história da Igreja, que disse em alto e bom som que “anjos, demônios e homens [maus] devem deixar de existir”, conforme traduz o CCEL:

(Clique na imagem para ampliar)

E também no New Advent:

(Clique na imagem para ampliar)


O que foi que a Paulus poderia fazer com um texto tão claro, explícito, categórico e fulminante como esse? É simples: tirou do texto. Desta vez os picaretas nem tentaram alterar a tradução, porque nem isso salvaria eles. Então eles jogaram fora essa parte, sem mais nem menos:

(Clique na imagem para ampliar)

Disponível em:


Então eu vou dar uma olhada no índice de “obras patrísticas” do Veritatis, e encontro isso:


Sim, isso mesmo: uma oração mariana no século II, quando os cristãos nem em imortalidade da alma criam! Uau!

Então eu clico ali para ler a tal “oração mariana”, e o que eu encontro é isso:

(Clique na imagem para ampliar)

Disponível em: 


Sim, eles mesmos se auto-refutam e admitem que na verdade é do século III, e não do século II. Mesmo assim, eles ainda mantém o “século II” no título da página, para enganar os seus leitores católicos mais tapados, e fazer de conta que tem alguma proximidade com os apóstolos!

Mas eles não sossegam. Além de adulterar textos para provar o primado do bispo romano e a imortalidade da alma, eles adulteraram também textos para provar a virgindade perpétua de Maria, a fim de dizer que Tiago era um “primo” de Jesus. Veja como os malandros traduziram essa passagem da História Eclesiástica de Eusébio:

"E depois que Tiago o Justo sofreu o martírio, o mesmo que o Senhor e pela mesma razão, seu primo Simeão, o filho de Clopas, foi constituído bispo. Todos o haviam proposto, por ser o outro primo do Senhor. Por esta causa chamavam virgem à Igreja, pois ainda não havia se corrompido com vãs tradições” (História Eclesiástica, Livro VI, 22:4)

Eles traduziram assim para passar a ideia de que Tiago era primo de Jesus, assim como Simeão, que seria “o outro” primo do Senhor. Só que esse “outro”foi inserido descaradamente por eles dentro do texto, e não consta nas traduções sérias. Você pode conferir no site "New Advent", que também é católico (contudo honesto) que o texto diz "um primo", e não "outro primo", ou seja, não está indicando de forma alguma que Tiago fosse primo de Jesus:

                                (Clique na imagem para ampliar)


O próprio Eusébio FULMINA com a tese retardada de que Tiago era “primo” de Jesus, ao dizer explicitamente que ele era filho de José, o pai de Jesus:

“Naquele tempo também Tiago, o chamado irmão do Senhor, porque também ele era chamado filho de José; pois bem, o pai de Cristo era José, já que estava casado com a Virgem quando, antes que convivessem descobriu-se que havia concebido do Espírito Santo, como ensina a Sagrada Escritura dos evangelhos -; este mesmo Tiago pois, a quem os antigos puseram o sobrenome de Justo, pelo superior mérito de sua virtude, refere-se que foi o primeiro a quem se confiou o trono episcopal da Igreja de Jerusalém”(História Eclesiástica, Livro II, 1:2)

E o mesmo Eusébio que por dezenas e dezenas de vezes emprega o termo anepsios (primo) em sua obra, faz questão de sempre empregar o termo adelphos (irmão) quando se refere ao parentesco de Tiago em relação a Jesus:

"Sucessor na direção da Igreja é, junto com os apóstolos, Tiago, o irmão do Senhor. Todos dão-lhe o sobrenome de ‘Justo’, desde os tempos do Senhor até os nossos, pois eram muitos os que se chamavam Tiago” (História Eclesiástica, Livro II, 23:4)

É por isso que os safados da apologética católica tiveram que adulterar a tradução, porque só assim poderiam enfiar na cabeça de seus leitores burros que Eusébio cria que Tiago era “primo” de Cristo!

Há mais um caminhão de adulterações ridículas e pitorescas que os católicos embusteiros fizeram na patrística para impor suas sandices doutrinárias, mas essas por hoje basta. Algumas adulterações vêm da própria Editora Paulus, que os católicos leem acriticamente e copiam suas traduções propositalmente adulteradas, enquanto outras são inventadas pelos apologistas católicos da internet, que, desesperados e em apuros, se veem na obrigação de forjar textos para empurrar suas teses goela abaixo. E pensar que é com base nesse jogo sujo que uma multidão de tridentinos fanáticos pensa que os Pais da Igreja eram “católicos romanos”... baixaria total.

Havia o tempo em que a Igreja mandava torturar e assassinar os que não tinham a mesma fé dela. Esse tempo passou. Depois veio o tempo em que eles restringiram ao máximo que puderam a leitura da Bíblia, o livro que mais tirou gente do catolicismo na história do planeta, mas com a globalização e a tecnologia moderna isso se tornou impossível, e este tempo passou também. Agora, para manter seus fieis nas trevas da ignorância e da superstição, eles adulteram e falsificam textos patrísticos, para iludir e enganar mais uma dúzia de gente sem instrução.

Não impressiona que eles não tenham escrúpulos, porque nunca tiveram. Impressiona mesmo é que em pleno século XXI haja indivíduos adestrados e fanatizados que continuam engolindo tudo isso, e pior, citando esses falsos textos nos debates, pensando estar arrasando o protestante. É realmente de dar pena. Não tem mais pra onde descer.

Depois ainda dizem que tem gente se tornando católica por meio da patrística. É claro: adulterando tudo, até para a Seicho-No-Ie se consegue levar os burros.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


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[1] Sétimo Concílio de Cartago, ano 256.
[2]Cipriano, Epístola 74.
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